Nesta primavera, o Brasil experimenta uma nova onda de calor extremo, a quarta este ano, classificada pelos meteorologistas como “fora do comum” e com probabilidades de quebra de recordes históricos. A previsão é que as temperaturas cheguem esta semana a 45°C em diversas regiões do país, um recorde para essa época do ano.
O Climatempo prevê que as altas temperaturas permaneçam pelo menos até dia 20 de novembro, devendo retornar a partir do dia 25. Apenas dois estados do Sul do país devem registrar temperaturas abaixo de 30 graus – em várias capitais os termômetros deverão registrar mais de 40 graus. Há ainda possibilidade de o Brasil bater, ainda este ano, um novo recorde de temperatura.
Diante desse cenário de calor intenso, as consequências para o organismo podem ser graves. Os sintomas mais leves ocasionados pelo calor acima da média envolvem suor excessivo, desidratação, dor de cabeça, fraqueza, sonolência, queimaduras superficiais e irritabilidade na pele. Insolação e problemas circulatórios também alguns problemas causados pelas altas temperaturas para o organismo.
“O principal alerta é em relação a exposição ao sol e reforço na hidratação, mas há questões além dessas, como quadros respiratórios, por conta da baixa umidade, e de intoxicação alimentar, já que o calor favorece a proliferação de bactérias”, destaca Marcos Roberto da Silva, clínico geral, emergencista e coordenador o pronto-socorro do Hospital São Luiz Campinas.
“Em situações extremas de calor é possível desenvolver alterações nas funções renais, insolação, queda de pressão, desmaios e hipertermia, que ocorre quando o corpo fica com uma temperatura mais elevada do que normal e se não for tratada da forma correta, pode levar a morte”, alerta Dr. Marcos.
Por isso, é preciso tomar cuidado com diversos fatores para preservar a saúde. Especialistas recomendam cuidados importantes para evitar complicações, como reforçar a hidratação, resfriar o ambiente, proteger a pele, usar roupas leves e reduzir a exposição solar. É preciso ficar atento aos sintomas que podem indicar que algo está errado e busque um médico. O especialista destaca ainda que alguns grupos, como crianças e idosos, são mais suscetíveis aos riscos e precisam de atenção especial.
“Caso identifique sintomas como redução na quantidade de suor ou urina, aumento significativo da temperatura corporal, queimaduras com bolhas, irritabilidade ou confusão mental, é importante buscar atendimento médico”, orienta o médico do São Luiz Campinas.
Médicas explicam os riscos
“O calor leva à perda excessiva de líquido e sais minerais pela pele, então há um aumenta no risco de distúrbio hidroeletrolítico no sangue e desidratação. Além disso, as altas temperaturas causam uma vasodilatação, exigindo que o coração tenha que fazer muito mais esforço para bombear o sangue para a periferia”, diz Deborah Beranger, endocrinologista, com pós-graduação em Endocrinologia e Metabologia pela Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro (SCMRJ). Essa vasodilatação também resulta em uma sobrecarga nas veias dos membros inferiores.
“Como resultado, torna-se mais comum apresentarmos sintomas como cansaço, sensação de peso na região, câimbras, dor e edemas. Além disso, o risco de problemas vasculares como trombose e, principalmente, varizes também aumenta”, explica a cirurgiã vascular Aline Lamaita, membro da Sociedade Brasileira de Angiologia e Cirurgia Vascular. Como a pele desempenha um papel crítico de proteção e regulação da temperatura corporal, as ondas de calor também podem afetá-la.
“A incapacidade de resfriar adequadamente durante eventos de alto calor pode levar a insolação e morte, por exemplo. Além disso, quando as temperaturas são altas, as pessoas podem passar mais tempo ao ar livre. E um grande problema nesse sentido é o aparecimento de câncer de pele”, aconselha a dermatologista Cintia Guedes, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Por isso, é fundamental redobrar os cuidados com a saúde, conforme especialistas explicam abaixo:
Mantenha-se hidratado
A hidratação é o principal cuidado necessário quando as temperaturas sobem. “Por causa dos dias mais quentes, o organismo precisa ativar mecanismos para manter a temperatura do corpo em níveis ideais, abaixo de 37º C, como a transpiração e a respiração, que aumentam a perda d’água”, afirma a médica nutróloga Marcella Garcez, diretora e professora da Associação Brasileira de Nutrologia (Abran).
