A publicitária Melissa Medeiros, de 52 anos, sobreviveu a um câncer de laringe, diagnosticado em 2010, mas perdeu totalmente as cordas vocais após passar por um longo de doloroso tratamento, que incluiu a laringectomia total e a traqueostomia definitiva. Apesar de perder sua voz natural para sempre, hoje ela é considerada uma das principais porta-vozes do movimento em defesa dos pacientes que enfrentam situações parecidas no Brasil.

Pessoa com deficiência física que demanda necessidades especiais, Melissa não deixou que as limitações impostas pelas sequelas da doença a impedissem de lutar para que a jornada de outras pessoas seja menos difícil. Fundadora e presidente da Associação Brasil de Câncer de Cabeça e Pescoço (ACBG Brasil), ela lidera  uma série de iniciativas marcando o Julho Verde, mês de conscientização sobre os tumores que afetam essa região do corpo.

A oitava edição da Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço traz como tema “Vejo flores em você! Não permita que tumores brotem!”. O objetivo é alertar a população sobre a importância do autocuidado e atenção aos primeiros sinais e sintomas da doença.

Receber o diagnóstico de câncer ainda assusta as pessoas; elas se desesperam pelo estigma que a doença ainda tem junto à sociedade.  A medicina evoluiu muito e, nos diagnósticos precoces, muitos cânceres são curados. Os diagnósticos nesta região do corpo não podem continuar chegando tardiamente, pois causam mutilações irreversíveis“, destaca Melissa, que usa uma laringe eletrônica para se comunicar.

Colocação de laringe eletrônica em paciente no Tocantins (Foto: Luciana Barros / Gov-TO)

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Diagnóstico precoce evitar mortes e mutilações graves

Os tumores desta região estão entre os mais incidentes no mundo, sendo que os locais mais comuns são a cavidade oral (boca, lábios, língua, entre outros) e laringe. No mundo, mais de 613 mil pessoas recebem, anualmente, o diagnóstico de câncer de cavidade oral ou laringe, de acordo com a Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (Inca) deve registrar este ano cerca de 41 mil novos casos de tumores localizados na cabeça e pescoço. Estes dados incluem neoplasias que se originam em regiões das vias aéreo-digestivas, como cavidade oral, glândula tireoide e laringe. Os números evidenciam a necessidade de mais prevenção, melhor diagnóstico e acesso ao tratamento para milhares de brasileiros.

Os tumores de laringe, assim como a maioria dos demais tumores do corpo humano, respondem melhor ao tratamento se realizado em estágios iniciais. Quando descoberto ainda em estágio inicial, existe até 90% de chance de obter a cura; já em fase intermediária, as chances são de 60%.

Melissa afirma que, desde o início do trabalho nacional de conscientização sobre a doença, há oito anos, muitas pessoas pararam de fumar, buscaram diagnósticos precoces e começaram a se cuidar um pouco mais de si mesmas e dos seus familiares.

O objetivo principal é ampliar o número de diagnósticos precoces, evitando, assim, o crescente número de óbitos e mutilações graves que comprometem funções vitais dos pacientes como a fala, respiração, alimentação, visão, audição e cognição.

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Defesa dos direitos do paciente

Junto ao Congresso Nacional, a ACBG Brasil conseguiu que em abril de 2022 fosse sancionada a lei 14.328, que instituiu o mês de julho como o Mês Nacional do Combate ao Câncer de Cabeça e Pescoço. A iniciativa preconiza que as secretarias de saúde devem fazer ações preventivas e o diagnóstico precoce, que dê celeridade às cirurgias e a reabilitação. “Mas isso precisa acontecer o ano inteiro, não apenas em julho”, ressalta Melissa.

Segundo ela, o trabalho em advocacy (defesa de direitos do paciente) conseguiu incorporar a laringe eletrônica na tabela do SUS, conquistou o reajuste no valor de reembolso da prótese traqueoesofágica (de voz), para dar acesso a todo paciente que perdeu suas cordas vocais na retirada do tumor. “Porém, essas leis precisam ser cumpridas na ponta e nosso trabalho é fiscalizar e cobrar até que todas as vozes sejam ouvidas”, enfatiza.

