A quarentena não tem sido fácil para ninguém. O principal sentimento relatado é o de privação, falta de liberdade. Por conta da pandemia de Covid-19, as relações familiares e afetivas têm sido afetadas pela convivência intensa em regime de confinamento forçado. Por outro lado, esta maior aproximação pode ajudar a reforçar laços afetivos ou acentuar sentimentos como solidão. Afinal, como está a relação entre os casais, entre pais e filhos e entre parentes durante a pandemia?
Para avaliar o que está acontecendo entre as paredes das casas de 500 cariocas e fluminenses durante esse convívio diário de 24 horas por dia, a Mediator Pesquisa e a Contexto Brasil, com o apoio da ColheData, realizaram a pesquisa “Entre Paredes – Retrato das relações familiares durante o confinamento”, que faz parte do projeto “Pandemia Pandemônio”. Entrevistas feitas entre os dias 20 e 25 de maio por telefone ou internet revelaram que a convivência contínua e obrigatória trouxe ou intensificou a percepção de irritabilidade (47%), estresse e impaciência (44% cada), o que resulta em discussões, “brigas” e “picuinhas” do dia a dia.
Neste momento de muitas inseguranças e incertezas, muito de nós fomos forçados a enfrentar grandes e novas provocações. Esta pesquisa aborda, principalmente, o desafio da convivência “obrigatória” e contínua. Seguindo a proposta de stay home, famílias, com diferentes configurações, seguem confinadas há mais de 60 dias”, afirma a publicitária Maria Nazareth Barcellos, diretora da Contexto Brasil Estudos de Comportamento e Mercado.
A CNV ajuda a prestar atenção na forma como nos expressamos, a ouvir com atenção e empatia. Aprendemos a harmonizar as necessidades das pessoas, a não julgar e estabelecer um clima de confiança e respeito mútuo. Ela abre um espaço para um diálogo saudável, em busca de soluções que vão funcionar para todos e nos ajuda também a nos conectar com nossas próprias necessidades através da percepção dos nossos sentimentos”, afirma a especialista em CNV e empatia.
A publicitária Maria Nazareth Barcellos e a coach Marie Bendelac Ururahy foram as convidadas da jornalista Rosayne Macedo, editora do Portal ViDA & Ação, para a live realizada neste sábado, dia 13 de junho, às 10 horas, com transmissão pelo Facebook e Youtube. Com o tema ‘Pandemia ou pandemônio: como evitar conflitos familiares’, o encontro virtual é o segundo do projeto Papo de Pandemia, iniciado no último dia 5 de junho, quando o portal completou quatro anos.
Falta de privacidade é um problema
O lado positivo do ‘estar junto’
Solidão x solidariedade
De acordo com a pesquisa, os que estão totalmente sozinhos vivenciam maior desafio emocional. Estes relatam sentimentos como depressão, tristeza e solidão deflagradas pela falta de convivência, principalmente entre as mulheres.
Já os homens têm emoções de origem mais pragmáticas como tempo de reflexão, conformismo, aceitação, contrariedade com a classe política e dificuldade de ir ao mercado.
Campanha #Quarentenaempática
Com curso em Science of Coaching Psychology pela Universidade de Harvard, Marie tem realizado consultas sobre brigas domésticas, famílias que enfrentam problemas financeiros e outras que temem o contágio da Covid-19 no próprio lar. A questão da privacidade, do respeito ao espaço alheio, também vem pautando os diálogos nas redes sociais.
Com o objetivo de ajudar a manter um clima de harmonia e equilíbrio dentro de casa, Marie Bendelac Ururahy vem fazendo a sua parte nas redes sociais. “Todos buscam formas de se adaptar aos novos tempos, que despertam sensações como angústia, medo, ansiedade e estresse”, explica ela.
O diálogo construtivo, nesse contexto, é fundamental. É importante considerar que as necessidades de cada um podem mudar de um dia para o outro, que os estados emocionais e o humor das pessoas também variam. Nesse momento, o que salva as relações, é a prática da empatia, para se conectar com o outro com o coração, não com a cabeça”, conclui.
Namorados e acompanhados
Apesar de a metade dos sozinhos que namoram respeitar a quarentena e revelar que estar junto não é tão importante quanto a necessidade de se preservar, no Dia dos Namorados, alguns entrevistados se inclinam a romper a quarentena e revelam o intuito de “cair em tentação” (cerca de 62%), se verem ou estarem mais perto fisicamente.
Já o presentear neste dia, parece ser, no momento da pesquisa, um desafio, uma interrogação (“não sei, qualquer coisa on-line”). Objetos podem perder o significado, já que não sabem quando irão usufruir dos presentes. A apresentação, a eficiência no delivery contam muito. Há um espaço para a criatividade dos comerciantes, prestadores de serviços, publicitários. Algo que possa ser efetivamente curtido a dois, mesmo à distância.