A incidência da maioria das alterações tireoidianas aumenta com o passar da idade. As alterações tireoidianas mais frequentes na população idosa são os nódulos de tireoide e o hipotireoidismo, sendo o hipertireoidismo e o câncer de tireoide as alterações que causam maior preocupação.
Mas o diagnóstico pode ser dificultado pela inespecificidade das manifestações clínicas de algumas doenças da tireoide, as quais podem ser confundidas com queixas relativas à menopausa e ao envelhecimento em si. É o que alerta a endocrinologista Glaucia Mazeto, uma das palestrantes do 19º Encontro Brasileiro de Tireoide (EBT), que acontece pela primeira vez online de 30 a 31 de outubro.
“No idoso, pode ser difícil suspeitar de distúrbio tireoidiano. No hipertireoidismo, por exemplo, os sinais e sintomas podem ser menos pronunciados do que no adulto jovem”, explica.
Segundo a endocrinologista, a detecção e o tratamento adequados da disfunção tireoidiana é particularmente importante na população idosa. Isso porque há que se considerar a maior presença de comorbidades, as quais podem ter seu curso piorado pela presença de determinadas tireopatias, ou por seu tratamento inadequado.
Doenças tiroidianas no idoso é tema da grade científica do 19º Encontro Brasileiro de Tireoide, evento que visa unir interesses de clínicos, estudantes e comunidade acadêmica, divulgando novos conhecimentos, promovendo a atualização clínica e incentivando a formação de jovens pesquisadores. Em razão da pandemia, esta será a primeira edição online do evento.
Em geral, a incidência de alguns tipos de câncer de tireoide parece aumentar com o envelhecimento, tais como os carcinomas diferenciados da tireoide acima dos 55 anos e o carcinoma anaplásico acima dos 65 anos de idade. Também os linfomas e os sarcomas de tireoide parecem mais frequentes em idades mais avançadas.
A disfunção tireoidiana tem sido associada ao aumento do risco cardiovascular e de mortalidade, entre outros. “O hipertireoidismo, por exemplo, leva ao aumento do risco de fraturas osteoporóticas em mulheres na pós-menopausa. Porém, conforme dito anteriormente, a suspeita do quadro pode ser mais difícil em indivíduos idosos”, complementa Dra. Glaucia. A interpretação dos resultados dos testes de função tireoidiana deve considerar aspectos próprios de cada faixa etária, o que pode dificultar tanto o diagnóstico como o seguimento dos pacientes.
Doenças comuns nessa faixa etária também podem interferir no sucesso do tratamento, como as doenças do aparelho digestório, cursando com síndromes que prejudicam a absorção das medicações direcionadas ao tratamento da tireoide. Outras comorbidades podem sofrer descompensação durante o uso/ajuste de certas medicações, tais como determinadas arritmias e a insuficiência cardíaca congestiva.
Dessa forma, esses pacientes devem ser conduzidos com cautela e por profissionais com expertise na área em questão”, alerta a endocrinologista, cuja palestra durante o EBT 2020 será “Conduzindo Miss Daisy: como lidar com as doenças tiroidianas no idoso?”.
A polifarmácia é outro fator de interferência no tratamento das disfunções tireoidianas. A levotiroxina, utilizada para tratamento do hipotireoidismo, pode ter absorção prejudicada por medicamentos com sais de cálcio e ferro. “Também o uso de inibidores de bomba de prótons pode prejudicar a absorção do medicamento, provavelmente pela hipocloridria resultante. Além disso, anti-convulsivantes, rifampicina e sertralina podem acelerar o metabolismo da levotiroxina, requerendo aumento das doses utilizadas”, explica Dra. Glaucia.