Um artigo publicado no periódico The Lancet Infectious Diseases ressalta a importância de antever respostas rápidas aos riscos de transmissão vertical do vírus Oropouche (quando passa da mãe para o bebê durante a gestação), levando em conta a experiência de quase uma década de pesquisa sobre a síndrome congênita associada à infecção pelo vírus zika.

No trabalho, os pesquisadores que integram o Zika Brazilian Cohorts (ZBC) Consortium discutem a disseminação de uma nova cepa do vírus Oropouche, transmitido por mosquitos da espécie Culicoides paraenses, conhecidos como maruins, em diversos países da América Latina e Caribe.

Casos de transmissão vertical do vírus, incluindo natimortos e neonatos microcefálicos com resultados positivos para Oropouche, levantam preocupações sobre possíveis riscos à saúde materno-fetal. No entanto, ainda há poucas evidências científicas para confirmar esses riscos, destacando a necessidade urgente de mais pesquisas.

Os cientistas enfatizam a importância de uma resposta rápida e colaborativa para investigar a transmissão vertical dessa arbovirose e seus impactos. As principais recomendações incluem:

  • centralizar a expertise de pesquisadores locais e profissionais de saúde pública para melhor compreensão das características do surto;
  • promover uma cultura de colaboração para facilitar o compartilhamento de dados;
  • fortalecer a vigilância e estabelecer definições diagnósticas claras; e
  • conduzir estudos epidemiológicos para investigar a causalidade e as consequências da infecção congênita pelo vírus Oropouche.

Essas ações devem se basear em lições aprendidas com a pesquisa sobre o zika, visando respostas científicas e éticas para proteger as comunidades afetadas. Os especialistas concluem que a pesquisa sobre o vírus Oropouche deve ser rápida, multidisciplinar e transparente, com foco em intervenções que diminuam os riscos de possíveis infecções congênitas e seus impactos na saúde pública.

O texto é de autoria de especialistas que integram o Zika Brazilian Cohorts (ZBC) Consortium, um consórcio que, por meio da iniciativa de compartilhamento de dados, avaliou o risco de resultados adversos da infecção congênita pelo zika no Brasil. O estudo, do qual fazem parte os pesquisadores da Fiocruz Bahia, Isadora Siqueira, Maurício Barreto e Bethânia Almeida, e pesquisadores de outras unidades da Fundação, apresenta as principais lições aprendidas com o zika e faz recomendações para a investigação da febre oropouche.

Leia mais

Oropouche: Opas investiga transmissão de mãe para filho no Brasil
Febre do Oropouche: entenda a nova arbovirose que preocupa o país
Alerta a gestantes: Oropouche é passado da mãe para o feto

Fiocruz contribui em estudo sobre transmissão vertical de Oropouche

De acordo com o Ministério da Saúde, o Brasil registrou 8,2 mil casos de febre Oropouche em 2024. Em boletim com dados até 19 de outubro, a pasta apontou dois casos de transmissão vertical confirmados e mais de 20 em investigação. Os dois registros confirmados correspondem a um caso de óbito fetal em Pernambuco e um caso de anomalias congênitas no Acre.

Outro estudo publicado na revista científica New England Journal of Medicine confirma a transmissão vertical do vírus Oropouche em um novo caso de morte fetal registrado pelo serviço de vigilância da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa/CE). Este é o terceiro caso confirmado no país.

O estudo traz informações sobre o quadro clínico da gestante, que começou a apresentar sintomas compatíveis com Oropouche, como febre e dores no corpo e de cabeça, no dia 24 de julho, durante a 30ª semana da gravidez. No dia 5 de agosto, ocorreu diagnóstico de morte fetal. Com autorização da família, os especialistas realizaram procedimentos minimamente invasivos para coletar amostras do bebê.

No Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen-CE), o vírus Oropouche foi detectado em diversas amostras fetais, incluindo líquido cefalorraquidiano e tecidos cerebral, pulmonar e hepático, além do cordão umbilical e da placenta. A infecção pelo patógeno também foi confirmada em amostra de sangue da mãe.

O Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que atua como referência regional em arboviroses para o Ministério da Saúde, recebeu amostras para nova bateria de testagem. Após confirmação do resultado positivo, foi realizado o sequenciamento genético do vírus detectado no feto.

A análise apontou a presença da linhagem chamada de OROVBR_2015-2024, que emergiu recentemente no Brasil e foi caracterizada em artigo publicado na revista científica Nature Medicine, liderado pelo IOC/Fiocruz e pelo Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia). 

Segundo virologista Felipe Naveca, chefe do Laboratório de Arbovírus e Vírus Hemorrágicos do IOC/Fiocruz, a análise desses genomas mostrou que o vírus pertence à linhagem que emergiu na Região Norte, se espalhou pelo Brasil e chegou a diferentes países como Bolívia, Cuba, Estados Unidos e Itália. 

Esse é mais um estudo que evidencia que o vírus Oropouche é capaz de fazer infecção vertical. O mecanismo como isso acontece ainda é desconhecido, mas já existem evidências robustas de que o Oropouche pode causar danos severos em fetos, incluindo o óbito”, completa o pesquisador.

Além do IOC/Fiocruz, Lacen-CE e Secretaria da Saúde do Ceará, colaboraram com o estudo: Universidade de Fortaleza (Unifor); Universidade Federal do Ceará (UFC);  Serviço de Verificação de Óbitos do Ceará Dr. Rocha Furtado (SVO/Sesa/CE); Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen-CE); IOC/Fiocruz; Faculdade São Leopoldo Mandic; e Escola de Saúde Pública do Ceará Paulo Marcelo Martins Rodrigues (ESP/CE). 

Com informações da Fiocruz

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *