Muito se fala em setembro sobre a importância dos cuidados com a saúde mental, mas você sabia que este mês também luta pela prevenção e conscientização do câncer colorretal? A campanha, criada pela Sociedade Brasileira de Coloproctologia (SBCP), visa aumentar a divulgação desse tipo de câncer, também conhecido como câncer de intestino, que abrange os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso chamada cólon e no reto (final do intestino, antes do ânus).
A doença causou a morte do ator norte-americano Chadwick Boseman, de 43 anos, o Pantera Negra, em agosto. O caso repercutiu muito nas redes sociais, entre fãs do cinema internacional e chamou atenção para a importância de descobrir precocemente e iniciar o tratamento.
A mais recente estimativa mundial, incluída no levantamento divulgado este ano pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), aponta que nos homens ocorreu 1 milhão de casos novos de câncer do cólon e reto, sendo o terceiro mais incidente entre todos os carcinomas. Para as mulheres, foram 800 mil novos, sendo o segundo tumor mais frequente.
De acordo com o Inca, são esperados quase 50 mil novos diagnósticos até o fim deste ano, sendo 20.520 homens e 20.470 mulheres. Segundo as estimativas do Instituto, haverá um aumento de mais de 12% e com a pandemia da Covid-19, quando muitas pessoas deixaram de fazer exames preventivos, esse índice tende a aumentar.
O Inca estima que cerca de 41 mil novos casos da doença sejam diagnosticados no país anualmente até 2022. Serão 20.520 casos em homens e 20.470 em mulheres em 2020, crescimento de 10% em relação a 2018.

”Este tipo de neoplasia está diretamente ligada ao excesso de peso, à inatividade física, ao tabagismo prolongado, alto consumo de carne vermelha ou processada (salames e embutidos, em geral), baixa ingestão de cálcio, consumo excessivo de álcool e alimentação pobre em frutas e fibras, além de causas genéticas e hereditárias (familiares)”, afirma Ricardo Cotta, cirurgião geral e do aparelho digestivo.

Na fase inicial, os sintomas não são aparentes. “Depois de algum tempo pode haver alteração no ritmo intestinal e aparecimento de sangue nas fezes, inchaço abdominal, cansaço, fadiga e perda de peso sem motivo específico”, esclarece o especialista em cirurgia oncológica e robótica, ex-presidente do Capítulo do Rio de Janeiro do Colégio Brasileiro de Cirurgia Digestiva.

Prevenção com hábitos saudáveis e colonoscopia

Aline Nunes Amaro, cirurgiã geral e coloproctologista do Hospital Anchieta de Brasília,  explica que o câncer colorretal ou de intestino é um tipo de tumor que pode ser prevenido. “Cerca de 90 a 95% dos casos têm origem a partir de um pólipo, que é uma alteração causada pelo crescimento anormal da mucosa intestinal. Inicialmente benignos, podem sofrer transformação para malignidade”, aponta.
Ela acrescenta que esses pólipos podem ser identificados e removidos por meio da colonoscopia, e, por isso, atualmente esse exame é indicado como rastreio. “A recomendação é que a primeira colonoscopia seja realizada entre 45 e 50 anos. Mas, se houver histórico positivo na família, ou outros fatores de risco, o rastreamento deve ser iniciado antes, de acordo com recomendação do especialista”, ressalta Dra Aline.

O exame de colonoscopia é recomendado para homens e mulheres assintomáticos e de acordo com as orientações mais atualizadas deve ser realizado em indivíduos a partir dos 45 anos, quando antes a indicação era acima dos 50 anos. Neste exame o médico observa todo o cólon, o reto e parte final do intestino delgado com um tubo fino inserido pelo ânus (sob sedação), flexível, com uma pequena câmera de vídeo na extremidade.

“Vários estudos reforçam a colonoscopia como um exame que salva vidas, e é preciso que a população tenha mais acesso e também perca o preconceito de fazê-lo por causa da via de acesso”, orienta Cotta. Também poderão ser requisitados exames de sangue, fezes e de imagem para a detecção do câncer colorretal.

