A pandemia pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, também conhecido como Covid-19, mudou os rumos de 2020. Uma doença infecciosa nova, cuja evolução e formas de acometimento ainda não são bem conhecidas, altamente contagiosa, que atinge todas as faixas etárias e potencialmente mortal, se tornou prioridade número um em termos de saúde pública. O distanciamento social e mudança de hábitos para conter a doença e diminuir a disseminação do vírus se tornou uma necessidade mundial, que impactou toda sociedade e gerou muitas dúvidas.
Afinal, como exatamente essa doença é transmitida? Pode haver transmissão vertical, isto é, ela pode passar da mãe para o bebê durante a gestação ou pelo leite materno? Até a presente data, se sabe que a transmissão se dá através do contato de gotículas de saliva e secreção nasal de uma pessoa doente com a mucosa nasal e/ou oral de uma pessoa saudável. Mas em tempos de pandemia, muitas gestantes se mostram preocupadas com a possibilidade de contaminação pelo leite materno.
Nada comprova que a Covid-19 possa ser transmitida através do leite materno. Por isso há consenso na comunidade médica no que diz respeito à manutenção da amamentação por todas as mães, quer sejam elas assintomáticas, sintomáticas ou com confirmação diagnóstica. Essa decisão leva em conta que os benefícios do aleitamento materno superam em muito os riscos da Covid-19“, afirma Lílian Cristina Moreira, pediatra e homeopata.
A coordenadora de enfermagem da Perinatal e especialista em amamentação, Graziela Abdalla, afirma que ainda não existem estudos que apontem a transmissibilidade do vírus por meio do aleitamento materno e que medidas protetivas são importantes durante a quarentena. “É importante higienizar as mãos antes e depois da amamentação, ou ordenha. O uso de máscaras nesse momento também é um ponto positivo”, explica,
Tensão da pandemia pode prejudicar produção de leite
Segundo a especialista, nervosismo e tensão podem afetar a fabricação de leite, justamente por provocarem a produção da adrenalina, inibidor da ocitocina – hormônio responsável pela ejeção do leite materno. “É ideal que as mães se mantenham tranquilas. Sabemos que em situações fora da pandemia, o aleitamento é difícil para algumas mulheres, então uma dica importante é cuidarmos da mente”. Exercícios de meditação e atividades prazerosas podem ser benéficas para a lactante. “Tudo vai passar”, tranquiliza.
Segundo ela, a manutenção da amamentação é recomendada e deve ser orientada. “O aleitamento materno exclusivo e em livre demanda até o sexto mês de vida do bebê, complementado com alimentação saudável até 2 anos ou mais, é fator determinante para o ótimo crescimento e desenvolvimento de uma criança”, explica. Dra Lilian lembra que a fase da amamentação é de extrema importância na vida do bebê. Além dos benefícios ao sistema imunológico, o aleitamento é responsável pela criação do vínculo entre mãe e filho, estabelecido através desse contato.
No caso das mães infectadas pela Covid-19, sem condições físicas para amamentar, ou que não se sintam à vontade, a recomendação é que realizem a ordenha e ofereça ao bebê em copinho ou colher, devidamente higienizados. “O aleitamento traz mais benefícios que riscos, além de aumentar o amor”, explica Grazi. Para as mães, doadoras de leite, a profissional recomenda que continuem colaborando. “É importante que a doadora siga todos os protocolos de higiene recomendados. Lave bem as mãos e os utensílios utilizados na ordenha”, explica.
Como higienizar os seios para amamentar em tempos de quarentena?
Nos casos confirmados de infecção pela SARS-CoV-2 em lactantes, a amamentação DEVE ser mantida, desde que a mãe deseje amamentar e esteja em condições clínicas adequadas para fazê-lo. Nesses casos é necessário um cuidado diferenciado na higienização das mamas e mamilos? A resposta é não. A mãe deve lavar as mamas normalmente durante o banho e manipulá-las com as mãos lavadas.
