De acordo com a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular (SBACV), cerca de 25% dos pacientes diabéticos terão, ao menos uma vez na vida, feridas nos membros inferiores, decorrentes de complicações da doença, aos quais 50% acabam infeccionando. Estima-se que a cada 20 segundos um brasileiro sofre amputação dos membros inferiores por causa do diabetes. Uma realidade que pode ser mudada com a prevenção e a orientação de profissionais especializados.
A dificuldade de cicatrização de feridas causada pela doença pode levar à neuropatia diabética, uma das maiores causas de amputação de membros inferiores no Brasil. Denominada popularmente de “pé diabético “, é uma das graves complicações da pessoa com diabetes relacionadas ao tempo decorrido desde o início da doença, ao controle irregular da glicemia e à atenção dispensada aos pés.
O “pé diabético” é uma das principais complicações causadas pelo diabetes não controlado, sendo responsável pela maioria das amputações em pacientes com a doença. Nesses casos, alterações nos pés e nas pernas podem acarretar em feridas de difícil cicatrização, que, se não tratadas corretamente, podem evoluir ao ponto de causar a perda do membro”, afirma a angiologista e cirurgiã vascular Roberta Campos, e presidente da SBACV do Maranhão.
Uma das principais manifestações da doença é cutânea. O diabético pode sofrer diminuição do estímulo das glândulas sudoríparas ou sebáceas, o que favorece o ressecamento da pele e pode causar rachaduras. Problemas circulatórios também podem ocasionar lesões de pele devido à morte celular. “Na pele, ocorre a perda da inervação das glândulas sudoríparas e, consequentemente, da oleosidade natural, levando ao ressecamento e rachaduras que são potenciais focos de infecção”, esclarece.
O acompanhamento médico, inclusive da especialidade vascular, é extremamente importante, mas, muitas vezes, é negligenciado. “Quanto mais precoce e adequado for o tratamento da úlcera, maiores serão as possibilidades de sucesso e menores os riscos de amputação. Aproximadamente 85% de todos os desfechos desfavoráveis poderiam ser reduzidos com práticas de educação e intervenção precoce no início das complicações”, alerta a Dra. Roberta.
Diabetes agrava problemas circulatórios
Segundo a Sociedade Brasileira do Diabetes, a doença atinge quase 7% da população do país. A taxa de incidência da doença cresceu 61,8% nos últimos dez anos, uma preocupação a mais quando constatamos que 70% das amputações no Brasil se deve às altas taxas de açúcar no sangue. De acordo com a SBD, 31% das feridas complexas em nosso país resultam em complicações da diabetes e aproximadamente 55 mil brasileiros perdem uma parte do corpo devido à doença.
A preocupação com os tratamentos de lesões cresce ainda mais com o aumento da expectativa de vida do idoso. Vários anos de alimentação inadequada fazem crescer cada vez mais o número de diabéticos no país”, ressalta Ricardo Brizzi, angiologista e cirurgião vascular.
Mas porque no diabético as feridas não cicatrizam? Dr Ricardo explica que a alta taxa de glicose no sangue leva a inúmeras alterações bioquímicas, afetando principalmente a micro circulação sanguínea do portador da doença. “O diabético tem afetadas as circulações oculares, renal e das extremidades. São os três pontos de maior acometimento”, explica o especialista, que atua no Hospital Badim, no Hospital Israelita e no Hospital Norte D’Or, no Rio de Janeiro.
Além da alteração circulatória, as pessoas com diabetes têm alterações sensitivas. Eles possuem pouca sensibilidade nas extremidades, tanto para estímulos dolorosos como para estímulos térmicos. Essas regiões acabam ficando mais propensas a traumas no dia a dia e, com a circulação deficiente, a cicatrização é mais demorada. Ainda segundo ele, essas alterações bioquímicas do sangue também afetam as células de defesa do organismo e a infecção no local é mais comum.
Dicas para ajudar o sistema circulatório
Segundo o angiologista, além de uma dieta rigorosa e uso de medicação, a caminhada é muito importante para o sistema circulatório de pessoas com diabetes. “A pessoa deve caminhar no mínimo 20 a 40 minutos por dia. É importante o uso de sapatos adequados e confortáveis que não machuquem o pé. Antes de iniciar o exercício, é importante passar a mão dentro do sapato para ver se não tem nenhum tipo de costura, para não machucar durante a caminhada”, recomenda.
