Por Nicole Geraldine de Paula Marques Witt*

A vacina como método de profilaxia para doenças infecciosas, carrega consigo uma história de descobertas, de erradicação, mas também, de lutas e revoltas. Constituída de partes ou do próprio agente patogênico atenuado, a vacina induz o corpo a produzir anticorpos e células de memória, os quais, quando em uma segunda exposição ao patógeno específico, já promoverão uma resposta imunológica mais rápida e eficaz, evitando que o corpo adoeça. Esse é o princípio de funcionamento das vacinas, método que foi descoberto no final do século XVIII, pelo médico britânico Edward Jenner, no combate ao grande mal da época, a varíola. Doença que devido a um esforço global, de mais 10 anos, foi considerada erradicada em 1980.

Mas, quem nunca ouviu falar da Revolta da Vacina de 1904 que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, devido à vacinação anti-varíola que foi conduzida de forma autoritária pelo Governo da época? Ou mesmo, do movimento antivacinação, que cresce no mundo como um todo desde a década de 90 alicerçado por uma sociedade de risco midiatizada? E, como consequência, dos recentes surtos de sarampo que assolam o Brasil e o mundo nos últimos anos, mesmo depois de, em 2016, termos recebido o certificado de país livre de sarampo? E, ainda, da pandemia do novo coronavírus que encontra negacionistas em todas as esferas da sociedade e incitou uma corrida para a criação de uma vacina em tempo recorde?

Assim, acredito que vivenciamos um momento paradoxal. De um lado, um cenário de descrédito na ciência e uma sociedade da informação que produz conteúdo midiático sem pudor e exerce influência sobre um grande contingente populacional. A partir dessa leitura, o que esperar de um futuro próximo, no qual, alguns grupos que se manifestam contrários às medidas de isolamento frente ao Sars-Cov-2 e que são céticos quanto às vacinas, ganham forças?

Do outro, temos pesquisadores do mundo todo, aliando forças em prol da produção de uma vacina em tempo recorde, sem precedente na história, pois a mais rápida até então foi a para caxumba em quatro anos. Mas que, de certo modo, servem a grandes empresas privadas e estas a interesses do mercado. E, nesse jogo, ninguém entra para brincar. Como exemplo, o Governo dos Estados Unidos que já comprou praticamente todas as doses das futuras vacinas produzidas por duas grandes farmacêuticas. 

Portanto, em uma análise mais global, onde a falta de sincronia das ações demostra a fragilidade em pensar no coletivo, fica a pergunta: como construir um caminho possível à erradicação da primeira grande pandemia do século XXI?

Nicole Geraldine de Paula Marques Witt é bióloga, especialista em Meio Ambiente e Desenvolvimento, professora dos cursos de Ciências Biológicas e Geografia do Centro Universitário Internacional Uninter.

Shares:

Posts Relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *