A obesidade infantil é um problema mundial de saúde pública a ser vencido. Dados do Ministério da Saúde mostram que 3 a cada 10 crianças de 5 a 9 anos estão acima do peso, resultado do exagero no consumo de alimentos processados e da falta de atividades físicas. Por isso, pela primeira vez, o Ministério da Saúde lançou, nesta quarta-feira (13), uma campanha de prevenção e controle da obesidade infantil, para alertar e orientar as famílias sobre a importância da formação de hábitos saudáveis para que a criança se torne um adolescente e um adulto com saúde.
Marcio Atalla, professor de educação física e especialista em nutrição, é o embaixador da campanha. Reconhecido por estimular os hábitos que levam ao bem-estar, ele gravou vídeos para redes sociais para destacar a importância dos três pilares: alimentação saudável; atividade física e; brincadeiras sem TV, celular e videogame. A campanha foi lançada durante evento sobre alimentação infantil no Rio.
Ele comentou que está no Congresso Nacional a regulamentação que melhora as condições para que as cantinas escolares sejam saudáveis. “As escolas são outro ponto fundamental de apoio para que a gente possa ter uma melhor oferta de alimentos e que a cultura da alimentação saudável seja progressivamente incorporada”, pontou o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que também apresentou a nova versão do Guia Alimentar para Crianças Brasileiras Menores de 2 anos.
Consumo de alimentos ultraprocessados
O excesso de peso entre crianças brasileiras é uma preocupação para pais, profissionais de saúde, governo e sociedade. Os brasileiros mudaram a forma de se alimentar. A população passou a consumir menos alimentos naturais, como frutas e verduras, e aumentou o consumo de alimentos ultraprocessados (alimentos com altas quantidades de sal, gordura e açúcar).
Vários estudos mostram associação do consumo de alimentos ultraprocessados com excesso de peso. Dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (Sisvan) 2018 revelam a frequência de consumo de alimentos ultraprocessados no dia anterior é de 49% em crianças de 6 a 23 meses e de bebidas adoçadas em 33% para crianças de 6 a 23 meses, chegando em 68% entre crianças de 5 a 10 anos.
Nessa mesma faixa etária, observa-se uma frequência de 62% de consumo de macarrão instantâneo, salgadinhos de pacote ou biscoitos salgados, no dia anterior. A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS), de 2013, já trouxe os dados que chamam atenção para o problema ao mostrar que 32,3% das crianças menores de dois anos consomem refrigerantes e sucos artificiais e 60,8% consomem biscoitos, bolachas ou bolo.
ATIVIDADE FÍSICA POR FAIXA ETÁRIA
O padrão de prática de atividade física também sofreu mudanças negativas ao longo dos anos. De 2001 a 2016, o Brasil foi um dos países com maior prevalência de atividade física insuficiente. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda que crianças menores de 1 ano façam até 30 minutos de atividades físicas diárias, como engatinhar, movimentar os braços e ficar de barriga para baixo.
Crianças de 1 a 2 anos devem fazer até 180 minutos de atividades por dia. Entre 3 a 4 anos, os mesmos 180 minutos por dia, sendo que 60 minutos devem ser de atividades físicas moderadas ou vigorosas. Já as crianças maiores de 5 anos devem fazer 60 minutos por dia de atividade física de intensidade moderada. O tipo de atividade vai variar de acordo com a idade da criança.
As práticas de atividades físicas são muito importantes no combate à obesidade infantil, mas também é preciso reduzir o tempo em comportamento sedentário, que para crianças, na maioria das vezes, acontece em frente a telas de computador, televisão, smartphones e tablets. Dados nacionais, mostram que somente 24% das crianças e jovens relataram ficar 2 horas ou menos por dia em frente a telas.
São fortes as evidências dos efeitos negativos do tempo prolongado em comportamento sedentário e isso ocorre independentemente de a pessoa alcançar as recomendações de atividade física. Ou seja, mesmo que as recomendações sejam cumpridas, se o tempo em frente às telas não for reduzido, os efeitos negativos podem permanecer, anulando ou se sobrepondo aos positivos. É necessário, sempre que possível, que os pais estimulem essas práticas, incluindo mais atividade física e menos comportamento sedentário na cultura familiar.
VEJA AQUI A CAMPANHA DE PREVENÇÃO E CONTROLE DA OBESIDADE INFANTIL
PROMOÇÃO DA SAÚDE
O programa Crescer Saudável, que funciona no âmbito do Programa Saúde na Escola (PSE), é uma das principais estratégias do Ministério da Saúde para prevenir a obesidade infantil. Em 2019, 4.118 municípios aderiram ao Programa e receberam repasse de R$ 38,8 milhões para executarem ações de promoção da saúde.
Para 2020, o repasse está vinculado ao cumprimento de 4 metas: avaliar o estado nutricional das crianças, ou seja, ir na escola pesar e medir as crianças; fazer ações de promoção da alimentação saudável e de atividade física na escola; e quando identificar uma criança com excesso de peso na escola, encaminhar para acompanhamento na Unidade de Saúde da Família (USF) para que a equipe da atenção primária possa ofertar os cuidados. A expectativa é atender 10,5 milhões de escolares menores de 10 anos.
Além do Crescer Saudável, o PSE trabalha com um conjunto de 12 ações e conta com a participação de mais de 91 mil escolas em 5.289 municípios, atendendo quase 22,5 milhões de escolares. Em 2019, já foram repassados R$ 56,7 milhões aos municípios do PSE.
Entre as ações de prevenção da obesidade infantil estão ainda a Estratégia Amamenta e Alimenta Brasil, que qualifica os profissionais da atenção primária para incentivar o aleitamento materno e a alimentação saudável para crianças menores de dois anos; os Guias Alimentares, que oferecem recomendações oficiais sobre alimentos, alimentação e padrões alimentares e apoiam a formulação de políticas públicas nas áreas de alimentação, nutrição, saúde, agricultura, entre outras; e a Promoção da Alimentação Adequada e Saudável nas capas dos livros didáticos, em parceria com o Ministério da Educação.
Da Agência Saúde, com Redação