Outra dica, segundo ele, é comprar o calçado sempre no fim da tarde, quando os pés estiverem mais inchados. Assim o sapato não incomodará no final do dia. Outra preocupação é com os cuidados com as unhas e cutícula dos pés diabéticos. Sempre procurar pessoas capacitadas para tratamento adequado, evitando machucados na região.
A pessoa que possui diabetes nunca deve andar com os pés descalços, mesmo dentro de casa. Muito cuidado ao caminhar na praia, pois a temperatura da areia pode causar queimaduras. Cuidado também com banhos de mar, cachoeira e rio, pois há riscos de ferimentos nos pés ou trauma térmico por causa da água muito fria. Em caso de lesão ou ferida, procurar imediatamente orientação médica. Com a doença controlada e com os cuidados necessários, o paciente pode terá uma vida normal.
Pés devem ser examinados uma vez por ano
A Sobest – Associação Brasileira de Estomaterapia: estomias, feridas e incontinências apoia a campanha Novembro Diabetes Azul e reforça a orientação de cuidado. A campanha chama a atenção para questões cruciais para as pessoas com diabetes e mantém firmemente a doença no centro das atenções públicas e políticas.
Toda pessoa com diabetes deve ter seus pés examinados uma vez por ano, de acordo com o grau de risco para lesões e amputações, mais vezes por ano”, explica a enfermeira estomaterapeuta Suely Thuler, membro titulado da Sobest.
A falta de sensibilidade, devido à neuropatia que afeta os nervos dos membros inferiores, principalmente nos pés, leva a não percepção de traumatismos possíveis de ocorrer no dia a dia, como uma bolha causada por sapato. “Lesões não percebidas, portanto, não tratadas, podem evoluir para feridas de difícil cicatrização, infecção e amputação”, destaca Suely.
Apesar de ser uma doença perigosa, muitos pacientes não mantêm o diabetes sob controle ou sequer sabem que têm a enfermidade. Quando mal controlado, o diabetes pode causar deformidades ósseas e alterações anatômicas nos pés e pernas, aumentando os pontos de pressão ao caminhar e causando calosidades que podem vir a se tornar feridas.
Outra consequência importante é a chamada “neuropatia sensitiva”, que faz a pessoa perder a sensibilidade do pé, a percepção de onde está pisando ou mesmo de um machucado. Em muitos casos, o diabético machuca o pé e não sente dor. Se não houverem cuidados diários, a lesão pode não ser percebida, evoluindo rapidamente para o estágio crônico e se tornando porta de entrada para infecções e contaminações.
Formigamento e a deformação dos ossos dos pés, que dificultam a mobilidade, são outros sinais importantes do desenvolvimento do pé diabético. “O pé diabético é perigoso e pode atingir pacientes de qualquer idade. É pouco comum que ocorra na mesma gravidade nos dois pés, mas pode, sim, atingir os dois membros. Também pode haver manifestações nas mãos, mas é raro”, explica Antônio Rangel, enfermeiro estomaterapeuta.
Costuma-se dizer, na literatura, que quando a pessoa completa 10 anos do diagnóstico do diabetes é preciso ficar atenta e passar por um controle mais rígido e constante. O paciente pode apresentar sintomas como dores, agulhadas, alterações no formato do pé, dedos em garra, ressecamento da pele e perda de sensibilidade. Todos esses sintomas merecem atenção”, conta.
Cuidados especiais com os pés
Segundo Rangel, é importante que o diabético tenha o hábito de cuidar dos pés, verificar as unhas e hidratar a pele, além de usar apenas de meias de algodão e sapatos confortáveis, com solado rígido e material de boa qualidade, para proteger o pé. Se a pessoa já tem as alterações, precisa de um sapato especial que tem uma estrutura especial para o pé diabético.
