O fim de ano é tradicionalmente um período marcado por celebrações, reencontros familiares e festas. No entanto, para algumas pessoas, esse momento pode ser desafiador, despertando sentimentos de tristeza, solidão e até mesmo ansiedade. Perdas de entes queridos, término de relacionamentos, problemas de saúde ou situações de isolamento social são fatores que podem tornar a época ainda mais difícil.

De acordo com Julia Oliveira, coordenadora do Serviço de Psicologia do Hospital e Maternidade São Luiz Campinas, da Rede D’Or, é comum que o luto e o isolamento se intensifiquem durante esse período, pois as festividades evocam memórias afetivas e podem acentuar a sensação de ausência.

As festas de fim de ano muitas vezes reforçam a necessidade de celebração e felicidade, mas para quem está passando por um momento de luto ou enfrentando desafios emocionais, essas cobranças podem aumentar o sofrimento”, explica a psicóloga.

A especialista reforça que validar os sentimentos é essencial para enfrentar esse período de maneira saudável. “Ignorar ou reprimir emoções como tristeza e solidão pode gerar estresse crônico, ansiedade e até problemas físicos, como distúrbios do sono e dores musculares. Permitir-se sentir essas emoções, sem julgamento, é o primeiro passo para processá-las de forma adequada”, afirma Julia.

A especialista ressalta que é essencial evitar a sobrecarga emocional. “Estabelecer limites saudáveis e aprender a dizer ‘não’ a convites ou demandas que não façam sentido para você pode evitar um estresse maior. Lembre-se de que não há problema em vivenciar o período de maneira diferente ou mais introspectiva.”

As festas de fim de ano não precisam seguir um modelo convencional ou idealizado. “Respeitar o seu tempo, acolher suas emoções e praticar o autocuidado são as melhores formas de cuidar da sua saúde mental nesse período”, reitera a psicóloga do São Luiz Campinas.

Peso invisível do Natal desafia a saúde mental dos brasileiros

Psicanalista ensina como lidar com a pressão emocional

Natal, frequentemente associado a celebrações e união familiar, também pode ser uma época de grande desgaste emocional. Pesquisas recentes indicam que o nível de estresse da população cresce significativamente no fim de ano, impulsionado por fatores como expectativas sociais, pressão financeira e sentimentos de solidão.

A psicanalista Ana Lisboa, fundadora e CEO do Grupo Altis – startup voltada para negócios sistêmicos e universidade reconhecida pelo MEC e especializada em saúde mental feminina -, observa que a idealização do “Natal perfeito” pode ser prejudicial.

Natal cria uma ideia de que tudo precisa estar em harmonia: a família unida, a ceia impecável e as emoções equilibradas. Quando isso não acontece, as pessoas sentem que fracassaram, o que pode desencadear ansiedade e tristeza”, explica.

Além disso, muitas pessoas relatam uma sensação de solidão mais intensa durante as festas, mesmo em meio a confraternizações. Ana explica que esse sentimento é exacerbado pelas redes sociais, que frequentemente exibem imagens de celebrações idealizadas. “A exposição constante a essas comparações faz com que muitos se sintam insuficientes ou desconectados, como se estivessem ‘ficando para trás'”, alerta.

As mulheres, segundo Ana, frequentemente enfrentam uma sobrecarga ainda maior nesse período. Pesquisas apontam que grande parte delas assume a responsabilidade principal pela organização das festividades, desde os preparativos até a gestão emocional dos familiares. “Elas carregam o peso da logística e do cuidado com os outros, o que muitas vezes resulta em exaustão física e emocional”, destaca.

Para aliviar esses impactos, Ana Lisboa sugere algumas práticas simples e eficazes. “É essencial aprender a dizer não. Não precisamos atender a todas as demandas ou aceitar todos os convites. Colocar os próprios limites e priorizar o autocuidado são passos importantes para preservar a saúde mental”, recomenda.

Ela também enfatiza a importância de buscar momentos de conexão verdadeira. “Participar de atividades voltadas ao bem-estar, como meditação ou até encontros menores e significativos, pode ajudar a diminuir a pressão emocional dessa época”, diz Ana.

Por fim, a psicanalista reforça que o Natal não precisa ser perfeito para ser significativo. “O mais importante é criar momentos que tragam sentido e paz, independentemente das expectativas externas. O foco deve estar naquilo que realmente importa, seja uma conexão consigo mesmo ou com os outros”, conclui.

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6 dicas para romper o ano com equilíbrio emocional

Entre as recomendações para atravessar o fim de ano com mais equilíbrio emocional, a psicóloga Júlia Oliveira sugere:

1-   Adapte as tradições ao que faz sentido para você: Se os eventos festivos parecerem difíceis, encontre novas formas de vivenciar a data ou escolha não participar.

2-   Conecte-se com memórias positivas: Relembrar momentos felizes com entes queridos pode trazer conforto.

3-   Crie novos rituais: Preparar um prato especial, ouvir músicas aconchegantes ou escrever sobre seus sentimentos podem ajudar a ressignificar o período.

4-   Busque apoio: Compartilhar sentimentos com pessoas próximas ou procurar a ajuda de um profissional pode ser um alívio importante. Caso não haja uma rede de apoio disponível, grupos de suporte também podem ser uma alternativa valiosa.

5-   Priorize o autocuidado: Permita-se descansar e realize atividades que promovam bem-estar físico e emocional, como exercícios leves, meditação ou leitura.

6-   Respeite o seu tempo: Cada pessoa tem seu próprio ritmo para lidar com o luto ou outras emoções difíceis. Não se apresse ou se pressione para atender às expectativas externas.

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A importância de ter uma rede de apoio

Caso identifique que alguém próximo está enfrentando dificuldades psicológicas, neste ou em qualquer outro período, o primeiro passo é oferecer acolhimento e escuta.

Muitas vezes, apenas estar disponível para ouvir, sem julgamentos ou pressões, já é um grande alívio para quem está sofrendo. Incentivar a pessoa a procurar sua rede de apoio, como familiares, amigos ou profissionais de saúde mental, é essencial”, orienta Júlia Oliveira.

Caso essa rede não esteja acessível, é possível sugerir grupos de apoio ou especialistas, a fim de evitar que a pessoa enfrente a situação sozinha.

Respeitar o tempo e as emoções da pessoa é fundamental. Não apresse processos como o luto ou a aceitação de sentimentos difíceis, permita que ela vivencie as festividades no ritmo que for mais confortável, sem pressão para “superar” ou se adaptar a um cenário que não condiz com seu estado emocional”, finaliza a psicóloga.

Com Assessorias

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