Hoje, mais de 46 mil brasileiros aguardam por um transplante de órgãos, sendo mais de 43 mil pessoas a espera por um rim. Infelizmente, 3 mil pessoas não resistiram à espera e morreram por falta de doadores compatíveis. Esta situação tem preocupado entidades ligadas ao transplante, e que buscam alternativas para reduzir o tempo de espera e os índices de mortalidade.
Os números da demanda crescem anualmente, mas a quantidade de doadores ainda não é suficiente para atender a todos que precisam. Estima-se que a cada 14 pessoas que poderiam doar um órgão, apenas 4 dizem sim. A última palavra sempre é da família. Por isso, é importante que cada pessoa converse com sua família e manifesta a intensão de doar.
Setembro é o mês dedicado ao incentivo à doação de órgãos, conhecido como Setembro Verde, por conta Dia Nacional da Doação de Órgãoa (27). Felizmente, muitas histórias com final feliz vêm sendo marcadas em meio a essa batalha.
Em julho deste ano, no Hospital Santa Isabel (HSI), pertencente à Rede Santa Catarina: dois irmãos receberam transplantes de coração com apenas duas semanas de diferença. O procedimento foi conduzido pelo cirurgião Frederico J. Di Giovanni e mobilizou equipes médicas e multidisciplinares da Instituição, referência nacional em transplantes.
Paulo Henrique Paim, de 54 anos, foi o primeiro a ser transplantado, no dia 17 de julho. Ele havia sido diagnosticado com uma cardiomiopatia dilatada em fase terminal. Menos de uma semana depois de ser incluído na lista de espera, surgiu um doador compatível. O caso de Paulo já era considerado delicado, mas por ser de origem genética, seu irmão, José Mario Paim, de 49 anos, também foi diagnosticado com a mesma condição cardíaca.
Enquanto Paulo passava pelo transplante em Blumenau, José Mario foi internado às pressas em uma UTI em Florianópolis. Após uma piora, ele foi transferido com urgência para o Hospital Santa Isabel, onde precisou de suporte com assistência mecânica para se manter vivo até que um coração compatível fosse disponibilizado. Em caráter emergencial, foi incluído na lista de espera de transplante no dia 30 de julho e transplantado já no dia 1º de agosto, aguardando apenas um dia.
Realizo transplantes há 25 anos e essa foi a primeira vez que dois irmãos precisaram e receberam transplantes quase simultaneamente. É um evento bastante raro. O sucesso dessa maratona pela vida só foi possível graças à atuação de uma equipe altamente preparada e multidisciplinar, envolvendo cirurgia cardíaca, cardiologia clínica, UTI, enfermagem, nutrição, psicologia e muitos outros profissionais”, destaca o Dr. Frederico J. Di Giovanni.
Transplantes de órgãos no HSI
Casos como esse, além de incomuns, reforçam a importância da doação de órgãos e a eficácia do sistema estadual de transplantes. Desde 1980, o Hospital Santa Isabel já realizou mais de 4.900 transplantes, sendo 88 de coração, se tornando o maior transplantador do estado de Santa Catarina, com destaque também para doações de múltiplos órgãos. Tudo isso só é possível graças à generosidade de dezenas de famílias que autorizaram a doação de seus entes queridos.
A Comissão Hospitalar de Transplantes (CHT) do HSI desempenha papel essencial na captação de órgãos, com uma equipe multiprofissional reconhecida nacionalmente por sua eficiência e acolhimento humanizado. Em 2024, a Instituição inaugurou um novo Ambulatório de Transplantes, reforçando o cuidado integral aos pacientes.
Para pacientes renais, o transplante foi um divisor de água em suas vidas
O nono mês do ano é simbólico para quem vive com doenças renais. Enquanto o Setembro Verde reforça a importância da doação de órgãos, o Setembro Amarelo lembra o impacto da saúde mental e da valorização da vida. Para pacientes em diálise, essas duas campanhas se entrelaçam: o tratamento exige disciplina rigorosa, impõe limitações e, muitas vezes, desafia o estado emocional.