Doença tratável e altamente curável

Segundo a proctologista, esta é uma doença tratável e altamente curável na maioria dos casos. Grande parte desses tumores inicia-se a partir de pólipos, que são lesões benignas que podem crescer na parede interna do intestino. “Quando o tumor é muito inicial ou ainda trata-se de um pólipo com focos de malignidade, geralmente pode ser tratado apenas com a retirada através da colonoscopia”, acrescenta.
O tipo de tratamento depende do estágio em que é descoberto, do tamanho, localização e extensão do tumor. A doença é passível de intervenção cirúrgica, mas é importante que o tumor seja detectado cedo e ainda não tenha atingido outros órgãos.
“Quando a doença está espalhada, com metástase para o fígado, pulmão ou outros órgãos, as chances de cura ficam reduzidas. “Após o tratamento é importante realizar o acompanhamento médico para monitoramento de recidivas ou novos tumores”, relata.
De acordo com Dr Ricardo, a cirurgia geralmente é o tratamento inicial, retirando a parte do intestino afetada e os gânglios linfáticos (pequenas estruturas que fazem parte do sistema de defesa do corpo) dentro do abdômen. Outras etapas do tratamento incluem a quimioterapia, associada ou não à radioterapia.

“Entre as cirurgias minimamente invasivas se destacam a laparoscopia e a cirurgia robótica. Os procedimentos provocam menor trauma cirúrgico, recuperação mais rápida e, em muitos casos, menos tempo de internação. As principais vantagens da cirurgia robótica são a câmera tridimensional, a instrumentação que permite movimentos articulados, como dos punhos da mão (Endowrist),  e a interface computadorizada”, afirma o especialista.

Campanha Setembro Verde

A campanha Setembro Verde agrega instituições e especialistas em todo o país para informar sobre o câncer colorretal para conscientizar sobre a doença. “A melhor forma de evitar o câncer de cólon é adotar um estilo de vida mais saudável e cumprir rotina de consultas médicas regularmente, check-ups e exames com ou sem sintomas de doenças”, diz Ricardo Cotta.
Para Dra Aline, a maior preocupação dos especialistas é justamente conscientizar a população quanto à necessidade desse rastreio, uma vez que os sintomas são mínimos ou inexistem no início da doença, quando os resultados do tratamento são melhores. “A campanha é de extrema importância para que a população conheça mais sobre a doença, sua prevenção e rastreio, uma vez que a chance de cura é alta quando detectado no momento precoce”, afirma.

Palavra de Especialista

Câncer de intestino: entenda a doença e saiba como se prevenir

Por Samuel Okazaki*
Setembro é o mês da prevenção do câncer de intestino. A doença que foi responsável pela precoce morte do ator Chadwick Boseman, famoso pelo seu papel no filme ‘Pantera Negra’, que mobilizou fãs no mundo inteiro, requer atenção e cuidados, pois a patologia é mais frequente do que a maioria das pessoas imagina e porque costuma se desenvolver de forma silenciosa. Além disto, a detecção e diagnóstico precoce aumenta muito as chances de cura.
câncer de intestino abrange os tumores que se localizam no intestino grosso – chamado tecnicamente de cólon – no reto e no ânus. Por isso também é conhecido como câncer de cólon e reto ou colorretal.
Segundo dados do INCA, esse tipo de câncer é o segundo mais frequente entre homens e mulheres, e é consequência de ‘interações’ entre fatores genéticos e ambientais. Sua prevenção está principalmente na mudança de hábitos, alimentação saudável, e também na realização de exames preventivos periódicos.

