Muita gente não sabe ou finge ignorar, mas o tabagismo é a principal causa de morte evitável no planeta. Os estragos causados pelo consumo de tabaco matam mais de 7 milhões de usuários e 1,2 milhão de fumantes passivos por ano em todo o mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Marcado para fortalecer a conscientização sobre os malefícios do cigarro, o Dia Mundial Sem Tabaco, celebrado neste domingo, 31 de maio, tem uma importância ainda maior neste ano: o enfrentamento da Covid-19.
Lembrada durante uma pandemia que ataca, sobretudo, o sistema respiratório, a data ganha mais um aliado na luta contra o consumo de produtos fumígenos: o risco de agravamento de casos do novo coronavírus.
Pelo terceiro ano consecutivo, ViDA & Ação abre neste domingo a série “Vida Sem Fumo”, que prossegue até o próximo sábado (dia 6), com informações importantes para os leitores e seguidores das nossas redes sociais sobre o tema, apuradas junto às mais renomadas fontes do setor, incluindo relatos de pessoas que deixaram de fumar.
O objetivo é ajudar a esclarecer dúvidas e, quem sabe até, inspirar muitos tabagistas em seu processo de SuperAÇÃO. Afinal, vivemos tempos em que ‘Reinventar’ é palavra de ordem em várias frentes. E por que não começar pela própria reinvenção nos hábitos de consumo, deixando de fumar, como eu fiz há mais de 20 anos?
Por que o cigarro aumenta o risco do novo coronavírus?
Por ser uma batalha que se trava principalmente nas vias aéreas e nos pulmões dos pacientes, a luta do organismo contra a Covid-19 é fragilizada pelo uso do cigarro. Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), é provável que os fumantes sejam mais vulneráveis à doença causada pelo novo coronavírus, já que os dedos estão em contato com os lábios, o que aumenta a possibilidade de transmissão do vírus da mão para a boca. Além disso, os fumantes já podem ter doença pulmonar ou capacidade pulmonar reduzida, o que pode agravar o quadro de saúde caso contraia a Covid-19.
Pesquisadores do mundo todo têm estudado a relação entre tabagismo e o novo coronavírus e observam que fumantes podem ser mais impactados pela Covid-19. É que eles são mais suscetíveis a infecções virais e bacterianas e complicações decorrentes de vários fatores, inclusive pelo comprometimento do funcionamento dos pulmões. Diversos estudos mostram que fumantes são mais propensos a desenvolver doenças respiratórias e cardiovasculares.
Artigo publicado no Chinese Medical Journal, em 5 de maio de 2020, alerta que o risco de um paciente com Covid-19 evoluir para um quadro de pneumonia grave é maior. Pesquisa recente da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, em Wuhan – China, apontou que, entre os chineses diagnosticados com pneumonia associada ao novo coronavírus, as chances de progressão da doença para suas formas mais graves, com insuficiência respiratória e morte, foram 14 vezes maiores entre as pessoas com histórico de tabagismo em comparação com as que não fumavam.
Estudos apontam 2,25 vezes mais chances de complicações
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) alerta para um cenário que preocupa por confirmar a relação entre o tabagismo e a progressão da Covid-19. Uma revisão realizada pelo Centro de Pesquisa e Educação para Controle do Tabaco da Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, identificou 12 estudos que, ao todo, analisaram 9.025 pacientes infectados pelo novo coronavírus.
Desse montante, 878 (9,7%) apresentaram complicações, sendo que desses pacientes, 495 eram fumantes. A pesquisa reafirma que tanto o tabagismo quanto o uso de cigarros eletrônicos aumentam a gravidade das infecções pulmonares e diz que fumantes têm 2,25 vezes mais chances de complicações graves decorrentes da Covid-19 do que não fumantes.
Além disso, a SBC lembra que o tabagismo é o maior risco controlável para doenças cardiovasculares, principal causa de óbitos no Brasil e que, segundo o Cardiômetro, resulta em mais de mil mortes por dia. Fumantes têm de duas a três vezes mais risco de sofrer um AVC, doença isquêmica do coração e doença vascular periférica, e de 12 a 13 vezes mais risco de ter doença pulmonar obstrutiva crônica, a DPOC, ressalta a entidade.
