Aos 83 anos e mais de 60 de carreira, a atriz Aracy Balabanian morreu nesta segunda-feira (7), no Rio de Janeiro, em decorrência de um câncer de pulmão. Ela estava internada na Clínica São Vicente, no bairro da Gávea, zona sul carioca. para tratar dois tumores no pulmão, descobertos no ano passado e teve um derrame pleural, que causa retenção de líquido nos pulmões.

Uma das maiores veteranas na TV, cinema e teatro brasileiros, Aracy se popularizou no programa humorístico ‘Sai de Baixo’ na pele de Cassandra Mathias, a classuda (e falida) mãe da Magda (Marisa Orth), a mulher do golpista Caco Antibes (Miguel Falabella).

O elenco contava ainda com o veterano ator Luiz Gustavo, que morreu em 2021, aos 87 anos, vítima de câncer de intestino, e com a divertida empregada doméstica Neide Aparecida, vivida por Marcia Cabrita, atriz que morreu de câncer de ovário em 2017, aos 53 anos).

Elenco do humorístico Sai de Baixo: três atores (Márcia Cabrita, Luiz Gustavo e Aracy Balabanian) morreram de câncer (Reprodução da internet)

 

A morte de Aracy acontece em plena campanha nacional Agosto Branco, mês dedicado a despertar a consciência da população sobre a prevenção do câncer de pulmão, um dos tumores mais comuns no mundo e o maior responsável pelas mortes decorrentes de câncer no planeta.

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, o Brasil registrou cerca de 40 mil novos casos de pulmão. O Brasil deverá ter cerca de 96 mil casos de câncer de pulmão entre 2023 e 2025. Em 2040, a expectativa é de que esse número chegue a 73 mil/ano, o que representa um aumento de cerca de 80% de novos casos nos próximos 20 anos.

No Brasil, este é o terceiro mais frequente entre homens e o quarto mais comum entre as mulheres, com estimativas de 32.560 novos casos em 2023, com discreto predomínio no sexo masculino e com a faixa etária mais comum aos 60 anos de idade, sendo 18.020 entre homens e 14.540 em mulheres, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca).

A estimativa é que 5% dos tumores malignos atingem esse órgão e que para cada ano do triênio de 2023 até 2025, surgirão cerca de 32.560 mil novos casos de câncer de tranqueia, brônquios e pulmão. 

Globalmente, o câncer de pulmão é a segunda neoplasia mais comum, com uma estimativa de pouco mais de 2 milhões de casos por ano, e a principal causa de morte relacionada a câncer no mundo, com mais de 1 milhão de mortes por ano.

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Câncer de pulmão: maioria dos casos é por tabagismo

Não há dúvida de que o mais importante fator de risco para o câncer de pulmão é o tabagismo: mais de 90% das pessoas que desenvolvem câncer de pulmão fumam ou fumaram no passado. Em 2020, segundo o Ministério da Saúde, o tabagismo foi responsável por 161.853 mortes, o que representa 443 ao dia e 13% do total das mortes que ocorrem no Brasil anualmente. 

De acordo com o Inca, entre os homens, 16% dos casos poderiam ser evitados caso os principais agentes cancerígenos fossem retirados do dia a dia, já entre as mulheres os casos correspondem a uma possível redução de 5%. Segundo Roberto Abramoff, oncologista clínico do Hcor, caso o paciente seja fumante, a melhor forma de evitar a doença é cessar o tabagismo e evitar a exposição passiva à fumaça do cigarro.

“Apesar de existirem métodos muito eficazes, a cessação do tabagismo ainda é o melhor método para prevenir um câncer. Pacientes ex-fumantes têm entre 20% e 90% menos chance de desenvolver um tumor. E caso desenvolvam, podem ter um resultado mais eficaz do que aqueles que seguem com o hábito”, diz o especialista.

Segundo Fábio Feio, oncologista clínico do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), pela sua alta incidência e potencial de letalidade, é fundamental a prevenção de fatores de riscos relacionados a essa doença.

“A principal estratégia mais aceita no combate e prevenção da doença são as campanhas que encorajam o hábito de fumar e que promovam a sensação do tabagismo em pacientes ativos e passivos, aliadas a tomografías de tórax a partir dos 50 anos em fumantes”, ressalta.

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Não fumantes também podem ser atingidos

Com muito menos frequência, a doença pode surgir em pessoas que não se exponham de nenhuma forma ao fumo. Márcia Datz Abadi, diretora médica da MSD Brasil, explica que “a inalação do fumo do cigarro, ativa ou passivamente, danifica o tecido pulmonar, levando a mutações celulares e, eventualmente, ao desenvolvimento de tumores malignos”.

“Quanto maior a exposição ao tabagismo (maior uso diário de cigarros e número de anos fumando), maior o risco de desenvolver câncer de pulmão. Os fumantes passivos – pessoas que não fumam, mas que ficam próximas de fumantes – também correm grande risco, embora menor do que o dos fumantes”, afirma Lucas Sant´Ana, coordenador do Oncocenter Dona Helena, serviço especializado em oncologia do Hospital Dona Helena, de Joinville (SC).

Outros fatores também podem causar a doença, como poluição atmosférica, exposição à radiação, exposição a asbestos. Caso as pessoas que trabalham com esses materiais ainda fumarem, correrão risco ainda maior.

“As partículas presentes no ar podem contribuir para o câncer de pulmão, além de predisposição genética e agentes cancerígenos no ambiente de trabalho, como profissionais que possuem contato com agrotóxicos, diesel, metais pesados e fuligem”, explica Dra Márcia.

