No mês de conscientização sobre a doação de órgãos, o Setembro Verde, uma pesquisa aponta que o brasileiro desconhece os desejos de seus familiares e amigos em relação ao tema. Seis em cada 10 brasileiros (60,2% dos entrevistados) não sabem dizer se integrantes do seu núcleo familiar (pais, irmãos e filhos) têm o desejo de doar órgãos.

O dado é de pesquisa com mais de 200 pessoas realizada pelo Grupo Zelo, maior empresa de serviços funerários do Brasil. Perguntados, ainda, se têm conhecimento de pessoas do seu círculo de relacionamento que foram doadores após falecerem, 60,5% informam desconhecer a informação. Entre os entrevistados, 86,2% afirmaram conhecer menos de cinco pessoas que foram doadoras de órgãos.

De acordo com o Ministério da Saúde, apesar da ampliação da discussão do tema nos últimos anos, a doação de órgãos ainda é um assunto polêmico e de difícil entendimento, o que provoca um alto índice de recusa familiar. Um estudo da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) identificou três motivos principais para a alta taxa de recusa, que não ocorre só no Brasil: incompreensão da morte encefálica, falta de preparo da equipe para fazer a comunicação sobre a morte e religião.

Projeto de Lei prevê doação presumida dos órgãos no Brasil

Atualmente, mais de 40 mil pessoas em todo o Brasil estão na fila do transplante. Além disso, segundo a  Sociedade de Nefrologia do Estado (Sonerj), o índice de recusa familiar para doações é de 49%. Desinformação e incompreensão sobre o que é morte encefálica estão entre os principais motivos para as negativas.

Conforme diretrizes do SUS, a doação de órgãos deve ser consentida e, quem quiser ser um doador, basta comunicar a família sobre esse desejo. Segundo o Ministério da Saúde, para doar órgãos é muito simples: basta a autorização da família da pessoa que faleceu, não há burocracia envolvida.

O tema está em debate na Câmara dos Deputados, onde corre atualmente o Projeto de Lei 1.774/2023, que institui a doação presumida de órgãos no Brasil. A proposta, que ganhou apoio do apresentador Fausto Silva, o Faustão, recém-transplantado do coração, presume a doação pós-morte de tecidos, órgãos e partes do corpo para transplante ou outra finalidade terapêutica, ficando descartado o processo apenas no caso de manifestação de vontade pelo contrário.

De acordo com o substituto do tabelião, Thiago Martins, do Cartório Paulista, de São Paulo, hoje, no Brasil, vigora a Lei Federal 9.434, de 1997, que determina que para que haja a doação de órgãos é necessária a autorização do cônjuge ou parente. Desta forma, a doação não ocorrerá senão houver esta autorização.

No entanto, este é um assunto nem sempre discutido no âmbito familiar e quando ocorre o falecimento, não se sabe se esta era ou não a vontade da pessoa.  Diferentemente do que se possa imaginar, não existe nenhum registro em cartório no trâmite, por exemplo, basta que um familiar esteja ciente da intenção do doador. Para quem deseja ser um doador é possível também fazer uma escritura pública de declaração, expressando esta vontade, em um cartório de notas.

“Quando ocorrer o falecimento desta pessoa, os parentes saberão que esta era a vontade do falecido e a farão cumprir por meio desta autorização lavrada em cartório. No entanto, é importante ressaltar que a doação só ocorrerá, mesmo com a escritura de declaração, se a família autorizar”, explica Martins. Segundo ele, um simples documento poderá aumentar o número de doadores e, por consequência, a quantidade de vidas salvas.

Exame de tipagem HLA é fundamental para o sucesso dos transplantes de órgãos

Se alguém da sua família precisar de uma doação de órgãos, você sabe que é preciso realizar diversos exames de compatibilidade entre doador e receptor? E um dos mais importantes é a análise genética molecular dos genes do sistema HLA (também chamada de tipagem HLA do indivíduo, que coordenam a produção de proteínas HLA, localizadas nas membranas celulares.

Quando uma pessoa precisa receber um órgão por meio de um transplante é necessário que esses genes (do sistema HLA) sejam o mais semelhantes possível, ou seja, histocompatibilidade – compatibilidade entre os tecidos para que o transplante tenha mais sucesso e não haja rejeição e perda do órgão.

De acordo com a coordenadora de Ciência, Inovação e Tecnologia do Laboratório São Paulo, Cláudia Assunção, a avaliação do grau de histocompatibilidade entre duas pessoas compreende a análise molecular dos genes HLA e o resultado de ambas as pessoas é comparado e assim definido o grau de histocompatibilidade, que quanto maior melhor.

Ela explica que há vários genes nos locus HLA-A, HLA-B ou HLA-C (classe I) e DQ e DR (classe II) que codificam as proteínas de superfície celular. Esses genes, estão presentes em todas as células nucleadas humanas, participam da identificação e resposta imunológica a substâncias estranhas ao organismo, ou seja, aos antígenos.

