A morte de Preta Gil, aos 50 anos, trouxe à tona a alta incidência do câncer colorretal no Brasil e chamou a atenção para a necessidade de conscientização sobre a doença, ressaltando a importância do diagnóstico precoce, essencial para aumentar as chances de cura e reforça a necessidade de hábitos saudáveis e exames preventivos.

Entre 2023-2025, a previsão do Instituto Nacional do Câncer (Inca) é de que o Brasil registre 45 mil novos casos anuais de câncer colorretal (também conhecido como câncer de cólon ou câncer de intestino). O tumor é o segundo mais incidente no Brasil e o terceiro no mundo, acometendo homens e mulheres.

Até 2040, segundo estudo da Fundação do Câncer, divulgado em março deste ano, o Brasil deverá ter um aumento de 21% em casos de câncer colorretal. A projeção levanta um alerta diante do cenário global que mostra que os tumores em pessoas com menos de 50 anos cresceram quase 80% nas últimas três décadas, segundo a revista BMJ Oncology.

O câncer colorretal é a doença da modernidade e cada vez mais vem sendo identificado em pessoas com menos de 50 anos. Questões como envelhecimento da população, hábitos alimentares inadequados, sedentarismo e ausência de rastreamento para detecção precoce da doença são fatores que podem contribuir com o aumento, de acordo com especialistas.

O Inca destaca que o seu desenvolvimento está diretamente ligado aos hábitos durante a vida. Sedentarismo, tabagismo, consumo excessivo de álcool e obesidade são indicados entre os fatores que aumentam os riscos da doença, assim como o consumo excessivo de carne vermelha (mais de 500 gramas por semana), e processados, como bacon, salsicha, mortadela e presunto.

A alimentação pobre em frutas, vegetais e carnes magras, associada à obesidade, sedentarismo, consumo de álcool, tabagismo e exposição a pesticidas, contribui significativamente para o aumento da incidência desse tipo de câncer”, explica Sueli Monterroso da Cruz, oncologista clínica da Imuno Santos. “Prevenir o câncer nem sempre é possível, mas adotar um estilo de vida mais saudável pode ser eficaz em alguns casos”, afirma a especialista.

Três hábitos que fazem toda a diferença

Especialistas reforçam que a adoção de hábitos saudáveis pode reduzir significativamente o risco de desenvolvimento de diversos tipos de câncer. Estudos apontam que cerca de 30% dos tumores que atingem o intestino e o reto podem ser evitados com uma mudança expressiva no estilo de vida das pessoas.

Três hábitos fazem toda a diferença: atividade física diária, alimentação equilibrada e rica em fibras, redução do consumo de carne vermelha.   Manter uma alimentação balanceada e praticar atividade física diariamente ou na maior parte da semana pode ajudar na sua prevenção. Não fumar e não se expor ao tabagismo também estão entre as recomendações.

Os hábitos saudáveis de vida vêm sendo cada vez mais incentivados no Brasil e embora a população esteja mais consciente sobre a importância da atividade física diária, o número de pessoas ativas ainda é pequeno. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2021, 36,7% dos brasileiros eram considerados ativos, ou seja, praticavam mais de 150 de atividade física direcionada por semana.

Redução no consumo de carne vermelha

A alimentação equilibrada desempenha papel central nestes cuidados.  Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), a recomendação é limitar o consumo de carne vermelha de 300 a 500 gramas por semana, o que faz com que a porção ingerida diariamente seja menor que um bife do tamanho da palma da mão, além de evitar carnes processadas, como embutidos.

David Pinheiro Cunha, oncologista clínico e sócio do Grupo SOnHe, explica que um dos fatores que justificam o aumento do risco é que a carne vermelha tem uma propriedade, o ferro heme, que libera radicais livres capazes de provocarem mutações nas células do intestino e, por isso, evitar evitar esse tipo de alimento é uma recomendação tão importante.

Respeitar o limite de consumo recomendado pela OMS já é uma forma de se prevenir e, ao mesmo tempo, não é uma medida radical”, alerta o médico. Segundo ele, a redução no consumo da carne vermelha não deve comprometer a absorção de ferro entre as pessoas. “Já está comprovado que as demais carnes ou fontes de proteínas, como a carne branca e o ovo, são capazes de suprir essa necessidade”, reforça o oncologista.

