Os termômetros começam a despencar no país nesta segunda-feira (23), marcando a terceira onda de frio de 2025 e a primeira desde o início do inverno, que chegou oficialmente no último fim de semana, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).  No Estado do Rio de Janeiro, a frente fria chega a partir desta terça (24/06), deixando o tempo instável e com queda acentuada de temperatura para os próximos dias, em todo o território fluminense.

De acordo com os meteorologistas, a chegada da nova estação promete ter ondas de frio menos frequentes, porém mais intensas, principalmente no Sul e Sudeste, embora as temperaturas médias fiquem acima da média histórica em grande parte do país. Além da mudança na temperatura, a maior amplitude térmica e aumento da umidade em diversas capitais pode agravar ainda mais quadros de dor crônica.

O inverno agrava o sofrimento das pessoas que convivem com dores crônicas – um grupo que representa 36,9% dos brasileiros com mais de 50 anos, segundo o Ministério da Saúde. Muita gente começa a sentir o corpo “reclamar” mais: articulações mais rígidas, dores musculares mais intensas e até aquele osso que quebrou anos atrás parece querer avisar que o frio está chegando.

Baixas temperaturas, altas dores: por que sentimos mais dor no frio?

Com essa mudança brusca de temperatura, a redução da luz solar e a retração social, aumentam as queixas de dores crônicas em consultórios médicos e clínicas especializadas em dor. De acordo com Marcelo Valadares, neurocirurgião funcional especialista no tratamento da dor e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia na Unicamp,.

Moradores de cidades de altitude e em áreas urbanas com pouca exposição solar são os mais vulneráveis. Eles devem redobrar os cuidados e manter um acompanhamento médico contínuo para evitar agravamentos”, avalia o especialista.

Condições como fibromialgia, artrite e dores nas costas/coluna tendem a intensificar nesta época do ano, afetando a qualidade de vida de mulheres, idosos e pessoas de baixa renda, principalmente.

O frio chegou e, junto com ele, as queixas de dores nas costas, joelhos e ombros parecem se intensificar. Segundo o professor Kleyder Fleury, docente do curso de Fisioterapia da Una Catalão, essa sensação tem explicação e formas de ser prevenida.

É comum ouvirmos relatos de pessoas que sentem mais dor quando a temperatura cai, especialmente aquelas com histórico de lesões ou doenças crônicas como artrite, artrose e fibromialgia. Mas é preciso entender que nem toda dor está diretamente ligada ao frio em si. O aumento do incômodo pode estar associado a um conjunto de fatores, incluindo aspectos ambientais, emocionais e físicos”, explica Fleury.

Há uma explicação neurológica por trás do fenômeno

De acordo com o fisioterapeuta Bernardo Sampaio, diretor clínico do ITC Vertebral de Guarulhos, o frio afeta diretamente a circulação sanguínea e a sensibilidade das terminações nervosas. “Em baixas temperaturas, o corpo prioriza o aquecimento dos órgãos vitais, como o cérebro e o coração. Isso reduz a irrigação nas extremidades e musculatura, o que favorece o enrijecimento e aumenta a percepção de dor”, explica.

Além disso, há uma explicação neurológica por trás do fenômeno: “O frio aumenta a sensibilidade das terminações nervosas e estimula receptores de dor, o que torna o corpo mais reativo. E isso se agrava ainda mais em pessoas com doenças crônicas como artrite, artrose ou hérnias de disco”, complementa Bernardo.

Outro ponto curioso é que antigas lesões tendem a “acordar” nessa época. Isso acontece porque as áreas que já passaram por fraturas ou cirurgias geralmente possuem menor vascularização e tendem a responder com mais rigidez e dor em ambientes frios.

O que acontece com o corpo no frio?

Durante o inverno, é natural que o corpo sofra com a contração muscular, rigidez articular e diminuição da circulação sanguínea periférica — alterações que podem intensificar quadros álgicos já existentes.

