A base de operações, com toda a logística de atuação, foi montada na Unidade Básica de Saúde e na Escola Irene Santana do Valle, onde foram acolhidos os moradores. Na ação, os profissionais acionam, por telefone, os moradores cadastrados, pessoas com deficiência e limitações de deslocamento, sejam elas idosos, gestantes, obesos ou acamados.
O simulado serviu de modelo para os moradores saberem como proceder frente a chuvas fortes na comunidade. Kelly Cristina tem 39 anos, é deficiente visual e auditiva e foi uma das voluntárias a participar da ação.
Moro há 11 anos na comunidade, e este tipo de ação é uma novidade. Em 2011, perdi meu cunhado e meu sobrinho no bairro Espanhol, devido aos temporais que assolaram nossa cidade. O treinamento nos prepara para uma situação real”, contou.
A agente comunitária Helena Carolina, de 27 anos, destacou a importância do vínculo dos profissionais na hora da realização de resgates.
Temos uma relação muito próxima e de mútua confiança. Sou moradora da comunidade assim como eles. Conheço a realidade da localidade, os moradores do território e seus desafios. Em um plano de resgate, a convivência faz a diferença e é um fator determinante na hora de uma abordagem para a desocupação”, declarou a ACS.
Clarissa Guitta, secretária de Saúde de Teresópolis, enfatizou a importância da participação da Atenção Primária no planejamento das contingências e elogiou o comprometimento de cada um dos seus profissionais de saúde, todos sensibilizados por integrarem essa rede de ações preventivas contra os efeitos das chuvas fortes nas comunidades de risco geológico.
Para o assessor especial do Gabinete da Secretaria de Saúde, Sérgio Simões, o Agente Comunitário de Saúde é um dos principais agentes públicos na promoção de mudanças de comportamento para o enfrentamento de eventos climáticos severos. “Ele tem credibilidade e legitimidade no território em que atua e, por isso, exerce protagonismo na orientação sobre a percepção dos riscos que afetam as famílias de sua área de atuação”.
Segundo ele, o simulado foi uma experiência exitosa, que evidenciou o protagonismo dos ACS no seu território de atuação e a sua capacidade para contribuir na proteção da vida destas pessoas, antes que os eventos adversos se consolidem na forma de desastres.
A Secretaria de Saúde tem um plano de contingência que estava mais focado nas ações depois das tragédias. Estamos introduzindo uma grande inovação esse ano, que é o pilar da prevenção, investindo na gestão antecipada dos riscos como um grande diferencial, trazendo a atenção primária para atuar junto com a área de dados da SES, reconhecendo e mapeando para proteger as populações mais vulneráveis das áreas de maior risco”, explicou a secretária estadual de Saúde, Cláudia Mello.
Apoio da tecnologia na prevenção de desastres
O projeto une tecnologia e Atenção Primária à Saúde para fazer a gestão de riscos de desastres climáticos. Além da liderança dos ACS para a adoção de protocolos de desocupação de áreas de risco geológico em tempo hábil e de forma coordenada antes da ocorrência de uma situação adversa, durante o treinamento foi exercitada a capacidade de interlocução do Centro de Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde (Cievs-RJ) com a SMS na fase de monitoramento e alerta.
O Cievs é responsável pelo Programa de Vigilância de Riscos Associados aos Desastres (Vigidesastres), que faz o monitoramento de risco 24 horas por dia. O sistema usa a tecnologia para e coleta de dados de satélites, de radares meteorológicos e da Defesa Civil dos municípios para emitir alertas de desastres às cidades antes que aconteçam. Isso permite que ações de contingência e respostas mais rápidas possam ser implementadas pelos gestores e a atenção primária municipal.
Trabalhamos planos de contingência junto aos municípios e elaboramos alertas para as secretarias de saúde municipais, porque a saúde tem um papel importante na prevenção e também na resposta aos eventos adversos. Trabalhamos com os 92 municípios. A integração na ponta faz diferença em situações de desastres”, destacou a superintendente de Emergência em Saúde Pública da SES, Silvia Carvalho.
Na ação em Teresópolis, o Cievs emitiu alerta à coordenação de Atenção Primária de Teresópolis por e-mail e aplicativo de mensagem, com vistas a mobilização das equipes da estratégia de saúde da família. A Defesa Civil local fez a mobilização logística de viaturas, equipamentos e materiais para o deslocamento das pessoas com dificuldades de locomoção para locais seguros e previamente determinados.
Hoje temos a tecnologia, que nos permite antever as situações de alertas de criticidade para eventos climáticos. Acredito que este seja um projeto consistente para o aprimoramento de ações preventivas a serem consideradas pelo Sistema Nacional de Defesa Civil e Ministério da Saúde, numa efetiva conjugação de esforços para a prevenção de agravos à saúde ocasionado por eventos climáticos severos”, explicou o assessor da SES. “Nosso objetivo é levar esse trabalho de prevenção para outros municípios que possuem áreas de risco de desastres”, disse Simões.