Para David Pinheiro Cunha, incentivar a prática de atividade física entre as pessoas é uma forma simples e eficaz de prevenir o câncer colorretal, que também tem na obesidade um dos fatores de risco para o seu desenvolvimento.

Mesmo diante do fator genético, já é comprovado que as pessoas que mantêm uma alimentação rica em fibras, com baixo consumo de álcool e carne vermelha e fazem atividade física diariamente, têm menos chances de desenvolver a doença”, alerta o médico.

O Inca recomenda optar por alimentos minimamente processados e in natura, como verduras, frutas, legumes, grãos e cereais integrais. Há outros fatores de proteção, como manter o peso corporal ideal, evitar o consumo excessivo de álcoolnão fumarreduzir o estresseter boa qualidade de sonorealizar exames preventivos.

Precisamos incentivar hábitos saudáveis, reduzir o estresse e promover a educação alimentar. Uma dieta rica em frutas, verduras, legumes, fibras e carnes magras, aliada à prática regular de atividade física, ajuda a reduzir significativamente o risco de desenvolver câncer colorretal”, afirma Dra Sueli.

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Sintomas de alerta e diagnóstico

O câncer colorretal é uma doença silenciosa que pode permanecer assintomática em seus estágios iniciais durante anos, o que torna os exames de rastreamento ainda mais importantes. O diagnóstico precoce é crucial para aumentar as chances de tratamento e cura. Os sintomas que indicam a presença do câncer colorretal podem começar de maneira simples e, por vezes, serem confundidos com outras doenças

Sinais como presença de sangue nas fezesdor abdominal constantemudanças no hábito intestinal, como alternância entre prisão de ventre e diarreia; fezes mais finas do que o normal, perda de peso inexplicável aumento abdominal sem explicação aparente não devem ser ignorados e devem ser investigados por um médico.

A doença, que afeta o intestino grosso, tem sido diagnosticada em diferentes fases, e a importância do diagnóstico precoce tem sido ressaltada por eles e por especialistas.Se houver esses sintomas, é preciso procurar um médico especialista, como um oncologista. “Esses indicativos merecem atenção, especialmente se forem persistentes. Quanto mais cedo a doença for identificada, maiores as chances de sucesso no tratamento”, reforça a oncologista.

Exames como pesquisa de sangue oculto nas fezescolonoscopia, tomografia computadorizada ressonância magnética podem auxiliar a detectar sangramentos e lesões pré-cancerígenas que são imperceptíveis e ajudam no diagnóstico inicial. A detecção precoce é crucial na luta contra o câncer colorretal.

Quando fazer a colonoscopia?

O câncer colorretal pode ser diagnosticado de forma precoce por meio da colonoscopopia, exame indicado pelo SUS a todas as pessoas a partir dos 50 anos. A colonoscopia identifica lesões que podem vir a se tornar tumores e, por isso, tem papel fundamental na prevenção do câncer.

No Brasil, porém, a adesão a exames preventivos ainda é baixa e, com o aumento de casos da doença entre pessoas cada vez mais jovens, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica faz um apelo para que o exame seja realizado a partir dos 45 anos entre as pessoas que não tenham indicação genética.

Essa é uma mudança necessária na faixa etária prioritária para esse exame, porque já está comprovado que a doença vem sendo desenvolvida cada vez mais cedo em função do estilo de vida moderno”, pontua o oncologista.

Para indivíduos com histórico familiar de câncer colorretal – cerca de 9% dos casos, segundo a especialista –, os cuidados devem começar ainda mais cedo. “Nesses casos, recomendamos iniciar o rastreamento precocemente, pois a predisposição genética pode antecipar o surgimento da doença”, ressalta a oncologista.

Para Dra. Sueli, além das mudanças individuais, é essencial que os sistemas de saúde adotem estratégias de rastreamento sistemático. Segundo ela, [e fundamental que exames como a colonoscopia a partir dos 40 anos e a pesquisa de sangue oculto nas fezes sejam amplamente acessíveis, pois são métodos eficazes e de baixo custo para rastrear a doença

Precisamos de políticas regionalizadas que garantam programas eficientes de detecção precoce e prevenção. O câncer colorretal tem tratamento e pode ser evitado, mas, sem um protocolo nacional, seguimos vendo um aumento preocupante nos casos”, alerta a oncologista.

Com Assessorias

 

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