“Eles formam um sistema polimórfico complexo, fazendo com que os órgãos de um indivíduo contenham moléculas na superfície de suas células diferentes daqueles encontrados em outra pessoa, apenas gêmeos univitelinos possuem moléculas idênticas, quando um gêmeo precisa de doação o melhor doador é o seu gêmeo, mesmo que ao longo dos anos o DNA do irmão tenha mudado um pouco, devido as mutações que adquirimos durante a vida”, esclarece.

São Paulo registra aumento de 8% em transplantes do coração

De janeiro a junho de 2023, o Brasil registrou mais de 1,9 mil doadores efetivos de órgãos. Esse é um número recorde de doações, quando comparados números do mesmo período dos últimos dez anos, e possibilitou a realização de mais de 4,3 mil transplantes. Segundo dados do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), esse quantitativo representa aumento de 16% no número absoluto de transplantes de órgãos, quando comparado com o mesmo período de 2022.

No Estado do Rio de Janeiro, o programa RJ Transplantes registrou um aumento de 14% no número de doadores de órgãos no primeiro semestre deste ano. Já a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES) registrou, entre janeiro e agosto deste ano, um aumento de 8% no número de transplantes de coração realizados em comparação com o mesmo período de 2022.

Foram 97 procedimentos contra 90 no ano passado, o maior alcance dos últimos seis anos. O número de doadores também cresceu e atingiu níveis equivalentes aos anos anteriores ao início da pandemia de Covid-19. A pasta também informa que, nos oito primeiros meses de 2023, foram realizados 5.875 transplantes no estado de São Paulo, um crescimento de 9,5% em relação aos 5.360 realizados em 2022.

Os transplantes de córnea lideram a lista dos procedimentos, com 3.956 no total, seguidos pelos rins, com 1.281. Já os de fígado foram os que apresentaram maior crescimento no período, aumentando 30,4% em 2023, com 90 procedimentos, frente aos 69 realizados até agosto do ano passado. Rins, córneas e fígado são os órgãos com maior demanda no estado.

Tempo de espera varia de um a três meses

O tempo de espera por um transplante é variável e depende da disponibilidade do órgão que será transplantado. Em média, um coração é disponibilizado para potenciais receptores do grupo sanguíneo B em um período de 1 a 3 meses.

A distribuição dos órgãos dos doadores segue critérios técnicos definidos por lei, como tipagem sanguínea, compatibilidade de peso, altura e genética, assim como risco iminente de morte de quem espera pelo procedimento.

O coordenador do Sistema Estadual de Transplantes de São Paulo, Francisco Monteiro, explica que a legislação estabelece vários parâmetros para priorizar o paciente que estiver mais grave.

“Por exemplo, no caso do coração, uma pessoa que tem dificuldade de andar, fica cansada, precisa tomar medicamento na veia 24 horas por dia, necessitando estar internada para a administração deste medicamento, para ajudar o coração a bater mais forte, isso é um critério de priorização – essa pessoa é mais grave do que aquela que também está esperando em casa”.

A Central de Transplantes destaca que doar órgãos e tecidos é fundamental para ajudar a salvar vidas. Além disso, reforça a orientação de que haja diálogo entre as famílias sobre o desejo de ser ou não doador de órgãos, pois isso facilita a tomada de decisão.

Rio ilumina pontos turísticos de verde

Roda gigante no Rio de Janeiro é iluminada na cor verde para chamar atenção para doação de órgãos (Fotos e vídeos: Michel Nicolay / Sonerj)

Instituído pela Lei 11.584/2007, o Dia Nacional da Doação de Órgãos (27 de setembro) visa conscientizar a sociedade sobre a importância da doação e estimular as pessoas a conversar com seus familiares e amigos sobre o assunto. O Cristo Redentor, no Rio de Janeiro, será iluminado na cor verde em alusão à data. A iluminação do monumento acontece nesta quarta-feira (27), das 18h às 19h, e faz parte da campanha de conscientização promovida pelo Ministério da Saúde com o tema “Doe uma segunda chance, doe órgãos e que tem como embaixador o ator Marcos Frota.

Também na noite desta quarta-feira, o Parque Bondinho Pão de Açúcar terá a sua iluminação trocada para a cor verde, como parte da campanha ‘Setembro Verde’, da Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, em homenagem à data. O ponto turístico também está preparando conteúdos internos e posts em suas redes sociais para alcançar ainda mais pessoas sobre a importância do tema.

Para somar esforços nessa luta, a roda-gigante Yup Star, localizada no Porto Maravilha, uniu-se à campanha da Sociedade de Nefrologia do Estado (Sonerj) pelo tema. Desde domingo (24) até a noite desta quarta, a roda-gigante, que tem 88 metros de altura e é um dos principais cartões-postais da cidade, conta com uma iluminação especial, projetando a frase “Doe órgãos. Converse com sua família”.

Reforçando a campanha, no último domingo, cerca de 30 crianças da Fundação do Rim, que estão na lista de espera por transplante, estiveram na roda-gigante, ao lado de médicos, enfermeiros e assistentes sociais, para uma ação de conscientização sobre o tema. O evento na Yup Star teve atividades lúdicas, distribuição de camisetas, entre outras iniciativas.

Com Assessorias 

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