Recentemente, três pessoas morreram após extraírem o dente: duas jovens do interior de São Paulo e um homem de 50 anos em Fortaleza, acendo o alerta para um problema que muitas vezes era negligenciado – os cuidados pré e pós-operatórios na retirada do dente do siso. Mas a remoção dos terceiros molares, popularmente conhecidos como sisos, é um dos procedimentos cirúrgicos mais frequentemente realizados pelos cirurgiões-dentistas .

Os terceiros molares normalmente aparecem na cavidade bucal ao final da adolescência, por volta dos 17 anos. Especialistas em Cirurgia e Traumatologia Buco-Maxilo-Facial afirmam que, como outros procedimentos cirúrgicos, a remoção destes dentes requer cuidados e pode estar associada a riscos e complicações. O Portal ViDA & Ação ouviu alguns desses especialistas.

Clarice Maia, docente do curso de Odontologia do Centro Universitário Fametro (Unifametro), explica as condições que podem significar riscos. A falta de espaço, ocasionando um inadequado posicionamento destes dentes, bem como sua posição mais posterior no arco dentário são fatores que contribuem para queixas e sintomas apresentados pelos pacientes, como dor e dificuldade para higienizar.

“Nesses casos, a inflamação do tecido gengival adjacente, cáries em virtude da dificuldade de higienização e dor local são alguns dos principais motivadores que levam os pacientes a buscar atendimento, e que justificam a realização da cirurgia”, explica a especialista.

Após a cirurgia de remoção, alguns motivos podem ser preponderantes para complicações como fraturas ósseas, ocorrência de sangramento com formação de hematoma, lesão nervosa e infecções pós-operatórias, segundo Clarice. Esses fatores são: idade avançada, doenças e condições de saúde que comprometem a imunidade do paciente, assim como um posicionamento dentário muito profundo, com maior recobrimento ósseo do dente a ser removido.

“Tais complicações, quando ocorrem, requerem um adequado e pronto tratamento, o qual pode consistir em um segundo procedimento cirúrgico, como no caso das fraturas ósseas envolvendo a mandíbula, ou de acompanhamento e tratamento clínico, associado ou não a abordagens cirúrgicas, se necessário, como é o caso das infecções e dos hematomas. Infecções após a remoção de terceiros molares devem ser diagnosticadas e tratadas de forma precoce, incluindo antibioticoterapia e drenagem cirúrgica, quando necessário”, alerta Clarice.

Como forma de minimizar intercorrências e complicações, a dentista alerta para a importância do acompanhamento por um profissional capacitado para a realização do procedimento cirúrgico, além do seguimento de forma rigorosa das orientações pós-operatórias recomendadas e do adequado uso de medicações prescritas pelo profissional, incluindo o uso de antibióticos, caso necessário.

É comum ficar mais propenso a infecções, diz cirurgião dentista

Os sisos, ou terceiros molares, são os últimos dentes permanentes a se formarem na boca, sendo que costumam despertar muitas dúvidas. “Eles também são conhecidos como dentes do juízo, por aparecerem durante a transição da adolescência para a vida adulta”, diz o cirurgião dentista Fábio Azevedo, especialista em Implantodontia e consultor de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) da S.I.N. Implant System. 

“Os sisos ficam localizados no fundo da boca mas, em alguns casos, não existe espaço o bastante para que eles se desenvolvam plenamente. Com isso, além de surgirem dores na região, o alinhamento do restante da arcada dentária também fica prejudicado”, explica.

Conforme explica o especialista, os dentes do siso costumam nascer de forma progressiva, a partir dos 16 anos. “Na erupção de um dente do siso, justamente por ele romper a estrutura da gengiva, é comum que a pessoa fique mais propensa a infecções”, afirma o Dr. Azevedo. “Além disso, caso não exista higiene e espaço adequado, o paciente pode sentir dor; por isso, diante de qualquer sinal de incômodo, o dentista deve ser procurado, para avaliar a situação”, conclui.

