O Dia Nacional da Saúde Bucal, celebrado neste 25 de outubro, junto com o Dia do Cirurgião-Dentista, chama atenção para uma situação comum na vida de milhões de brasileiros, mas que causa enorme constrangimento e até danos à saúde mental: o meu hálito, conhecido cientificamente como halitose.
No Brasil, cerca de 30% da população, o que corresponde a aproximadamente 60,9 milhões de pessoas, sofrem com esse problema. O Conselho Federal de Odontologia (CFO) alerta que a presença persistente dessa condição pode ser sinal de que algo não está bem no organismo, principalmente na cavidade bucal.
Dentre as principais causas estão problemas como cárie dentária, doenças periodontais (gengivite e periodontite), má higiene bucal e a presença de saburra lingual. Além disso, em alguns casos, a halitose pode estar associada também a doenças respiratórias (sinusite, amigdalite), gastrointestinais e doenças metabólicas e sistêmicas (diabetes, problemas renais e hepáticos).
O secretário-geral do Conselho Federal de Odontologia, Roberto de Sousa Pires, especialista em Saúde Pública pela Universidade Estadual do Pará (UEPa) e pós-graduado em Tratamento de Halitose, destaca que o mau hálito é um problema que deve ser tratado com seriedade, uma vez que pode afetar a saúde bucal, a autoestima e as relações sociais.
Muitas pessoas desconhecem as verdadeiras causas da halitose, e somado a isso, existem ainda os mitos de que ela esteja associada somente a problemas estomacais. Na verdade, a origem da halitose, em mais de 90% dos casos, está ligada à cavidade bucal. Dessa forma, é imprescindível a avaliação criteriosa de um cirurgião-dentista, o qual poderá identificar a origem do problema e indicar o melhor tratamento”, frisa Roberto Pires.
CFO alerta sobre as principais causas do mau hálito
A halitose é uma condição de origem multifatorial, cujas principais causas estão na própria cavidade bucal. Entre elas, destacam-se o desequilíbrio bacteriano, a má higiene bucal, de próteses fixas ou removíveis e em implantes, e o acúmulo de matéria orgânica na língua, o qual contribui para a formação da saburra lingual. Além de doenças periodontais e alterações salivares.
O conselheiro federal Roberto Pires esclarece: “É importante que haja uma investigação aprofundada para identificação das origens da halitose que pode ser oral ou extraoral, vindo da cavidade bucal, vias aéreas, como adenoides, rinites, sinusites e cáseos, ou de outras regiões do organismo”.
Outro fator recorrente da halitose é a hipossalivação, que pode levar à xerostomia (boca seca) e ao aparecimento de odores desagradáveis. “Isso acontece porque a saliva é o principal protetor da boca, ela contém uma ação antimicrobiana e é essencial para manter o equilíbrio da microbiota bucal. As disfunções salivares podem ser responsáveis pela halitose, já que a saliva é a maior e mais eficiente proteção da boca com um todo”, reforça Roberto.
Há também fatores como o tabagismo, o consumo de drogas e bebidas alcoólicas, o uso excessivo de medicamentos e a utilização de enxaguantes bucais sem a correta indicação e supervisão de um cirurgião-dentista. Além disso, há ainda, questões ligadas aos hábitos alimentares inadequados: o jejum prolongado, dietas irregulares e acúmulo de placas bacterianas nas amígdalas.
Preconceito em torno da halitose pode ter efeitos devastadores.
O mau hálito atinge a saúde e a convivência social do indivíduo, resultando em sérios inconvenientes econômicos e psicoafetivos. A presidente da Associação Brasileira de Halitose (ABHA), Sandra Kirchmayer, enfatiza que o preconceito em torno da halitose pode ter efeitos devastadores. Em alguns casos, a dimensão emocional do problema pode ser tão intensa que exige acompanhamento multidisciplinar, com psicólogos e psiquiatras.
“Já atendemos pacientes que abandonaram cursos, deixaram de ir a entrevistas de emprego ou se afastaram de relacionamentos por acharem que estavam com mau hálito. Portanto, a halitose não pode ser um tabu; precisamos falar dela e conscientizar a população de que o problema pode ser tratado”, pontua Sandra Kirchmayer.
Por que algumas pessoas nem percebem que sofrem de halitose?
A halitose pode ser categorizada como objetiva ou subjetiva. Na objetiva, a halitose é sentida por outras pessoas, mas não pelo indivíduo que a possui. Isso se deve à fadiga olfatória. Já a subjetiva, está relacionada a alterações sensoperceptivas, em que a pessoa acredita que possui halitose, porém, a condição não é identificada em testes clínicos e nem por pessoas próximas.
