Dia 4 de outubro é lembrado como o Dia Nacional do Agente Comunitário de Saúde. Mas você sabe o que faz um ACS? Ele é um dos profissionais que compõem a equipe multiprofissional nos serviços de atenção básica, desenvolvendo ações de prevenção e promoção à saúde. Além disso, podem ter papel fundamental no enfrentamento das mudanças climáticas no território em que atuam.
Foi o que mostraram cerca de 50 agentes comunitários de saúde que atuam na atenção primária de Teresópolis. Eles tiveram protagonismo na simulação de remoção antecipada da população que vive em áreas vulneráveis, realizada no início deste mês na comunidade Pimentel, uma das áreas de risco de desastres geológicos da cidade da Região Serrana.
O objetivo do simulado era testar como remover as pessoas seis horas antes da ocorrência de eventos extremos. Durante a ação, os moradores foram resgatados dentro do tempo previsto e todos em segurança. Ao todo, 70 agentes comunitários receberam treinamento. No dia do simulado, cinco moradores da comunidade foram resgatados de suas casas.

A base de operações, com toda a logística de atuação, foi montada na Unidade Básica de Saúde e na Escola Irene Santana do Valle, onde foram acolhidos os moradores.  Na ação, os profissionais acionam, por telefone, os moradores cadastrados, pessoas com deficiência e limitações de deslocamento, sejam elas idosos, gestantes, obesos ou acamados.

O simulado serviu de modelo para os moradores saberem como proceder frente a chuvas fortes na comunidade. Kelly Cristina tem 39 anos, é deficiente visual e auditiva e foi uma das voluntárias a participar da ação.

Moro há 11 anos na comunidade, e este tipo de ação é uma novidade. Em 2011, perdi meu cunhado e meu sobrinho no bairro Espanhol, devido aos temporais que assolaram nossa cidade. O treinamento nos prepara para uma situação real”, contou.

A agente comunitária Helena Carolina, de 27 anos, destacou a importância do vínculo dos profissionais na hora da realização de resgates.

Temos uma relação muito próxima e de mútua confiança. Sou moradora da comunidade assim como eles. Conheço a realidade da localidade, os moradores do território e seus desafios. Em um plano de resgate, a convivência faz a diferença e é um fator determinante na hora de uma abordagem para a desocupação”, declarou a ACS.

Projeto-piloto simula resgate de moradores em caso de eventos climáticos
O simulado para prevenção de agravos à saúde causados por enchentes e deslizamentos faz parte do plano de contingência do projeto-piloto desenvolvido pela Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e Defesa Civil de Teresópolis, para a gestão de riscos de desastres provocados por chuvas intensas em áreas monitoradas pelo Centro de Inteligência em Saúde (CIS) do Governo do Estado.

Clarissa Guitta, secretária de Saúde de Teresópolis, enfatizou a importância da participação da Atenção Primária no planejamento das contingências e elogiou o comprometimento de cada um dos seus profissionais de saúde, todos sensibilizados por integrarem essa rede de ações preventivas contra os efeitos das chuvas fortes nas comunidades de risco geológico.

Para o assessor especial do Gabinete da Secretaria de Saúde, Sérgio Simões, o Agente Comunitário de Saúde é um dos principais agentes públicos na promoção de mudanças de comportamento para o enfrentamento de eventos climáticos severos. “Ele tem credibilidade e legitimidade no território em que atua e, por isso, exerce protagonismo na orientação sobre a percepção dos riscos que afetam as famílias de sua área de atuação”.

Segundo ele, o simulado foi uma experiência exitosa, que evidenciou o protagonismo dos ACS no seu território de atuação e a sua capacidade para contribuir na proteção da vida destas pessoas, antes que os eventos adversos se consolidem na forma de desastres.

A Secretaria de Saúde tem um plano de contingência que estava mais focado nas ações depois das tragédias. Estamos introduzindo uma grande inovação esse ano, que é o pilar da prevenção, investindo na gestão antecipada dos riscos como um grande diferencial, trazendo a atenção primária para atuar junto com a área de dados da SES, reconhecendo e mapeando para proteger as populações mais vulneráveis das áreas de maior risco”, explicou a secretária estadual de Saúde, Cláudia Mello.

Apoio da tecnologia na prevenção de desastres

O projeto une tecnologia e Atenção Primária à Saúde para fazer a gestão de riscos de desastres climáticos. Além da liderança dos ACS para a adoção de protocolos de desocupação de áreas de risco geológico em tempo hábil e de forma coordenada antes da ocorrência de uma situação adversa, durante o treinamento foi exercitada a capacidade de interlocução do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs-RJ) com a SMS na fase de monitoramento e alerta.

O Cievs é responsável pelo Programa de Vigilância de Riscos Associados aos Desastres (Vigidesastres), que faz o monitoramento de risco 24 horas por dia. O sistema usa a tecnologia para e coleta de dados de satélites, de radares meteorológicos e da Defesa Civil dos municípios para emitir alertas de desastres às cidades antes que aconteçam. Isso permite que ações de contingência e respostas mais rápidas possam ser implementadas pelos gestores e a atenção primária municipal.

Trabalhamos planos de contingência junto aos municípios e elaboramos alertas para as secretarias de saúde municipais, porque a saúde tem um papel importante na prevenção e também na resposta aos eventos adversos. Trabalhamos com os 92 municípios. A integração na ponta faz diferença em situações de desastres”, destacou a superintendente de Emergência em Saúde Pública da SES, Silvia Carvalho.