Porém, como a disseminação do vírus ocorre através das gotículas respiratórias, é importante observar cuidados especiais a serem tomados pela mãe que amamenta. A Dra Lilian listou alguns:
1. Lavar as mãos com água e sabão por pelo menos 20 segundos antes e depois de tocar no bebê.
2. Durante a amamentação a mãe deve usar máscara facial de tecido (cobrindo completamente nariz e boca), evitando falar, tossir ou espirrar.
3. A máscara deve ser imediatamente trocada em caso de tosse ou espirro ou a cada nova mamada.
4. Evitar que o bebê toque na face da mãe, especialmente na boca, nariz, olhos e cabelos.
5. Após a mamada, especificamente no caso de mães suspeitas ou confirmadas de Covid-19, todos os outros cuidados com o bebê como dar banhos, colocar para dormir, arrotar, etc, devem ser realizados por outra pessoa na casa que não tenha sintomas ou que não seja também confirmado para Covid-19.
E em relação à mãe que esteja com a Covid-19 e que não se sinta confortável em amamentar? Nesse caso é possível optar por extrair o leite para que ele seja oferecido ao bebê por outra pessoa da casa. Importante frisar que a bomba para extração de leite deve ser higienizada adequadamente após o uso e que o leite materno seja oferecido ao bebê em copinho, xícara ou colher.
Não é recomendado utilizar bicos ou mamadeiras pois isso pode gerar a chamada “confusão de bicos” e dificultar que o bebê volte a sugar ao seio após a mãe se recuperar da doença.
Procure sempre orientação de seu pediatra. Ter informação e apoio é fundamental para sucesso na amamentação e no enfrentamento dessa doença. E lembre: ser alimentado com leite materno é o melhor começo de vida para toda criança!”, destaca a pediatra.
Pesquisa aponta o poder do leite materno contra o coronavírus
Estudo realizado pelo Departamento de Infectologia da Escola de Medicina Icahn do Monte Sinai, em Nova York, e do Departamento de Psicologia da Universidade da Califórnia, em Merced, mostrou que o leite materno de mulheres que foram contaminadas pelo novo coronavírus pode estar fortalecido imunologicamente contra a doença.
É importante deixar claro que não estamos falando de uma vacina preparada com o leite materno, o que seria uma imunização ativa onde o organismo é estimulado a produzir defesa contra a doença em questão, mas sim uma imunização passiva, onde os anticorpos necessários para o combate a uma doença são infundidos no organismo, são situações completamente diferentes”, explica Cinthia Calsinski, enfermeira obstetra pela Unifesp e consultora em Amamentação.
No caso, fala-se de uma imunoglobulina produzida pelo próprio organismo, em que os riscos de efeitos adversos são baixos, porém, não inexistentes. “Outro fato que merece destaque é não saber a quantidade de colostro ou leite necessária para o tratamento, o que pode inviabilizar sua execução uma vez que os bebês amamentados não deveriam sofrer privações em seu único alimento, pois lhes causariam danos à saúde”, ressalta a especialista.
Ela ressalta que a perspectiva do tratamento para Covid-19 por meio do leite materno ressalta mais uma vez como o aleitamento materno é surpreendente. Uma característica importante chama atenção, o leite materno é mutável, está em constante adaptação para melhor atender as necessidades da criança, dia a dia, tornando-se um alimento incomparável a nenhum outro.
Dentre muitos benefícios já amplamente conhecidos para a mulher que amamenta como, por exemplo, menor risco de sangramento, câncer de mama, câncer de ovário, diabetes, síndrome metabólica, doenças cardiovasculares e benefícios para o bebê tais como: maior imunidade, menor risco de alergias, doenças respiratórias, hipertensão, diabetes, maior QI, dentre outros”, afirma a especialista.
A pesquisa ainda não foi revisada pela comunidade científica, mas mostrou bons resultados sobre o caso. Com isso, tem-se a esperança de que existam anticorpos para o coronavírus no leite materno, sendo uma alternativa de terapia para a doença. “Estamos em um momento de valorização da ciência, e sabemos que os desafios fazem parte do dia a dia, é preciso valorizar a produção científica que muito vai nos ajudar neste momento”, destaca Cinthia.
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Com Assessorias