Atualmente, com a evolução do homem, muitas pessoas nascem sem esses dentes. Isso porque, antigamente, era preciso um reforço extra na trituração, em virtude dos alimentos serem mais duros e difíceis de serem mastigados. Com trabalho redobrado, a perda de dentes era ainda mais recorrente do que é hoje.

“O siso, deste ponto de vista, representava uma maneira do organismo aumentar a capacidade mastigatória para a vida adulta. Porém, com a mudança dos hábitos alimentares e o desenvolvimento da Odontologia, eles já não são tão necessários”, afirma o dentista.

Justamente por não serem mais tão primordiais, nos dias de hoje, quando apresentam problemas, os dentes do siso devem ser extraídos, até mesmo antes da sua erupção completa.

“O processo de extração é simples e rápido, sendo possível até mesmo a retirada de todos os quatro sisos de uma só  vez”, relata o dentista. “A fase ideal para o procedimento é geralmente entre os 16 e 21 anos, quando esses dentes ainda não estão inteiramente desenvolvidos, o que facilita a cirurgia e diminui seus impactos.  Mas vale lembrar que eles podem ser retirados em qualquer momento da vida, caso necessário”, ressalta Dr. Azevedo.

A remoção do dente do siso é mesmo necessária?

Os dentes do siso, também conhecido como “dente do juízo” pela idade que normalmente erupcionam na cavidade bucal, são os últimos dentes a aparecer na boca, e a sua extração é uma cirurgia que causa muito receio às pessoas e geram questionamentos se a remoção é sempre necessária.

De acordo com um estudo publicado na Revista Surgeon, no Reino Unido, aproximadamente 152 mil pessoas realizam essa cirurgia, no Brasil não existe um dado exato, mas seguindo a estimativa desta pesquisa, considerando o número de habitantes brasileiros, 480 mil pessoas realizam a cirurgia de extração do siso.

A sua principal função é aumentar a eficiência mastigatória dos alimentos mais sólidos e duros. No entanto, com as mudanças dos hábitos alimentares, a partir da introdução de alimentos cozidos e industrializados, que são mais fáceis de serem mastigados, esses dentes foram perdendo sua função e muitas pessoas nascem inclusive sem eles.

“60 a 70% da população são indicados para fazer essa extração, só no consultório onde eu atuo, são aproximadamente 100 exodontias por mês. Por isso é importante sempre fazer uma radiografia para verificar se eles realmente não estão presentes, pois podem estar dentro do osso e às vezes o paciente nem sabe da sua existência”, comenta o cirurgião bucomaxilofacial  Fábio Ricardo Loureiro Sato.

Quando o siso começam a nascer, principalmente em pacientes em que os dentes são grandes para uma arcada dentária pequena, acontece de não ter espaço para eles saírem completamente e acabam ficando presos dentro da gengiva, e associados com a dificuldade de higienização por estarem localizados no fundo da boca, podem gerar um processo inflamatório no local, causando mau hálito, dor e inchaço.

“Esses dentes também podem estar associados ao aparecimento de cistos e tumores nos maxilares. Por isso, em muitos casos, a extração dos dentes do siso é recomendada. Entretanto, se caso o dente consiga erupcionar totalmente e o paciente consiga manter uma boa higienização, a sua extração não é obrigatória”, explica o Dr. Fábio Sato.

O que pode causar a infecção no dente?

A infecção na região é causada normalmente por acúmulo de restos alimentares abaixo da gengiva que recobre o dente, esse problema é chamado de pericoronarite e a principal preocupação é que ele pode evoluir para situações de maior gravidade, com infecções que podem inclusive levar a morte.

A idade ideal para a remoção é entre 16 a 20 anos, quando a raiz não está totalmente formada e o osso ainda apresenta menor rigidez, o que facilita a extração e evita possíveis complicações, como fraturas de mandíbula e parestesia, que é uma dormência persistente após a realização do procedimento cirúrgico por alguma lesão nos nervos da região.

