O Dia Mundial Sem Tabaco, comemorado nesta segunda-feira, 31 de maio, tem como objetivo estimular a redução do fumo e, assim, prevenir doenças e outros problemas causados pelo seu consumo. O Portal ViDA & Ação abre novamente neste domingo (30/5) uma série especial VIDA SEM FUMO, que busca ajudar pessoas a deixar esse hábito. Como a própria editora do site, a jornalista Rosayne Macedo, ex-fumante inveterada há mais de 20 anos (conheça sua história aqui).
Embora os números apontem uma perspectiva positiva, ainda há um longo caminho para melhorar o cenário do tabagismo no Brasil. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), o cigarro é a principal causa de morte evitável no mundo, considerado um problema de saúde pública. A estimativa é de que cerca de 200 mil pessoas morram por ano no Brasil decorrente do tabagismo.
Segundo dados inéditos do Sistema Vigilância de Fatores de Risco e Proteção Para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) o número de brasileiros que tem o hábito de fumar está diminuindo. A queda chegou a 38% nos últimos 13 anos, passando de 15,7% da população em 2006 para 9,8% em 2019.
A pesquisa mostra, no entanto, que a presença do cigarro é menor nas faixas etárias de 18 a 24 anos (7,9%) e entre aqueles com mais de 65 anos (7,8%) e é maior entre os homens, representando uma porcentagem de 12,3% entre os adultos de 18 anos ou mais, contra 7,7% das mulheres nessa mesma faixa.
Entre as principais consequências do tabaco, o Ministério da Saúde cita o câncer de pulmão, que tem o cigarro como principal causa e é responsável por mais de dois terços das mortes por essa doença em todo o mundo. No Brasil, o câncer de pulmão é o segundo mais frequente, atrás apenas do câncer de pele e melanoma, e o primeiro no ranking mundial desde 1985, tanto em incidência quanto em mortalidade – segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca) , cerca de 13% de todos os casos novos de câncer são de pulmão. Além disso, fumantes são mais suscetíveis a internações e até mesmo mortes, quando associado a outras doenças.
Fumar também aumenta o risco de contrair infecções bacterianas e virais, como a Covid-19. Este é o alerta feito pelo Inca , que divulgou em março de 2020 uma nota técnica alertando a população sobre os riscos do tabagismo e do uso e compartilhamento do narguilé para a infecção pelo coronavírus. Segundo o Instituto, as chances de agravamento da doença em pacientes chineses foram 14 vezes maiores entre as pessoas com histórico de tabagismo, quando em comparação com aquelas que não fumavam.
Narguilé também apresenta malefícios à saúde
Os malefícios não são exclusivos do cigarro convencional. Pesquisas mostram que também podem ser causadas pelo narguilé, embora muitas vezes ele seja utilizado com um filtro d’água junto a aromatizantes e flavorizantes que trazem aroma e sabor agradáveis ao tabaco.
Em relação ao narguilé, informações do Inca e do Ministério da Saúde também mostram efeitos parecidos aos causados pelo cigarro, quando usado em longo prazo: câncer de pulmão, boca e bexiga, doenças respiratórias e até mesmo estreitamento das artérias.
O Inca divulga que, embora pareça inofensivo, o consumo de narguilé tem o mesmo efeito de 100 cigarros e ainda faz um alerta para aqueles que compartilham o fumo com outras pessoas, ato que pode ter como consequência herpes e outras doenças da boca, além de hepatite C ou tuberculose. O risco de transmissão do novo coronavírus também cresce muito com o compartilhamento da piteira, parte que é colocada na boca pelos usuários.
Como a saúde bucal também é afetada
A lista de consequências para aqueles que fumam é grande e a saúde bucal está entre as áreas mais afetadas. Às vésperas do Dia Mundial Sem Tabaco, três especialistas comentam os principais danos do tabagismo à saúde bucal, além de trazer dicas e orientações para quem decidir encerrar esse hábito.
O tabagismo pode afetar a saúde bucal de várias formas, trazendo problemas estéticos como o escurecimento, perda dentária e o câncer bucal. Por exemplo, a pigmentação dentária é causada pela interação física e química entre os tecidos dentários e o agente causador da pigmentação, no caso o cigarro. E a primeira coisa que observamos são os dentes amarelos ou manchados.
A nicotina se acumula no esmalte dentário e estimula a produção de melanina na mucosa, causando manchas nos dentes, na gengiva, língua e na bochecha. Existem tratamentos clareadores e para remoção de manchas, mas se a pessoa não parar de fumar ou ao menos diminuir o consumo do cigarro, por mais que seja removida as manchas, elas podem voltar a aparecer”, explica a cirurgiã dentista Bruna Conde.
Para a coordenadora do curso de Odontologia da Anhanguera de Niterói, Maria Amélia Pazos Roxo, o malefício mais evidente do cigarro são as manchas dos dentes, queixa comum entre os pacientes. “Além de deixar amarelado, o cigarro causa mau-hálito e pode trazer doenças na gengiva, bem como é um fator de risco importante para o câncer de boca”, explica a dentista.