Na ação em Teresópolis, o Cievs emitiu alerta à coordenação de Atenção Primária de Teresópolis por e-mail e aplicativo de mensagem, com vistas a mobilização das equipes da estratégia de saúde da família.  A Defesa Civil local fez a mobilização logística de viaturas, equipamentos e materiais para o deslocamento das pessoas com dificuldades de locomoção para locais seguros e previamente determinados.

Hoje temos a tecnologia, que nos permite antever as situações de alertas de criticidade para eventos climáticos. Acredito que este seja um projeto consistente para o aprimoramento de ações preventivas a serem consideradas pelo Sistema Nacional de Defesa Civil e Ministério da Saúde, numa efetiva conjugação de esforços para a prevenção de agravos à saúde ocasionado por eventos climáticos severos”, explicou o assessor da SES. “Nosso objetivo é levar esse trabalho de prevenção para outros municípios que possuem áreas de risco de desastres”, disse Simões.

Entenda o papel do agente comunitário de saúde

Conforme definição do Ministério da Saúde, é o ACS quem realiza a integração dos serviços de saúde da atenção básica com a comunidade, sustentando o entendimento de que saúde não é “estar doente”, estando ligada também a fatores físicos, emocionais, psicológicos e ambientais. Em 2022, os agentes realizaram 2,7 milhões de visitas domiciliares em São Paulo e 878 mil em Mogi das Cruzes.

Adriana Macedo, ACS no território atendido pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Cidade Ipava, gerenciada pelo Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, explica que as visitas são realizadas de acordo com a necessidade do cidadão.

Um exemplo é a gestante que deixa de fazer o acompanhamento pré-natal, deixa de vacinar os filhos ou falta em uma consulta, então, nós, ACS, fazemos esse acompanhamento de saúde e, com base nele, identificamos essas questões e vamos até o domicílio verificar como atender a demanda necessária naquele momento”, exemplifica.

Paula Aparecida, também ACS no território Cidade Ipava, destaca que algumas famílias recebem visitas mensais e, quando necessário, há revisitas, nas quais o agente segue acompanhado de um profissional médico, enfermeira ou equipe multidisciplinar, que é composta por nutricionista, educador físico, assistente social e fisioterapeuta, entre outras especialidades, de acordo com a patologia.

Agente há 13 anos, Paula conta que, diariamente, lida com anseios, angústias e conquistas dos moradores locais. “Quando conseguimos orientar e o paciente absorve o que foi dito, é muito gratificante.” Adriana, por sua vez, compartilha um caso, em que uma paciente idosa apresentava um quadro de depressão, porém, se recusava a fazer o tratamento e não recebia a equipe.

Aos poucos, com muita insistência, enfim, consegui a atenção dela, que passou a permitir que eu a visitasse mensalmente. Conquistando sua confiança a cada visita, pude orientá-la sobre a importância de ter o acompanhamento adequado para sua saúde mental, até que ela aceitou realizar uma consulta e fazer exames para, então, iniciar seu tratamento. Por fim, consegui até mesmo convencê-la a participar do grupo de caminhada”, comemora a profissional.

Segundo a agente, hoje, a paciente agradece por nunca ter desistido dela. As profissionais avaliam que, no dia a dia, o trabalho pode não ser fácil, pois alguns moradores não querem recebê-las por acharem que os ACS passam para incomodar, enquanto outros julgam que são profissionais do governo que ficam andando o dia todo. “Mas, claro, muitas dão o devido reconhecimento e importância ao nosso trabalho”, pontua.

Para a gerente da UBS Cidade Ipava, Simone Menezes, o papel do ACS vai muito além de cadastrar e acompanhar famílias. “É criar laços, é ser empático, é ser o elo entre a comunidade e a unidade básica de saúde. São profissionais de extrema importância na implementação do sistema único de saúde.”

De acordo com Ademir Medina, diretor do Cejam, a proximidade facilita o monitoramento da qualidade de vida do cidadão. Os profissionais são treinados em 360 graus e têm como principal função avaliar todas as necessidades básicas que dignificam o ser humano, bem como a comunidade em si. “Cada território conta com uma equipe fixa, que dispõe de escuta e olhar atentos às questões de moradia, condições de trabalho, educação, lazer, meio ambiente, cultura e alimentação”, explica .

Conforme prevê a lei, o candidato tem que morar em um dos bairros da área de abrangência do distrito para o qual se inscreveu. O processo seletivo tem, além da prova objetiva, o Curso Introdutório de Formação, que é obrigatório. A capacitação dispõe de 40 horas e o candidato deve registrar 100% de presença.

Diretrizes para qualificação dos ACS

Em 1991, a pasta criou o Programa de Agente Comunitário de Saúde (PACS), para orientar as ações de desenvolvimento no primeiro nível de atenção à saúde, sendo um braço importante da Estratégia Saúde da Família (ESF).

O PACS visa promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos agentes, por meio de competências profissionais específicas da categoria, ajustadas às atividades de promoção e vigilância à saúde de famílias e comunidades:

  • Trabalho em equipe;
  • Visita domiciliar;
  • Planejamento das ações de saúde;
  • Promoção da saúde;
  • Prevenção e monitoramento de situações de risco e do meio ambiente;
  • Prevenção e monitoramento de grupos específicos;
  • Prevenção e monitoramento de doenças crônicas degenerativas e transmissíveis;
  • Acompanhamento e avaliação das ações de saúde.

Com Assessorias

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