Desde o início de setembro, autoridades de São Paulo estão investigando dezenas de casos de contaminação e mortes que estariam associadas ao consumo de bebidas adulteradas com metanol. O número de intoxicações por bebida adulterada registrados em setembro pelo CIATOX (Centro de Informação e Assistência Toxicológica) de Campinas bateu recorde.
Nos últimos dias, o número de notificações vem aumentando paulatinamente, a cada boletim divulgado. As suspeitas já ultrapassam o território do estado mais populoso do país e chegaram a Pernambuco e ao Distrito Federal. Há relatos de complicações graves, incluindo ao menos uma pessoa que perdeu completamente a visão após beber.
Estudos apontam que a ingestão de apenas 10 ml de metanol diluído em um litro de bebida é suficiente para causar lesões neuro-oftalmológicas, incluindo cegueira permanente. O consumo de 30 ml pode levar à morte.
Diante dos riscos, os oftalmologistas fazem um alerta sobre o metanol, um tipo de álcool usado industrialmente em solventes e outros produtos químicos, altamente perigoso quando ingerido.
Inicialmente, ataca o fígado, que o transforma em substâncias tóxicas que comprometem a medula, o cérebro e o nervo óptico, podendo causar cegueira, coma e até morte“, afirmam os especialistas.
Alarmada com os casos de intoxicação, no estado de São Paulo, por ingestão de metanol em bebidas adulteradas, a Associação Brasileira de Neuro-oftalmologia (ABNO) fez um alerta sobre os riscos de o consumo de metanol causar neuropatia óptica, “uma doença grave que pode causar perda de visão irreversível”, descreve a nota..
Segundo a associação, entre 12 horas e 24 horas após o consumo, podem surgir sintomas de intoxicação como “dor de cabeça, náuseas, vômitos, dor abdominal, confusão mental e, principalmente, visão turva repentina ou até cegueira.”
De acordo com a ABNO, o diagnóstico deve ser feito a partir da história clínica do paciente e por exames de sangue e de imagem. O tratamento deve ser imediato e com uso de antídotos (como o etanol venoso), bicarbonato para corrigir a acidez no sangue, vitaminas (ácido fólico/folínico) e, nos casos mais graves, hemodiálise para remover o veneno.
Como o metanol afeta a visão após ingestão de bebidas contaminadas
A Sociedade Goiana de Oftalmologia (SGO) também se manifestou sobre os riscos no consumo desse produto à saúde ocular. “Existe um período de latência, de 6 a 12 horas após a ingestão e a intoxicação e, obviamente, é diretamente proporcional à quantidade de metanol que foi ingerido. Inicialmente, o paciente pode ter um pouco de dor de cabeça, confusão mental, dores abdominais, o quadro neurológico pode evoluir com uma confusão mais intensa e turvação da visão”, elenca o vice-presidente Leiser Franco.
O risco de perda da visão está relacionado à forma como o organismo processa essa substância. Quando o metanol é ingerido, ele é metabolizado pelo fígado e transformado em formaldeído e ácido fórmico, extremamente tóxicos. Esse último interfere diretamente na produção de energia das mitocôndrias, estruturas celulares fundamentais para o funcionamento das células nervosas do nervo óptico. Sem energia suficiente, essas células não funcionam corretamente e podem entrar em colapso, causando inchaço e pressão dentro do nervo.
Leiser Franco cita alguns sintomas que podem ser observados nos pacientes. “Depois que o metanol é metabolizado, ele forma seus produtos tóxicos para o organismo e tem uma predileção por uma lesão no nervo óptico, levando a uma turvação da visão, um embaçamento da visão. Alguns pacientes relatam a percepção de uma névoa e também a perda de visão definitiva em casos mais graves. Nos casos neurológicos, esse quadro de confusão mental se acentua, podendo evoluir para coma e, se não tratada, até a morte”.
Pessoas que tenham consumido bebidas alcoólicas e manifestem qualquer um dos sintomas associados à intoxicação por metanol devem buscar imediatamente algum serviço de emergência médica.
O diagnóstico do grau de lesão do nervo óptico envolve exames como a acuidade visual, que mede a capacidade de enxergar detalhes; a avaliação do campo visual, que verifica a visão periférica ou “de canto de olho”; e testes de resposta da pupila à luz e percepção de cores.
Leiser explica ainda que, se possível, é importante guardar as embalagens ´- já que o metanol passa despercebido e só pode ser identificado via laboratorial.
Sinais de alerta surgem entre 24 e 48 horas após consumo
De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto diretor executivo do Instituto Penido Burnier de Campinas. quando o metanol entra na corrente sanguínea é transformado em ácido fórmico, substância que diminui a oxigenação das células e é altamente tóxica.
A toxidade somada à falta de oxigênio, explica, atacam o nervo óptico desencadeando neurite óptica. Caso a doença não receba o tratamento adequado durante a fase inicial ou aguda causa a perda irrecuperável da visão. Já a intoxicação sistêmica causa sérios danos ao fígado, rim, coração, pâncreas e até alterações na camada externa do cérebro que caracterizam a esclerose múltipla, levando ao óbito”, explica.
