O Brasil pode ultrapassar os 40 mil casos de novo coronavírus em 24 de abril, um aumento de 50% em 10 dias. A projeção foi feita pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), formado por pesquisadores da Fiocruz, FGV e diversas universidades.
O estudo avaliou as projeções até 14 de abril da Nota Técnica 8 (NT8) “Projeção de casos de infecção por Covid-19 no Brasil até 24 de abril de 2020”, o NT6, que estimou os casos de covid-19 no Brasil até 20 de abril, e atualizou a metodologia para chegar às predições de 15 a 24 de abril para Brasil, RJ e SP. No cenário pessimista, as projeções Brasil do NOIS para dia 15 de abril, estimam 27.225 casos e um aumento de quase 50% para dia 24, chegando a 40.590 casos.
Em todas as projeções anteriores do NOIS, os números foram avaliados conforme uma “cesta de países”, de modo que fosse possível comparar o Brasil a países de comportamento semelhante na mesma data da evolução da doença, sendo o D0 o dia em que cada país chegou a 50 casos confirmados.
Para o dia 15 em diante (D35 no Brasil), o NOIS acrescentou uma cesta de localidades não restrita a países — permitindo províncias ou estados, por exemplo — que apresentam uma série histórica da epidemia de tamanho, no mínimo, igual à série de Brasil, RJ e SP, respectivamente, e cuja evolução da epidemia já tenha ultrapassado a série histórica do Brasil em dez dias adicionais.
Com isso, as cestas de Brasil, RJ e SP são diferentes e cada uma tem sua particularidade. Para Brasil, as localidades Itália, Alemanha, Espanha, França e Irã foram os países selecionados por terem o maior histórico da evolução da Covid-19. Para SP, são Suíça, Alemanha, Itália, Irã e Espanha e, para RJ, as localidades selecionadas foram EUA-Washington, Suécia, Noruega, Holanda e Malásia.
Análise das predições e dados
Com uma variação média de apenas 2,88% para o cenário otimista, a metodologia da NT6 (que comparou o Brasil com Itália, Espanha, França, Alemanha, Suíça e Reino Unido) se confirmou pertinente para o período de 3 a 14 de abril. Em relação à predição mais provável (cenário mediano), a variação foi de apenas 7,2% em relação aos números oficiais, indicando que, ao contrário de São Paulo, os demais estados brasileiros estão evoluindo conforme o previsto. É possível que as medidas de contenção vigentes no País tenham surtido efeito de desaceleração do crescimento dos casos confirmados. Por outro lado, conforme apresentado na NT7, estimou-se, até o dia 10 de abril, que a taxa de notificação do Brasil estava em torno de 8%.
As projeções do NOIS até 14 de abril para o Estado de SP tiveram uma variação de 23% em relação ao cenário mediano. Provavelmente porque 74% dos testes realizados no Estado ainda não têm resultado, segundo último dado disponibilizado no boletim epidemiológico da COVID-19 pelo Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. No RJ, houve um crescimento de casos no dia 14 de abril e o número atingido ficou apenas 4,1% acima do cenário otimista do NOIS.
O Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS) é um grupo de pesquisa formado por profissionais de diversas instituições: Departamento de Engenharia Industrial/PUC-Rio, Instituto Tecgraf/PUC-Rio, Marketing & Analytics/BizCapital, Rio de Janeiro, Brasil, Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal), Espanha, Divisão de Pneumologia/InCor, Hospital das Clínicas FMUSP, Universidade de São Paulo, Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Número real de casos no Brasil é 12 vezes maior do que o oficial
Em sua Nota Técnica nº 7 (NT7) “Análise de subnotificação do número de casos confirmados da COVID-19 no Brasil”, o Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS) analisou o nível de subnotificação dos casos oficiais de coronavírus até 10 de abril no Brasil e em cada Estado. A proposta é fornecer dados para estimar a dimensão real da doença no Brasil.
Os resultados indicam que as notificações representam apenas 8% dos casos e, com isso, o número real pode ser até 12 vezes superior ao oficial do Ministério da Saúde. A situação nos Estados é bem dispersa. Como cada um tem uma evolução diferente do número de casos e a metodologia aqui aplicada pode gerar distorções no caso de Estados que apresentam poucas notificações. Os números podem variar de um dia para o outro, principalmente porque, em sua maioria, os Estados ainda estão no início da curva da doença.
Baixo número de testes e demora nos resultados
A confirmação dos casos é a única forma de avaliar a evolução do COVID-19 no Brasil. Segundo orientação do Ministério da Saúde, apenas os casos mais graves estão sendo testados e, ainda assim, nem todos os casos suspeitos deste grupo estão sendo examinados. O elevado grau de subnotificação pode sugerir uma falsa ideia de controle da doença e, consequentemente, levar ao declínio na implementação de ações de contenção, como o isolamento horizontal.
Em São Paulo, que detém a maioria dos casos confirmados no país, apenas 24% do total de testes para COVID-19 foram entregues, segundo os dados do boletim epidemiológico da COVID-19 divulgado pelo Centro de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo em 07/04/2020.
Metodologia
Para medir o percentual de subnotificação, o estudo seguiu três etapas. Primeiro, fez o cálculo da taxa de letalidade (Case-Fatality Ratio, ou CFR). De acordo com a orientação da OMS, para a CFR base, ela sugere que a taxa varie conforme a faixa etária do paciente. Em seguida, calculou a CFR observada, que são os casos em que o paciente contraiu a doença e faleceu, levando em conta de que há uma distribuição de probabilidade com média de 13 dias entre a hospitalização e o desfecho. Com esses dois dados, a terceira e última etapa foi ver a diferença entre ambos: quanto maior, menor a taxa de notificação, e vice-versa.
O Brasil deveria ter uma CFR observada de 1,3%, contra os 16,3% constatados. Outro ponto a ser sinalizado é que os países com maior taxa de CFR observada são os que apresentam maior subnotificação.
O NOIS é um grupo de pesquisa formado por profissionais de diversas instituições: Departamento de Engenharia Industrial/PUC-Rio, Instituto Tecgraf/PUC-Rio, Marketing & Analytics/BizCapital, Rio de Janeiro, Brasil Barcelona Institute for Global Health (ISGlobal), Espanha, Divisão de Pneumologia/InCor, Hospital das Clínicas FMUSP/Universidade de São Paulo, Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino, Rio de Janeiro, e Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas, Fundação Oswaldo Cruz/Fiocruz. As análises e previsões aqui divulgadas representam as opiniões dos autores envolvidos no estudo e não necessariamente das instituições às quais são associados.