Exames simples como a dosagem de creatinina e o parcial de urina, realizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), ajudam no diagnóstico ao indicar condições como insuficiência renal, infecção nos rins, desidratação e até mesmo problemas durante a gravidez. É justamente com o slogan “Saúde dos rins para todos. Ame seus rins. Dose sua creatinina!” que a Sociedade Internacional de Nefrologia, apoiada pela Sociedade Brasileira de Nefrologia (IBN), lança para o Dia Mundial do Rim, que ocorre no dia 12 de março.

O objetivo é alertar a população sobre a importância do diagnóstico precoce da doença renal crônica, que atinge  mais de 850 milhões de pessoas ao redor do mundo, já sendo reconhecido como um problema de saúde pública, com aumento progressivo de sua carga de doença e custo. Somente no Brasil, cerca de 13 milhões de pessoas sofrem com algum problema renal, um número duas vezes maior que há dez anos.

De acordo com a SBN, 126 mil dos casos estão em estágio grave, no qual o paciente precisa de hemodiálise ou transplante. O perfil com maior risco de desenvolver alguma doença renal são aqueles com histórico familiar de hipertensão arterial, doença renal, diabetes, obesidade, que fumam, sedentárias ou que passaram dos 40 anos.

Os rins são essenciais para o bom funcionamento do corpo e têm como principal função filtrar o sangue e eliminar substâncias nocivas ao organismo, como a amônia e a ureia. As doenças renais crônicas (DRCs) alteram tanto a funcionalidade quanto a estrutura do rim, com diferentes causas e fatores de risco.

Segundo Maria Alice, coordenadora do Centro de Rim e Diabetes do Hospital 9 de Julho, a doença renal crônica é silenciosa no início e podem não haver sintomas. Por esse motivo, a médica recomenda a manutenção de uma rotina de exames. A creatinina no sangue e a urina simples, por exemplo, são exames de baixo custo e servem como medidas preventivas para um diagnóstico precoce”, acrescenta.

Mulheres são as maiores vítimas

Segundo dados da Organização World Kidney Day, a Doença Renal Crônica (DRC) atinge mais de 195 milhões de mulheres ao redor do mundo e é a oitava principal causa de morte, causando 600 mil por ano. Obesidade, pressão alta, Lúpus Eritematoso Sistêmico, doença inflamatória autoimune, Pielonefrite e infecção urinária estão entre as principais causas da DRC em mulheres.

Complicações relacionadas à gravidez também aumentam o risco da doença e as principais causas de Lesão Renal Aguda (IRA) são pré-eclâmpsia, aborto e hemorragia pós-parto. Mulheres com DRC podem engravidar, porém é preciso acompanhar a gestação, uma vez que, aumenta a probabilidade de apresentar altas taxas de transtornos hipertensivos e ocasionar partos prematuros.

A Doença Renal é mais comum nas mulheres, mas a cronificação acontece mais em homens, que é a perda total da função renal. Elas também cuidam mais da saúde, vão mais ao médico e realizam, frequentemente, exames preventivos. Já a maioria dos homens só recorrem ao médico quando a doença já se instalou, que é quando aparecem os sintomas”, afirma Anelise Marcolin, diretora executiva da Fundação Pró-Renal. 

Mal silencioso que pode ser diagnosticado com simples exame

De acordo com a Dra. Maria Alice, a descoberta da DRC em sua fase inicial evita o comprometimento grave dos rins, quando já é necessário o tratamento com hemodiálise ou intervenção cirúrgica, por meio de um transplante. Em sua fase avançada, apresenta sintomas como o aumento do volume e alteração na cor da urina, incômodo ao urinar, inchaço nos olhos, tornozelos e pés, dor lombar, anemia, fraqueza, enjoos e vômitos e alteração na pressão arterial.

Uma das principais dificuldades quando se fala em doenças renais é o diagnóstico nos estágios iniciais. Geralmente a função dos rins pode estar comprometida em cerca de 80% a 90% antes dos sintomas aparecerem. Por isso, a nefrologista Juliana Leme, do Plunes Centro Médico, em Curitiba, reforça a necessidade do diagnóstico precoce: “Exames como dosagem de creatinina e parcial de urina precisam ser uma rotina. As doenças renais atingem pessoas de todas as idades, sem distinção”.

