O cenário do tratamento para o câncer durante a pandemia do novo coronavírus é preocupante em todo o país. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica estima que cerca de 100 mil brasileiros podem ter deixado de receber o diagnóstico de câncer desde março, por receio de irem ao hospital para consultas de rotina.
Os obstáculos que pacientes com mieloma múltiplo enfrentam durante a pandemia foram evidenciados em uma pesquisa realizada na América Latina e conduzida no Brasil pela Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia), em parceria com a Amgen.
O levantamento demonstrou que a dificuldade para falar com um médico profissional e a distância dos hospitais foram os maiores impasses que os indivíduos encontraram no novo normal que vivenciamos.
Dentre as dificuldades identificadas, 37% dos entrevistados, isto é, um em cada três pacientes alegaram ter problemas com as instalações de tratamento devido a conflitos relacionados à pandemia, transporte e distância.
Foram entrevistados cerca de 300 pacientes no Canadá e América Latina com o objetivo de descobrir dados inéditos da doença a fim de fornecer uma visão geral da condição dos pacientes, inclusive, o impacto socioeconômico e o difícil acesso ao tratamento.
Queda nos atendimentos em hospital de São Paulo
No Hospital Santa Catarina (HSC), de São Paulo, o setor de Oncologia registrou números preocupantes sobre a sequência dos tratamentos. Nos meses de abril e maio, os tratamentos, exames e consultas de rotina sofreram uma queda de mais de 50% na comparação com o mesmo período do ano passado. Em junho e julho, os indicadores já apresentaram melhora, o que indica uma retomada do movimento normal nos hospitais privados, pelo menos na capital paulista.
De acordo com Antônio Cavaleiro, oncologista do Hospital Santa Catarina, esses números expõem uma fragilidade na principal arma para a eficácia do tratamento oncológico: o diagnóstico precoce.
Temos escutado dos pacientes um receio em agendar consultas ou realizar exames periódicos, que podem detectar precocemente o câncer ou uma eventual recaída da doença. Muitos têm ignorado sintomas de alerta, como fadiga e emagrecimento, que podem alertar sobre a atividade da doença”, afirma o médico.
Transplantes exigem medidas extras de segurança
Para as neoplasias hematológicas, tipos de câncer que afetam o sangue, medula óssea e sistema linfático, isso pode ser ainda mais grave. Doenças como leucemia e linfoma são responsáveis por cerca de 12 mil casos novos por ano entre homens e mulheres no Brasil, e os sintomas iniciais também podem ser confundidos com quadros menos graves, relacionados à anemia, dores musculares comuns ou estresse.
Segundo Adriana Penna, hematologista do Hospital Santa Catarina, uma vez diagnosticadas, as neoplasias hematológicas são combatidas com quimioterapia, imunoterapia e, em alguns casos, com o Transplante de Medula Óssea, que ajuda a reestabelecer a capacidade de produção de células sanguíneas.
A evolução da Medicina nos mostra que, mesmo em meio a uma pandemia, tratamentos e procedimentos complexos como o transplante podem ser feitos com todo o cuidado que esse momento merece. Os pacientes devem continuar conversando com seus médicos, porque contra o medo, o melhor remédio é a informação”, explica a especialista.
Novo fluxo de atendimento para reduzir deslocamentos
Para esse e outros procedimentos oncológicos, o HSC adotou um novo fluxo de atendimento, com Pronto Atendimento no próprio Ambulatório de Oncologia e boxes individuais para aplicação de medicação. Para minimizar o deslocamento dos pacientes, quando não é possível realizar consultas não presenciais via telemedicina, os atendimentos são agendados para coincidir com a data da realização de exames e infusões.
No caso de procedimentos que necessitem de internação, o paciente é orientado, por telefone, a fazer isolamento preventivo de 14 dias, e, três dias antes da internação, ele deverá comparecer ao hospital para fazer o exame RT-PCR para detecção de Covid-19 no regime drive-thru, no estacionamento, sem que precise sair do carro.
Nesse momento tão delicado, é importante que os pacientes com mieloma múltiplo sejam ouvidos por profissionais da saúde que deem total assistência para tornar essa luta menos difícil e, é fundamental que os médicos orientem da melhor forma as medidas de precaução que devem ser tomadas para que não haja interrupção do tratamento’’ afirmou Merula Steagall, presidente da Abrale.
O mieloma múltiplo é um tipo de câncer hematológico que tem início na medula óssea quando, no momento em que os linfócitos B estão se diferenciando, acontece um erro e eles se tornam plasmócitos anormais. Pacientes em tratamento são considerados grupo de risco e devem manter o isolamento social durante a pandemia para diminuir as chances de contágio ao vírus Covid-19.
A pesquisa aponta que a idade média dos entrevistados é de 58 anos, ou seja, esses pacientes fazem parte do grupo de risco por serem idosos e imunodeprimidos, por essas razões, a Organização Mundial da Saúde recomenda o distanciamento social, uso de máscaras e hábitos de higiene reforçados. Uma solução viável encontrada para diminuir as consequências dos impactos na vida do paciente seria o uso da telemedicina, assim, evitando conflitos de agendamento e problemas com o transporte.
A evolução do controle do mieloma
No Brasil, a doença é um grande desafio para os pacientes e profissionais de saúde, especialmente, pela dificuldade do diagnóstico precoce da doença. A doença pode ser assintomática ou ter sintomas agressivos como dores e fraturas ósseas, além do cansaço excessivo, que podem ser confundidos com outras patologias.
O mieloma múltiplo é um câncer que não tem cura, entretanto, a medicina e a ciência vêm trazendo perspectivas para o paciente viver com qualidade de vida e sem a progressão da doença. Quando a doença é descoberta nos estágios iniciais, com os atuais tratamentos, entre 50% e 60% das pessoas conseguem alcançar a remissão [3], ou seja, a doença fica indetectável nos exames, embora seja necessário controle com medicamentos.
Recentemente, a revista Lancet publicou um novo estudo demonstrando que uma nova combinação de tratamentos pode melhorar ainda mais essa curva – trazendo uma taxa quase 10 vezes maior para um paciente atingir a resposta residual mínima em um período de 12 meses, que significa o número de células cancerígenas detectáveis durante ou após o tratamento de determinada doença e que define as chances de um paciente alcançar a remissão da doença.
Com Assessorias