“Muito da preocupação que se tinha no passado em relação ao procedimento cirúrgico é minimizada hoje em dia com a utilização de técnicas avançadas, que melhoram a recuperação no pós-operatório. Uma cirurgia para extração dos dentes do siso raramente ultrapassa 1 hora”, afirma o cirurgião.

Além disso, ele complementa que os pacientes podem ser sedados, diminuindo o seu nível de ansiedade, tanto antes como depois da cirurgia, trazendo muito mais conforto. Isso possibilita a realização da extração dos quatro dentes do siso em uma única sessão. Em casos especiais, devido a algumas condições sistêmicas de saúde ou mesmo risco de fratura da mandíbula, esse procedimento pode ser realizado em ambiente hospitalar.

Em relação ao pós-operatório, ele costuma ser bem tranquilo, e depende muito da colaboração do paciente, respeitando as recomendações do profissional. A maioria das pessoas que passam por essa cirurgia relata praticamente ausência total de dor no pós-operatório.

“Para isso, é recomendado que nos primeiros três dias a dieta seja gelada e pastosa, e que atividades físicas mais intensas e a exposição ao sol sejam evitadas. Dessa forma, em poucos dias o paciente se recupera e já pode retornar às suas atividades normais do cotidiano”, finaliza Fábio Sato.

 

Entenda as principais dúvidas sobre o tema

dente do siso é o último a nascer e costuma despontar entre os 17 e 21 anos, podendo causar dores, desconfortos, inchaço, infecção da gengiva, dificuldade de higienização, e o consequente aparecimento de cáries, além do desalinhamento dos demais.

Envolto em dúvidas, se é realmente necessário e como extraí-lo, Paulo Zahr, CEO e fundador da OdontoCompany,  rede de clínicas odontológicas do mundo, responde seis questões sobre o tema:

  1. A extração é sempre necessária?

Não, apesar de recomendada, a extração nem sempre é necessária, visto que algumas pessoas apresentam arcadas dentárias que possibilitam seu nascimento sem prejudicar o alinhamento dos dentes. No entanto, a visita ao dentista é importante para identificar, por meio de raio-x, se será possível que os sisos despontem de forma segura.

  1. Todo mundo tem quatro sisos?

Não, apesar da maioria das pessoas terem quatro sisos, há quem não tenha nenhum, além de existirem casos de pacientes que têm apenas um, dois ou três.

  1. Como acontece a extração?

A extração é realizada por meio de uma cirurgia de pequeno porte com anestesia local. Na maioria dos casos é um procedimento simples e seguro, mas dependendo da região onde o dente está localizado, como no interior do tecido ósseo, a cirurgia pode se tornar mais complexa.

  1. De que forma o dente do siso prejudica a estética dos outros?
    Como os sisos são os últimos dentes a nascer, eles vão empurrar os demais caso não haja espaço suficiente, causando o desalinhamento e comprometendo a estética do sorriso. É importante lembrar, entretanto, que cada caso é único e deve ser analisado junto a um profissional.
  2. É possível extrair todos de uma vez?

Sim, inclusive é a melhor opção. Isso acontece porque o pós-operatório demanda alguns cuidados e repouso, ou seja, é melhor passar por isso apenas uma vez.

  1. Quais são os cuidados no pós-operatório?

O indicado é que o paciente fique em repouso de três a quatro dias para aliviar inchaços e sangramentos. Deve-se evitar alimentos muito quentes e duros. Optar por opções geladas, líquidas e pastosas como sorvete, que além de ser de fácil ingestão, cria a sensação de anestesia no local, diminuindo a dor. Não falar muito e dormir com o travesseiro inclinado. Seguir a medicação receitada pelo dentista e fazer compressas frias nas primeiras 48 horas.Para garantir uma recuperação segura e sem complicações, é importante seguir à risca as recomendações médicas após a cirurgia.

Com Assessorias

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