Embora os sintomas das alergias a medicamentos sejam semelhantes em crianças e adultos, com vermelhidão no corpo, algumas vezes acompanhadas de coceira, ou mesmo placas de urticária ou inchaço nos olhos, lábios etc., as reações a medicamentos são menos frequentes na infância quando comparadas à fase adulta. Outro aspecto que diferencia é que as mulheres são as mais acometidas e, na infância, não há predileção por gênero.

Mara Morelo, médica alergista membro do Departamento Científico de Alergia a Medicamentos da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI), conta que alguns estudos sugerem que crianças de menor idade teriam maior risco para reações adversas a medicamentos, porém o nível de evidência não é alto.

“São necessários mais estudos para avaliar esse dado. Em uma revisão recente da literatura, foi observada uma prevalência de autorrelato de reações a medicamentos em 10% de adultos contra 5,1% de crianças. Quando a investigação dessa prevalência foi realizada em unidades de saúde (pacientes internados e ambulatoriais), ela foi um pouco maior (7,1% em crianças), mas ainda menor quando comparada a dos adultos (16,8%). Entretanto, após uma investigação completa baseada na história clínica e testes diagnósticos, ambas as prevalências reduzem bastante, ou seja, a hipersensibilidade verdadeira é bem menor do que a autorreferida”, explica a especialista.

Medicamentos que mais causam alergias

Um estudo na América Latina que incluiu centros brasileiros mostra que os anti-inflamatórios foram as principais causas de reações a medicamentos, mesmo em crianças. “Por isso, é importante tomar medicamentos somente com prescrição médica, mesmo que seja para tratamento de uma dor ou febre”, alerta Dra. Mara.

Assim como em adultos, os anti-inflamatórios e os antibióticos, especialmente os do grupo dos beta-lactâmicos (como penicilina, amoxicilina etc.), são os que mais desencadeiam reações alérgicas.

Segundo a especialista da ASBAI, felizmente, as reações graves são mais raras. As reações alérgicas a medicamentos são divididas em dois grupos: as que ocorrem rapidamente após o uso do medicamento (em minutos a poucas horas) e as que ocorrem após várias horas ou dias.

“Entre as reações graves que ocorrem rapidamente, nós podemos citar a anafilaxia (o paciente apresenta além das alterações na pele, manifestações como falta de ar, chiado no peito, vômitos, palpitações, queda da pressão arterial, podendo inclusive evoluir para óbito). Entre as reações tardias, observamos manifestações cutâneas mais graves, como lesões bolhosas no corpo e acometimento de órgãos internos como fígado, rins etc. Muitas vezes, essas reações tardias são de difícil diagnóstico, pois o intervalo entre o início da medicação e dos sintomas é mais longo”, explica Dra. Mara.

Como identificar a alergia ao antibiótico?

O primeiro passo é verificar se realmente a criança tem alergia a antibióticos. Isso é feito através de uma história clínica bem detalhada, buscando esclarecer quais foram os sinais e sintomas apresentados pela criança.

A médica alergista conta que, muitas vezes, a criança apresenta manifestações cutâneas que foram desencadeadas por uma infecção e não pelo medicamento em si. A partir da história, os alergistas poderão indicar testes específicos para esclarecer o diagnóstico.

“Esses testes podem ser realizados na pele ou mesmo oferecendo a medicação suspeita para confirmar ou afastar a alergia, o que é conhecido como teste de provocação oral. Sempre deve ser realizado por alergistas treinados em local apropriado para o tratamento de uma eventual reação adversa”, alerta a especialista.

Após o diagnóstico preciso, pode-se receitar antibiótico mais indicado para aquela criança. Caso se confirme a alergia a um antibiótico, é possível indicar um antibiótico de outra classe que não faça reação cruzada com o anterior.

“Alergia a Medicamentos na Infância” é um dos temas que será abordado durante o 47º Congresso Brasileiro de Alergia e Imunologia, que acontece entre os dias os dias 31 de outubro e 02 de novembro. Por razão da pandemia causada pelo novo coronavírus, pela primeira vez, após 48 anos de existência, o Congresso será realizado no formato online.

Entre 15% e 20% da população brasileira já teve urticária, doença manifestada por placas avermelhadas quentes, em alto relevo, altamente pruriginosas, geralmente acompanhas por muita coceira. Da mesma maneira que se espalham pelo corpo, elas podem desparecer com ou sem medicamento.

O desconforto maior sempre é a coceira, que deixa os pacientes debilitados e incomodados por vários dias.

O tratamento da doença se baseia em identificar a causa. A urticária aguda pode ser desencadeada por vários motivos. “Na população infantil, pode estar associada a um vírus, mas não podemos deixar de lado as alergias alimentares, que também são importantes desencadeadoras da doença, tanto em crianças como em adultos, sendo que nestes últimos temos também outro vilão que são os medicamentos”, explica o alergista Dr. Eduardo Magalhães de Souza Lima, da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).

De acordo com o médico, o tratamento é baseado no uso de antialérgicos e eliminação da causa, quando identificada.

Existem dois tipos de urticárias. A aguda dura menor tempo, no máximo seis semanas. Já a crônica, com duração acima de seis semanas, ainda pode ser classificada como crônica com causas conhecidas e de causas desconhecidas, geralmente chamada de urticária crônica espontânea. “Ainda temos as induzidas por aspectos físicos, ou seja, por água, calor, entre outros fatores”, comenta Dr. Eduardo.

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