O câncer de mama, que representa três em cada dez diagnósticos de câncer em mulheres brasileiras, é a doença mais comum em mais de 157 países. Em todo o mundo, são registrados 2,3 milhões de novos casos anuais, com projeção de saltar para 2,9 milhões em 2035. A cantora britânica Jessie J, de 37 anos, trouxe o tema à tona após revelar nesta terça-feira (3) que terá que fazer uma mastectomia como parte do tratamento contra o câncer em fase inicial, quando o prognóstico é de maior chance de cura.
Ela comunicou aos fãs que fará uma pausa breve na carreira para se dedicar ao tratamento e à cirurgia, prevista para este mês de junho. Na gravação, Jessie reforça a importância do diagnóstico precoce e compartilha, de forma sincera, o impacto da notícia. “Estou enfatizando o termo ‘estágio inicial’. Câncer é uma droga, de qualquer forma, mas estou me segurando no termo ‘estágio inicial’. Tenho entrado e saído de testes durante esse período”, contou.
Jessie revelou que estava trabalhando muito, mas que decidiu compartilhar o diagnóstico com o público por entender que desabafar já a ajudou em outros momentos. “Fico de coração partido por saber que tantas pessoas estão passando por algo assim ou até pior. Isso é o que me mata. Só queria que vocês soubessem. Não era algo que eu planejava”, disse a cantora.
Cirurgias de urgência como a que Jessie J terá que passar logo ao descobrir a doença são comuns. Segundo publicação da American Cancer Society, na maioria das mulheres com câncer de mama, é empregada algum tipo de cirurgia como parte do tratamento. “A indicação de cirurgia do câncer de mama depende do estágio em que a doença foi detectada. De maneira geral, a maioria das mulheres diagnosticadas passa por esse procedimento, ainda que com objetivos distintos”, destaca a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO)
De acordo com dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) a projeção é de aumento de 27% dos casos de câncer de mama na próxima década. No mesmo período, a taxa de mortalidade deve crescer 33%. No Brasil, a estimativa é que sejam registrados mais de 73 mil novos casos anuais de câncer de mama em 2025. O câncer de mama também pode atingir homens: cerca de 0,5% a 1% dos casos ocorrem no sexo masculino.
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Novidades no tratamento pelo SUS
Em maio de 2025, o Ministério da Saúde atualizou o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do câncer de mama no Sistema Único de Saúde (SUS). A mudança incorporou cinco novos procedimentos à rede pública, entre eles a ampliação da indicação da terapia neoadjuvante (tratamento realizado antes da cirurgia) para mulheres com câncer de mama em estágios I, II e III. Outro avanço importante na saúde pública é a incorporação da videolaparoscopia oncológica.
Segundo o presidente da SBCO, Rodrigo Nascimento Pinheiro, a atualização permite que mais pacientes tenham acesso a técnicas menos agressivas e com maior possibilidade de preservação da mama, quando bem indicadas.
A incorporação de novas técnicas menos invasivas, como a videolaparoscopia oncológica, representa um avanço importante no cuidado à mulher com câncer de mama no SUS. Isso permite intervenções mais precisas, com menor tempo de internação, menos dor e melhor recuperação. É fundamental que o sistema público de saúde acompanhe essas inovações, pois o impacto na qualidade de vida das pacientes é imediato”, destaca Pinheiro
Cirurgia em câncer de mama: quando realizar?
Segundo a SBCO, a definição com relação ao procedimento mais indicado fica a cargo do cirurgião oncológico e de sua equipe, que avaliam cuidadosamente a extensão da doença e quais as medidas de tratamento a serem adotadas.
É importante contar com o acompanhamento de profissionais qualificados, em centros oncológicos de referência para o tratamento do câncer de mama, há diferentes tipos de cirurgia do câncer de mama. A definição ocorre de acordo com o objetivo do procedimento e com as condições — tanto da paciente quanto do tumor — haverá uma cirurgia mais adequada”, explica.
Cirurgia conservadora da mama
Esse procedimento é conhecido como mastectomia parcial ou segmentar, mas também é chamada de lumpectomia ou quadrantectomia. A quantidade de tecido mamário removido varia de acordo com o tamanho e localização do tumor, além de outros fatores, como a probabilidade de dissipação de células tumorais.