A adoção de hábitos saudáveis como ingestão frequente de água, dieta equilibrada, controle do tabagismo e o rastreio constante de doenças renais por meio de consultas médicas são as principais ferramentas no combate às doenças renais. “O diagnóstico precoce pode salvar uma vida e a população precisa ser conscientizada sobre como as doenças renais são frequentes e como podem ser evitadas. Prevenção é tudo”, finaliza a médica.

Para população, basta reduzir sal e consumir mais água

Pesquisa realizada no Brasil pelo Instituto Abril Inteligência para as farmacêuticas AstraZeneca, Baxter e Bristol-Myers Squibb identificou mitos nocivos à saúde que são culturalmente disseminados pela sociedade quando o assunto é a saúde do rim. Entre eles, está a perspectiva de que os dois principais fatores de risco para doenças renais é necessariamente, o baixo consumo de água, seguido pela alta ingesta de sal. Enquanto reais riscos aparecem na quarta, quinta e sétima posições, respectivamente, são eles: hipertensão, diabetes e obesidade.

Quando o assunto é cuidado periódico, o cenário é ainda mais alarmante: 50% dos indivíduos sem doença renal nunca consultou um médico para cuidar dos rins, seja clínico-geral ou o nefrologista, o especialista, que só foi visitado por 8% dos respondentes sem doença ativa.

Para aqueles com insuficiência renal crônica, 72% deles foram diagnosticados com a doença até 39 anos, ou seja, em plena idade produtiva, impactada diretamente, segundo relato dos próprios pacientes. O nefrologista, especialista em doenças do sistema urinário, especialmente dos rins, foi o responsável por 77% dos diagnósticos, cujos pacientes chegaram em consulta já no estágio V em 35% dos casos e outros 26% sequer sabiam qual era a situação do órgão.

Em relação ao tratamento, 44% faz uso de medicamentos, outros 50% fazem hemodiálise e 9% não faz nenhum tipo de abordagem clínica. Outra alternativa mais moderna de tratamento, a diálise peritoneal, é a opção usada por 11% dos pacientes.

A triste realidade também aflige aqueles com doenças como a hiperpotassemia, 2% dos pacientes precisaram ir ao hospital para consulta de emergência nos últimos 12 meses devido a um episódio da doença. Além disso, quase metade dos pacientes sofre ou sofreu de anemia, reforçando a importância de investigar e tratar o quadro de forma constante e, assim, evitar piores prognósticos.

Como a doença renal afeta a vida profissional e escolar

A pesquisa também trouxe dados reveladores sobre o cotidiano dos pacientes renais: eles relataram que conviver com doença afeta a vida profissional e escolar (56%), assim como as atividades sociais (46%) e a autoestima (40%). A relação com a família também é abalada para 34% dos respondentes, o que pode prejudicar a adesão a tratamentos e recuperação após determinados procedimentos, já que são os familiares grande maioria dos cuidadores destes indivíduos.

Para chegar aos resultados, cerca de 1.900 pessoas de todas as regiões do país participaram da pesquisa – sendo 331 deles portadores de alguma doença renal, entre elas insuficiência renal crônica, hiperpotassemia e câncer renal. Além disso, alguns dos pacientes relataram ter diabetes, um dos principais fatores de risco para doenças renais.

Atentas ao cenário de crescimento de doenças crônicas e unidas em prol da saúde do paciente, firmaram uma parceria inédita para compreender a realidade de doenças renais no Brasil e o nível de conhecimento da sociedade sobre a função dos rins.

Para obter dados e informações exclusivas, as empresas realizaram  estudo deu visibilidade a diversos temas relacionados a pacientes e às doenças – e os resultados foram esclarecedores. A análise avaliou o conhecimento e o comportamento do público geral sobre as condições, os fatores de risco das doenças relacionadas aos rins, os exames e tratamentos e o dia a dia de pacientes renais.

Na fila do transplante de rim, paciente revela superação e perda de cabelos

Na Pró-Renal, 45% dos pacientes são mulheres que estão em tratamento de diálise e na fila de espera do transplante aguardando um rim. Uma delas é a fisioterapeuta Michele Buffara, de 49 anos. Separada e com um filho de 25 anos, há mais de 10 anos ela descobriu que tem rins policísticos e convive com a doença. Em 2012, ela realizou um transplante de rim na cidade de Joinville (SC), porém sem sucesso.

Durante sete meses, Michele lutou contra a rejeição do órgão, porém uma infecção fez com que ela tivesse que retornar a fila de espera do órgão. “Tentaram todos os tipos de remédios para segurar. Mas não deu. No fim, perdi também meu cabelo. No início mexeu um pouco comigo, mulher tem vaidade, mas dei graças a Deus que estava em casa e viva”, afirma.

Durante o período que ficou sem os cabelos, Michele conta que ajudou pessoas com câncer, oferecendo lenços para pessoas em tratamento. Ela também descreve que desde que descobriu a doença mudou a sua alimentação, diminuindo o sal e alguns alimentos com sódio alto.

Continuo fazendo academia, trabalhando, caminhando, saindo com amigos e faço as tarefas de casa. Se você está triste, coloque sua melhor roupa porque todo dia é especial. Viva o presente! E desfrute das coisas boas da vida. Abrace mais e viva com a alma”, afirma a paciente, que no momento está na fila de espera por transplante de rim e realiza hemodiálise três vezes por semana.

Preocupação com o câncer renal

Estes dados também ressaltam a real percepção de doenças populares, como é o caso do câncer renal, citado como a doença que mais preocupa pacientes e não-pacientes, o que não corresponde com a realidade do cuidado.

Este tipo de câncer tem evolução lenta e, por isso, os primeiros sintomas são indícios do estágio avançado da doença – é o relato de 49% dos pacientes que descobriram a doença depois de passar mal e consultar um médico, geralmente o urologista.

São indivíduos acima dos 50 anos (46%) que relataram dor lombar, fadiga, sangue na urina, entre outros sintomas antes da consulta com o especialista. Nestes pacientes, o diagnóstico foi feito nos estágios III e IV em 23% dos participantes e 24% deles não sabiam a gravidade da doença.

Os casos de câncer de rim, por exemplo, têm taxas altíssimas de mortalidade. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), cerca de 6,3 mil novos casos de câncer de rim foram diagnosticados em 2019 no Brasil – 3,8 mil em homens e 2,5 mil em mulheres. 

Problemas renais podem revelar Doença de Fabry

O Dia Mundial do Rim também é o momento oportuno para chamar atenção sobre a doença de Fabry, genética rara e de difícil diagnóstico, cuja demora na identificação e início tardio do tratamento estão entre os principais motivos para o impacto da doença nos órgãos renais, podendo levar os pacientes à insuficiência renal crônica e à hemodiálise. A doença ataca aproximadamente 1 em 40 mil entre os homens e cerca de 1 em 117 mil na população geral.  Estima-se que a incidência real de doença de Fabry seja muito maior como sugerido nos programas de triagem de recém-nascidos.

A doença de Fabry atinge os rins em quase todos os pacientes, afetando tanto homens quanto mulheres. Sinais de “enfraquecimento” dos rins frequentemente começam a aparecer no final da puberdade, mas, em alguns casos, podem já começar na infância. Os problemas renais são manifestações clássicas da doença de Fabry e podem progredir como passar do tempo. Se não tratada a tempo, a perda da função renal pode levar os pacientes à insuficiência renal crônica e à hemodiálise

Alguns pacientes só descobrem que são portadores da doença de Fabry quando desenvolvem a doença renal crônica. Por isso, é vital que todas as pessoas com doença de Fabry façam o acompanhamento da função renal com nefrologista e realizem exames periódicos.  Quando a doença de Fabry é identificada precocemente, o manejo da doença consiste no tratamento sintomático das manifestações clínicas de cada paciente associado a terapias específicas de última geração para tratar a doença.

Como uma doença progressiva e multissistêmica, a doença de Fabry possui uma grande variedade de sintomas, podendo se apresentar de forma diferente em cada pessoa.A doença é categorizada em dois subtipos 1:  a forma clássica, em que os sintomas tendem a se manifestar durante a infância ou adolescência, e o subtipo tardio, quando os pacientes podem apresentar doença renal e/ou cardíaca entre os 20 e 60 anos. Ambos os subtipos podem levar a insuficiência de órgãos e a complicações graves na idade adulta e, geralmente, reduzir a expectativa de vida. 

Com Assessorias

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