O especialista diz que os sinais de alerta sempre indicam uma emergência médica, mas, geralmente só surgem entre 12 e 24 horas. Isso porque, o álcool etílico das bebidas tornam o metabolismo do metanol mais lento, explica. Nos olhos, afirma, os primeiros sintomas são: visão turva, fotofobia e dor retrobulbar ou ao movimentar os olhos. Os sintomas sistêmicos mais frequentes da intoxicação elencados pelo médico são: náusea, forte dor de cabeça, dor abdominal, vômitos e alteração da consciência.
As primeiras 48 horas são cruciais para salvar a visão e a vida após uma intoxicação por metanol. Diante da suspeita de ingestão de álcool adulterado, Queiroz Neto recomenda que a pessoa seja encaminhada a uma triagem no CIATOX para confirmar a acidose metabólica grave que requer hemodiálise para eliminar o metanol da corrente sanguínea. Outra terapia elencada pelo oftalmologista para casos menos graves de acidose, frequente entre pessoas que consomem pouca bebida adulterada é o fomepizol, também conhecido como 4-metilpirazo,l um antídoto ao metanol.
O acúmulo de ácido fórmico no nervo óptico pode causar edema que pode ser tratado com corticosteroides que eliminam a inflamação. A dica para prevenir intoxicação por bebida adulterada observar na garrafa o registro ANVISA, lacre de segurança e selo fiscal, finaliza.
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Visão borrada, fotofobia, manchas escuras no campo visual e uma névoa que vai se espalhando até apagar completamente a capacidade de enxergar. São esses alguns sinais de perigo para quem consome, sem saber, bebidas alcoólicas adulteradas com metanol. Entre os efeitos dessa substância altamente tóxica no organismo está o ataque direto ao nervo óptico, estrutura essencial para a visão.
O nervo óptico funciona como um cabo que conecta a retina ao cérebro, onde as imagens são processadas. Se for danificado, a transmissão falha e a visão pode ser perdida”, explica o oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do Conselho Deliberativo do Einstein. “Ele é tão delicado que encostar a ponta de uma antena, por exemplo, já pode causar lesão irreversível.”
Ele explica que o risco de perda da visão está relacionado à forma como o organismo processa essa substância. Quando o metanol é ingerido, ele é metabolizado pelo fígado e transformado em formaldeído e ácido fórmico, extremamente tóxicos. Esse último interfere diretamente na produção de energia das mitocôndrias, estruturas celulares fundamentais para o funcionamento das células nervosas do nervo óptico.
Sem energia suficiente, essas células não funcionam corretamente e podem entrar em colapso, causando inchaço e pressão dentro do nervo. “Como o nervo óptico depende dessa energia para funcionar, a ausência dela causa um sofrimento importante e leva essas células à morte. E células nervosas que morrem não se regeneram, daí a gravidade do caso”, pontua Lottenberg.
Quais os sintomas?
Os sintomas visuais associados à intoxicação por metanol não aparecem imediatamente. Eles podem surgir entre seis e 24 horas após a ingestão e, muitas vezes, começam com sinais confundidos com uma simples ressaca: tontura, fraqueza, náusea e dor de cabeça.
Com a progressão do quatro, a visão pode ficar embaçada, surgem manchas escuras (escotomas), maior sensibilidade à luz e até visão dupla. “O pior dos mundos é quando ocorre a perda progressiva da visão, como uma névoa que vai encobrindo tudo aos poucos”, relata o oftalmologista.
O diagnóstico do grau de lesão do nervo óptico envolve exames como a acuidade visual, que mede a capacidade de enxergar detalhes; a avaliação do campo visual, que verifica a visão periférica ou “de canto de olho”; e testes de resposta da pupila à luz e percepção de cores.
Além de provocar danos irreversíveis ao nervo óptico, o ácido fórmico também pode afetar outras áreas do sistema nervoso central e causar acidose metabólica grave (acúmulo de ácido no organismo), levando a perda de consciência, coma e até morte.
Atendimento médico imediato é fundamental para tentar conter os danos. O tratamento inclui medidas de suporte e o uso de etanol como antídoto, já que ele “compete” com o metanol pela enzima que o transforma em ácido fórmico.
Também pode ser necessário corrigir a acidose metabólica e, em casos graves, realizar hemodiálise para eliminar o metanol da circulação sanguínea. “O tempo é absolutamente fundamental. Se a intervenção for rápida, é possível reverter parte dos danos. Mas o tempo de ação é muito individual e depende da quantidade de álcool ingerida”, observa Claudio Lottenberg.
O que fazer em caso de suspeita
Pessoas que tenham consumido bebidas alcoólicas e manifestem qualquer um dos sintomas associados à intoxicação por metanol devem buscar imediatamente algum serviço de emergência médica.
Se conhecer outras pessoas que ingeriram o mesmo produto, elas também devem procurar atendimento de saúde. Em comunicado, o governo federal orienta a entrar em contato com pelo menos uma destas instituições:
- Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;
- CIATox da sua cidade para orientação especializada;
- Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 de qualquer lugar do país.
Fonte: Agência Einstein e Assessorias