Ou seja, algumas pessoas convivem com a halitose e nem percebem, já outras têm certeza que possuem a condição, mas não a tem. Essa situação é chamada pelos especialistas de “paradoxo da halitose”, sendo necessário o auxílio de uma equipe multidisciplinar de saúde.
A presidente da ABHA, Sandra Kirchmayer, explica o porquê de isso acontecer. “Pode parecer sem sentido uma pessoa que tem mau hálito não sentir nada e quem não tem, jurar que está com hálito ruim. Mas isso tem explicação científica: o olfato humano se adapta rapidamente aos cheiros, o que chamamos de fadiga olfativa. Por isso, quem tem halitose muitas vezes não percebe. Já quem sente gosto amargo ou sensação de boca seca pode achar que tem mau hálito mesmo sem ter”, esclarece.
Halitofobia: quando o medo do mau hálito se torna uma fobia social
Especialista alerta para a condição conhecida como pseudo-halitose, em que o paciente acredita sofrer de mau hálito sem apresentar sinais clínicos. Transtorno pode comprometer convívio social e qualidade de vida
A preocupação com o hálito é comum e, até certo ponto, saudável — afinal, o mau cheiro na boca pode estar associado a problemas bucais, digestivos ou respiratórios. No entanto, quando o receio de estar com mau hálito persiste mesmo diante de exames normais, o que está em jogo pode ser mais do que uma questão de higiene: trata-se de um distúrbio chamado halitofobia.
O termo também é conhecido como pseudo-halitose. A pessoa tem a percepção persistente de que apresenta mau hálito, mas não há qualquer comprovação clínica ou exame que confirme essa alteração”, explica Lígia Maeda, otorrinolaringologista e especialista em halitose do Hospital Paulista.
Embora ainda pouco conhecida do público em geral, a halitofobia tem impacto real na vida de quem sofre com ela. “É uma condição que pode causar grande sofrimento psicológico, gerar ansiedade intensa e até levar ao isolamento social”, afirma a médica.
Diagnóstico exige exclusão de causas reais
Segundo a especialista, o primeiro passo no manejo da halitofobia é uma avaliação clínica detalhada, justamente para afastar a possibilidade de que o mau hálito realmente exista.
Fazemos uma investigação completa, que inclui o exame físico, histórico clínico e testes específicos para identificar compostos voláteis presentes na respiração. Quando todos os resultados são normais, passamos a considerar o diagnóstico de pseudo-halitose”, explica a Dra. Lígia.
Apesar da ausência de evidências clínicas, o sofrimento do paciente é legítimo — o que exige sensibilidade por parte do profissional de saúde. “É fundamental acolher essa angústia, explicar com clareza os resultados e, quando necessário, encaminhar o paciente para acompanhamento psicológico ou psiquiátrico”, diz.
Ligação com transtornos psiquiátricos
Casos persistentes de halitofobia podem estar associados a transtornos como ansiedade generalizada ou transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Em alguns pacientes, a preocupação com o hálito se transforma em um comportamento obsessivo, que pode incluir escovação excessiva dos dentes, uso constante de enxaguantes bucais ou até evitação de contato social.
A pessoa passa a moldar sua rotina com base no medo de ter mau hálito. Deixa de falar próximo de outras pessoas, evita reuniões, encontros e, em casos extremos, até o convívio familiar”, relata a otorrinolaringologista.
Por isso, o tratamento costuma ser multidisciplinar, envolvendo dentistas, otorrinos e profissionais da saúde mental. “Não é raro que o paciente rejeite, a princípio, a ideia de um encaminhamento psicológico. Mas com um bom vínculo médico-paciente, é possível mostrar que se trata de um cuidado necessário, e não de um julgamento”, afirma a Dra. Lígia.
Busca por informação ainda é limitada
Apesar de afetar um número significativo de pessoas, a halitofobia ainda é pouco discutida fora dos consultórios. Para a especialista, o tabu em torno do mau hálito — associado à vergonha ou à falta de higiene — acaba contribuindo para o silêncio em torno do tema.
É importante desmistificar o mau hálito e trazer informação qualificada. Nem todo mau hálito está ligado à higiene bucal, e nem toda preocupação com o hálito é infundada — mas quando o medo se torna maior do que a realidade, precisamos olhar com atenção”, conclui a médica.
