As férias escolares são um momento muito aguardado pelas crianças, proporcionando um merecido descanso após um período intenso de estudos. Não apenas desejadas, são essenciais para o desenvolvimento humano e tão importantes quanto os dias em sala de aula. Pesquisas mostram que o período de afastamento das obrigações diárias é crucial para a manutenção do bem-estar e de picos de estresse, contribuindo ainda para o aumento da capacidade de aprendizado.
Para quem tem filhos ou netos pequenos, a época de crianças ficarem em casa durante mais tempo é sempre uma alegria, mas pode também ser motivo de preocupação. Isso porque, embora pareça mais seguro, o ambiente de casa, algumas vezes, pode oferecer riscos de acidentes.
Conforme as informações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), cerca de 200 mil acidentes domésticos envolvendo crianças ocorrem anualmente no Brasil. Esse número aumenta, em média, 25% durante as férias escolares. O período costuma ser sinônimo de brincadeiras e muita diversão para a criançada e, para que esse momento seja sem sustos, os pais e responsáveis precisam ter atenção redobrada com as atividades infantis.
Além disso, entre junho e agosto, as festas típicas de São João juntam comida quente com fogos e fogueiras, o que pode ser bastante perigoso. No ano passado, nada menos do que 88 pessoas queimadas nesse período foram atendidas no Hospital Estadual Alberto Torres, em São Gonçalo. A maioria era de crianças. Líquidos quentes são a principal causa de queimaduras mais leves; inflamáveis e choques elétricos, os principais motivos de queimaduras graves.
Confiram as dicas de três pediatras para o período de férias escolares:
Motivos das emergências pediátricas
Renata Fish, coordenadora da área de Pediatria do Hospital Pasteur, na Zona Norte do Rio de Janeiro, elenca diversos aspectos que envolvem essas questões, inclusive, os problemas que mais aparecem na emergência essa época. De acordo com a especialista, os principais acidentes e motivos de busca por emergências pediátricas envolvem as quedas (de bicicleta e da própria altura), que podem causar contusões, traumatismos, fraturas e machucados que precisam de atenção médica.
Outro problema muito comum é a ingestão acidental de medicamentos e produtos químicos. As crianças são curiosas e gostam de doces. Alguns remédios lembram balas e podem ser altamente prejudiciais. Orientamos manter essas substâncias fora do alcance das crianças e mantê-las sempre sob supervisão”, alerta.
Outro aspecto importante é com relação aos locais com piscinas e praias, que além de existir a possibilidade da criança se perder, envolve os cuidados e olhos atentos à prevenção aos afogamentos, exposição solar em demasia e a distração em momentos de relaxamento por parte dos responsáveis.
Uma boa estratégia para evitar qualquer incidente com as crianças é colocar roupas de banho em cores vibrantes. Essa é uma orientação para que sejam identificadas nas piscinas e em locais cheios”, orienta a médica.
Outro ponto é que ocorra um cuidado com a hidratação sendo estimulada a ingestão de água, o uso de protetor solar e que se evite deixá-las com roupas molhadas por longos tempos, a fim de se evitar lesões de pele que podem gerar infecções como a candidíase.
Ela ressalta o risco do consumo de bebidas alcóolicas pelos responsáveis, enquanto encontram-se como principais cuidadores. Em casa é bom estar atento com a proteção às tomadas, especialmente quando há crianças menores de 5 anos, escadas, cômodas e estantes que são soltas e as janelas.
É natural que as crianças sejam curiosas, gostem de se aventurar. O que ocorre é que elas não têm percepção do perigo. Ter janelas protegidas por redes de segurança, cuidado com aparelhos domésticos ligados, a exemplo do ferro de passar roupas, além de manter a distância da cozinha, enquanto alimentos estão sendo feitos do forno e fogão é mais do que fundamental na presença dos pequenos”, observa.
Em casa ou viajando, fique atento
A pediatra relacionou mais algumas dicas valiosas para quem vai permanecer em casa ou viajar nesse período:
• O principal cuidado durante as férias é o planejamento. Em casa ou viajando, é importante programar as atividades para o tempo livre das crianças e adolescentes;
• Se o programa da família for viajar, é recomendado consultar o pediatra, verificar o cartão de vacinas, os medicamentos de uso contínuo e não esquecer do repelente e protetor solar;
• Os acidentes de trânsito representam a primeira causa de morte de crianças que viajam e são mais frequentes durante as férias escolares. É fundamental transportá-las de forma segura, em assentos adequados para a idade e o tamanho, conforme a legislação atual.
