O câncer de colo do útero é o quarto tipo que mais acomete o público feminino no mundo levando a óbito anualmente cerca de 310 mil mulheres. Estima-se 90% dos casos ocorram em países de baixo e médio desenvolvimento, como o Brasil. Segundo projeções da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC), a menos que medidas preventivas sejam implementadas prontamente, o número de mortes pode saltar para 460 mil/ano em 2040, o que representa aumento de 50%.
Prevenção com vacina, rastreio e tratamento de lesões pré-câncer de colo de útero são muito importantes, já que no Brasil a previsão é de 16.710 casos novos, em 2020, com risco estimado de 15,38 casos a cada 100 mil mulheres, segundo estatísticas do Instituto Nacional de Câncer (Inca)”, destaca Marcia Fuzaro Terra Cardial, professora doutora da disciplina de Ginecologia da Faculdade de Medicina do ABC (FMABC).
Ele reafirma que o câncer de colo de útero é tratável. No entanto, se diagnosticado em fase tardia, o índice de mortalidade é alto. Por isso, condutas como a prescrição de vacina, solicitação de exames de rastreio e tratamento adequado às lesões precursoras. “É uma doença previnível que ainda acomete muitas mulheres no país”, comenta.
Em novembro de 2020, o Ministério da Saúde assumiu o compromisso de erradicar a doença no Brasil com medidas de vacinação, de rastreamento e de tratamento até 2030. O compromisso público ocorreu durante o lançamento da estratégia global da Organização Mundial da Saúde (OMS) para acelerar a eliminação do câncer de coloco do útero. O evento foi promovido pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS).
Na reunião foram apresentadas as estratégias de prevenção primária e secundária a serem reforçadas nos próximos anos para a eliminação desse tipo de câncer a representantes do Brasil, ao Suriname, à Costa Rica e aos Estados Unidos. O programa estabelece, por exemplo, que até 2030: 90% das meninas estejam vacinadas até os 15 anos; 70% de mulheres sejam rastreadas com teste de alta efetividade aos 35 anos e 45 anos; e 90% das lesões precursoras e câncer invasivo tratadas.
O governo brasileiro assume publicamente, junto à OMS e à OPAS, o compromisso de erradicar o câncer de colo de útero nas mulheres brasileiras”, afirmou diretor do Departamento de Ações Programáticas Estratégicas da Secretaria de Atenção Primária à Saúde do Ministério da Saúde, Antônio Braga.
O diretor ressaltou ainda que a pasta vai atuar na construção de um plano conjunto para o combate à doença. “Estaremos ao lado das instituições brasileiras, em especial do Instituto Nacional de Câncer (Inca), para pensarmos em como aplicar a estratégia da OMS para ajudar a erradicar esse problema das mulheres brasileiras”.
Os presentes apresentaram as ações de cada país e fortaleceram o compromisso de atuar em conjunto na estratégia. A diretora-geral do Inca, Ana Cristina Pinho, apresentou as medidas do governo brasileiro dentro de cada uma das metas da OMS. “Na cobertura de vacinação, temos a introdução da vacina no Sistema Único de Saúde (SUS) para meninos e meninas e o sistema de registro individual para monitoramento das doses das meninas”, informou.
Em relação à cobertura de teste do HPV, Ana citou durante seu discurso a implementação de um sistema que registra os exames Papanicolau das mulheres, permitindo o monitoramento dos casos e o pronto acompanhamento e tratamento necessário para evitar o câncer de colo de útero. Ao final da reunião, os países presentes se comprometeram a elaborar um planejamento de ações, cada um, para o atendimento das metas da estratégia global da OMS para a erradicação do câncer de colo de útero.
Estudo sobre eficácia da vacina contra HPV é iniciado em dezembro
O Papilomavírus Humano (HPV) é uma infecção sexualmente transmissível (IST), que infecta homens e mulheres em todo o mundo, sendo a principal causa do câncer de colo de útero. Desde 2014, o Ministério da Saúde implementou no calendário vacinal a vacina tetravalente contra o HPV para meninas de 9 a 13 anos. A partir de 2017, a pasta incluiu as meninas de 9 a 14 anos e os meninos de 11 a 14 anos, além de pacientes com imunidade baixa, como portadores de HIV e transplantados.
O imunizante protege contra os tipos mais incidentes de HPV, que causam verrugas genitais e são responsáveis por cerca de 70% dos casos de câncer do colo do útero. A vacinação e a realização do exame preventivo – o Papanicolau – se complementam como ações efetivas de prevenção desse tipo de câncer. Mesmo as mulheres vacinadas na pré e na adolescência, a partir dos 25 anos deverão fazer o exame preventivo periodicamente, pois a vacina não protege contra todos os tipos de HPV que podem causar a doença.
Para avaliar a eficácia da vacinação contra o HPV nas diferentes regiões brasileiras, o estudo POP-Brasil está iniciando uma nova fase de coleta, que começa em dezembro de 2020, no município de Campo Grande (MS) e São Luiz (MA), com o treinamento de profissionais da saúde das unidades que participarão da coleta de dados.
Entre os anos de 2015 e 2017, o estudo que ocorre através do projeto “Estudo Epidemiológico sobre a Prevalência Nacional de Infecção pelo HPV” avaliou a prevalência do vírus entre jovens de 16 a 25 anos, e na nova fase irá verificar se houve diminuição da prevalência e da persistência da infecção após a vacinação dos pacientes.
Ao todo, serão coletadas amostras de cerca de 15 mil pacientes, entre 16 e 25 anos, de todas das capitais brasileiras. Junto à coleta de material genital e sanguíneo, serão realizadas entrevistas para investigar possíveis padrões nas infecções. O estudo é promovido pelo Hospital Moinhos de Vento, dentro do âmbito do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde (PROADI-SUS).
A gestora do projeto, Eliana Wendland, explica que um estudo desse porte é imprescindível para o combate ao câncer de colo de útero, que também é um dos objetivos da Organização Mundial da Saúde (OMS). “Esse estudo vai fornecer informações para o planejamento de novas medidas de combate ao HPV no Brasil, um dos principais causadores de câncer de colo uterino e de orofaringe”, explica.
O CÂNCER
O câncer do colo do útero é causado pela infecção persistente por alguns tipos de vírus chamados de Papilomavírus Humano (HPV). A infecção genital por esse vírus é muito frequente e não causa doença na maioria das vezes. Entretanto, em alguns casos, ocorrem alterações celulares que podem evoluir para o câncer.
A detecção precoce do câncer é uma estratégia para encontrar um tumor numa fase inicial e, assim, possibilitar maior chance de tratamento. O exame preventivo do câncer do colo do útero (papanicolau) é o procedimento mais efetivo para detectar lesões precursoras e fazer o diagnóstico precoce da doença. O exame pode ser feito em postos ou unidades de saúde da rede pública que tenham profissionais capacitados. Sua realização periódica permite reduzir a ocorrência e a mortalidade pela doença.
AGENDA POSITIVA – Em 10 de dezembro, às 20h, a Associação de Ginecologia e Obstetrícia do Estado de São Paulo (Sogesp) promove a live de tema “Como erradicar o câncer de colo de útero no Brasil”. O evento visa à atualização continuada de médicos dos setores público e privado da saúde sobre prevenção primária, secundária e terciária do câncer, bem como o manejo público e políticas de saúde.
Queremos conclamar todos os médicos ginecologistas a aderir à campanha da OMS e que chamemos atenção de órgão públicos para incremento de vacinação e introdução de teste DNA-HPV, como rastreio primário e exame mais sensível do que a citologia para rastreio”, comenta Dra Márcia.
Com Assessorias