O jornalista potiguar Fernando Campos, de 31 anos, foi diagnosticado com um retinoblastoma bilateral quando tinha apenas 1 ano e meio. Sem acesso a tratamentos no Brasil, ele foi levado para a Filadélfia (EUA), na Casa Ronald McDonald, onde ficou cerca de 11 meses.  Lá, passou por quimioterapia e radioterapia e teve que ser submetido a uma  enucleação, que é a retirada dos globos oculares, para evitar que a doença se espalhasse em seu organismo.

Na volta ao Brasil, sua família decidiu fundar, em 1995, a Casa de Apoio à Criança com Câncer Durval Paiva, instituição que se tornou referência no Brasil, oferecendo suporte a crianças carentes com câncer. E Fernando se tornou ativista em prol das pessoas com deficiência. Como jornalista, passou a dar palestras sobre sua luta contra o câncer, inclusão e pertencimento.

Neste Dia Nacional das Pessoas com Deficiência Visual, celebrado em 13 de dezembro,  Fernando ressalta a importância da inclusão e dos direitos das pessoas com deficiência.

A verdadeira inclusão não é só sobre adaptar espaços, é sobre mudar mentalidades. Todos têm algo valioso a oferecer e agregar, e é hora de reconhecermos o potencial de cada pessoa, independentemente de suas realidades diversas”, afirma Fernando, que é é natural da cidade de Natal (RN).

O jornalista também se destacou no esporte e na publicidade e lançou em 2021 o livro “Enxergando além do Atlântico”, compartilhando sua experiência de intercâmbio na Inglaterra. Ativo nas redes sociais, ele também usa sua plataforma para promover a causa LGBTQIAPN+ e combater preconceitos com humor e inteligência.

Abaixo, veja a entrevista de Fernando ao Portal Vida e Ação:

Como seus pais receberam o diagnóstico? Foi difícil descobrir a doença?

Receberam de forma arrasadora. Não tem como receber um diagnóstico desse de uma forma tranquila. O câncer, ainda hoje, é muito assustador. O diagnóstico é uma notícia difícil de se receber. Para muitos ainda, ele chega como uma sentença de morte. É assustador, é devastador. Seja para criança, seja para adulto.  A gente nunca espera que vá acontecer com a gente.  Sobretudo quando é com criança, pois elas devem brincar, curtir, tem que ser feliz e não tá enfrentando um tratamento oncológico.

Eu fui diagnosticado em Natal, ainda na minha cidade de origem. No começo, algumas pessoas da família começaram a identificar manchinha no meu olho, começaram a notar meu olho um pouco branquinho, e aí nós levamos ao médico e tivemos o diagnóstico. A partir do momento que a gente levou para o médico, chegamos rapidamente ao diagnóstico correto. Meus pais me levaram a São Paulo, e depois, para os Estados Unidos, onde eu fiz o meu tratamento.

Você recuperou uma parte da visão após o tratamento nos EUA? 

Não recuperei a visão depois do tratamento, porque chegou um momento que eu precisei fazer a enucleação dos globos oculares. Eu retirei os globos oculares, eu uso prótese dos oculares hoje em dia. A gente precisou retirar porque o tumor estava avançando bastante e a gente, ele já não estava mais respondendo ao tratamento. E se ele continuasse a crescer, correria o risco dele se espalhar para outros órgãos. Então, para evitar uma metástase e que ficasse mais difícil, a gente precisou fazer a enucleação e foi assim que eu venci o câncer, mas perdi a visão.

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Hoje este tratamento existe no Brasil? É acessível (pelo SUS ou plano de saúde)?

Ao longo desses 30 anos a tecnologia e a ciência avançaram e com isso o tratamento oncológico também. Nós temos no Brasil o tratamento do retinoblastoma e a referência no país é o Graac de São Paulo. Porém uma entrave que nós ainda enfrentamos e que promete muito o diagnóstico precoce é a localidade dos centros especializados. Não só do retinoblastoma como de qualquer tipo de câncer.

Vocês podem me dizer – “Poxa, mas São Paulo?” Sim, tudo converge para São Paulo no país. Porém, nós vivemos no país continental onde a informação do câncer não chega a muitos lugares. A dificuldade de se locomover daquele lugar, se imaginem, aqui no interior do Nordeste, lá no interior do Norte, para chegar em São Paulo, é muito difícil.

Então, a grande barreira que a gente enfrenta é a especificidade, as distâncias, a especificidade desses locais, a chegada a tempo sobretudo, porque quanto mais cedo foi diagnosticado o câncer infantil, melhor. E sim, é acessível, é democrático, é pelo SUS, inclusive!

Qual a importância da campanha ‘De Olho nos Olhinhos’, criada por Thiago Leiffert e sua esposa Diana? 

É muito importante que artistas como eles deem essa visibilidade, essa voz para que cada vez mais as pessoas conheçam e tenham consciência dos sinais e sintomas do retinoblastoma e do câncer infantil no geral. Nos últimos dois anos eu participei da campanha de forma mais efetiva, tanto fazendo vídeos em Natal, como indo presencialmente em São Paulo.

A Casa Durval Paiva, que é a instituição fundada pela minha família após o meu tratamento oncológico, é a que encabeça a campanha de sinais aqui em Natal. Estou sempre em contato com Diana, sobretudo. Para que a gente consiga ser uma força de chegar cada vez a mais pessoas.

Dia Nacional das Pessoas com Deficiência Visual

No Dia Nacional das Pessoas com Deficiência Visual, celebrado em 13 de dezembro, foi criado para destacar a importância de garantir acessibilidade, educação, mobilidade e autonomia, visando à plena participação dessas pessoas na sociedade. É um momento para conscientizar sobre a prevenção de doenças oculares e destacar a importância da reabilitação visual, especialmente para aqueles que enfrentam desafios visuais desde a infância.

O mês de dezembro é também conhecido como o mês das deficiências. No dia 3, foi celebrado o Dia Internacional da Pessoa com Deficiência, criada pela ONU em 1992 para combater a discriminação e eliminar barreiras existentes na sociedade. Outras duas datas nacionais marcam a agenda PcD no Brasil: o Dia da Acessibilidade (5) e o Dia da Criança com Deficiência (9).

Leia mais no Especial Inclusão deste mês

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