A chegada da ômicron no Brasil após as festas de fim de ano não foi surpresa. O que surpreendeu mesmo os médicos, pesquisadores e cientistas que acompanham a pandemia é a velocidade com que a variante tem se disseminado no país, com grande alcance. A boa notícia – se é que ela existe em meio à pandemia – é que a explosão de casos provocados pela Ômicron não vem sendo acompanhada por um expressivo aumento no número de mortes.

Diante disso, médicos e cientistas do mundo todo analisam o rumo que a pandemia pode tomar, a partir da Ômicron. Para muitos deles, é possível que as novas variantes do coronavírus sigam a tendência de se tornarem mais infecciosas, porém, menos agressivas, possibilitando o fim da pandemia.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula que, nas próximas semanas, metade da população europeia deve ser infectada pela Ômicron. O efeito de tanta gente infectada poderia reforçar a imunização natural na pandemia? Especialistas recomendam cautela, já que ainda é cedo para prever o comportamento do vírus. Em sua coluna no Globo – “Seria a Ômicron o começo do fim da pandemia?” em 4 de janeiro – a pneumologista Margareth Dalcolmo, professora e pesquisadora da Fiocruz, levanta essa possibilidade alerta que deve haver muito cuidado nessa interpretação.

“Pelo registro histórico, sabemos que ‘uma epidemia pode durar em média dois anos’, nos reportando à memória de outras ao longo dos séculos. Mas será mesmo a Ômicron tão mais contagiosa do que a Delta, mais patogênica? Ou esse padrão genético tão diferente significaria o estiolamento da pandemia e o começo do fim?”, comenta.

Segundo a médica, “essa hipótese guardaria uma boa plausibilidade biológica, com a prudente distância desta e de uma verdade absoluta. Tudo até o momento nos demonstra que as vacinas dão conta, pelo menos, de atenuar a severidade dos casos, visto que não se observa aumento substantivo de hospitalizações graves. E, assim, o Sars-CoV-2 vai desenhando sua endemicidade e passa a fazer parte do diagnóstico diferencial de doenças virais respiratórias rotineiramente.”

Variantes são mais infecciosas, mas menos agressivas

Zvika Granot, médico de Israel, disse em entrevista à CNN que, quando se consideram as pandemias anteriores, como a gripe espanhola, elas passaram por ondas muito similares às que estamos vendo com o coronavírus. E que, as variantes que surgem são mais infecciosas, porém, menos agressivas. “Grande parte das populações vacinadas que se infectaram, não tem doença grave”, disse. Segundo ele, é assim que se ganha imunidade.

Para Ludhmila Hajjar, intensivista e professora de cardiologia do Hospital das Clínicas, em São Paulo, e médica da Rede D’Or, a conjunção de fatores é protetora e corrobora a ideia de que a pandemia possa caminhar para o fim.

“Temos pela primeira vez a junção de dois fatores: uma variante altamente prevalente infectando muita gente imunizada. Isso faz com que um número alto de pessoas se infecte com a forma branda da doença, o que é bom para a imunização. Não podemos, no entanto, baixar a guarda com a vacinação”, ressalta

“O sentido da vida é passar os genes para frente. Com o vírus não é diferente. Um vírus que mata demais alerta os hospedeiros e começa a ter um insucesso evolutivo. A vantagem evolutiva é daquele que se transmite muito, causando o mínimo de doença possível. Matar, então, nem pensar. O bem-sucedido não causa doença nunca. Então, a tendência é que um dia, em décadas, ele vire um resfriado”, explica ao Globo o virologista Fernando Spilki, coordenador da Rede Corona-ômica, que sequencia e analisa o genoma do coronavírus em todo o Brasil.

Variante Ômicron pode ser o início do fim da pandemia?

 

Entretanto, Spilki pede cautela com essa hipótese. “Não vamos voltar a 2020, mas novas variantes vão acontecer, não se para a evolução, e, na perspectiva mais otimista, essa mutação viria mais atenuada. Mas é biologia, não uma ciência exata, por isso o ideal é tentar mitigar esse processo por meio da vacinação. Talvez estejamos indo para um caminho de atenuação. Não dá para dizer que nenhuma variante vai ser mais grave. A pandemia começou a acabar quando a vacinação engrenou, mas a vitória é nossa e não é porque ele ficou atenuado.

De acordo com o virologista, para que, de fato, esse caminho em direção ao fim da pandemia se concretize é necessário que as vacinas passem por uma atualização. Seria muito difícil, a curto prazo, conseguir imunizantes que bloqueiem totalmente a infecção, mas ele defende o desenvolvimento de vacinas mais próximas das mutações que vêm sendo observadas com o intuito de bloquear a multiplicação do vírus na pessoa, fazendo com que transmita menos.

‘O vírus da covid-19 não é bobo’, diz médica 

Médica e especialista em gestão de saúde, Ana Maria Malik, coordenadora do FGV-Saúde, manifestou-se otimista em relação à nova variante. Ela reconhece a gravidade da onda de Ômicron e o impacto que ela provoca no sistema de saúde, mas acredita que, além de vacinados, estamos mais bem preparados para enfrentar a nova variante.

Em entrevista ao jornal ‘O Estado de São Paulo’, Ana Maria Malik alerta ainda que a chance de surgirem novas variantes seguirá alta enquanto a vacinação não ocorrer em todos os países. “O vírus não é bobo.”

Quais são as principais diferenças entre as ondas de variantes anteriores e a atual, de Ômicron?

São duas grandes diferenças. Agora, a população está vacinada. Não toda, mas muita gente. E agora os médicos já sabem o que fazer com os pacientes.

Em 2021, vimos o colapso do sistema de saúde em vários lugares. Acha que isso pode se repetir?

O colapso foi decorrente do fato de que houve muita necessidade de terapia intensiva. Dessa vez, embora haja mais casos, e a convivência com a influenza, a necessidade de terapia intensiva é menor para tratar os pacientes. Estamos vivendo essa onda da Ômicron com pelo menos algum know-how prévio sobre como enfrentar uma crise sanitária dessas proporções.

Há menos internações, mas as emergências estão lotadas. Qual o impacto disso? Essas pessoas todas precisavam ir ao hospital?

As pessoas se sentem seguras indo para os serviços de emergência porque estão no hospital, acham que ali há toda a infraestrutura necessária para atendê-las. Quando discutimos planejamento de unidades de emergência, nós levamos sempre em conta que existe a urgência do ponto de vista da saúde e a urgência do ponto de vista do cidadão.

Alguns especialistas acham que a Ômicron pode ser a derradeira variante, apontando para o fim da pandemia, por conta de sua alta transmissibilidade. A senhora concorda?

Acho que é uma análise otimista, apropriada para o momento. Mas só queria lembrar que influenza tem todo ano. Então, provavelmente, teremos algum corona todos os anos também, mas com consequências menos graves do que em 2020 e 2021. Mas enquanto não houver disponibilidade real de vacina para o mundo todo, o risco do surgimento de novas variantes não é pequeno. O vírus não é bobo.

Com Agências

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