A morte recente de uma empresária de 31 anos em São Paulo após se submeter a uma hidrolipo em uma clínica sem estrutura, ampliou o olhar sobre a lipoaspiração. O procedimento cirúrgico mais procurado no Brasil, que já é o segundo país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, segundo dados da Sociedade Internacional de Cirurgia Plástica Estética (International Society of Aesthetic Plastic Surgery, ISAPS), o
A lipoaspiração é seguida pelos procedimentos cirúrgicos para aumento de seios, correção de pálpebras e abdominoplastia. Entre as intervenções não cirúrgicas, a aplicação de toxina botulínica é a campeã, seguida por preenchimentos faciais com ácido hialurônico, depilação a laser, bioestimuladores de colágeno, além dos tratamentos para redução de gordura localizada.
O aumento no número de procedimentos levou a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) a divulgar um alerta recente, destacando que a “prática de procedimentos com finalidade estética exige profundo conhecimento não só do procedimento em si, mas também sobre as possíveis intercorrências e complicações que podem ocorrer durante ou após o procedimento”.
Para Jéssica Ramos, infectologista e doutora em Ciências pela Universidade de São Paulo (USP), a preocupação é pertinente. “Até mesmo procedimentos considerados simples podem levar a sérios problemas de saúde se não forem realizados por profissionais qualificados ou se não seguirem rigorosamente as normas de segurança necessárias” , explica a especialista.
IRAS – Infecções Relacionadas à Assistência em Saúde
A especialista chama atenção para as Infecções Relacionadas à Assistência em Saúde (IRAS), adquiridas durante a prestação de cuidados de saúde, podendo ocorrer em qualquer ambiente onde procedimentos médicos ou estéticos sejam realizados. No caso de procedimentos estéticos, o risco de IRAS aumenta em tratamentos invasivos, quando a barreira protetora da pele é rompida, facilitando a entrada de microrganismos.
A falta de higiene, a esterilização inadequada dos equipamentos, o uso de produtos contaminados e erros técnicos podem contribuir para o surgimento dessas infecções, que podem variar de leves a graves, exigindo cuidados médicos imediatos”, ressalta a médica.
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Conheça as bactérias mais comuns em procedimentos estéticos
Entre as bactérias mais comuns associadas às infecções em procedimentos estéticos, Dra Jéssica destaca quatro especificamente:
- Staphylococcus aureus (incluindo MRSA): Essa bactéria está frequentemente associada a infecções de pele, feridas cirúrgicas, e pode causar abscessos e infecções graves, como septicemia (a infecção generalizada), que pode levar à morte.
- Pseudomonas aeruginosa: frequentemente encontrada em ambientes de saúde, esta bactéria pode levar a infecções em feridas, especialmente em procedimentos cirúrgicos e tratamentos invasivos.
- Mycobacterium: conhecidas por causar infecções de pele após procedimentos como lipoaspiração e preenchimentos faciais, essas bactérias podem ser difíceis de tratar e requerem terapia antibiótica prolongada.
- Escherichia coli (E. coli): embora normalmente presente no intestino humano, quando introduzida acidentalmente em feridas, pode causar infecções graves.
Cuidados importantes
Para a Dra. Jessica, a principal forma de evitar a infecção começa na escolha do profissional e do local em que será realizado o procedimento. “Procedimentos estéticos devem ser feitos apenas por médicos, que são profissionais habilitados para administrar as eventuais complicações”.
Por isso, antes de contratar este tipo de serviço, é importante verificar se o profissional é médico, qual a sua especialização, se o local tem licenciamento e até buscar referências, optando por alguém que tenha boa reputação e bom histórico.
Além da escolha, a Dra. Jessica enfatiza a importância do cuidado pré e pós-operatório, incluindo a limpeza adequada do local em que foi (será) feito o procedimento (idealmente em centros cirúrgicos hospitalares) e o monitoramento de sinais de infecção.
A conscientização sobre os riscos é essencial, especialmente com o aumento de intervenções estéticas, que, embora seguras quando realizadas corretamente, podem apresentar riscos quando os protocolos de saúde não são seguidos rigorosamente”, finaliza a especialista.