A recomendação de ingestão ideal varia de acordo com uma série de fatores. Mas, no geral, a Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta que adultos saudáveis consumam, no mínimo, dois litros de água por dia. Outra maneira de estimar essa quantidade é multiplicar o peso corporal por 0,03 e considerar o resultado como o volume a ser consumido.
“Para hidratar o organismo, o melhor é consumir água, mas a hidratação pode ser complementada com outros líquidos como sucos e chás, além de alimentos ricos em água, incluindo melancia, melão, tomate e pepino”, aconselha a Dra. Marcella.
Evite certos hábitos
Cuidado com hábitos que favorecem a desidratação, como o consumo de bebidas alcoólicas. “O mais recomendável é não beber, mas, caso consuma, o ideal é alternar a bebida alcoólica com a ingestão de pelo menos duas vezes a quantidade de água para reduzir os danos”, recomenda a nutróloga.
“É essencial reforçar o consumo de água e outros líquidos naturais, como suco de frutas e água de coco, para manter o corpo hidratado e repor os sais minerais perdidos ao longo do dia. Cuidado com bebidas alcóolicas, pois favorecem a desidratação”, diz Marcos Roberto.
O consumo de alimentos ricos em sal também deve ser controlado, já que, além de contribuir com a desidratação, aumenta a pressão arterial. “O sal, ao chegar na corrente sanguínea, causa uma grande alteração no equilíbrio dos líquidos internos. Logo, o excesso da substância causa retenção de líquidos, o que aumenta a sobrecarga do sistema circulatório, a pressão e o risco para o coração”, alerta a Dra. Aline.
Cuidado com o ar-condicionado
Mantenha o ambiente arejado e bem ventilado. É possível utilizar equipamentos como ventilador e ar-condicionado para ajudar a lidar com o calor e resfriar o ambiente. Mas é importante ter cautela ao utilizá-lo.
“Aparelhos resfriadores de ambientes reduzem a umidade do ar para diminuir a temperatura. E se expor excessivamente a essas condições pode causar consequências, principalmente respiratórias”, explica Danilo S. Talarico, médico pós-graduado em Tricologia Médica e Dermatologia Clínica e Cirúrgica. Por isso, é importante maneirar no uso desses aparelhos.
“O calor vem acompanhado de uma queda significativa da umidade do ar, que pode agravar quadros respiratórios pré-existentes. A utilização de umidificadores ou toalhas molhadas nos ambientes pode ajudar”, complementa Marcos Roberto.
“Invista em outras estratégias para reduzir a temperatura do ambiente. Por exemplo, evite a entrada da luminosidade solar, mantenha portas e janelas abertas para favorecer correntes de vento e evite a iluminação artificial quente, dando preferência aos LEDs. Plantas também são grandes aliadas para regular a temperatura do ambiente”, recomenda Dr Danilo.
Se utilizar o ar-condicionado, invista também em um umidificador de ar para repor a umidade do ambiente. “A exposição ao ar condicionado por longos períodos também pode causar perda das oleosidades naturais da pele, favorecendo o ressecamento do tecido cutâneo e o surgimento de dermatites. Por isso, é importante utilizar cosméticos com alta propriedade hidratante na pele do corpo e do rosto”, aconselha a Dra. Cintia Guedes.
“O calor pode contribuir para quadros de dermatite e outras alergias, principalmente de pele. Por isso, é essencial manter a pele limpa e hidratada. Em praias e piscinas, por exemplo, lave o corpo com água limpa para retirar o excesso de cloro e sal, que podem causar irritação”, diz Marcos Roberto.
Proteja a pele
Com as altas temperaturas, devemos redobrar os cuidados com a fotoproteção para prevenir os danos causados pela radiação solar. “A exposição direta ao sol pode ocasionar queimaduras graves, além de ser um fator de risco para o câncer de pele. Por isso, é essencial utilizar protetor solar, reaplicando frequentemente, principalmente após entrar na água”, diz Marcos Roberto.