Em 2024, o Brasil realizou mais de 6.200 transplantes, sendo 814 sob a responsabilidade da Clínica DaVita. “Sabemos que a jornada do paciente renal é marcada por muitos desafios. Nós da Clínica DaVita nos propusemos a caminhar juntos e sempre estarmos atentos às particularidades de cada paciente, antes, durante e após o transplante”, enfatiza o nefrologista Bruno Zawadzki, diretor médico da DaVita.
Nesse Setembro Verde, dois pacientes da Clínica DaVita dão rosto e voz à esperança: Josué Francisco de Oliveira e Alisson de Andrade da Silva. Para ambos, o transplante trouxe uma nova possibilidade ao viver. Suas histórias simbolizam superação pessoal, e também a expectativa de milhares de brasileiros que seguem na fila por um rim.
Josué Oliveira: do desespero à retomada dos sonhos
Assim como muitas pessoas, quando o técnico de enfermagem Josué Francisco de Oliveira, 60, descobriu a doença renal crônica, passou por um processo doloroso de negação até superar e se conscientizar de que realmente precisava de tratamento.
Em meio às sessões de hemodiálise e rígidos protocolos de exames e acompanhamentos exigidos para a realização do transplante, Oliveira se viu por quatro anos e meio, “preso a uma máquina quatro horas por dia, três vezes por semana”, como ele define. Após essa espera e cinco tentativas, finalmente recebeu o novo rim.
Hoje, ele celebra uma nova rotina: caminhadas, a retomada dos estudos universitários e, principalmente, a sensação de liberdade. “Nós passamos a valorizar mais as coisas, nós temos mais saúde, podemos comer um pouco melhor, sem exageros, é claro”. Hoje, Josué Oliveira faz caminhada e está se graduando em Direito na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.
Paciente da Unidade Barra Trade da Clínica DaVita, o futuro advogado é determinado quanto a recomendar a cirurgia: “Eu desejo a todos os que passam por esse mesmo problema que lutem pela vida, porque a vida presta e vale a pena viver”.
Alisson de Andrade da Silva: 20 anos de espera até o renascimento
Aos 18 anos, recém-formado no ensino médio, o professor e palestrante Alisson de Andrade Silva, 39, foi surpreendido por sintomas agressivos da doença renal. Em menos de seis meses, já estava fazendo sessões de diálise. Estudioso e protagonista do próprio tratamento, ele acompanhava de perto seus exames e foi paciente ativo na condução da sua jornada.
Depois da primeira diálise, em 2005, foram 20 anos entre idas e vindas em diferentes listas de transplante até a cirurgia acontecer, em dezembro de 2023. E foi quando também uma incerteza se confirmou: a doença que culminou na perda dos rins tinha origem genética, afetando também outros membros da família. E foi o fator que havia inviabilizado uma possível doação de seus familiares.
O transplante não é cura, mas é o melhor tratamento. A sensação é de que houve um hiato na minha vida durante a diálise e, depois da cirurgia, esse hiato acabou. É um divisor de águas”, visualiza.
As muitas restrições impostas pelo tratamento no período foram dos reveses mais difíceis para a sua saúde mental, como relembra Silva: “Alimentação, três sessões semanais de diálise de quatro horas cada, viagens restritas, sem falar no trabalho, já que nem toda empresa aceita um colaborador com doença renal crônica. É muito difícil lidar socialmente e emocionalmente com tudo”, relembra Silva.
Para lidar com todas essas limitações, ele diz que “escolheu ser fora da curva”. Passou a falar sobre a doença e sobre a condição, de modo geral. Hoje, Alisson segue ministrando aulas particulares e palestras e se tornou referência para outros pacientes, compartilhando sua experiência e reforçando a importância da aderência ao tratamento e do acompanhamento médico contínuo.