Dos casos confirmados, nove foram trazidos por pessoas que retornaram do exterior, 22 tiveram contato com indivíduos infectados lá fora e três são compatíveis geneticamente com vírus em circulação em outros países. Até o momento, os estados do Tocantins, Maranhão e de Mato Grosso estão qualificados como em surto de sarampo.
No Tocantins, o surto teve início no município de Campos Lindos, na região nordeste do estado, em julho. O caso está associado ao retorno de quatro brasileiros que estiveram na Bolívia durante um mês. A comunidade que os infectados habitam possui um baixo nível de adesão à vacinação, o que permitiu uma rápida transmissão entre os moradores.
No Maranhão, há apenas um caso confirmado, o de uma mulher de 46 anos, não vacinada, habitante do município de Carolina, que teve contato com membros da comunidade em Campos Lindos. Os dois municípios ficam na divisa entre os estados do Maranhão e de Tocantins.
Os casos em Mato Grosso não estão ligados à comunidade de Campos Lindos, mas também foram iniciados por brasileiros que estiveram na Bolívia. O surto começou no município de Primavera do Leste e afetou três pessoas que fazem parte da mesma família, todas não vacinadas.
Em São Paulo, foi registrado um caso de fonte de infecção desconhecida. O estado é considerado especialmente vulnerável, por receber intenso fluxo internacional e interestadual, além de sediar grandes eventos.
Cobertura vacinal
Segundo informações da Rede Nacional de Dados em Saúde (RNDS), em 2024, o Brasil apresentou uma cobertura vacinal de tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) de 95,7%, na primeira dose, e 74,6% na segunda.
Em 2025, houve uma queda, o que colocou o índice abaixo da meta de 95%. Os dados apontam para cobertura vacinal das doses 1 e 2, respectivamente, de 91,2% e 74,6%.
Segundo o Ministério da Saúde, os percentuais abaixo da média evidenciam a vulnerabilidade para a ocorrência do vírus do sarampo, reforçando a importância da intensificação vacinal.
Casos de sarampo no mundo
Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que todas as regiões do mundo vêm registrando aumento de casos desde 2024. desde o início do ano até 9 de setembro, foram notificados 360.321 casos suspeitos de sarampo, dos quais 164.582 foram confirmados, em 173 países
As regiões do mundo que representaram os maiores números de casos são o Mediterrâneo Oriental, com 34% das ocorrências; África, com 23%; e Europa, com 18%. Nas Américas, 11.691 casos foram confirmados de sarampo, com 25 mortes em dez países.
Os casos mais numerosos ocorreram no Canadá (5.006), México (4.703) e Estados Unidos (1.514). Na América do Sul, há surtos ativos na Bolívia (320 casos), Paraguai (50) e Peru (quatro). A Argentina também teve um surto, com 35 casos confirmados.
O Canadá lidera com 3.969 registros e uma morte; seguido pelo México, com 3.361 casos e três óbitos; os Estados Unidos, com 1.308 casos e três mortes; a Bolívia, com 122 casos e estado de emergência declarado; e a Argentina, com 34 casos confirmados.
Leia mais
Sarampo não tem fronteiras: só vacinas podem proteger
Surtos de sarampo, meningite e febre amarela ameaçam vacinação
Casos de sarampo no Brasil acendem alerta para baixa cobertura vacinal
Demanda por exames de sarampo aumenta 47% e por vacinas 114%
Dados inéditos de janeiro a agosto reforçam o risco iminente de reintrodução da doença no país
A emissão de documentos médicos ligados ao sarampo disparou no Brasil em 2025. Dados da Memed, plataforma de prescrição digital no país, mostram que entre janeiro e agosto deste ano o volume de exames relacionados à doença cresceu 47% em relação ao mesmo período de 2024.
O aumento é ainda mais expressivo no caso das vacinas, que registraram alta de 114% no comparativo anual. Em São Paulo, os números também chamam atenção: crescimento de 58% no total de exames e de 110% apenas em vacinas.
A tendência de aumento se intensificou a partir de maio de 2025, coincidindo com a divulgação da nota técnica do Ministério da Saúde que alertou para a escalada de casos de sarampo nas Américas. O relatório da pasta mostrou um crescimento de 11 vezes no número de ocorrências até a 16ª semana epidemiológica de 2025 (encerrada em 19 de abril), totalizando 2.325 casos, incluindo quatro óbitos, em países como Argentina, Bolívia, Canadá, México, Estados Unidos e Brasil.
Embora o Brasil tenha obtido a certificação internacional de área livre do sarampo, a circulação global do vírus aumenta o risco de reintrodução no país, especialmente por meio de casos importados. Para reduzir esse risco, o Ministério da Saúde passou a recomendar a aplicação da chamada “Dose Zero” (D0) da vacina contra o sarampo em crianças de 6 meses a 11 meses e 29 dias em contextos de maior exposição. A medida busca oferecer proteção precoce e temporária, reduzindo formas graves da doença e a transmissão comunitária.
Os dados refletem a crescente preocupação da comunidade médica e da população em geral com o sarampo, Reforçar as estratégias de vacinação e seguir as recomendações das autoridades de saúde é fundamental”, afirma Fábio Tabalipa, responsável pela análise dos dados da Memed.
Segundo Tabalipa, a integração entre vigilância epidemiológica, laboratórios, imunização e atenção primária é decisiva para conter a circulação do vírus e garantir a efetividade das ações de prevenção no Brasil. “Nossa plataforma facilita a prescrição e o registro, permitindo identificar rapidamente essas tendências e apoiar a vigilância epidemiológica no país”, afirma.
Especialistas alertam para risco de reintrodução do sarampo no Brasil
“Com tratamento focado nos sintomas, a melhor forma de controle ainda é a vacinação”, diz infectologista
O aumento expressivo dos casos de sarampo em diversos países das Américas em 2025 acendeu o alerta das autoridades de saúde brasileiras. Embora o Brasil tenha sido recertificado pela Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) como livre da circulação endêmica do vírus em novembro de 2024, o risco de reintrodução da doença é considerado iminente.
Segundo Michelle Zicker, infectologista do São Cristóvão Saúde, a alta transmissibilidade do vírus e a circulação intensa de pessoas entre estados e países favorecem a propagação. “O sarampo é uma das doenças mais contagiosas que existem. Uma única pessoa infectada pode transmitir o vírus para mais de 90% das pessoas suscetíveis próximas. Diante do cenário internacional, especialmente nas Américas, precisamos manter vigilância ativa e reforçar a imunização”, alerta.
Sintomas e complicações
O sarampo é causado por um vírus de RNA do gênero Morbillivírus, transmitido por secreções respiratórias, tosse, fala e até por aerossóis suspensos em ambientes fechados. Os principais sintomas incluem tosse, coriza, conjuntivite e febre alta, seguidos pelo exantema avermelhado característico, que se espalha da cabeça para o corpo.
As complicações podem ser graves, principalmente em crianças menores de 5 anos, gestantes e pessoas imunocomprometidas. Entre elas, destacam-se pneumonia, otite, diarreia, encefalite e até óbito. Uma complicação rara, mas de alta gravidade, é a Panencefalite Esclerosante Subaguda (PEES), que pode surgir anos após a infecção inicial.
Vacinação é a principal defesa
Não existe tratamento específico para o sarampo. O cuidado é de suporte, incluindo hidratação, controle da febre e, em alguns casos, uso de vitamina A para reduzir riscos de complicações. Por isso, a vacinação continua sendo a medida mais eficaz de prevenção.
O sarampo não pode ser encarado como uma doença do passado. A vacina é segura, gratuita e eficaz. É fundamental que todos estejam com a imunização em dia para evitar que o vírus volte a circular de forma sustentada no Brasil”, reforça a infectologista do São Cristóvão Saúde.
No Brasil, estão disponíveis as vacinas dupla viral (sarampo e rubéola), tríplice viral (sarampo, caxumba e rubéola) e tetraviral (que também inclui varicela). Atenção:
- Pessoas de 7 a 29 anos devem ter duas doses registradas.
- Adultos de 30 a 59 anos devem ter pelo menos uma dose.
- Profissionais de saúde, independentemente da idade, devem completar duas doses.
- Gestantes e crianças menores de 6 meses não devem ser vacinadas
- Pessoas imunocomprometidas devem ser avaliadas por um médico antes de receberem a vacina.
Com Agência Brasil e Assessorias