Durante o outono e já se aproximando a chegada do inverno, o tempo muda, a temperatura cai e os prontos-socorros pediátricos voltam a encher. Tosse, coriza, espirros e até febre são queixas comuns nessa época do ano, especialmente entre os pequenos. A combinação de clima seco, ambientes fechados e circulação de vírus e bactérias cria o cenário perfeito para a disseminação de doenças respiratórias.

Para piorar, a qualidade do ar não ajuda e a poluição, sobretudo nas grandes cidades, é outro grande inimigo. Cerca de 465 crianças menores de cinco anos morrem por dia no Brasil por doenças potencialmente causadas ou agravadas pela poluição do ar. Esse dado alarmante faz parte de um relatório do Health Effects Institute, em colaboração com o Unicef, divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

O documento científico “Estado do Ar Global” alerta para o impacto da poluição na saúde infantil e revela que, em 2021, a poluição do ar foi responsável por 8,1 milhões de mortes no mundo, sendo 700 mil de crianças com menos de cinco anos. No Brasil, foram 169,4 mil vítimas fatais nessa faixa etária, a maioria por infecções respiratórias agudas, doenças das artérias coronárias e doença pulmonar obstrutiva crônica.

Entre os principais vilões dessa temporada estão o rinovírus, o vírus da gripe (influenza), o adenovírus e o temido Vírus Sincicial Respiratório (VSR), principal causador da bronquiolite, uma inflamação nos bronquíolos, que afeta especialmente bebês e crianças com menos de dois anos.

Em 2024, foram realizados mais de 3 milhões de atendimentos relacionados a infecções respiratórias infantis, número que tende a crescer nos próximos meses com a intensificação do inverno. O SUS também oferece atendimento gratuito, exames e suporte hospitalar para casos mais severos de bronquiolite.

Segundo Cid Pinheiro, coordenador da Pediatria do Hospital São Luiz Morumbi, da Rede D’Or, “essas infecções costumam se intensificar de março a agosto, por causa da sazonalidade dos agentes infecciosos e dos hábitos da população, como aglomeração em locais fechados e pouca ventilação”.

Casos aumentam em diversas capitais e acendem alerta entre profissionais de saúde

O perigo da bronquiolite nas crianças pequenas

A bronquiolite é causada principalmente pelo VSR, responsável por até 80% dos casos da doença em crianças menores de dois anos. A infecção inflama os bronquíolos, pequenas vias aéreas dos pulmões, dificultando a respiração.

Os sintomas iniciais incluem coriza, tosse e febre baixa, mas podem evoluir rapidamente para chiado no peito, respiração acelerada e dificuldade para mamar ou dormir.  Embora possa ocorrer em qualquer época do ano, os casos de bronquiolite aumentam significativamente no inverno devido ao maior tempo em ambientes fechados e à maior proximidade entre as pessoas.

De acordo com a pediatra Karoliny Veronese, da Kora Saúde, “a bronquiolite é uma infecção viral das vias aéreas inferiores que provoca inflamação nos bronquíolos. Isso leva ao acúmulo de líquido nos pulmões, dificultando a troca gasosa e causando sintomas como chiado, tosse, febre e, em casos graves, insuficiência respiratória”.

“Temos visto um comportamento diferente dos vírus e casos de bronquiolite acontecendo ao longo de todo o ano”, destaca a médica. “O principal causador da bronquiolite é o VSR, mas outros vírus também podem estar associados, como adenovírus, coronavírus e até o da gripe”.

Diferença da bronquiolite para a asma

Se não tratada corretamente, a bronquiolite pode levar a quadros mais graves, como insuficiência respiratória, broncoespasmo prolongado ou pneumonia bacteriana secundária. “É uma doença aguda, que não se cronifica, mas o acúmulo de secreção pode facilitar outras infecções”, alerta a médica.

Ela reforça que a doença não está relacionada ao desenvolvimento de problemas respiratórios crônicos no futuro, como a asma. “A bronquiolite é uma virose que vai, agride o pulmão e passa. Já a asma tem um componente genético e é uma condição crônica”, explica.

É fundamental procurar um médico ao primeiro sinal de dificuldade respiratória, pois a bronquiolite pode evoluir rapidamente para um quadro grave, exigindo até mesmo intubação”, alerta Karoliny.

O diagnóstico é feito por meio de avaliação clínica e pode ser confirmado por exame de swab nasal, semelhante ao usado na detecção de Covid-19, para identificar a presença do vírus.

Amamentação e cuidados gerais

De acordo com a pediatra, a amamentação é uma das melhores formas de proteção contra infecções em geral, pois transfere anticorpos da mãe para o bebê, inclusive anticorpos contra o vírus da Covid-19, por exemplo.

Além disso, ela reforça medidas aprendidas durante a pandemia, como higiene das mãos, uso de máscara em caso de sintomas respiratórios e evitar contato com pessoas doentes.

