O presidente Jair Bolsonaro deve ser submetido, ainda nesta quarta-feira (14), a mais uma cirurgia – a sétima em menos de três anos e a quinta para correção de uma nova obstrução intestinal, que seria decorrente de uma hérnia que já precisava ser operada, mas que ele vinha postergando. Chamado às pressas à Brasília, o gastroenterologista Antônio Luiz Alvarenga Macedo, especialista em cirurgia oncológica que atende o presidente desde 2018, recomendou que ele fosse transferido imediatamente para São Paulo. Após novos exames complementares, ele poderá passar ainda nesta quarta por uma cirurgia de emergência.

Após exames realizados no HFA, em Brasília, o Dr. Macedo, médico responsável pelas cirurgias no abdômen do Presidente da República, decorrentes do atentado a faca ocorrido em 2018, constatou uma obstrução intestinal e resolveu levá-lo para São Paulo onde fará exames complementares para definição da necessidade, ou não, de uma cirurgia de emergência”, diz a nota do Ministério das Comunicações.

A transferência ocorreu no final da tarde, para a Base Aérea de Brasília, e de lá para São Paulo, onde chegou no início da noite e foi levado para o Villa Nova Star, hospital privado de alto padrão, onde a equipe do Dr Macedo também opera. À noite, o médico assinou uma nota à imprensa informando que o presidente seguiria em “atendimento clínico conservador” – ou seja, não confirmava a cirurgia de emergência nem eletiva. As outras cirurgias de Bolsonaro após a facada ocorreram no Hospital Albert Einstein, um dos mais caros do país. Além dos procedimentos para corrigir obstruções intestinais anteriores, Bolsonaro já tirou um cálculo na bexiga e fez uma vasectomia, somando sete cirurgias em menos de três anos.

Segundo pessoas próximas de Bolsonaro, ele estava tendo soluços a cada três segundos e não conseguia dormir mais do que uma hora já por algumas noites, o que acentuava a sua já conhecida insônia e aumentava sua irritabilidade. No Hospital das Forças Armadas, onde foi internado no final da madrugada desta quarta-feira (14), com fortes dores abdominais, o presidente foi sedado para conseguir descansar. Fontes ligadas ao governo informavam que o estado de saúde do presidente era delicado, porém, não de tanta gravidade. Caso fosse grave, teria que ser operado às pressas mesmo em Brasília.

A doença do bolsonarismo

Nas redes sociais de Jair Bolsonaro, foi postada uma foto em que ela aparece deitado, sem camisa e com eletrodos no peito e sonda nasogástrica. A foto ainda revela uma cicatriz na barriga (que seria da cirurgia ocorrida após a facada). Mesmo no leito do hospital – e pasmem, ainda sedado! -, Bolsonaro (ou a sua assessoria de imprensa ou seus filhos que gostam de ‘criar narrativas’ nas redes sociais para que o pai seja vitimizado) não perdeu a oportunidade de faturar politicamente e atacar adversários.

Ele escreveu que a situação era causada pelo golpe a faca que sofreu na campanha de 2018, na cidade de Juiz de Fora (MG). Repetiu o mantra de que a facada foi desferida por um ex-filiado ao Psol, que apoia o PT, num atentado à democracia. Apenas para lembrar: a Polícia Federal concluiu que Adélio Bispo – preso como acusado pela facada – agiu sozinho e de forma isolada. Ele foi absolvido da acusação em junho de 2019 pela Justiça, mas o presidente – ainda preso à campanha política desde 2018- até hoje não se conforma e tenta imputar a culpa à esquerda (ou aos ‘comunistas’), acirrando ainda mais os ânimos junto às bases bolsonaristas (veja a mensagem na íntegra aqui).

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15% de pacientes que operam abdome sofrem com hérnia intestinal

Entre os pacientes que passam por uma cirurgia no abdome, cerca de 15% desenvolvem uma hérnia no local da incisão cirúrgica. Segundo o cirurgião Christiano Claus, presidente da Sociedade Brasileira de Hérnia, o risco existe para todos os tipos de procedimentos que exigem incisões no abdome. “Seja retirada da vesícula, cirurgia de apêndice, intestino ou estômago. Uma incisão feita na parede abdominal que não cicatriza de forma adequada pode resultar em uma hérnia incisional”, explica.