Ainda de acordo com dados do Inca, o tabagismo está associado a 90% dos casos de câncer de boca. Queren Azevedo, consultora da GUM , marca americana de cuidados bucais, explica que isso acontece, porque, ao inalar a fumaça, as substâncias químicas presentes no fumo têm o primeiro contato com a boca e a garganta, antes mesmo de chegar aos pulmões. “Assim, a exposição à nicotina leva as células saudáveis da cavidade oral a sofrerem mutações, onde sua composição genética é alterada, acelerando sua reprodução”, informa.
Além das consequências apresentadas, a especialista ressalta que o consumo de cigarros, charutos e cachimbos colabora com o surgimento de doenças periodontais. Queren informa que componentes do tabaco penetram no esmalte dentário, causam mau hálito e diminuem a vascularização da gengiva, ocasionando em uma doença silenciosa ao redor dos dentes. “Os componentes nocivos atingem o sistema imunológico e minimizam a capacidade das células de defesa combaterem infecções e cicatrizarem a região, deixando o fumante suscetível a bactérias, vírus e fungos na cavidade oral”, revela.
Segundo a consultora, o cigarro contribui para mudar a coloração do sorriso, deixando-o amarelado, além de propiciar a manifestação do tártaro e gengivite. “A nicotina forma uma camada de resíduo na língua e dentes, atingindo a mucosa da boca. Dessa forma, as substâncias podem diminuir a sensação das papilas gustativas, impedir a circulação do sangue na região e gerar dores nos ossos que compõem a arcada dentária”, aponta. A cavidade oral é tão prejudicada, que o paciente pode ter suas glândulas salivares destruídas e o paciente desencadear um quadro de perda dos dentes até câncer de boca.
Maior risco de gengivite e perda dentária
A coordenadora da Anhanguera explica que o fumante tem maior risco de ter gengivite e também que esse problema evolua para a ocorrência de perdas ósseas e até mesmo para a perda dentária. “A nicotina presente no cigarro causa uma constrição dos vasos sanguíneos da gengiva, o que faz com que mesmo que a gengiva esteja inflamada ela não sangre. Dessa forma, o paciente só percebe a presença da doença em estágios mais avançados, quando o prognóstico é mais grave”, afirma.
Maria Amélia ainda esclarece que fumar também prejudica a resposta ao tratamento desses agravos, uma vez que seus componentes diminuem a resposta imunológica dos indivíduos e faz com que apresentem atrasos na cicatrização após o tratamento.
Essas consequências do tabagismo também podem impactar a saúde bucal. Estudos em animais mostram que a inalação da fumaça do cigarro leva à perda óssea e à dificuldade de cicatrização dos tecidos bucais frente a um processo inflamatório”, afirma.
A cicatrização de feridas, pós cirurgia de extração de sisos, implantes e cirurgias plásticas na gengiva podem ser prejudicadas por conta da nicotina e outras substâncias presentes no fumo. Além disso, coroas de porcelana, lentes de contato e restaurações também sofrem escurecimento. Vale ressaltar ao dentista, sobre o uso e frequência para adaptar o tratamento ao hábito e rotina de cada paciente.
Perda do paladar até em fumantes passivos
Fumar também é capaz de alterar o processo alimentar, quando os órgãos olfativos e gustativos expostos à fumaça podem mudar estrutural e funcionalmente a capacidade de detecção e percepção de estímulos por esses receptores sensoriais. Essa modificação ocorre inclusive para fumantes passivos.
Fumar regularmente pode tanto provocar a perda do paladar, a pessoa passar a não sentir mais o gosto dos alimentos, como alterar a percepção do gosto, provocando um aumento – sem necessidade – do consumo de sal ou açúcar na tentativa de tornar o sabor mais aceitável, o que pode causar outros riscos à saúde”, alerta a especialista.
Já a fumaça resseca a boca e prejudica a produção de saliva. “A saliva é essencial para a higiene e defesa do organismo, além disso ela auxilia na digestão e até essa parte fica comprometida, pois os alimentos podem não ser digeridos corretamente. Sem contar que essa alteração de saliva é um dos fatores que contribui para o mau hálito”, esclarece.
Os riscos da doença periodontal nos fumantes
A doença periodontal é extremamente preocupante e no fumante mais ainda. Ela começa com a gengivite, inflamação da gengiva causada pela ação da placa bacteriana que causa o sangramento. Porém, na pessoa que fuma, devido à vasoconstrição, o sangramento quase não acontece.
Mas é possível identificar o problema por conta de outros sinais, como inchaço e a retração da gengiva, com maior exposição da raiz e o amolecimento do dente, levando a uma periodontite, que não necessariamente fará com que a pessoa busque o tratamento adequado logo no início do problema, já que sua gengiva pode não causar dor ou incômodo.