Para o especialista, o melhor tratamento é o acompanhamento mensal do paciente, com visitas frequentes a um especialista, além do monitoramento diário realizado pelo próprio paciente ou por um familiar. “O diabético precisa olhar o próprio pé todos os dias. Qualquer lesão ou alteração, por menor que seja, deve ser comunicada ao médico ou enfermeiro o mais breve possível”, destaca.
Para os que sofrem com o problema, o cuidado com as pernas e os pés é essencial, já que sintomas, como a fragilização dos vasos sanguíneos, enfraquecem a pele e facilitam o aparecimento de ferimentos, além da má cicatrização dessas lesões.
Como realizar o auto-exame dos pés
De acordo com a Dra Roberta, é possível realizar o autoexame para evitar o quadro. “Colocando um espelho no chão para observar a face plantar do pé. Lembrando que os pacientes diabéticos podem ter retinopatia associada, que prejudica a visão. É mais seguro que um acompanhante faça a inspeção diária do pé do paciente diabético”, ilustra.
Dra Roberta afirma que existem três pilares fundamentais para a prevenção e tratamento do pé diabético.
- Avaliação frequente dos pés: o autoexame diário é importante para detectar micoses, escoriações e úlceras.
- Higiene: lavar diariamente os pés, com sabão não abrasivo, secar muito bem e hidratar. Manter as unhas aparadas, sempre em corte reto;
- Cuidados especiais: é muito importante secar entre os dedos para evitar a proliferação de fungos e bactérias, e não utilizar cremes hidratantes nessa região. Evitar, também, qualquer tipo de situação que possa, de alguma forma, machucar os pés, como andar descalço.
Podóloga dá dicas de prevenção
Malú Pinheiro, coordenadora técnica da Doctor Feet, alerta que um simples machucado no pé de um diabético pode se tornar um problema grave. “O motivo é a falta de sensibilidade no membro e, por não sentir dor ou qualquer incômodo, a pessoa acaba desenvolvendo calos de pressão, lesões na pele e nas articulações”, comenta.
Segundo a especialista, nos casos graves, a demora da cicatrização pode infeccionar o pé, levar à gangrena e, em último caso, amputação da área lesionada. “É importante lembrar que ter a doença não significa necessariamente que atingirá os pés, mas é preciso atenção constante”, salienta a profissional.
E para ajudar na prevenção, Malú Pinheiro traz algumas dicas importantes:
- Fazer uma minuciosa verificação nos pés diariamente, examinando se existem ferimentos, calos, edemas e áreas sensíveis;
- Usar calçados confortáveis e que protejam os pés para evitar bolhas e calos, e no caso de sapatos abertos, evitar arranhões;
- Prefira sapatos fechados, confortáveis e com o solado mais firme. Evite andar descalço, com sandálias abertas ou chinelos para o pé não ficar exposto;
- Secar bem os pés após o banho para evitar frieiras e utilizar cremes hidratantes específicos à noite (evitando passar entre os dedos) para prevenir ressecamento e rachaduras;
- Utilizar óleos essenciais, como melaleuca, que evitem a proliferação de fungos que causam micoses;
- Não cortar as unhas muito rentes ou mexer nas peles dos cantos para evitar ferimentos;
- Isso vale para o tratamento de calosidades, pois não é indicado tentar mexer ou utilizar produtos sem orientação de um especialista, para tentar resolver o problema sozinho;
- Usar meias de algodão, preferencialmente brancas, pois qualquer sinal de ferimento será facilmente identificado.
- Fazer visitas regulares ao médico e, ao podólogo, a cada 30 dias.
Curativo especial acelera cicatrização da pele
O tratamento do pé diabético é complexo e o acompanhamento médico é necessário. Infelizmente, os casos de amputações são comuns, mas os pacientes já encontram no mercado produtos que ajudam na prevenção. Um deles é a Membracel, um curativo especial que acelera a cicatrização da pele..
A Membracel é um curativo à base de celulose, que trata as lesões promovendo uma melhor cicatrização e diminuindo os riscos de infecções. O processo de cicatrização em diabéticos é mais lento e complicado. Esse curativo otimiza a regeneração da pele e ajuda na cicatrização da lesão”, conta Rangel, que atua como consultor da Vuelo Pharma, fabricante do curativo.
Com Assessorias