AMB alerta para aumento do risco
Neste Dia Mundial Sem Tabaco, a Associação Médica Brasileira (AMB) se junta à OMS para fazer um alerta à população: fumar aumenta o risco de infecção e agravamento do quadro de Covid-19. O motivo de os fumantes fazerem parte do grupo de risco do novo coronavírus deve-se ao fato do consumo de o cigarro prejudicar os mecanismos de defesa do organismo, principalmente, das vias aéreas.
Alberto Araújo, presidente da Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB, ressalta que todas as formas de consumo de tabaco aumentam o risco de desenvolver a Covid-19, inclusive a forma mais crítica que pode levar a um desfecho fatal. “É preciso conscientizar os fumantes de que eles fazem sim parte do grupo de risco”, alerta, lembrando que a cada tragada de cigarros ou produtos similares, o fumante inala considerável volume de monóxido de carbono (CO).
A grande afinidade de ligação do CO com a hemoglobina gera a carboxiemoglobina, que leva à hipóxia, o que resulta em menor tolerância ao exercício e menor capacidade aeróbica. Entre os pacientes com Covid-19 que são fumantes, a hipóxia crônica e a exposição a outras toxinas do tabaco levam à disfunção endotelial e a processo inflamatório generalizado, o que gera um quadro de hipercoagulabilidade”, explica.
Stella Martins, membro da Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB, lembra que “as evidências sugerem que parar de fumar por quatro semanas ou mais, melhora o clearance mucociliar e a função imune pulmonar, reduzindo o risco de desenvolver Covid-19 e suas graves complicações, bem como outras infecções pulmonares.”
Risco também nos cigarros eletrônicos
Especialistas alertam que qualquer tipo de produto derivado do fumo traz riscos à saúde e pode prejudicar o organismo quando infectado pelo novo coronavírus. Os fumantes de tabaco aquecido apresentam os mesmos riscos de complicações da Covid-19 que os usuários do cigarro tradicional. O uso de cachimbo d’água, narguilé, e dispositivos eletrônicos para vaporizar nicotina ou tetrahidrocanabinol (THC) também aumenta o risco de transmissão pelo uso compartilhado. “
É muito comum os fumantes compartilharem os mesmos dispositivos e isso é muito perigoso. O usuário exala gotículas de vapor e pode propagar o SARS-Cov-2″, ressalta Stella Martins. Para o pneumologista da Doctoralia , Fabio Marcelo Costa, outra possível explicação para isso é que tabagistas, usuários de cigarros eletrônicos e suas variações, podem desenvolver ou acentuar doenças pulmonares crônicas, o que aumenta o impacto de um possível contato do vírus com o organismo.
Estamos lidando com um inimigo invisível. Desta forma, qualquer medida que ajude a diminuir o agravamento dos sintomas da Covid-19, caso a pessoa venha a ser contaminada pelo vírus, deve ser adotada e incentivada”, afirma o presidente da AMB, Lincoln Ferreira.
Maior chance de infecções por vírus e bactérias
Quem é fumante torna-se ainda mais vulnerável ao novo coronavírus, já que os pulmões já estão comprometidos por conta da aspiração da nicotina. Carlos Teixeira, do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, explica que esses pacientes já apresentam um comprometimento da sua capacidade pulmonar e, com isso, apresentam chances mais claras de desenvolver um quadro mais grave da infecção pelo novo coronavírus.
O pneumologista Fabio Marcelo Costa, também afirma que há um risco maior de complicações em pessoas contaminadas que são expostas ao fumo. “Além de prejudicar os mecanismos imunológicos do organismo, o cigarro compromete a capacidade pulmonar do indivíduo devido à inflamação e obstrução das vias aéreas, o que agrava as condições respiratórias do paciente”, esclarece.
Debate virtual sobre risco potencial do tabagismo para Covid-19
Para discutir o tema ‘Tabagismo e Risco Potencial para a Covid-19’, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS/OMS) no Brasil, com o apoio do Inca e do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass), realizaram um debate virtual sobre o tema. Participaram do evento a doutora em Saúde Pública pela Universidade da Califórnia em São Francisco, Stella Bialous, e o presidente da Sociedade Paulista de Pneumologia e Tisiologia, Fred Fernandes, com moderação da jornalista Lígia Formenti, do Conass.
Efeito protetor da nicotina não é comprovado
A Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) também alerta para os graves problemas decorrentes da má interpretação de um estudo de pesquisadores franceses sobre o uso da nicotina como uma possível terapia para pacientes infectados pelo novo coronavírus e o isolamento dessa abordagem em um cenário de pandemia por uma nova doença, ainda pouco conhecida. O assunto ganhou repercussão na mídia internacional e, também, no Brasil.