Ela acontece devido à separação precoce da fáscia muscular no pós-operatório. Marcelo Furtado, vice-presidente da SBH, afirma que existem fatores de risco para o desenvolvimento da hpérnia intestinal. “Durante o primeiro mês após a cirurgia a resistência da ferida à tração é menor, o que resulta na dependência da sutura. Pessoas com anemia, desnutridas, que fazem uso de corticoides, com tosse crônica e, principalmente, aquelas com infecção na ferida cirúrgica, obesidade e tabagismo têm maiores chances de desenvolver hérnias incisionais”.

Quando a hérnia ocorre o paciente apresenta um caroço na região, com dor que aumenta durante a prática de exercícios físicos e melhora com o repouso. O diagnóstico é simples e acontece com exames clínicos associados a exames de imagem. As hérnias abdominais correm risco de complicações como o encarceramento e o estrangulamento, que são quadros de emergência médica.

O diretor da SBH, Gustavo Soares, alerta para os sintomas: “Dor intensa e aumento de volume mais acentuado no local da hérnia, obstrução do intestino, vômitos e estufamento abdominal também podem estar presentes”. Nesses casos é essencial buscar uma unidade de pronto-atendimento.

Apenas no Sistema Único de Saúde (SUS) foram feitas 25,1 mil cirurgias para reparos de hérnias incisionais em 2019 e 12,6 mil, em 2020 – ano de pandemia e paralisação dos procedimentos eletivos. Estima-se que sejam realizadas aproximadamente 600 mil operações para reparos de hérnias abdominais ao ano no Brasil, fora de época de pandemia, levando em consideração o sistema público e privado de saúde.

Quando o procedimento é realizado de forma minimamente invasiva, com as tecnologias laparoscópica e robótica, o risco de desenvolver hérnia após cirurgias no abdome cai para 1% devido aos cortes menores, de acordo com a SBH, representando redução de 93%.

Entenda a obstrução intestinal e os tratamentos indicados

Uma obstrução intestinal trata-se do impedimento do trânsito normal dos gases e das secreções intestinais. De acordo com o cirurgião do aparelho digestivo Christiano Clauss, professor de cirurgia da Universidade Positivo, elas podem ter diferentes causas. “No intestino delgado as duas principais são as aderências – que geralmente estão associadas à cirurgias prévias – e as hérnias da parede abdominal. A obstrução também pode ocorrer no intestino grosso e nesse caso a principal causa é um tumor ou uma neoplasia”, explicou.

Existe a obstrução total e a obstrução parcial de intestino, chamada de suboclusão. “Nos casos das totais invariavelmente ocorre um bloqueio completo da possibilidade do trânsito intestinal, exigindo cirurgia. Nos casos de obstrução parcial, o paciente pode ter uma solução sem necessidade de operar”. Entre os principais sintomas estão dores abdominais (cólicas), estufamento abdominal, parada da eliminação de gases e fezes e a presença de vômitos que se tornam cada vez mais intensos e frequentes.

A tomografia de abdome é a melhor forma de diagnóstico. “Muitas vezes é capaz de dar o diagnóstico preciso e também da causa da obstrução, como uma hérnia, aderência ou tumor”, afirma o especialista. Para aliviar os sintomas do paciente geralmente é esvaziado o estômago com o uso de uma sonda, com o objetivo de reduzir os vômitos. “Além disso, é importante manter o jejum, fazer reposição hidroeletrolítica endovenosa e o uso de antibióticos para evitar infecções”.

A partir da realização do exame que se define a necessidade ou não da cirurgia e a complexidade do caso. “O principal cuidado é evitar para que a obstrução evolua para uma isquemia, que pode levar a uma piora significativa do caso”, alerta o cirurgião.

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*Matéria em atualização

(Para saber mais sobre hérnia intestinal, acesse: sbhernia.org.br)

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