Na prática, se dá pela retirada do segmento ou do setor da mama onde está localizado o tumor. Neste caso, o/a cirurgião(ã) oncológico deve extrair o tumor com uma porção de tecido saudável adjacente, como margem de segurança.
Mastectomia
Nesse procedimento é feita a retirada completa da mama, incluindo todo o tecido mamário. No caso da chamada mastectomia radical, podem ser removidos outros tecidos próximos como os músculos que se localizam abaixo da mama com os gânglios axilares – geralmente indicada para grandes tumores em que já há ínguas comprometidas ou o risco de disseminação é elevado.
Há, ainda, a chamada Mastectomia Total com utilização da pesquisa de linfonodo sentinela (a íngua que inicialmente drena estes tumores). Este procedimento é indicado, muitas vezes, para poupar a paciente de tratamentos complementares como a Radioterapia. O objetivo é minimizar os efeitos colaterais do tratamento oncológico.
Mastectomia redutora de risco
Esse procedimento, chamado de mastectomia profilática, ganhou mais visibilidade na última década, depois de adotado por algumas celebridades. O procedimento cirúrgico é indicado basicamente em duas situações:
– Alto risco de câncer de mama: mulheres com predisposição hereditária ao câncer de mama (alterações nos genes BRCA1 e BRCA2) podem fazer a remoção profilática para evitar ou minimizar os riscos de desenvolvimento de tumores, e
– Pacientes já diagnosticadas: mulheres com diagnóstico de câncer em uma das mamas —com tumores específicos que apresentem risco de bilateralidade, como o carcinoma lobular — podem optar, caso haja concordância médica, pela remoção dupla para reduzir as chances de ser acometida pela doença.
É importante ter em mente que, para pessoas sem histórico familiar de câncer nem mutação genética, detectada por rastreamento, ainda não existem estudos conclusivos sobre o benefício da mastectomia preventiva. Antes de passar pelo procedimento, é fundamental ser avaliada por um especialista em cirurgia oncológica e, ainda, estar ciente dos efeitos colaterais dessa intervenção.
Como são os cuidados antes e depois da cirurgia?
O tratamento do câncer de mama não se restringe à cirurgia e envolve aspectos emocionais muito fortes, com abalo significativo da autoestima. Por esse motivo, a atenção em todos os momentos do processo de cura é realizada por uma equipe multidisciplinar.
Antes da cirurgia – É importante realizar todos os exames solicitados e conversar com os profissionais envolvidos no tratamento incluindo também enfermeiros e psicólogos sobre suas apreensões e dúvidas. Essa fase de esclarecimentos é essencial para passar pelo procedimento com mais tranquilidade.
Pós-cirúrgico – A recuperação da cirurgia de câncer de mama segue o padrão de boa parte dos pós-operatórios. Quando o procedimento transcorre normalmente, é comum que a paciente já possa retomar suas atividades normais no prazo de duas semanas.
Dependendo de cada caso, podem ser iniciadas terapias complementares, como radioterapia e/ou quimioterapia.
Quais são os sintomas de alerta para câncer de mama?
O sintoma mais comum da doença é o surgimento de um nódulo no seio, geralmente detectado durante o autoexame ou em uma consulta de rotina. Além do caroço no seio, existem outros sinais de alerta aos quais é importante estar atenta:
- pele da mama avermelhada ou retraída;
- aspecto de casca de laranja nas mamas;
- alterações no mamilo, como inversão ou descamação;
- pequenos nódulos nas axilas ou no pescoço e
- secreção anormal — geralmente sanguinolenta — nos mamilos.
A estratégia mais inteligente a ser adotada por todos é a do incentivo à prevenção. A redução nacional e global do número de casos de câncer de mama passa por uma dieta equilibrada, prática de atividade física, redução e manutenção do peso, limitação do consumo de bebidas alcoólicas e não fumar. Com isso, se reduz a incidência e menos mulheres vão receber o diagnóstico e necessitar de tratamento”, observa o presidente da SBCO.
Fonte: SBCO, com Redação