A análise, que embasa essa abordagem terapêutica, realizada por pesquisadores do Instituto Pasteur e do Hôpitaux de Paris, ambos em Paris, na França, observa um potencial efeito protetor da nicotina para a infecção pelo SARS-CoV-2 sem deixar de enfatizar que a substância é a droga responsável pelo vício em fumar e que o tabagismo tem graves consequências patológicas sendo um perigo para a saúde.
Dessa forma, segundo a SBC, a pesquisa não indica o ato de fumar como forma de prevenção ou tratamento, mas sim sugere a realização de um ensaio terapêutico com o uso de adesivos de nicotina ou outros métodos como, por exemplo, a mastigação, em pacientes hospitalizados e como método preventivo para a população geral. O ensaio ainda não foi realizado para comprovar a efetividade da ação.
A AMB também alerta para o risco de estudos divulgados de forma precipitada e sem parâmetros científicos adequados, como o que sugeria um efeito protetor da nicotina. Sociedades médicas como AMB, SBPT, SBP e Fundação do Câncer publicaram nota de esclarecimento, disponível em: bit.ly/NicotinaCovid19.
Principais dúvidas
Quem fuma faz parte do grupo de risco para a Covid-19?
O tabaco causa diferentes tipos de inflamação e prejudica os mecanismos de defesa do organismo. Por esses motivos, os fumantes têm maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos.
As chances de desenvolver sintomas graves da doença aumentam se o tabagista tiver algum comprometimento da capacidade pulmonar
Assim, podemos dizer que o tabagismo é fator de risco para a Covid-19.
Fumar aumenta o risco de contrair coronavírus?
O fumante, caso leve as mãos não higienizadas à boca para fumar, pode contrair o vírus.
Quando tiver que sair de casa evite levar cigarros e fumar na rua, procurando não retirar a máscara.
Evite fumar na rua onde nem sempre é possível lavar as mãos.
O álcool gel deve ser evitado pelo risco de queimaduras ao ascender o cigarro.
Tabagistas têm o sistema respiratório prejudicado pelo fumo e se infectados pelo coronavírus, podem ter sua saúde ainda mais ameaçada.
PARAR DE FUMAR pode reduzir o risco de desenvolver a forma mais severa da Covid-19?
Ao deixar de fumar, os benefícios à saúde são imediatos, pois após 12 a 24 horas sem fumar os pulmões dos fumantes já funcionarão melhor.
Se ainda não conseguiu para de fumar, é possível fazer uma redução dos cigarros fumados nesse momento.
Evite sair de casa sem necessidade, lave as mãos e ao sair use a máscara.
Não fume dentro de casa, evite expor os seus familiares a fumaça do cigarro.
Em casa, fume apenas em locais abertos e bem ventilados. Não fume perto de crianças e idosos.
DIA MUNDIAL SEM TABACO
Este ano, o tema central da campanha para o Dia Mundial Sem Tabaco (31 de maio) é Tabagismo e Coronavírus (Covid-19), chamando a atenção para o maior risco de infecções por vírus, bactérias e fungos. O objetivo é alertar a população sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) confirma estudos internacionais que revelam que o tabagismo pode ser considerado um fator de risco para a Covid-19.
A data celebrada anualmente no dia 31 de maio foi criada pelos estados membros da OMS, com objetivo de chamar a atenção para a epidemia do tabaco e para as mortes que causa, informando o público sobre os perigos do uso do tabaco, as estratégias da indústria do tabaco e as ações da OMS para o controle do tabagismo. A campanha também visa informar as pessoas sobre o que podem fazer para ter uma vida saudável e proteger crianças, adolescentes e jovens das consequências devastadoras do tabagismo.
Para manter a população informada, a AMB elaborou um material, em formato de perguntas e respostas, que esclarece dúvidas sobre o tabagismo e o coronavírus. As perguntas foram levantadas pela Comissão de Combate ao Tabagismo da AMB e foram embasadas em questionamentos feitos por pacientes. O conteúdo agrega a plataforma da AMB, que também traz informações sobre os malefícios provocados pelo cigarro eletrônico.
Com Assessorias
Sugestões para a série Vida Sem Fumo 2020 podem ser enviadas para redacao@vidaeacao.com.br.