Não é à toa que tantas pessoas estão adoecendo e até morrendo mais precocemente nas empresas. Na terceira matéria sobre saúde organizacional aqui no ViDA & Ação, trazemos a recente pesquisa da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) que mostra que apenas um terço (33%) das empresas brasileiras vê a saúde dos seus colaboradores como um investimento que gera retorno no engajamento e na produtividade. Para outras 31%, é considerada como um “custo obrigatório”, para não ficar em desvantagem com os concorrente. Para 18%, a saúde dos colaboradores é irrelevante no dia a dia dos negócios.
A nova pesquisa sobre Gestão de Saúde Corporativa, realizada entre os meses de maio e junho deste ano, ouviu empresas que empregam mais 1,3 milhão de pessoas e atendem 3 milhões de beneficiados pelos planos de saúde empresariais (entre funcionários e familiares). Em 81% das empresas, os custos com planos de saúde subiram acima da inflação, sendo que em 55% delas, esses custos foram reajustados em mais do que o dobro da inflação. Para 26% das organizações, os custos com saúde subiram de 5% a 10% no último ano; para outros 24% das empresas a alta foi de 10% a 15%.
Para a psicóloga Joseane Freitas, os dados da pesquisa que abrangem principalmente a alta dos custos das empresas em relação a plano de saúde comprovam a falta de gestão de grande parte das organizações sobre a saúde de seus colaboradores. “Para que haja essa mudança de gestão é necessário que seja feita dentro das empresas uma mudança de pensamento em relação a como é tratada a saúde dos colaboradores”, afirma a mestre em Educação pela Unicamp e especialista em Desenvolvimento do Potencial Humano nas Organizações.
De acordo com a pesquisa, 71% das empresas ouvidas disseram trabalhar com uma estratégia e programas voltados à melhoria da saúde de seus colaboradores, porém, apenas 54% delas utilizam indicadores para acompanhar a gestão da saúde. “Como em qualquer ação que se aplica dentro da organização é preciso mensurar os resultados, de nada adianta ter essas estratégias e programas em prol a saúde dos funcionários se não sabem de fato qual está sendo a efetividade dessas ações”, ressalta.
Empresa ‘gerencia’ transtornos de ansiedade e estresse
Para 48% dos entrevistados na pesquisa da ABRH, o nível e estresse na empresa é médio e outros 32% afirmaram que o nível é alto. Na Unilever, por exemplo, um programa chamado Bio Feedback auxilia os colaboradores a gerenciar transtornos de ansiedade e estresse. O tratamento consiste em um processo de psicoeducação que visa ensinar a identificar os gatilhos que geram estresse e ansiedade assim como técnicas para combatê-los.
“Entendemos que a saúde mental é tão importante quanto a física e, por isso, a Unilever foi pioneira em oferecer sólidos programas de apoio nos dois sentidos. Foi uma mudança de paradigma que teve início ainda nos anos 90 e já podemos observar os resultados positivos”, diz Elaine Molina, diretora de Saúde e Medicina Ocupacional da Unilever no Brasil.
Além do Bio Feedback, a companhia, que tem mais de 12 mil empregados no Brasil, promove um programa para gestão de doenças crônicas, que ajuda funcionários atingidos por este tipo de enfermidade.
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Importância da prevenção e promoção da saúde
Segundo Joseane, a pesquisa da ABRH mostra que profissionais que realmente precisam utilizar o plano continuam mantendo os mesmos hábitos que causam ou agravam as doenças, o que reforça a importância de implantar programas de prevenção e promoção à saúde. “Pesquisas sobre qualidade de vida mostram que 10% da população saudável das organizações migram todo ano para o grupo de alto risco quando não é cuidada. Por isso, os programas e cuidados desenvolvidos pelas empresas devem levar em consideração todos os colaboradores”, destaca a psicóloga.
Para a especialista, a prevenção é sempre a melhor forma de se trabalhar a fim de evitar problemas maiores tanto para as empresas como para seus colaboradores, mas, de nada adianta a realização de ações genéricas, que não levam em consideração as particularidades do próprio negócio e perfil de colaboradores, pois não haverá o alcance de resultados. Por isso, segundo ela, o ideal é mapear os perfis existentes na organização e criar as ações com base nesses dados.
