Enfim, uma boa notícia nesses tempos difíceis. Apesar de ter voltado para o Mapa da Fome, com milhares de crianças em situação de insegurança alimentar, o Brasil conseguiu reduzir à metade a prevalência de anemia entre a população de até 5 anos nos últimos 13 anos. É o que revela o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (Enani-2019), pesquisa inédita conduzida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), sob encomenda do Ministério da Saúde. A prevalência diminuiu de 20,9%, em 2006, para 10%, em 2019.
O cenário foi registrado em todas as regiões brasileiras, à exceção do Norte, que apresentou aumento de 6,6% neste período, subindo de 10,4% em 2006 para 17% em 2019. A maior redução foi observada na região Sudeste (14,7%) e a menor no Centro-Oeste (1,6%). O Enani aponta, ainda, que a anemia é mais comum entre crianças de 6 a 23 meses: nesta faixa etária, a prevalência para o Brasil foi de 18,9% e alcançou 30% para a região Norte. Entre os 2 e os 5 anos de idade a prevalência foi de 5,6%.
A pesquisa também apresenta dados inéditos sobre dois importantes indicadores de saúde em crianças menores de 5 anos: deficiência de vitamina A e anemia por deficiência de ferro (também conhecida como anemia ferropriva). A prevalência da deficiência de vitamina A nesta faixa etária foi de 6% no Brasil, uma redução relativa de 65,5% em relação a 2006, quando foi registrada em 17,4%. As maiores prevalências foram encontradas nas regiões Centro-Oeste (9,5%), Sul (8,9%) e Norte (8,3%) e a menor na região Sudeste (4,3%).
Não houve diferença estatisticamente significativa entre as faixas etárias de 6 a 23 meses (5,4%) e de 2 a 5 anos (5,9%). Em 2019, a prevalência da anemia ferropriva em crianças até 5 anos foi de 3,6%, em âmbito nacional. A maior prevalência foi registrada na região Norte (6,5%) e a menor na região Nordeste (2,7%). Assim como a anemia, a anemia ferropriva é mais comum entre crianças de 6 a 23 meses (8%) que na faixa etária de 2 a 5 anos (1,3%).
O coordenador nacional do Enani-2019, Gilberto Kac, explica que crianças menores de 5 anos constituem o grupo de maior risco para as deficiências de micronutrientes, especialmente ferro e vitamina A. “As principais consequências desses déficits nutricionais, além da ocorrência de anemia, são déficit de crescimento, baixo desempenho cognitivo, comprometimento do sistema imunológico e cegueira noturna”, descreve o pesquisador.
O pesquisador informa que os dados inéditos vão contribuir com a formulação de políticas públicas mais eficazes para promover a saúde e a segurança nutricional das crianças brasileiras. “O Ministério da Saúde vem acompanhando todos os resultados do ENANI-2019 e os novos dados vão pautar a reformulação dos programas nacionais de suplementação de ferro e vitamina A, de acordo com as necessidades mapeadas”, conclui.
A diminuição das prevalências das carências nutricionais nas crianças brasileiras menores de 5 anos indica uma melhoria nas condições de saúde dessa faixa etária e são de suma importância para o aprimoramento, com base em evidências científicas, dos Programas Nacionais de Suplementação de Vitaminas e Minerais”, adianta o secretário de Atenção Primária do Ministério da Saúde, Rafael Câmara Parente.
Sobre o ENANI-2019
O Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI-2019) é a primeira pesquisa com representatividade nacional que avaliou, simultaneamente, práticas de aleitamento materno, alimentação complementar e consumo alimentar individual, estado nutricional antropométrico e deficiências de micronutrientes em crianças menores de 5 anos, incluindo as deficiências de ferro e vitamina A. Entre fevereiro de 2019 e março de 2020 foram realizadas visitas domiciliares em 123 municípios brasileiros, totalizando 14.583 crianças menores de 5 anos.
A pesquisa foi coordenada pelo Instituto de Nutrição Josué de Castro da UFRJ, com financiamento do Ministério da Saúde e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Também participam da coordenação do estudo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), a Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e a Universidade Federal Fluminense (UFF).
Fonte: UFRJ, com Redação