Mão de neném não se beija, mão de neném não se pega. Bebê recém-nascido não deve participar de festas, ir a shoppings ou receber visitas de pessoas gripadas. São medidas simples, mas que fazem toda a diferença para a saúde dos nossos pequenos”, finaliza Karoliny.

Novas vacinas para conter o avanço do VSR

Em resposta ao aumento dos casos, o Ministério da Saúde incorporou ao Sistema Único de Saúde (SUS) duas novas tecnologias para prevenir complicações causadas pelo VSR: o anticorpo monoclonal nirsevimabe, da marca Beyfortus, indicado para proteger bebês prematuros e crianças de até 2 anos com comorbidades.

Já a vacina recombinante contra os vírus sinciciais respiratórios A e B, aplicada em gestantes, que passam os anticorpos para o bebê ainda na barriga, protegendo o bebê nos primeiros meses de vida. Estudos indicam que a vacinação de gestantes pode prevenir aproximadamente 28 mil internações anuais.

Esses anticorpos prontos não impedem a infecção, mas reduzem significativamente os casos graves da doença. Ambas as vacinas têm duração de proteção de aproximadamente seis meses e devem ser aplicadas antes do período de maior circulação do vírus — o inverno”, afirma a pediatra Karoliny.

Bronquiolite: o papel das famílias na prevenção
Segundo Carmen Elias, pediatra e docente do Instituto de Educação Médica (Idomed), além do reforço à infraestrutura hospitalar, o enfrentamento à bronquiolite depende da conscientização das famílias.
Os ambientes devem ter uma boa ventilação e a higiene de objetos e superfícies têm que ser rigorosas. Durante os meses mais frios, os adultos podem limitar / evitar o contato de bebês com pessoas gripadas. É de extrema importância manter o aleitamento materno exclusivo, que é fundamental nesta prevenção”, comenta a pediatra.
De acordo com a especialista, as creches e os espaços de convivência infantil deverão adotar protocolos de prevenção, com treinamento de educadores para identificar sinais de agravamento, evitando surtos e encaminhando os pequenos casos ao atendimento adequado o quanto antes.
Para ele, a atuação conjunta entre famílias, escolas e profissionais de saúde é determinante para reduzir a pressão sobre o sistema e salvar vidas. Na visão dela, a caderneta de vacinação atualizada é a melhor forma de prevenção.

7 dicas para proteger as crianças das doenças respiratórias

Para ajudar as famílias a atravessar esse período com mais saúde e menos preocupações, separamos 7 dicas essenciais de prevenção:

1. Ventile os ambientes: evite manter janelas e portas fechadas por muito tempo. O ar parado facilita a transmissão de vírus e bactérias.

2. Lave bem as mãos: a higiene das mãos continua sendo uma das formas mais simples e eficazes de evitar doenças.

3. Cubra nariz e boca ao tossir ou espirrar: use lenços descartáveis ou o antebraço. E ensine as crianças a fazer o mesmo!

4. Evite locais cheios e fechados: ambientes com aglomeração aumentam o risco de contaminação, principalmente para os pequenos.

5. Fique atento à hidratação: beber bastante água ajuda a manter as vias respiratórias hidratadas e mais protegidas.

6. Use máscara se estiver com sintomas: mesmo com a redução da obrigatoriedade, a máscara ainda é uma aliada em tempos de infecções respiratórias.

7. Vacinas em dia: mantenha a carteirinha de vacinação atualizada — ela é uma das formas mais seguras de prevenção.

Atenção aos sinais de alerta: Em bebês e crianças pequenas, respiração acelerada, uso excessivo da musculatura do tórax e febre persistente são sinais de que algo mais sério pode estar acontecendo. “Nesses casos, o ideal é procurar atendimento médico”, orienta o especialista do São Luiz Morumbi.

Dados sobre o crescimento do VSR

Com a chegada do inverno, unidades de saúde em todo o Brasil registram um aumento significativo nos casos de bronquiolite, uma infecção viral que afeta principalmente crianças de até dois anos de idade. Dados recentes da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) indicam um crescimento de 110% nos casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) em crianças de 0 a 4 anos entre fevereiro e março deste ano, com o Vírus Sincicial Respiratório (VSR) sendo o principal agente identificado.
No estado do Rio de Janeiro, por exemplo, os casos de bronquiolite aumentaram 19% nos três primeiros meses de 2025 em comparação ao mesmo período do ano anterior. Em Belo Horizonte, as hospitalizações de crianças menores de um ano por síndromes gripais graves cresceram 40% em apenas uma semana.
Além disso, o Distrito Federal registrou um aumento de 685% nos atendimentos por sintomas gripais na primeira quinzena de maio. Segundo dados recentes do Ministério da Saúde, os atendimentos por complicações respiratórias cresceram mais de 40% em algumas capitais nas últimas semanas.

Com Assessorias

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