Visão holística da saúde inclui maior flexibilidade
O bem-estar dos colaboradores parece ter se tornado um importante ativo também na Unilever. A indústria está no “time” das poucas grandes empresas no país que apostam na saúde organizacional para obter melhores resultados. A empresa se apresenta como “pioneira em políticas de gestão de saúde e em iniciativas que proporcionam bem-estar e qualidade de vida aos funcionários”. O trabalho é realizado em quatro frentes (saúde mental, física, emocional e de propósito), organizadas na plataforma wellbeing, que tem uma abordagem holística, ou seja, que considera o ser humano como um todo e em todos os aspectos importantes de sua vida.
Para Carolina Mazziero, diretora de Recursos Humanos da Unilever no Brasil, a flexibilidade tem papel importante dentro deste conceito, pois respeita as individualidades e as diferentes interpretações para o conceito de “bem-estar”. Dentre as ações que procuram produzir equilíbrio entre vida pessoal e profissional estão a possibilidade de home office e horário flexível de entrada e saída. Para pais e mães, a Unilever oferece berçário e licenças maternidade e paternidade estendidas flexibilizadas.
Com a flexibilização, pais e mães podem escolher como e quando usufruir a extensão da licença – 15 dias no caso dos pais e 2 meses no caso das mães – dentro do primeiro ano do bebê (antes, durante ou depois do período da licença previsto por lei – 5 dias para homens e 4 meses para mulheres). A companhia também disponibiliza uma plataforma digital com dicas e orientações para todos os aspectos relacionados ao tema e que tem como principal objetivo deixar o funcionário a somente um click de distância de qualquer ajuda que necessite.
Programa de atividades físicas e até apoio jurídico e financeiro
Ainda com o intuito de flexibilizar o dia a dia dos funcionários, a Unilever possui um programa de atividades físicas. Lançada em 2014, a iniciativa consiste em disponibilizar um plano de academia com mais de 11 mil estabelecimentos conveniados e espalhados por mais de 900 cidades em todo o Brasil e também no exterior. Ao aderir ao plano, o funcionário tem direito a um acesso por dia, sete dias por semana, em qualquer academia do país conveniada ao Gym Pass. Atualmente, 42% dos colaboradores estão inscritos no programa que também é estendido a seus dependentes.
Através de parceiro especializado, o programa Crescer oferece aos funcionários apoio psicológico, financeiro, jurídico e social. Por meio de um 0800, os colaboradores e seus dependentes contam com atendimento especializado nessas áreas 24 horas por dia, sete dias por semana. O serviço é gratuito e sigiloso e os casos mais complexos são encaminhados para atendimento presencial. A iniciativa teve início no Brasil, há mais de 10 anos e conta com 100% de satisfação, segundo a empresa.
Para facilitar o dia a dia dos colaboradores, a Unilever disponibiliza também alguns serviços em sua sede, como manicure, massagem e bicicletário. Além disso, em datas específicas, proporciona bazares temáticos que contam com descontos significativos na aquisição de produtos.
“Em um mundo tão veloz, em que tudo muda o tempo todo, cuidar de nosso bem-estar é sem dúvida o principal meio de prosperar como indivíduo e como organização. Por isso a Unilever investe em uma plataforma abrangente e com programas caracterizados por flexibilidade, para que nossos funcionários possam sentir-se bem e estejam prontos para enfrentar os desafios diários”, afirma Carolina.
A Unilever é uma das líderes mundiais na comercialização de produtos alimentícios, de limpeza doméstica e de cuidados pessoais. Está presente em mais de 190 países, alcançando 2 bilhões de consumidores por dia, que consomem as mais de 400 marcas disponíveis em seu portifólio de produtos. No mundo, a companhia tem 169 mil funcionários e está no Brasil há 88 anos.
Mais sobre a pesquisa ABRH: taxa de sinistralidade é alta
“Um dos maiores problemas para a alta dos planos de saúde é a gestão de controle de sinistralidade, que, a grosso modo, significa que quanto mais consultas e exames realizados, mais alta a taxa de sinistralidade e, consequentemente, maior impacto na gestão financeira da empresa. Por isso, a importância de implantar programas de prevenção e promoção à saúde, pois a melhora na qualidade de vida dos colaboradores impacta diretamente todo o processo de gestão e gastos de saúde das empresas”, explica a psicóloga.
Segundo ela, também é necessário promover o uso consciente desse benefício. Segundo a pesquisa, 30% dos resultados de exames nunca chegaram a ser consultados. “Dados como esse comprovam como o processo de gestão de saúde corporativa está muito aquém do que poderia”, analisa. De acordo com a ABRH, se as estratégias e programas de saúde estivessem funcionando apropriadamente, os resultados seriam bem superiores aos apresentados na pesquisa.