Manifestação e sintomas

Uma grande porcentagem desse câncer se inicia como um pólipo benigno dentro do intestino. Quando o diagnóstico destes pólipos é realizado precocemente, pode-se impedir a evolução para um quadro mais preocupante. O problema é que, geralmente, essa lesão se desenvolve de forma assintomática sendo apenas descoberto, muitas vezes, quando já se transformou em um tumor maligno de tamanho considerável.
Os sintomas mais comuns do câncer colorretal são sangue nas fezes, alteração do hábito intestinal (diarreia e prisão de ventre alternados), dor abdominal, fraqueza e anemia, perda de peso sem causa aparente e alteração na forma das fezes. Tais sintomas podem estar ou não presentes, dependendo da localização do tumor no intestino, e é muito importante dizer que esses sintomas também são comuns em outras patologias gastrointestinais e por isso devem ser sempre avaliadas por um médico especialista.

Causas e fatores de risco

A idade avançada aumenta os riscos de câncer de intestino, por isso a partir dos 40 anos já é preciso redobrar a atenção. Sobrepeso, alimentação não saudável (pobre em frutas, vegetais e fibras e com excesso de carne vermelha e alimentos ultraprocessados), tabagismo e consumo de álcool também contribuem para o aumento do risco desta patologia.
A incidência de câncer de intestino também aumenta caso haja familiares próximos que tenham tido a doença e caso o próprio paciente tenha o diagnóstico de alguma doença inflamatória intestinal como a Retocolite ulcerativa crônica e a doença de Crohn.

Diagnóstico e tratamento

Qualquer alteração do hábito intestinal abrupta e persistente a partir dos 40 anos, além do aparecimento de algum dos sintomas comuns do câncer colorretal, deve ser considerado como alerta. Por isso, é importante procurar um médico especialista que saiba distinguir os sintomas de outras doenças parecidas, como hemorróidas, e ofereça a investigação adequada.
O diagnóstico é feito através do exame que se chama colonoscopia na qual é realizada a retirada de um pequeno fragmento (biópsia) do pólipo/lesão suspeito.
Quando diagnosticado é, na maioria dos casos, uma doença tratável e frequentemente curável. O tratamento inicial é a cirurgia. A cirurgia pode ser feita de forma convencional (aberta), laparoscópica e também robótica. Nela é retirado o segmento do intestino afetado além de gânglios linfáticos próximos. A quimioterapia e a radioterapia também podem ser utilizadas para tratamento e também na prevenção de recidiva do tumor.

Prevenção

Para evitar o câncer de intestino, além de procurar um especialista ao notar qualquer sintoma suspeito, é muito importante se manter no peso corporal adequado, praticar atividades físicas, evitar o consumo de bebida alcoólica, não fumar e não se expor ao tabagismo. Também é fundamental a realização periódica de exames de check-up preventivos, no caso, a colonoscopia. Ela deve ser realizada a partir dos 50 anos mesmo em pessoas assintomáticas e a partir dos 40 anos caso haja algum fator de risco presente.
Uma alimentação saudável e balanceada é um importantíssimo aliado na prevenção do câncer colorretal.
Carnes em excesso devem ser evitadas, principalmente as mais gordurosas e embutidos como presunto e salame. Até mesmo aqueles que são vendidos como opções “saudáveis”, como peito de peru, são ricos em substâncias conservantes como nitrito e nitrato, altamente cancerígenas.
Corantes também devem ser dispensados do cardápio sempre que possível. E não pense que apenas estão presentes em doces ultra coloridos como balas e pirulitos. Grande parte dos produtos ultraprocessados os contém, inclusive os populares tabletes e sachês de temperos prontos.
Portanto, dê preferência para comer em casa sempre que puder, com pratos saborizados com ervas e temperos naturais (a lista é infinita: cebola, alho, orégano, manjericão, páprica, cúrcuma…) e ricos em grãos, frutas e legumes.
Na dúvida, aposte mais nas feiras e menos nos supermercados. Dessa maneira, não só o risco de câncer de intestino é drasticamente reduzido, como de muitas outras enfermidades.
*Clínico e cirurgião do Aparelho digestivo, faz parte do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, Hospital Vila Nova Star, Hospital São Luiz e do Hospital Militar de Área de São Paulo
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