Nos últimos tempos, a internet tem disseminado informações importantes, que antes não tinham tanta visibilidade. É o caso do lipedema. Com o “boom” nas redes sociais, por meio do compartilhamento de experiências pessoais, muita gente se perguntou: será que o que eu tenho é lipedema? Em muitos casos, a resposta foi sim. Para tantos outros, uma gama de tratamentos, que vão desde a escolha pelos melhores alimentos, massagens e atividades físicas e até cirurgia foram indicados.
O que muitos ainda não sabem é que o lipedema nada mais é do que o acúmulo anormal e desproporcional de gordura dolorosa nos membros inferiores – principalmente pernas e quadris – e, em alguns casos, também nos membros inferiores – braços. A doença progressiva que provoca acúmulo anormal de gordura causa dor crônica, inchaço e dificuldade de mobilidade. Ainda hoje, muitas mulheres sofrem por não receberem diagnóstico adequado, sendo equivocadamente tratadas como obesas ou sedentárias.
Junho é o mês mundial de conscientização do lipedema, uma doença crônica, que afeta cerca de 10% da população em todo o mundo, na grande maioria, mulheres. A Lipedema Foundation estima que até 11% das mulheres no mundo possam conviver com a doença — muitas sem saber. O lipedema é frequentemente confundido com obesidade ou linfedema, o que atrasa o diagnóstico e pode comprometer seriamente a qualidade de vida das pacientes.
Reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde 2019, o lipedema passou a ter CID apenas em 2022 e desde então vem ganhando mais popularidade no Brasil graças a inúmeras ações de conscientização. Durante o Junho Roxo, mês dedicado à conscientização sobre o lipedema, profissionais de saúde e pacientes unem esforços para ampliar o debate sobre uma condição crônica que ainda é cercada de desinformação.
Campanha “Conheça Lipedema” leva ações a 21 cidades
Para ampliar o acesso à informação e promover acolhimento, a ONG Movimento Lipedema realiza neste domingo, dia 15, ações gratuitas e um encontro anual em prol da conscientização, simultaneamente, em 21 cidades — incluindo duas internacionais: Boston, em Massachusetts, nos Estados Unidos, e no Porto, região norte de Portugal.
No Brasil, a mobilização, que conta com o apoio do Instituto Lipedema Brasil, ocorrerá em São Paulo, Rio de Janeiro, Belém, Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Maranhão, Maceió, Porto Alegre, Recife, Ribeirão Preto, Salvador, Teresina, Cuiabá, Bauru e Uberlândia. A ação é gratuita, aberta ao público e contará com a presença de médicos, fisioterapeutas, nutricionistas e educadores físicos voluntários.
Este ano, além da tenda com profissionais da saúde orientando os passantes sobre a doença em cada uma das cidades, haverá a tradicional caminhada e aulas gratuitas (leves) de alongamento e dança. “Tudo pensado para a mulher com qualquer nível de lipedema”, comenta a presidente da ONG Movimento Lipedema, Gabriela Luciana Pereira.
Lipedema: quando você entende, você acolhe
Este ano, a campanha “Conheça Lipedema” – que completa três anos – ganhou novo slogan, escolhido pelo público das redes sociais no início do mês; O texto vai estampar as camisetas, tradicionalmente usadas pelas mulheres com lipedema na caminhada. O resultado da votação foi anunciado no perfil @conhecalipedema.
Os participantes puderam escolher os slogans pré-selecionados ou sugerir um novo slogan, analisado posteriormente por uma comissão da campanha. Apenas votos únicos e validados por e-mail e nome completo foram considerados na apuração. Esta frase traduz a nossa jornada e vai nos acompanhar durante toda a campanha de 2025”, diz Gabriela.
No dia, um dos profissionais vasculares presentes fará uma pesquisa com doppler para checar varizes aparentes e não-aparentes nas pernas das mulheres passantes para avaliar uma doença comum que causa má circulação na região afetada, piorando o lipedema.
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Também para ampliar a conscientização sobre a doença, a BAPS (Associação Brasileira de Cirurgiões Plásticos) realiza, no dia 14 de junho (sábado), o Lipedema Day 2025, que acontecerá simultaneamente em 17 cidades brasileiras. No Rio de Janeiro, o evento acontece na O2 Corporate, a partir das 9h, e terá café da manhã, roda de conversa com profissionais de saúde, aula de exercícios funcionais, distribuição de cartilhas informativas e momentos de confraternização entre pacientes, familiares e especialistas.
O lipedema é uma condição que afeta a qualidade de vida de muitas mulheres, mas que infelizmente ainda é cercada de desconhecimento e diagnósticos errados. O diagnóstico precoce é essencial para evitar o avanço da doença e as complicações que ela pode trazer”, explica o cirurgião plástico Rafael Erthal.
A verdade é que o lipedema não tem cura, mas pode e deve ser tratado. Acima de tudo, é importante pontuar que esse tratamento é personalizado e único para cada tipo de paciente. Para isso, é necessária uma abordagem multiprofissional, que envolve nutricionistas, fisioterapeutas, endocrinologistas, psicólogos, educadores físicos e cirurgiões plásticos e vasculares.