Imagine uma pessoa que teve uma entorse mal tratada. Com o frio, ela pode apresentar mais dor porque não se habituou a esse tipo de estímulo. O sistema nervoso pode interpretar estímulos que não deveriam ser dolorosos como dor real”, esclarece professor Kleyder Fleury.

Esse fenômeno, conhecido como sensibilização central ou periférica, está por trás de muitos quadros de dor exacerbada, e exige atenção especializada. “O importante é não reforçar mitos como ‘isso é frescura’ ou ‘é psicológico’. A dor é real, e há tratamento”, destaca professor Kleyder Fleury.

Além das alterações fisiológicas, algumas atitudes comuns no inverno podem piorar os sintomas: passar muito tempo parado, adotar posturas inadequadas para se manter aquecido, usar roupas que limitam os movimentos ou não se proteger adequadamente contra o frio. “Esses fatores contribuem para a rigidez muscular e favorecem o surgimento ou agravamento da dor”, observa Fleury.

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Acompanhamento psicológico e terapias complementares

Especialista em dor crônica alerta para riscos da falta de conforto térmico e apresenta alternativas de tratamento adaptadas às baixas temperaturas

De acordo com o neurocirurgião Marcelo Valadares, o aumento das dores no período mais frio do ano acontece por razões multifatoriais, mas o manejo dos sintomas não deve ser deixado de lado, com adaptações para que o paciente tenha conforto térmico.

O controle dos sintomas causados pelo frio exige abordagem terapêutica multidisciplinar e não deve ser abandonado durante as baixas temperaturas, mas procedimentos que exigem exposição ao frio ou ambientes não climatizados devem ser ajustados para evitar desconfortos adicionais”, afirma o especialista.

Entre as estratégias de cuidado físico estão o uso de medicamentos moduladores da dor, como antidepressivos tricíclicos e inibidores de recaptação de serotonina; a fisioterapia regular e exercícios de alongamento para preservar a mobilidade; além da prática de atividades físicas supervisionadas, como caminhadas, pilates ou hidroterapia.

Pacientes com sintomas depressivos e com histórico de quedas e hospitalizações também podem notar aumento na percepção da dor. “As baixas temperaturas reduzem o fluxo sanguíneo periférico e aumentam a rigidez muscular. Além disso, o frio desencadeia alterações no sono e no humor, favorecendo quadros de insônia, ansiedade e depressão, que estão diretamente ligados à percepção e intensificação da dor”, explica o médico.

O acompanhamento psicológico também é fundamental para evitar alterações no humor, insônia e isolamento social. Tratamentos complementares como acupuntura, massagens e técnicas de relaxamento continuam sendo aliados importantes e podem, inclusive, gerar conforto térmico para o paciente.

Como aliviar e prevenir as dores no frio?

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Embora o frio traga um charme especial à rotina, ele também exige mais atenção com o corpo. Dores que antes passavam despercebidas podem se intensificar e impactar o sono, o humor e até a produtividade. Por isso, observar os sinais que o corpo dá é o primeiro passo para manter o bem-estar mesmo nos dias mais gelados.

Para o especialista, a recomendação mais importante é simples: movimente-se. “Exercício físico é uma ferramenta poderosa. Ele aquece o corpo, melhora a circulação e libera substâncias que ajudam a combater a dor. O melhor exercício é aquele que você gosta e consegue fazer com regularidade. Pode ser caminhada, dança, alongamento ou qualquer atividade prazerosa”, sugere.

Além disso, usar roupas adequadas, manter os ambientes aquecidos e aproveitar o sol sempre que possível são atitudes que ajudam a reduzir o desconforto. O uso de bolsas térmicas também é bem-vindo, com algumas orientações: “As bolsas quentes ajudam a relaxar os músculos e aliviar a dor. Já as frias são indicadas em casos de inflamação aguda. Mas é sempre importante ter orientação profissional para o uso correto”, explica.

Quando procurar ajuda?

Segundo Fleury, a dor é um alerta do corpo e deve ser levada a sério, especialmente se vier acompanhada de outros sinais, como alterações na pele (coloração ou temperatura), dormência, formigamento ou perda de força muscular. “Nesses casos, a avaliação de um profissional da saúde é fundamental para um diagnóstico preciso e tratamento eficaz.”

