Aos 37 anos, a publicitária Bruna dos Anjos, sabe bem o desafio diário que é largar o hábito que a acompanha desde a adolescência. “Comecei a fumar aos 13 anos e durante dez anos, cigarro e álcool faziam parte da minha rotina. Com 23 anos e 1,68m de altura, cheguei a pesar mais de 150 quilos. Na época, fumava e bebia bastante e o médico recomendou cirurgia bariátrica.

Para o procedimento, ela precisou parar de fumar. Foram 79 quilos eliminados e novos hábitos adquiridos. “Consegui manter uma rotina saudável por um longo período, mas há três anos eu tive problemas de ansiedade, síndrome do pânico e voltei a fumar. Em 2019, tentei parar novamente. Cheguei a ficar seis meses sem fumar, mas com a quarentena ficou muito difícil. Tem dias que fumo um cigarro, mas tem dias que fumo quatro”, lamenta.

O caso de Bruna se confunde com o de outras milhões de pessoas em todo o mundo e acendem o alerta global para os riscos do hábito, por isso, autoridades de saúde destacam a importância de debater o assunto e mostram os malefícios desta prática.

 Uma pesquisa de comportamento na pandemia da Fundação Oswaldo Cruz, realizada em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e a Universidade Estadual de Campinas em 2020, mostrou que 34% dos fumantes aumentaram a quantidade de cigarros. Segundo o levantamento, 30% dos homens e 38% das mulheres fumantes passaram a consumir dez cigarros a mais por dia, desde o início da pandemia.

Ansiedade, depressão e tristeza são algumas das causas apresentadas por pessoas que aumentaram o consumo de cigarro durante a pandemia. A batalha travada por fumantes que querem parar de fumar parece ser ainda mais árdua quando se pensa em todas as privações que população tem passado.

Desses, 6,4% aumentaram 5 cigarros ou menos, 22,5% aumentaram cerca de 10 cigarros e 5,1% aumentaram 20 cigarros ou mais. Entre as mulheres, o percentual de aumento de cerca de 10 cigarros por dia (29%) foi maior do que o percentual entre os homens (17%). No total da população, cerca de 12% são fumantes.

Recaída aumentou 54,5% entre pacientes do HSPE

O grupo de cessação do tabagismo do serviço de pneumologia do Hospital do Servidor Público Estadual (HSPE) de São Paulo registrou aumento de 54,5% de recaída ou intensificação do uso do cigarro entre junho e novembro de 2020. O percentual corresponde a 20 do total de 37 pessoas que haviam parado de fumar há cerca de um ano antes do início do levantamento.

Natalina dos Santos, de 49 anos, é uma das pacientes que voltaram a fumar na pandemia. A aposentada afirma sentir mais vontade de cigarros à noite, o motivo é o noticiário, programas que geram ansiedade e medo nela. “O cigarro me acalma, porque fico muito inquieta e assustada vendo tudo o que está acontecendo no mundo. Antes da pandemia, eu havia parado de fumar agora, fumo um maço por dia”, desabafa Natalina, que fuma há 40 anos.

A observação ocorreu por meio da análise dos registros dos 114 pacientes fumantes acompanhados pelo grupo. O objetivo era identificar se o uso havia sido intensificado, mantido ou suspenso durante a pandemia da Covid-19. O levantamento foi iniciado depois da suspensão das atividades presenciais do grupo de cessação em março de 2020. As ligações, a tabulação dos dados e a análise das informações foram realizadas pelas enfermeiras do serviço de pneumologia Eugênia Camarão e Cristiane Nobre Ferreira, sob orientação da diretora do serviço de pneumologia Maria Vera Cruz de Oliveira.

Segundo a enfermeira Eugenia, os 54,5% dos pacientes que voltaram a fumar ou intensificaram o uso do cigarro relataram se sentirem mais depressivos e ansiosos. “Durante as ligações, eles se sentiam tristes, preocupados e tinha dificuldades para dormir por causa da pandemia. O medo de desenvolver quadros graves da Covid-19 e as mudanças impostas pelas medidas de seguranças os deixou inseguros. O escape desse sentimento era o cigarro”, explicou a enfermeira.

A pneumologista Maria Vera ressalta que o estresse dificulta o processo de largar o cigarro, porque o fumante intensifica o uso para se distrair das situações delicadas. “O mundo externo impacta na motivação do paciente e, caso ele tenha alto grau de dependência física ao cigarro, fica mais difícil”, completou a pneumologista. A médica também comenta que em média o fumante tenta de sete a dez vezes parar de fumar até efetivamente superar o vício.

Para conscientizar sobre os malefícios do cigarro à saúde, a partir de 31 de maio, Dia Mundial Sem Tabaco, o HSPE vai disponibilizar aos seus pacientes e funcionários cartilhas educativas. O conteúdo indica as melhores formas de superar o tabagismo, resistir à tentação e evitar situações gatilhos para consumo de cigarro. O objetivo da ação é dar suporte por meio de informação de qualidade àqueles que desejam parar de fumar.

Para o médico Ricardo Meirelles, que é presidente em exercício da Comissão de Tabagismo da Associação Médica Brasileira (AMB), dois fatores contribuíram para o aumento do tabagismo durante a pandemia: a questão química da nicotina, que é uma droga e proporciona uma falsa sensação de bem-estar, e a necessidade de diminuir a ansiedade.

Isso faz com que a pessoa fume mais durante um momento de ansiedade, estresse e preocupações. Por isso, a pessoa precisa entender que o cigarro não vai resolver os seus problemas e buscar outras formas de lidar com as angústias deste momento. O tabagismo é uma doença e tem tratamento”, reforça ele.

Ele ainda alerta para o risco do tabagismo para o agravamento de quadros de Covid-19. “O tabaco causa aumento da carga viral do coronavírus, contribuindo para formas graves da doença. Quanto mais cedo a pessoa conseguir parar de fumar, menos risco de agravamento da Covid-19 ela vai ter”, explica

As incertezas provocadas pela pandemia geraram aumento dos níveis de estresse, ansiedade e outros fatores que contribuem com este mal hábito. Este é um momento ímpar de conscientizar a população dos males causados pelo tabagismo, principalmente em tempos de pandemia, já que fumantes têm 45% mais chances de agravamento de contraírem a Covid-19″, aponta o médico Alex Galoro, gestor do Grupo Sabin Medicina Diagnóstica.

Com Assessorias

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