Por um lado, o tratamento clínico é fundamental para desinflamar o corpo, melhorar o metabolismo e reduzir os sintomas. Por outro, a cirurgia – quando indicada – entra como um complemento, com foco funcional, e não apenas estético. Já nos casos moderados a graves, quando há persistência de dor ou comprometimento funcional, a cirurgia redutora de lipedema torna-se uma necessidade médica”, destaca o médico.
Lipedema Ribeirão conscientiza sobre doença ainda pouco conhecida
Evento gratuito reúne profissionais da saúde, atividades físicas e orientação ao público no Parque das Artes
No próximo sábado, dia 28 de junho, Ribeirão Preto recebe o Lipedema Ribeirão, evento dedicado à conscientização e combate ao lipedema, uma condição crônica e ainda pouco conhecida, que afeta especialmente as mulheres e costuma ser confundida com obesidade ou retenção de líquidos. A iniciativa acontecerá das 9h às 12h, no Parque das Artes, com entrada gratuita.
O encontro propõe uma abordagem multidisciplinar da doença, com foco nas três áreas mais relevantes para o tratamento e controle do lipedema: médica, nutricional e fisioterapêutica. A médica Ana Flávia Andrade, especializada no diagnóstico e tratamento do lipedema e idealizadora da iniciativa, destaca a urgência de ampliar o conhecimento sobre a doença, especialmente durante o Junho Roxo.
O lipedema ainda é invisibilizado. Muitas mulheres escutam por anos que é ‘só engordar nas pernas’ ou que ‘não se esforçam o suficiente’. Isso gera culpa, frustração e sofrimento físico e emocional. Precisamos mudar essa realidade com informação de qualidade”, afirma Dra. Ana Flávia.
Além disso, haverá um aulão funcional com educadora física, reforçando a importância da atividade física no cuidado com o corpo e a saúde vascular. A programação também inclui café da manhã saudável com frutas, tendas de serviços gratuitos, como aferição de pressão arterial, orientações médicas e fisioterapêuticas específicas para o lipedema e sessões de drenagem linfática e atendimento e esclarecimento de dúvidas com profissionais especializados.
O Lipedema Ribeirão é mais do que um evento, é um movimento de informação, força e acolhimento. Muitas mulheres sofrem com dores e inchaços sem saber que têm lipedema. Nosso objetivo é dar visibilidade ao tema, orientar e empoderar essas pessoas com conhecimento e acesso”, diz a Dra. Ana Flávia.
Como apoiador, o Instituto Gigantes do Amanhã também estará presente no evento. A instituição promove ações de educação, esporte, lazer e saúde para a população. O objetivo é fomentar a inclusão, o crescimento e o bem-estar, além de gerar oportunidades para toda a comunidade.
O Lipedema Ribeirão é aberto a toda a comunidade e é uma excelente oportunidade para conhecer mais sobre essa condição que afeta a autoestima, a qualidade de vida e a saúde de muitas mulheres brasileiras. Para aqueles que quiserem participar do grupo de whatsapp do evento, trocar informações sobre o Lipedema Ribeirão, é só acessar este link e entrar no grupo.
Sinais de alerta do lipedema
O cirurgião plástico Rafael Erthal e a médica Ana Flávia Andrade relacionam os sinais clássicos que acendem um alerta para o lipedema:
- Acúmulo de gordura desproporcional nas pernas (e às vezes nos braços);
- Desproporção entre pernas volumosas e tronco mais fino;
- Dor ao toque leve e sensação de peso nas pernas;
- Facilidade em formar hematomas;
- Inchaço que piora ao longo do dia, mas com preservação dos pés;
- Gordura firme, irregular e resistente à perda de peso, mesmo com dietas e treinos rigorosos;
- Sensibilidade aumentada nas regiões afetadas, limitando atividades cotidianas.
- Tendência a hematomas frequentes;
- Pés e mãos livres de inchaço (diferente do linfedema).
Diagnóstico e tratamento: ciência e acolhimento
O diagnóstico é clínico, feito com base em avaliação médica e histórico da paciente. “A maioria das pacientes que atendo já passou por inúmeras dietas, tentativas de emagrecimento e até cirurgias que não resolveram o problema. O primeiro passo é reconhecer que o lipedema existe e pode ser tratado com uma abordagem correta e respeitosa”, explica a especialista.
O tratamento do lipedema é individualizado e pode incluir:
- Alimentação com foco anti-inflamatório;
- Atividades físicas com baixo impacto articular (como hidroginástica e caminhada);
- Terapias físicas como drenagem linfática manual e uso de meias compressivas;
- Em casos moderados e graves, lipoaspiração específica para lipedema, um procedimento cirúrgico seguro quando bem indicado.
O objetivo principal é devolver mobilidade, qualidade de vida e autoestima às mulheres. O Junho Roxo é um convite para acolhermos essas histórias e trazermos luz ao que ainda é negligenciado”, reforça Dra. Ana Flávia Andrade.