Tosse é um dos principais sintomas do câncer de pulmão

Os sintomas do câncer de pulmão podem variar e, muitas vezes, são confundidos com outras condições respiratórias comuns. Os sinais mais frequentes incluem tosse persistente, com secreção ou sangue, falta de ar, dor no peito ao respirar, perda de peso inexplicável e fadiga. Quando esses sintomas são observados, é fundamental buscar atendimento médico imediatamente para um diagnóstico adequado.

Atualmente, há inúmeras formas de detectar rapidamente a existência de um câncer. A tomografia sem contraste é a mais indicada, principalmente porque a pessoa recebe uma baixa dose de radiação, sendo possível visualizar a existência de nódulos ou lesões suspeitas e tratar precocemente, o que pode levar à cura.

Segundo Dr Lucas, em geral, o diagnóstico do câncer de pulmão vem de uma suspeita clínica associada a um exame de imagem alterado. De posse dessa informação, o médico solicita biópsia da lesão suspeita para confirmar o diagnóstico. 

“Para efeitos práticos, há dois tipos principais de câncer de pulmão, algo que é definido pela biópsia: células não pequenas (85% dos casos) e células pequenas (15% dos casos). Hoje, o tipo mais comum de câncer de pulmão é o adenocarcinoma, um subtipo do tumor de células não pequenas”, explica o médico.

Ainda segundo o oncologista do Oncocenter Dona Helena, é importante ressaltar que esses sintomas também são comuns a diversas outras doenças pulmonares, como as infecções respiratórias, e não são específicos de câncer de pulmão.

“Além disso, muitos dos fumantes apresentam esses sintomas como consequência da bronquite crônica ou do enfisema pulmonar. A regra é: se os sintomas durarem por várias semanas, merecem investigação mais aprofundada, por isso é sempre importante uma avaliação médica”, esclarece.

Tratamento sistêmico e aumento da sobrevida no câncer de pulmão

“A despeito dos avanços observados nos últimos anos, o câncer de pulmão é uma doença com expectativa geral de sobrevida baixa, com estágios mais precoces possíveis de cirurgia, com uma expectativa de sobrevida em cinco anos, em torno de 50 a 60%. Essa expectativa para estágios mais avançados é muito menor, com apenas 10%, em média, dos pacientes vivos após cinco anos”, afirma Fábio Feio, oncologista clínico do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC).

De acordo com Dr Lucas, o tratamento para o carcinoma de pulmão é extremamente heterogêneo, a depender de vários fatores, como idade do paciente, estadiamento do tumor e tipo do tumor. Para tumores em estágios iniciais, a cirurgia costuma ser a principal ferramenta. Já para tumores mais avançados, necessita-se de radioterapia e/ou quimioterapia. A imunoterapia também vem sendo mais empregada.

“Nos últimos anos, a ciência evoluiu muito nas terapias para essa neoplasia e outras drogas foram acrescentadas ao arsenal terapêutico oncologista. A imunoterapia e a terapia alvo têm sido cada vez mais utilizadas, e, com isso, taxas de cura mais elevadas podem ser alcançadas”, destaca Lucas Sant´Ana.

Dra Márcia confirma: “Por meio de estudos e pesquisas clínicas, avançamos no cuidado com o paciente, aumentando as chances de cura e melhora na qualidade de vida dos pacientes. O estímulo do próprio sistema imunológico para o combate do tumor trazem maior conforto”, afirma.

Aracy Balabanian: atriz escolheu ser tia

A ex-socialite em decadência social de ‘Sai de Baixo’ – sitcom que unia TV e teatro, exibido no domingo à noite – não foi a única personagem que celebrizou Aracy Balabanian na TV. A atriz viveu também outras personagens memoráveis em novelas.

Filha de armênios radicados no Brasil, ela viveu com propriedade a personagem Dona Armênia, que fez tanto sucesso em ‘Rainha da Sucata’ (1990) que foi novamente colocada em ‘Deus nos Acuda’ (1992).

Seu último trabalho da veterana na TV foi no especial de fim de ano Globo de 2019, ‘Juntos a Magia Acontece’, em que interpretou a personagem Dona Rosa.

Solteira e sem filhos, Aracy – que namorou globais como o galã Antônio Fagundes – chegou a admitir publicamente ter feito dois abortos.  A família divulgou uma carta de despedida sobre a atriz que escolheu ser tia. Com seis irmãos e vários sobrinhos, parte da família da eterna Dona Armênia mora em Campo Grande (MT), onde ela nasceu.

Para a mensagem de despedida, os familiares se reuniram na cidade para relembraram das memórias de Aracy Balabanian. Na carta, os sobrinhos lembraram da tia com amor e carinho.

“Tia Aracy era pra nós mais que uma atriz brilhante, era um exemplo de força, carinho e amor! Uma tia admirável em todos os sentidos… Tia, sentiremos muita saudades do seu abraço amoroso e do seu cheiro maravilhoso! Que Deus e Nossa Senhora te recebam de braços abertos e com muito amor, assim como você merece!”, escreveram os sobrinhos de Aracy Balabanian.

Ao g1, uma das sobrinhas de Aracy, Mariza Orondjian, que também está em tratamento de câncer, relembrou da época que morou com a tia em São Paulo e foi tratada por ela como filha.

“Morei com ela por dez anos, durante o tempo que morei em São Paulo. Ela foi uma mãe, uma mestra e uma guru pra mim. Temos uma relação muito próxima, ela era uma pessoa de coração gigante, uma bondade que nunca vi igual. A última vez que vi ela foi quando descobrimos o diagnóstico em novembro do ano passado. Atualmente também estou em tratamento de câncer, e ela vai continuar nos abençoado”.

Com Assessorias e agências

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