A entidade também realiza doações da laringe eletrônica, beneficiando pessoas como Sérgio Luiz Oliveira (foto), que conseguiu uma forma de se comunicar melhor atpós o tratamento, graças ao uso dessa tecnologia assistiva.
Gratidão é o sentimento que nos define. A alegria de poder me comunicar melhor com a minha família é imensa! Que muitos possam, através de vocês, se comunicar de maneira clara e efetiva pela doação desse apaŕelho que transforma vidas e é excelente em recursos e conforto!”

Atenção aos sinais e sintomas e fatores de risco

Os tumores de cabeça e pescoço podem demorar para apresentar sintomas e, muitas vezes, são diagnosticados em estágios avançados. O tratamento, que pode ser realizado com cirurgia, radioterapia, quimioterapia ou imunoterapia, tem a possibilidade de deixar sequelas irreversíveis, mexendo com a estética facial, com a deglutição e alimentação, com a fala e a voz.

Por isso, é importante conhecer e ficar atento aos sinais mais comuns destes tipos de tumores, como:

  • Ferida no rosto ou boca que não cicatriza;
  • Mancha avermelhada ou esbranquiçada nos lábios e cavidade oral
  • Dor persistente na região da face;
  • Obstrução persistente e sangramento nasal;
  • Alterações oculares (movimentação ocular ou visão);
  • Irritação ou dor na garganta;
  • Perda de peso sem motivo aparente;
  • Mau hálito frequente;
  • Dentes moles ou dor em torno deles.

Principais fatores de risco

  • Consumo de tabaco (todos os tipos de cigarros, charutos e cachimbos) e álcool;
  • Infecção viral pelo vírus do papiloma humano (HPV), transmitido principalmente através de relações sexuais desprotegidas (inclusive sexo oral);
  • Consumo de bebidas quentes, principalmente as tradicionalmente servidas em temperaturas muito altas, como o chimarrão/mate;
  • Exposição excessiva ao sol (câncer de lábios, couro cabeludo);
  • Exposição durante o trabalho à poeira de madeira, poeira de têxteis, pó de níquel, colas, agrotóxicos, amianto, sílica, benzeno, produtos radioativos;
  • Infecção pelo vírus de Epstein-Barr (EBV), que pode causar a mononucleose infecciosa, uma manifestação do vírus transmitida por contato com outras salivas.

Rumo à campanha Agosto Branco

Este ano, a oitava Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço ocorre até o dia 5 de agosto, em apoio também ao combate ao câncer de pulmão e o PL 4047/2023, que institui a campanha Agosto Branco, recém aprovada pela Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e agora segue para análise do Senado Federal.

A iniciativa engloba o Dia Mundial de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço, lembrado no dia 27 de julho, e o dia 1 de agosto, Dia Mundial de Combate ao Câncer de Pulmão, abordando a metástase de câncer de cabeça e pescoço que afeta esse órgão

A ACBG Brasil é integrante do Conselho Nacional de Saúde e também faz parte do Conselho Consultivo do Inca (Consinca), órgão que assessora o Ministério da Saúde nas propostas de formulação, regulamentação e supervisão das ações de oncologia no país.

A entidade também trabalha ativamente para que a nova Política Nacional para a Prevenção e Controle do Câncer (PNPCC), sancionada em dezembro de 2023, seja regulamentada e implementada, para melhorar a atenção integral ao paciente oncológico em nosso país.

A ACBG Brasil vai mobilizar uma rede de voluntários para que a Campanha Nacional de Prevenção do Câncer de Cabeça e Pescoço esteja presente, mais uma vez, em todos estados do Brasil, destacando ações de prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação, com a participação de pacientes, profissionais de saúde, autoridades e integrantes da sociedade civil.

Pelas redes sociais (instagram @acbgbrasil e facebook @acbgbrasil) será possível acompanhar as iniciativas e apoiar a ACBG Brasil.

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