Estima-se que 1,9% da população brasileira (cerca de 4 milhões de pessoas) são trans ou não binárias (que não se reconhecem nem como homens e nem como mulheres), revela estudo da Unesp (Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho). Mesmo com um número tão expressivo, ser uma pessoa trans no Brasil é sinônimo de resistência – o país é ainda o que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo – também quando o assunto é desemprego e exploração sexual.
De acordo com o Dossiê dos Assassinatos e da Violência contra Travestis e Transexuais Brasileiras, o Brasil registrou 175 assassinatos de pessoas trans em 2020, um aumento de 41% em relação ao período anterior. As informações coletadas pela Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Anrtra) revelam que uma pessoa trans é assassinada no país a cada 48 horas, colocando o Brasil na liderança de países que mais matam essa população.
A violência faz com que a expectativa de vida de pessoas trans no Brasil seja de apenas 35 anos – menos da metade da estimada para a população em geral segundo o IBGE. Outra pesquisa da Antra, a TransAção, mostra que 94,8% das pessoas trans já sofreram algum tipo de violência provocada pela discriminação de gênero.
A violência não é somente contra a vida: 87,3% destacam que sua principal necessidade é o direito a emprego e renda. Hoje, 90% das pessoas trans no país se mantêm por meio da prostituição porque são discriminadas no mercado de trabalho. A falta de capacitação é outro problema. Uma parcela relevante abandona os estudos por volta dos 13 anos. Apenas 0,02% delas têm acesso a uma universidade.
“Ser uma travesti, mulher transexual ou qualquer outra pessoa Trans é quando não há conformidade de gênero, isto é, quando o gênero designado no nascimento não condiz com a maneira como a pessoa se identifica”, explica Keila Simpson Sousa, presidenTRA da Antra.
Segundo ela, apesar das conquistas de luta e ativismo, a transfobia ainda é uma realidade latente na sociedade. “Isso é demonstrado na falta de oportunidades de trabalho, na rejeição pela própria família, na impunidade para atos violentos e nas mortes de pessoas trans que continuam a crescer no Brasil”, destaca.
Empresas precisam se preparar para receber esse público
As discussões sobre a conscientização a respeito da cidadania de pessoas trans, incluindo a inclusão no mercado de trabalho, são urgentes. Do lado das empresas há a necessidade de programas bem estruturados e adequados à busca e retenção de pessoas trans em seu quadro de colaboradores, além da garantia de um ambiente acolhedor efetivo para combater a transfobia, por exemplo.
“Em muitos casos há agressões veladas, como, por exemplo, a recusa dos colegas em referir-se ao profissional trans pelo nome social. As empresas precisam atuar com ética e profundidade neste tema – além de suas obrigações de respeito aos Direitos Humanos, de inclusão, de prevenção à discriminação”, afirma Deives Rezende Filho, especialista em D&I, fundador da Condurú Consultoria.
“Há também a necessidade da criação de cartilhas de diversidade e inclusão como estratégia de negócio e não apenas de marketing dentro das empresas”, completa Rafaela Frankenthal, cofundadora da SafeSpace. Essa plataforma ajuda empresas a identificarem padrões de comportamento (assédio, discriminação, fraude, corrupção, etc) que podem trazer riscos e causar danos à reputação e à cultura.
Vagas para pessoas trans com direito a graduação gratuita
Estão abertas as inscrições do Transforma TIM, programa criado pela operadora para gerar qualificação e inclusão de pessoas trans no mercado de trabalho. Na primeira edição, estão disponíveis vagas em lojas e no call center da empresa de telefonia, em um processo seletivo conduzido pela consultoria Transcendemos. O projeto conta ainda com a parceria da Ampli, edtech de ensino digital da Kroton, que vai oferecer bolsas de 100% na graduação à distância para as pessoas contratadas.
As inscrições podem ser feitas até 31 de janeiro pelo site transformatim.com.br. Para participar do processo seletivo, basta apenas ter completado o Ensino Médio. Há vagas em lojas no Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Já as posições para o call center são para trabalho remoto. As pessoas que não forem contratadas serão indicadas para oportunidades no parceiro comercial de televendas e também farão parte do banco de talentos LGBTI+ da TIM.
A ação afirmativa de empregabilidade marca as atividades neste mês que lembra o Dia Nacional da Visibilidade Trans (29 de janeiro). A data celebra a existência e resistência da comunidade transgênero no Brasil e tem como objetivo promover reflexões sobre a cidadania dessa população. As ações buscam aumentar a conscientização sobre a letra T da sigla LGBTQIA+, que representa as pessoas travestis, transexuais (homens e mulheres trans) e transgêneras.
Indústria na Baixada abre curso para mulheres trans e cis
Majoritariamente masculina, a indústria fluminense também quer incluir as mulheres trans no mercado de trabalho. O programa “Elas da Bayer: Impulsionando mulheres para a indústria” oferece 25 vagas gratuitas para o curso de operadora de produção industrial. O programa é voltado para mulheres cisgênero e transgênero, em situação de vulnerabilidade social, maiores de 18 anos e moradoras de Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Para participar, é preciso ter o Ensino Fundamental completo.
As inscrições são realizadas presencialmente, até o dia 2 de fevereiro, das 9h às 18h, na Firjan Senai Nova Iguaçu (Rua Gérson Chernicard, 1319, bairro da Luz).É necessário levar cópias da cédula de identidade, do CPF e do comprovante de residência, além dos comprovantes de conta bancária e de escolaridade e requerimento de inscrição preenchido com letra legível. As candidatas devem seguir protocolos de saúde e segurança, como uso de máscara e distanciamento entre as pessoas no local.
O processo seletivo será constituído por etapas de comprovação de documentos e entrevistas em grupo e individuais. O resultado será divulgado no dia 8/2, às 14h. Para mais informações, consulte o edital.
A ação afirmativa é idealizada pelo GROW (Representação e Oportunidades Crescentes para Mulheres, na sigla em português), grupo de afinidade da Bayer que promove ações de equidade de gênero, para aumentar a participação de mulheres no mercado de trabalho. Em 2019, um pouco mais da metade (54,5%) da força de trabalho era formada por mulheres com 15 anos ou mais, enquanto 73,7% da população masculina trabalhava, de acordo com dados do IBGE divulgados em 2020.
“Quase metade dos lares brasileiros é chefiada por mulheres, logo a conta não fecha”, afirma Ana Isabel dos Santos, gerente de Relações com a Comunidade do Parque Industrial de Belford Roxo e uma das líderes de Inclusão e Diversidade na unidade. “Com o projeto, queremos contribuir para formação técnica e geração de renda dessas pessoas e consequentemente ampliar a participação feminina na indústria, uma vez que o setor é “, completa.
Campanha de combate ao preconceito e à transfobia
Também em apoio ao Dia da Visibilidade Trans, o Blued, aplicativo móvel para pessoas gays, bi, trans e queer, promove junto à Antra uma campanha de conscientização sobre o combate ao preconceito e a transfobia, que estará disponível a todos os usuários. O app quer conscientizar os usuários sobre a importância da data e para apoiar aqueles que se reconhecem como trans.
Além de conteúdos que elucidam a importância da visibilidade trans postados na timeline oficial, o app promoverá uma live com Keila Simpson Sousa, presidenTRA da Antra, para esclarecer dúvidas e interagir com os integrantes da comunidade. “A data acende uma luz sobre as urgentes pautas que precisam ser discutidas sobre o tema”, completa a ativista.
Com Assessorias (atualizado em 31/01/21)