• Também é essencial avaliar o local do passeio e checar se está de acordo com a faixa etária da criança. Devem-se evitar ambientes fechados e com aglomeração de pessoas.
A pediatra Roberta Serra, coordenadora da Área Técnica da Saúde das Crianças, da Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ), dá algumas dicas
- Nos apartamentos, janelas abertas representam um perigo constante, ainda mais se houver sofá, poltrona ou cadeira perto delas. Ao invés de fechá-las, procure colocar proteções como grades ou redes. Afinal, é preferível manter as janelas abertas, com segurança, e deixar o ambiente arejado.
- Manter as janelas abertas é indicado não somente para melhorar a ventilação do ambiente, como para reduzir a concentração de vírus e bactérias. Criar uma corrente de ar ajuda a eliminar riscos de contaminação. É importante também controlar a umidade dentro de casa. Se possível, use desumidificadores para isso. Ambientes úmidos são propícios para a proliferação de fungos e bactérias”, alerta a pediatra.
- É quase certo que brincadeiras com tesouras, facas, canivetes, saca-rolha, ou mesmo com um enfeite de mesa que possa causar ferimentos, acabem em unidades de saúde. Por isso, objetos pontiagudos ou cortantes precisam ficar longe das crianças. Muita atenção também com móveis que não tenham a quina arredondada e possibilitem cortes na cabeça, por exemplo.
- Proteja as crianças do contato com tomadas, fios elétricos, escadas e pisos escorregadios. Choques e quedas estão entre os acidentes que mais acontecem com os pequenos dentro de casa.
- Na cozinha, o cheiro de um delicioso bolo no forno ou de um bom pão de queijo sendo assado ou, ainda, de um brigadeiro em preparo na panela podem atrair a curiosidade e o apetite da meninada. Mas fogão, micro-ondas, “air fryer”, sanduicheira ou torradeira devem ser sempre monitorados por olhares atentos, para que as crianças não se aproximem e possam se queimar.
- Brincar, correr, se exercitar leva também a suar, mesmo no período mais frio do ano. Assim, não é nunca demais lembrar a importância de deixar as crianças sempre hidratadas. Preferivelmente com água, mas também com sucos naturais ou água de coco.
- É aconselhável que, mesmo nas férias, seja mantida uma rotina de horários para que as crianças não saiam tanto do ritmo a que estão acostumadas e venham a se ressentir de ter que cumprir com compromissos e responsabilidades na volta às aulas.
Não descuide da alimentação e da hidratação
Ainda que os dias sejam de pouca rotina e mais diversão, a alimentação não deve ser negligenciada. “Com a agenda das atividades, é comum que os alimentos processados ou os famosos fast foods apareçam na programação das férias. No entanto, esse é um hábito que poderá contribuir para a má formação do paladar das crianças. Um mix de frutas, fibras, gorduras boas e proteínas, sempre pode ser levado em uma marmita e ofertado aos pequenos em meio às brincadeiras”, orienta.
Em caso de viagens, uma consulta com o pediatra assistente poderá ser agendada para avaliar as condições de saúde da criança. Os pais devem solicitar uma orientação para eventuais problemas como febre, vômitos, entre outros. “A medicação por conta própria não é recomendada em nenhuma situação, especialmente, com crianças muito pequenas que possuem uma lista mais restrita de medicamentos”, alerta.
Hidratação deve ser uma constante, particularmente, nos dias mais quentes, pois durante as brincadeiras o suor é um fator de perda de líquido do organismo, que poderá levar a problemas de saúde.
Meu conselho no consultório é o de interromper a atividade para que ocorra a oferta de água e líquidos como sucos, agua de coco, evitando refrigerantes e sucos industrializados”, observa a especialista que indica a atenção aos primeiros sinais de desidratação, como ausência de saliva embaixo da língua, urina de cor e odor fortes, lábios e olhos secos, além do choro com ausência das lágrimas.
