Em 2018, a atriz Cristiane Machado foi vítima de violência doméstica por parte do próprio marido, um ex-diplomata influente. Ele acabou preso após as imagens de agressões serem transmitidas em um programa de TV. Hoje ela virou uma ativista das campanhas contra a violência contra a mulher.

Cristiane é uma das convidadas do #PapodePandemia​ desta quarta-feira (31/3), que encerra nossa série especial de reportagens sobre o Mês da Mulher. A outra é Jacqueline Valles, jurista e advogada criminalista, que fala sobre violência doméstica, direitos da mulher e Lei Maria da Penha. A apresentação e mediação são da jornalista Rosayne Macedo, editora do ViDA & Ação.

Conheça a história de Cristiane

A atriz Cristiane Machado virou ativista da causa da violência contra a mulher, após sofrer agressões do seu ex-marido, um ex-diplomata influente. Temendo perder a sua vida e as de seus pais e com medo de que as pessoas não acreditassem no drama que vivia, ela instalou câmeras no seu quarto. As imagens da agressão foram exibidas no programa Fantástico, da TV Globo, em novembro de 2018. O agressor ficou preso 7 meses em Bangu 8 e depois cumpriu prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica. 

Em setembro de 2019, um pouco mais de um ano depois, a justiça o condenou por lesão corporal e cárcere privado, a três anos de prisão em regime semiaberto, onde a pessoa tem o direito de trabalhar fora da prisão durante o dia, mas deve retornar à unidade penitenciária à noite. Porém, o agressor recorre da decisão da justiça em prisão domiciliar. Anteriormente, ele já tinha sido condenado por 10 meses, em regime aberto, em outro processo criminal de violência doméstica. 

Cristiane Machado é uma das primeiras mulheres autorizadas pela Justiça do Rio de Janeiro a usar um dispositivo que avisa sobre a aproximação do acusado de violência doméstica. O aparelho, que funciona como um pager, recebe sinais (apita e vibra) da tornozeleira eletrônica usada pelo agressor quando ele está perto da vítima.

‘A vida demora a voltar ao normal’

Todos acham que porque denunciou, acaba tudo. A vida demora a voltar ao normal. A atriz teve que recomeçar a carreira, trabalhando enquanto ainda recupera a autoestima e a saúde, já que quem sofre esse tipo de crime passa por vários problemas físicos e mentais.

Cristiane sofre de estresse pós-traumático, que adquiriu após sofrer as agressões e começou de forma gradativa. Teve Pielonefrite, uma infecção renal grave, que atinge os rins porque a pessoa prende o xixi por nervoso, medo, concentra tudo nos rins e vai tendo uma infecção urinária. Como se afastou da violência física, ela se curou desse problema.

Hoje, ela vive os sintomas pós-traumáticos: anorexia, depressão e transtorno de ansiedade. Também teve síndrome do pânico, tinha tremor, ataque cardíaco e se curou com medicação, meditação e respiração. Com anorexia, ela tem tratamento contínuo, mas foi tratando a depressão e o transtorno de ansiedade e com força de vontade, se “obrigando” a comer, tomando suplemento vitamínico, que vai se recuperando. 

As sequelas emocionais da violência

Ansiedade deixa a pessoa acelerada e ela faz uso de medicação, pratica yoga porque ainda vive a chamada violência continuada pela internet, por exemplo. Depressão só usa medicação e tenta fazer coisas prazerosas. De acordo com Cristiane, ela sempre pensa: ‘Nessa semana o que fiz por mim, que me deu prazer?’ É importante a pessoa não se esquecer de si. Cristiane perdeu a vaidade, não queria levantar da cama e agora, começou a resgatar a sua autoestima. 

A violência doméstica atinge toda a família, que fica devastada, inclusive os animais domésticos. Minha cachorra também sofreu maus tratos do meu agressor. Precisamos escrever uma nova história nesse país! As leis precisam ser severas porque temos mulheres morrendo. No meu caso, a justiça está sendo feita. Saí viva, fui quase morta, e sei que hoje tenho uma missão. Quero ajudar a viver um novo começo de Era. E isso tem que ser todos nós: homens, mulheres e justiça. Todos juntos buscando apenas a justiça e um mundo mais seguro para mulheres”, diz Cristiane Machado.

Muito além das agressões físicas

Agressões físicas, verbais e outros tipos de violência psicológica são enquadradas na Lei Maria da Penha. “A violência não se manifesta apenas nos tapas, socos e empurrões, mas também em xingamentos, humilhações e privações de contato com psicólogos, amigos ou outras pessoas”, exemplifica a jurista e advogada criminalista Jacqueline Valles.

A especialista conta que muitas das práticas denunciadas publicamente por Duda Reis são descritas na lei nº 11.340, conhecida como Lei Maria da Penha. No artigo 7, a legislação define a violência psicológica como “qualquer conduta que cause dano emocional, diminuição da autoestima, prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar as ações, comportamentos, crenças e decisões da vítima”.

O texto diz ainda que isso ocorre “mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem, violação de sua intimidade, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à autodeterminação”. 

O problema é que muitas mulheres não fazem ideia de que estão sendo vítimas de violência, e isso impede que o crime seja coibido. Por isso, quando uma personalidade pública expõe esse tipo de comportamento, é muito bom esclarecer que essas condutas são passíveis de punição e devem ser denunciadas”, afirma Jacqueline.

A advogada conta, no entanto, que ainda há certa resistência, tanto por parte da Polícia Civil quanto do Judiciário, em registrar boletins de ocorrência e conceder medidas protetivas com base na violência psicológica. “É preciso entender que esse tipo de conduta provoca graves danos à saúde física e mental da mulher. Mais que isso, há a tendência de que os abusos verbais evoluam para agressões físicas”, completa a jurista.

A vítima tem que procurar uma delegacia especializada da mulher para denunciar os crimes. Além da educação, a denúncia é um importante mecanismo para nortear políticas públicas de combate à violência. As mulheres precisam denunciar para interromperem o ciclo da violência e também para que o agressor saiba que sua conduta é errada. Para isso, é fundamental também que programas de reabilitação a agressores sejam amplificados em todo país”, opina.

Com Assessorias

 

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