Com relação ao câncer, Maria Amélia lembra ainda que o cigarro é o responsável por milhões de mortes anualmente e com o câncer de boca não poderia ser diferente, sendo o fumo um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento dessa doença. “Vale lembrar que o cigarro também está muito ligado a doenças respiratórias e cardiovasculares, que apresentam impacto na saúde bucal e, por esse motivo, também podem ser identificadas pelo cirurgião dentista”, reforça.
Dicas para diminuir o amarelado dos dentes
Uma boca saudável também é uma combinação da higiene que você faz em casa, então não se esqueça: escove os dentes, passe fio dental e limpe a língua – quando realizados corretamente, ajudam a minimizar as manchas causadas pelo cigarro.
Muitos não levam essas dicas a sério, mas a principal recomendação sempre será escovar os dentes regularmente, pelo menos três vezes ao dia, sem esquecer do uso do fio dental, pois a escova não limpa adequadamente a região entre os dentes”, explica a coordenadora da Anhanguera de Niterói.
Além disso, considerando o risco mais alto que os fumantes apresentam para o início e progressão de problemas bucais, é indispensável que frequentem o dentista regularmente.
O dentista tem um papel importante tanto na orientação quando no abandono do hábito, por isso, embora a periodicidade que um fumante deva frequentar o dentista dependa de outros fatores, é importante que ele visite um profissional a cada 6 meses, para aqueles que fumam um maço por dia, por exemplo, e 12 meses, para aqueles que fumam menos, mesmo que não apresente nenhum agravo bucal”, completa.
O dentista deve ser procurado sempre que houver sangramento na gengiva. Em relação aos procedimentos para amenizar as manchas dos dentes, Maria Amélia informa que clareamentos podem amenizar a cor amarelada, que é bastante característica daqueles que fumam.
De qualquer forma, o fumante tem que estar ciente de que, se ele continuar fumando, com o tempo as manchas certamente voltaram a aparecer, o que torna necessário que o procedimento seja realizado regularmente. Em casos de inflamação na gengiva, apenas uma limpeza bucal não é suficiente – é preciso fazer um tratamento com periodontista, com raspagem e em alguns casos até com a realização de cirurgia, dependendo do comprometimento”, explica Maria Amélia.
Segundo Queren, o hábito de fumar pede por uma limpeza bucal redobrada. A consultora indica apostar na escovação da língua, utilização do creme dental com flúor e, principalmente, não esquecer do fio dental para impedir o avanço das doenças mencionadas. “O acompanhamento frequente com o dentista também se torna mais necessário que nunca, já que o tratamento periodontal exige muitos cuidados dentro do consultório. Ainda assim, a melhor solução para todos os problemas decorrentes do tabagismo, é parar de fumar”, conclui.
É de suma importância a visita do fumante, ex-fumante, e fumante passivo ao dentista, para além de remoção de fatores que prejudicam a saúde bucal, checar a saliva com testes específicos de sialometria e para evitar futuros transtornos, como a perda dentária por conta da falta de sinais e sintomas. A orientação deve ser adequada para cada caso,” revela Bruna Conde, que é pós-graduada em Periodontia, Cirurgia Plástica Periodontal e Disfunção Temporomandibular.
Ajuda profissional pode apoiar quem deseja abandonar o cigarro
Uma última dica importante, segundo Maria Amélia, é que a visita ao dentista também pode ser encarada como uma oportunidade de apoio para os fumantes abandonarem esse hábito. O profissional pode fornecer informações e cuidados preventivos, além de discutir o uso do cigarro de forma apropriada, mostrando para o paciente as consequências que ele já apresenta na boca em decorrência do consumo de tabaco, o que contribui bastante para que o fumante abandone o hábito.
Se necessário, o dentista também pode prescrever medicações para ajudar nesse processo, desde que seja habilitado para isso. Assim, o tratamento para abandonar o hábito de fumar pode ser feito junto com o tratamento dentário e com a ajuda desse profissional”, conclui. Ela lembra que o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza tratamento gratuito para dependentes da nicotina. Para saber mais, basta ligar para 136.
Realizado em 31 de maio, o Dia Mundial sem Tabaco é uma data criada pela Organização Mundial da Saúde para conscientizar a população sobre o risco de doenças e mortes relacionadas ao tabagismo. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA), a dependência em nicotina, presente em produtos à base de tabaco, é reconhecida como uma doença crônica, capaz de desencadear graves problemas respiratórios, cardíacos e pulmonares, além de propiciar o desenvolvimento de câncer nos mais variados órgãos do corpo humano.
Ao inalar a fumaça do cigarro, o chamado fumante passivo também está suscetível à ocorrência de inúmeras patologias. Faringites, bronquites, enfisema pulmonar, diversos tipos de câncer, sobretudo problemas do pulmão e doenças cardiovasculares, como as coronariopatias e o enfarto do miocárdio são alguns exemplos. Além disso, a fumaça do cigarro possui componentes que promovem efeitos carcinogênicos, oxidantes e aldeídos, capazes de promover inflamação e lesão celular.
Com Assessorias