5 dicas para manter o bem-estar dos pequenos neste período
De acordo com a médica da área de Pediatria da rede AmorSaúde, Laís Azevedo, as férias escolares são importantes também para que as crianças vivenciem a rotina domiciliar com suas famílias, já que durante todo o ano letivo elas passam mais tempo na escola do que em suas próprias casas. “O período é importante para diminuir o tempo de estresse e proporcionar mais diversão e flexibilidade”, fala diz a profissional que atende em unidades de Pernambuco.
No entanto, para os pais e cuidadores pode ser desafiador garantir que esse tempo seja não apenas divertido, mas também benéfico para o desenvolvimento e bem-estar dos pequenos. Para isso é necessário encontrar o equilíbrio entre atividades recreativas e educativas, proporcionando um ambiente saudável e enriquecedor. A seguir, confira cinco dicas dadas pela médica Laís Azevedo para que as crianças possam aproveitar ao máximo esse período tão especial.
1- Para aprender brincando
Incentivar a criança a engajar-se em atividades fora da rotina cotidiana é uma importante fonte de aprendizado, já que despertam os sentidos e produzem memórias. “É interessante a prática de algum esporte que a criança goste, participar de brincadeiras com a família, assistir a um filme, fazer programações e passeios para desopilar a mente e construir memórias”, indica a profissional. Inclua também na lista visitar museus, experimentar novas comidas e fazer trabalhos manuais.
Uma dica é inscrever as crianças em cursos de verão, passeios guiados ou acampamentos que interessem a elas. Isso pode incluir esportes, artes, música, dança, ciência, entre outros.
2- Incentivo ao hábito da leitura
Para garantir que as férias escolares sejam não apenas um período de diversão, mas também uma oportunidade valiosa para o crescimento e a qualidade de vida das crianças, é interessante incentivar a leitura, visitando a biblioteca local para encontrar livros adequados à idade e estabelecendo um tempo diário para leitura em casa.
Nos dias atuais, infelizmente a grande maioria das crianças está vivendo um ciclo vicioso em tablets, celulares e telas no geral. É importante os pais estimularem a leitura de um livro com alguma história interessante que prenda a atenção”, indica a médica.
3- Socialização: como é bom construir laços
Férias é um momento de encontros promovidos por festas em família e brincadeiras com amigos, e a interação social é essencial para o desenvolvimento emocional e a construção de habilidades sociais nas crianças. “Mostre para as crianças a importância da união com seus papais, tios, avós, primos e como é bom compartilhar momentos”, diz Laís.
Planeje atividades que envolvam membros de diferentes faixas etárias para promover a interação entre as gerações, a exemplo de jogos e competições amigáveis que estimulem a participação de todos. “Incentive os mais jovens a se envolver com os mais velhos em suas atividades e vice-versa”, aconselha.
A médica indica também que os pais incentivem a criança a chamar algum amigo para brincar junto em casa.
4- Rotina de sono e alimentação
Férias é tempo de brincar, relaxar e descansar. Sendo assim, nada melhor do que manter uma rotina diária equilibrada, com alimentos saudáveis e sono de qualidade. Para isso, os pais ou responsáveis devem tentar manter horários regulares para as crianças acordarem e irem para a cama, mesmo que sejam um pouco mais flexíveis do que durante o período escolar.
Estabeleça uma rotina relaxante antes de dormir, como proporcionar um banho quente à criança, ler um livro e contar boas histórias para seu filho. Por outro lado, evite o uso de dispositivos eletrônicos pelo menos uma hora antes de dormir, pois a luz azul pode atrapalhar o sono”, diz Laís.
5- Flexibilidade na medida
O cotidiano mais flexível reduz o estresse, mas uma total mudança da rotina pode trazer consequências negativas, como má alimentação, sono de péssima qualidade, tédio e muito tempo de tela.
As dicas aqui são planejar uma variedade de atividades divertidas e estabelecer horários e limites para o tempo gasto em dispositivos eletrônicos, como tablets, computadores e televisão. Como já citado antes, cursos e oficinas de verão são uma excelente forma de ocupar o tempo livre das crianças de forma educativa. Por outro lado, ocupar toda a agenda da criança, como no período letivo, pode gerar ansiedade e estresse.
Permita que a criança tenha tempo livre para brincar e exercitar a imaginação”, aconselha Laís Azevedo.
Com Assessorias