A proteção do filtro solar deve ser eficiente contra as radiações UVA e UVB, que, quando atingem a pele sem proteção, causam danos cumulativos que favorecem o fotoenvelhecimento e lesões de pele pré-cancerosas.
“Por isso, o recomendado é aplicar diariamente um protetor solar com FPS de no mínimo 30, mas é interessante também escolher um produto formulado com antioxidantes, que oferecem um benefício a mais para evitar os danos”, ensina a dermatologista Lilian Brasileiro, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Mas lembre-se que não basta aplicar o fotoprotetor apenas uma vez. “O protetor solar deve ser reaplicado no máximo a cada 3 horas, mas, caso você entre em contato com a água ou transpire excessivamente, o ideal é que o produto seja reaplicado antes desse período”, explica a Dra. Cintia Guedes.
Use roupas leves e claras
Para enfrentar as altas temperaturas com mais tranquilidade, especialistas recomendam dar preferência a roupas feitas à base de tecidos naturais, como o algodão e o linho, que são mais leves e respiráveis, permitem a absorção do suor e facilitam a ventilação, conferindo mais conforto.
“Cores claras também ajudam a acumular menos energia luminosa que se converte em calor. Porém, caso você vá se expor diretamente ao sol, é importante aplicar o protetor solar no corpo também e optar por roupas feitas com tecidos que contenham FPU (fator de proteção ultravioleta) para evitar os danos dos raios solares à pele”, aconselha o Dr. Danilo Talarico.
Reduza a exposição ao sol
Com o aumento das temperaturas, é importante reduzir a exposição ao sol ao máximo. Roupas com proteção UV, chapéus, óculos de sol e outros acessórios são importantes aliados para proteger a pele.
“Além de vestir roupas e acessórios, como óculos de sol e chapéus, fabricados com proteção ultravioleta, procure manter-se na sombra e usar barreiras como guarda-sol e sombrinha”, explica a dermatologista Paola Pomerantzeff, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Mas lembre-se que essas barreiras físicas são apenas coadjuvantes na fotoproteção e não são suficientes sozinhas, devendo sempre serem associadas a um fotoprotetor. “Estudos mostram que o guarda-sol, por exemplo, oferece, no máximo, proteção equivalente a FPS 8”, acrescenta a dermatologista.
Se possível, evite também a exposição ao sol nos horários de maior radiação solar. “Evite a exposição direta ao sol depois das 10 horas da manhã até às 16 horas, para evitar o dano oxidativo e a produção de enzimas que degradam colágeno, inflamam e podem deixar o tecido cutâneo mais suscetível a lesões e doenças”, aconselha a Dra. Lilian Brasileiro.
Atente-se aos sinais do seu corpo
Preste atenção aos sintomas de problemas comuns durante as altas temperaturas, como a desidratação. “Os sintomas da desidratação incluem, além de sede, urina amarela escura, frequência urinária reduzida, cansaço, fraqueza, tontura, dor de cabeça, náuseas e ressecamento dos lábios, língua e olhos”, afirma a Dra. Marcella Garcez. Outro sinal para ficar atento é o inchaço. “O inchaço é um sinal comum da má circulação, ocorrendo quando o coração não consegue circular sangue suficiente para o corpo todo”, alerta a Dra. Aline Lamaita.
Segundo a Dra. Deborah Beranger, febre, fraqueza e vômito, além de queimaduras na pele, são sintomas de insolação. “Desorientação e câimbras podem indicar perda de água e eletrólitos. Já o surgimento de sinusite e rinite pode ser sinal de ressecamento das vias respiratórios. E desmaios podem estar relacionados à queda da pressão”, destaca a endocrinologista. Na dúvida, busque um médico rapidamente.
Cuidado com a alimentação
As altas temperaturas favorecem a proliferação de bactérias que podem ocasionar intoxicações alimentares. Por isso, muita atenção na conservação dos alimentos, principalmente os que precisam ficar refrigerados.
“Opte por alimentos frescos, naturais e mais leves, que são de fácil digestão, além de ter atenção com a procedência e higienização, principalmente nas praias”, recomenda Dr Marcos Roberto.
Com Assessorias