Entenda o papel do agente comunitário de saúde
Conforme definição do Ministério da Saúde, é o ACS quem realiza a integração dos serviços de saúde da atenção básica com a comunidade, sustentando o entendimento de que saúde não é “estar doente”, estando ligada também a fatores físicos, emocionais, psicológicos e ambientais. Em 2022, os agentes realizaram 2,7 milhões de visitas domiciliares em São Paulo e 878 mil em Mogi das Cruzes.
Adriana Macedo, ACS no território atendido pela Unidade Básica de Saúde (UBS) Cidade Ipava, gerenciada pelo Cejam – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim” em parceria com a Secretaria Municipal da Saúde de São Paulo, explica que as visitas são realizadas de acordo com a necessidade do cidadão.
Um exemplo é a gestante que deixa de fazer o acompanhamento pré-natal, deixa de vacinar os filhos ou falta em uma consulta, então, nós, ACS, fazemos esse acompanhamento de saúde e, com base nele, identificamos essas questões e vamos até o domicílio verificar como atender a demanda necessária naquele momento”, exemplifica.
Paula Aparecida, também ACS no território Cidade Ipava, destaca que algumas famílias recebem visitas mensais e, quando necessário, há revisitas, nas quais o agente segue acompanhado de um profissional médico, enfermeira ou equipe multidisciplinar, que é composta por nutricionista, educador físico, assistente social e fisioterapeuta, entre outras especialidades, de acordo com a patologia.
Agente há 13 anos, Paula conta que, diariamente, lida com anseios, angústias e conquistas dos moradores locais. “Quando conseguimos orientar e o paciente absorve o que foi dito, é muito gratificante.” Adriana, por sua vez, compartilha um caso, em que uma paciente idosa apresentava um quadro de depressão, porém, se recusava a fazer o tratamento e não recebia a equipe.
Aos poucos, com muita insistência, enfim, consegui a atenção dela, que passou a permitir que eu a visitasse mensalmente. Conquistando sua confiança a cada visita, pude orientá-la sobre a importância de ter o acompanhamento adequado para sua saúde mental, até que ela aceitou realizar uma consulta e fazer exames para, então, iniciar seu tratamento. Por fim, consegui até mesmo convencê-la a participar do grupo de caminhada”, comemora a profissional.
Segundo a agente, hoje, a paciente agradece por nunca ter desistido dela. As profissionais avaliam que, no dia a dia, o trabalho pode não ser fácil, pois alguns moradores não querem recebê-las por acharem que os ACS passam para incomodar, enquanto outros julgam que são profissionais do governo que ficam andando o dia todo. “Mas, claro, muitas dão o devido reconhecimento e importância ao nosso trabalho”, pontua.
Para a gerente da UBS Cidade Ipava, Simone Menezes, o papel do ACS vai muito além de cadastrar e acompanhar famílias. “É criar laços, é ser empático, é ser o elo entre a comunidade e a unidade básica de saúde. São profissionais de extrema importância na implementação do sistema único de saúde.”
De acordo com Ademir Medina, diretor do Cejam, a proximidade facilita o monitoramento da qualidade de vida do cidadão. Os profissionais são treinados em 360 graus e têm como principal função avaliar todas as necessidades básicas que dignificam o ser humano, bem como a comunidade em si. “Cada território conta com uma equipe fixa, que dispõe de escuta e olhar atentos às questões de moradia, condições de trabalho, educação, lazer, meio ambiente, cultura e alimentação”, explica .
Conforme prevê a lei, o candidato tem que morar em um dos bairros da área de abrangência do distrito para o qual se inscreveu. O processo seletivo tem, além da prova objetiva, o Curso Introdutório de Formação, que é obrigatório. A capacitação dispõe de 40 horas e o candidato deve registrar 100% de presença.
Diretrizes para qualificação dos ACS
Em 1991, a pasta criou o Programa de Agente Comunitário de Saúde (PACS), para orientar as ações de desenvolvimento no primeiro nível de atenção à saúde, sendo um braço importante da Estratégia Saúde da Família (ESF).
O PACS visa promover o desenvolvimento pessoal e profissional dos agentes, por meio de competências profissionais específicas da categoria, ajustadas às atividades de promoção e vigilância à saúde de famílias e comunidades:
- Trabalho em equipe;
- Visita domiciliar;
- Planejamento das ações de saúde;
- Promoção da saúde;
- Prevenção e monitoramento de situações de risco e do meio ambiente;
- Prevenção e monitoramento de grupos específicos;
- Prevenção e monitoramento de doenças crônicas degenerativas e transmissíveis;
- Acompanhamento e avaliação das ações de saúde.
Com Assessorias