A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pediu à Polícia Federal (PF) e a outros órgãos a apuração de ameaças contra diretores e servidores, além de reforçar pedido de proteção policial. As ameaças surgiram após decisão da Anvisa de autorizar a aplicação da vacina produzida pelo consórcio Pfizer-BioNTech, a Comirnaty, contra a covid-19 em crianças de 5 a 11 anos, na última quinta-feira (16).

“A Anvisa informa que, em face das ameaças de violência recebidas e intensificadas de forma crescente nas últimas 24 horas, foram expedidos neste domingo (19) ofícios reiterando os pedidos de proteção policial aos membros da Agência. Tais solicitações já haviam sido feitas no último mês de novembro quando a agência recebeu as primeiras ameaças”, diz o órgão, em nota.

As ameaças da milícia digital à vida dos técnicos da Anvisa e seus familiares nas redes sociais foram intensificadas após declaração do presidente Jair Bolsonaro de que divulgaria os nomes dos servidores que aprovaram a medida. “O crescimento das ameaças faz com que novas investigações sejam necessárias para identificar os autores e apurar responsabilidades”, diz a Anvisa.

O ofício foi encaminhado para o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno; ao ministro da Justiça e Segurança Pública, Anderson Torres; ao procurador-geral da República, Augusto Aras; ao diretor-geral da PF, Paulo Maiurino, e ao superintendente regional da Polícia Federal no Distrito Federal, Victor Cesar Carvalho dos Santos.

“Mesmo diante de eventual e futuro acolhimento dos pleitos, a agência manifesta grande preocupação em relação à segurança do seu corpo funcional, tendo em vista o grande número de servidores da Anvisa espalhados por todo o Brasil. Não é possível afastar neste momento que tais servidores sejam alvo de ações covardes e criminosas”, acrescenta a nota.

A Anvisa informou ainda que não publicará os anexos que materializam as ameaças recebidas para não expor os dados pessoais dos envolvidos, no entanto, disse que todas as informações foram encaminhadas às autoridades responsáveis.

Na última sexta-feira, a diretoria da Anvisa divulgou nota rebatendo questionamentos do presidente Jair Bolsonaro sobre a decisão de autorizar a vacinação em crianças com o imunizante da Pfizer-BioNTech.

Em live em redes sociais, na quinta-feira, Bolsonaro disse que pediu extraoficialmente o “nome das pessoas que aprovaram a vacina para crianças a partir de 5 anos”. “Queremos divulgar o nome dessas pessoas para que todo mundo tome conhecimento de quem foram essas pessoas e forme seu juízo.”

Após a declaração de Bolsonaro, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, manifestou-se contrário à aprovação imediata da vacinação para crianças. Ele decidiu que o parecer da Anvisa será levado ao conhecimento de uma comissão de assessoramento, após uma audiência pública a ser realizada em 5 de janeiro de 2022. A comissão, formada por especialistas, já havia se manifestado favorável à vacinação, por unanimidade.

Evidências científicas

A aprovação da vacina da Pfizer para o público infantil foi anunciada em transmissão ao vivo da Anvisa, no YouTube, na última sexta-feira (17), após avaliação técnica da agência, sobre o pedido apresentado em novembro, indicando o uso da vacina para este público. A resolução com a autorização da Anvisa foi publicada na quinta-feira (16) no Diário Oficial da União, em edição especial.

“Com base na totalidade das evidências científicas disponíveis, a vacina Pfizer-BioNTech, quando administrada no esquema de duas doses em crianças de 5 a 11 anos de idade, pode ser eficaz na prevenção de doenças graves, potencialmente fatais ou condições que podem ser causadas pelo SARS-CoV-2”, disse o gerente geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes.

O gerente lembrou que as análises contaram com a participação de diversos especialistas tanto da Anvisa como de outras entidades. “Verificamos segurança e tolerabilidade, em uma primeira fase. Nela foram aplicadas doses diferentes. Com base no resultado, chegamos à conclusão de que deveriam ser aplicadas 10 microgramas, quantidade inferior à aplicada em adultos”, disse.

Ele acrescentou que, na comparação entre crianças de 5 a 11 com pessoas de 16 a 25 anos [considerando as doses correspondentes a cada grupo], foi identificada a presença de anticorpos nas crianças.

“Observamos desempenho satisfatório da vacina também contra a variante Delta”, ressaltou. “E não há relato de nenhum evento adverso sério, de preocupação ou relato relacionado a casos muito graves ou mortalidade por conta da vacinação. Esse perfil de segurança é muito importante”, completou.

De acordo com a gerente geral de Monitoramento, Suzie Marie Gomes, as doses de vacinas para crianças é de um terço em relação à dose e à formulação aprovada anteriormente. Além disso a formulação pediátrica é diferente. Ou seja, não se pode fazer diluição da dose de adulto para a dose de criança.

Suzie Marie acrescenta que as crianças que completarem 12 anos entre a primeira e a segunda dose devem manter a dose pediátrica. A vacina da Pfizer-BioNTech já havia sido autorizada para aplicação em adolescentes com idade a partir de 12 anos.

Por fim, a gerente de Monitoramento ressalta que não há estudos sobre coadministração com outras vacinas e que, portanto, o uso de diferentes vacinas não é indicado.

Segundo a Anvisa, a dose da vacina para crianças será diferente daquela utilizada para pessoas a partir de 12 anos. Os frascos também terão cores distintas para evitar erros na aplicação.

Indústria farmacêutica se manifesta a favor da Anvisa

A Interfarma (Associação da Indústria Farmacêutica de Pesquisa) e mais 15 entidades do setor farmacêutico divulgaram um manifesto em defesa do corpo técnico e do trabalho da Anvisa nesta sexta-feira, 17. Segundo as associações, “são inadmissíveis as ameaças que os servidores da Anvisa vêm sofrendo devido às aprovações de vacinas contra a Covid-19”. O documento conjunto defende ainda que graças ao trabalho desenvolvido pela Agência, os brasileiros tiveram acesso à soluções na pandemia com rapidez.

“As ameaças infundadas à Agência e ao preparado corpo técnico, colocam em risco todos os esforços pela celeridade e credibilidade dos processos de avaliação de vacinas e medicamentos que a Agência tem realizado com irretocável lisura e ética”, afirma o manifesto.

A intimidação à Anvisa e ao seu corpo técnico aumentaram após a aprovação da aplicação de uma das vacinas de Covid-19 para crianças a partir dos 5 anos nesta quinta-feira, 16.  Clique aqui e confira na íntegra o manifesto.

Da Agência Brasil com Interfarma e Redação (atualizada em 19/12/21)

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *