O Dia Mundial da Urticária, lembrado neste 1º de outubro, reforça a importância de se tratar desse problema que afeta milhões de pessoas em todo o mundo. A urticária pode ser classificada em aguda (quando tem duração de menos de seis semanas) e crônica (quando a duração tem mais que seis semanas).
A maioria das urticárias crônicas tem causa espontânea, ou seja, sem um motivo aparente. É uma doença autoimune e autorreativa, onde o próprio corpo gera anticorpos contra ele mesmo, produzindo sintomas da urtica e/ou angioedema.
Um dos tipos mais frequentes, mas ainda muito incompreendido entre pacientes e até mesmo profissionais de saúde é a Urticária Crônica Espontânea (UCE), que pode afetar até 43 milhões de pessoas no mundo e que tem alto impacto na qualidade de vida.
Nos Estados Unidos, a doença atinge pelo menos 1,5 milhão de pessoas e no Brasil, em torno de 1,4 milhão de pessoas. As mulheres têm duas vezes mais chances de serem diagnosticadas do que homens; A maioria das pessoas atingidas apresenta os sintomas entre 20 e 40 anos.
Sintomas surgem de forma inesperada e sem motivo
Essa doença de pele grave e debilitante, caracterizada por erupções cutâneas que podem ser dolorosas. O aparecimento de lesões aspecto avermelhado e elevado (chamadas urticas) provoca coceira intensa e pode ou não ser associado à dor no local das lesões. As urticas se apresentam de forma isolada ou agrupada formando placas. Essas manchas podem aparecer em qualquer parte do corpo, não deixam cicatrizes e podem durar até 24 horas.
Em alguns casos, as urticas podem vir acompanhadas de angioedema (um tipo de inchaço deformante). Até 40% dos pacientes afetados podem sofrer de angioedema, ou edema de Quincke, que provoca uma inflamação nos tecidos mais profundos da pele. Locais sensíveis como os lábios, língua, olhos face, genitália, palma das mãos e dorso dos pés ficam extremamente inchados e doloridos.
Não há um agente causador definido para o aparecimento da doença, já que ela se manifesta de forma espontânea a qualquer hora e lugar”, explica Luis Filipe Ensina, membro da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI) e do Consenso Internacional de Urticária.
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O impacto emocional da doença
A urticária crônica espontânea é de fácil diagnóstico clínico, apesar de ser uma doença de difícil controle. “Por isso, é fundamental o acompanhamento médico para que cada paciente tenha acesso ao tratamento mais adequado a seu caso”, afirma Dr. Ensina.
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Apenas 1% dos casos de urticária crônica têm relação com alimentos
Diferentemente da urticária crônica, a urticária aguda, que é aquela que acontece com menos de seis semanas, a reação pode ser causada por alimentos, como esclarece Janaina Melo, membro do Departamento Científico de Urticária da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia (ASBAI).
Por exemplo, o paciente foi para a praia, comeu camarão e em até duas horas a boca inchou, apareceu lesões avermelhadas e coceira. Sim, pode ser a urticária aguda e é muito comum em crianças e adultos. Porém, na urticária crônica, essa relação com o alimento é de menos de 1%”, compara.
A especialista explica que as diretrizes brasileira, americana, britânica e europeia mostram que não deve ser indicada a restrição alimentar para controlar a urticária crônica, por não ser o tratamento mais eficaz.
Mas a realidade no consultório é outra, pois chegam pacientes que retiraram por conta própria alimentos nutricionalmente importantes para ter uma melhora no quadro de urticária. Já cheguei a atender paciente que só se alimentava de arroz sem tempero e tomava água e, mesmo assim, sem melhora na urticária”, conta Dra. Janaina.
Por isso, antes de fazer a restrição alimentar é preciso que um médico especialista avalie a história clínica do paciente e realize testes específicos de alergia para ter certeza da relação do alimento com urticaria crônica. “Lembre que a urticária crônica é uma doença autoimune, ou seja, ela vai aparecer mesmo fazendo a dieta de restrição”, alerta Dra. Janaina.
Síndrome da alfa-gal é associada a carne vermelha e peixe cru
Mas se o alimento não causa a urticária crônica, ele pode agravar um quadro já existente? A especialista explica que existe um tipo de urticária tardia que acontece depois de duas horas da ingestão do alimento. A síndrome da alfa-gal, resultante da ingestão de carnes de mamíferos, às vezes não bem cozidas. Nessa síndrome específica, evita-se a carne vermelha.
Um outro tipo de restrição que podemos adotar é a ingestão de peixes crus. Muitos deles podem estar contaminados com o anisakis, presente no peixe cru, marinado ou pouco refogado. Então, por conta desse nematoide (verme), pode-se ter uma piora da urticária”, explica a especialista da ASBAI.
Riscos de fazer uma restrição sem acompanhamento
Orientação do especialista podem evitar danos nutricionais que podem se agravar
A maior preocupação, segundo Dra. Janaina, é justamente o paciente ficar desnutrido e começar a evoluir para hipovitaminose, perda indevida de peso, além da piora de qualidade de vida.
Por isso, é importante que o especialista faça testes como o PRICK teste, IgE específica antes de eliminar um alimento, sempre seguido da orientação do alergista. porém, foi visto que no caso da intolerância, esses testes não são tão eficazes, porque não é uma doença IgE mediada, com diagnóstico sempre com especialista.
Nesse caso, a gente tem que fazer a restrição alimentar por três semanas. Se o paciente melhorar com essa restrição, já é um sinal de que o alimento em questão possa estar relacionado com a urticária. E quando eu provoco o paciente novamente com o alimento suspeito, a tendência é que ele tenha uma piora. Essa é uma ferramenta que chamamos de teste de exclusão e provocação, que é extremamente importante para guiar o especialista na orientação dietética”, explica a alergista.
Quando entrar com a suplementação
Muito mais do que retirar um alimento, pode ser interessante suplementar o paciente. Solicitar dosagem de 25 hidroxivitamina D pode ser uma indicação. Para esses casos de vitamina D baixa, recomenda-se uma reposição por seis semanas. Segundo ela, foi observado um benefício nos pacientes com urticaria crônica a investigação de vitamina D e reposição quando necessário.
Outra suplementação que também pode ser feita em casos selecionados é a de D-aminoxidase, uma enzima que degrada a histamina. Lembra que a urticaria é causada pelo mastócito que libera a histamina? Então, há descrição na literatura que em casos específicos repor uma enzima que degrade essa histamina, possa ter algum benefício, claro que nada é superior ao tratamento padronizado com anti-histamínico de segunda geração”, conta Dra. Janina Melo.
Com Assessorias