Mau hálito é hereditário? Entenda como fatores genéticos influenciam a halitose
Predisposição a doenças bucais, alterações na saliva e distúrbios respiratórios ou digestivos podem ter origem genética e favorecer o aparecimento do mau hálito, mesmo que ele não seja diretamente herdado
O mau hálito, também conhecido como halitose, afeta milhões de brasileiros e é comumente atribuído a má higiene bucal, jejum prolongado ou doenças específicas. Mas será que existe uma explicação genética para o problema? É possível “herdar” o mau hálito de pais para filhos?
A resposta, segundo Lígia Maeda, otorrinolaringologista especialista em halitose do Hospital Paulista, é não, ao menos não diretamente. “A genética não é uma causa direta do mau hálito, mas pode influenciar indiretamente ao favorecer condições que aumentam o risco de halitose”, afirma.
O que pode ser herdado?
De acordo com a especialista, alguns fatores com influência genética podem contribuir para a ocorrência do mau hálito:
- Predisposição a doenças periodontais: gengivites e periodontites, que afetam os tecidos de suporte dos dentes, são causas comuns de halitose.
- Características da saliva: a quantidade e a composição enzimática da saliva variam entre as pessoas, e essas diferenças podem ter base genética. “Uma saliva mais viscosa ou em menor volume dificulta a autolimpeza da boca e favorece a proliferação de bactérias”, explica a médica.
- Tendência a distúrbios gastrointestinais ou respiratórios: condições como refluxo, rinite crônica ou sinusites, que podem alterar o odor da respiração, também apresentam influência genética em muitos casos.
“O que herdamos não é o mau hálito em si, mas sim uma predisposição a doenças ou características biológicas que criam um ambiente propício ao seu desenvolvimento”, reforça Dra. Lígia.
Avaliação personalizada é essencial
Como a halitose pode ter múltiplas origens — bucais, nasais, gástricas e até comportamentais —, a abordagem clínica deve considerar o histórico familiar, mas também avaliar fatores ambientais e de estilo de vida. “Pacientes que relatam casos de mau hálito na família devem passar por uma investigação criteriosa, que leve em conta tanto os fatores genéticos quanto os hábitos de higiene, alimentação e saúde geral”, orienta a especialista.
Existe tratamento?
Sim. Mesmo quando há uma predisposição genética, a halitose costuma ser controlável com orientação adequada. “O tratamento depende da causa. Pode envolver o dentista, o otorrino, o gastroenterologista e, em alguns casos, acompanhamento psicológico”, explica.
Além disso, mudanças simples como manter boa hidratação, escovar a língua corretamente e fazer visitas regulares ao dentista podem ajudar a manter o problema sob controle.
Informação como aliada
Para a Dra. Lígia, desmistificar as causas do mau hálito é fundamental para combater o estigma social que muitas vezes acompanha a condição. “Falar sobre mau hálito ainda é difícil para muita gente, mas é importante lembrar que a solução começa entendendo a causa. Com o diagnóstico certo, o tratamento fica muito mais simples e eficaz.”
Prevenção e tratamento
Entre os principais hábitos preventivos e tratamentos odontológicos indicados pelos cirurgiões-dentistas estão:
– Higiene bucal adequada a cada situação, com escovação e uso de fio dental diários;
– Limpeza da língua com raspadores ou escovas específicas;
– Adequação da utilização de produtos bucais de acordo coma necessidade do paciente;
– Tratamentos de doenças periodontais, cárie e restaurações de dentes cariados;
– Substitutos salivares, para xerostomia; e
– Identificada outra patologia ou condição do organismo, o cirurgião-dentista orientará o paciente a procurar o tratamento adequado.
A indicação é sempre procurar um cirurgião para que ele recomende qual o melhor tratamento a ser realizado, pois as consultas odontológicas regulares são cruciais para diagnosticar, identificar a causa e tratar a halitose”, finaliza Roberto Pires.
Agenda Positiva
Campanha nacional contra o mau hálito
Para alertar a sociedade sobre as consequências do mau hálito persistente, a Associação Brasileira de Halitose (ABHA), promove de 22 de setembro a 25 de outubro, a campanha nacional “Mau hálito constante indica problema de saúde”, o qual o CFO é apoiador. Focada em combater o preconceito, esclarecer dúvidas e estimular o diagnóstico precoce, a campanha reforça o alerta para a condição, fortalecendo esse importante trabalho de conscientização.
A presidente da ABHA, Sandra Kirchmayer, reforça que é preciso mudar essa percepção urgente. “Esta Campanha traz uma mensagem fundamental porque ajuda a conscientizar a população de que o mau hálito não deve ser tratado como uma questão puramente estética, rondada de tantos tabus e capaz de gerar tantos constrangimentos sociais. Essa é uma alteração que pode servir de alerta para questões de saúde geral”, afirma Sandra.
Com Assessorias