Por fim, o professor reforça que viver com dor não deve ser encarado como algo normal. “Compreender que existem medidas acessíveis e eficazes para controlar e tratar a dor é o primeiro passo para uma vida mais saudável, independente da estação do ano”, conclui.

Se as dores persistirem ou aumentarem, procure um médico ou fisioterapeuta especializado para realizar os exames necessários e receber o tratamento adequado. Cuidar do seu corpo durante o inverno é essencial para evitar desconfortos e manter-se saudável ao longo de toda a estação”, afirma o fisioterapeuta Bernardo Sampaio.

Dicas para aliviar as dores do inverno

O especialista ainda traz dicas para aliviar as dores durante a temporada mais fria do ano. Confira!

1. Aqueça-se adequadamente
Use roupas quentes, meias e luvas. Manter as extremidades aquecidas ajuda a reduzir o impacto do frio na circulação periférica.

2. Mantenha-se em movimento
Atividades físicas leves, como caminhadas e alongamentos, ativam a circulação e reduzem a rigidez muscular. “Movimento é remédio. Mesmo no frio, é importante manter o corpo ativo para evitar o acúmulo de tensão e dores”, orienta o especialista.

3. Hidrate-se mesmo sem sede
O ar frio e seco desidratam o corpo sem que percebamos. Beber água é fundamental para o bom funcionamento muscular e para evitar cãibras.

4. Invista em banhos mornos a quentes
Eles ajudam a relaxar a musculatura e aumentam a circulação sanguínea, proporcionando alívio imediato das dores.

5. Atenção à postura e tempo sentado
Evite passar longos períodos na mesma posição. Alterne entre sentar, levantar e se alongar, especialmente durante o trabalho.

 

Palavra de Especialista

Entenda os efeitos do frio no corpo dos mais velhos

Por Alexandre Peres*

Com a chegada do inverno, é comum ouvir relatos de pessoas mais velhas dizendo que “o corpo dói mais” ou que “as juntas travam com o frio”. Essa percepção, embora pareça apenas uma impressão, tem fundamentos fisiológicos e merece atenção, especialmente na terceira idade.

O frio realmente impacta o corpo. As temperaturas mais baixas provocam uma contração dos vasos sanguíneos, reduzindo a circulação e deixando músculos e articulações mais rígidos. Isso pode intensificar a sensação de dor, principalmente em quem já convive com condições como artrose, artrite, fibromialgia ou osteoporose. E para o idoso, que já tem naturalmente uma mobilidade reduzida e alterações no metabolismo, o inverno pode se tornar um desafio a mais.

Além da rigidez física, a estação também interfere na rotina. Os dias mais curtos e frios costumam diminuir a prática de atividades físicas, o que favorece o sedentarismo e pode piorar ainda mais o quadro doloroso. O que era uma dor leve passa a incomodar de forma constante, e muitos acabam acreditando que é apenas “parte da idade”, deixando de procurar ajuda.

Mas há caminhos para lidar com isso de forma mais leve. E é aí que entra a importância da fisioterapia preventiva. Atividades adaptadas, alongamentos suaves, caminhadas curtas dentro de casa e orientações individualizadas ajudam não só a reduzir a dor, mas a promover mais autonomia, equilíbrio e qualidade de vida.

Também é essencial manter-se aquecido: roupas adequadas, ambientes bem isolados e até o uso de bolsas térmicas podem fazer diferença no alívio dos sintomas. A alimentação equilibrada e rica em alimentos com propriedades anti-inflamatórias, como peixes, frutas e vegetais, também tem um papel importante.

Se você ou alguém próximo tem sentido mais dores nos últimos dias, não ignore. O desconforto constante não deve ser encarado como normal. Procure orientação profissional. Com os cuidados certos, é possível atravessar o inverno com mais conforto, movimento e bem-estar.

*Fisioterapeuta especializado na saúde do idoso

Com Assessorias

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