O Instituto Nacional de Câncer (Inca) estima mais de 700 mil novos casos da doença registrados no Brasil por ano até 2025. Em meio à era mais conectada da história, o Google e as redes sociais são as principais fontes de informação dos brasileiros sobre formas de prevenção e de tratamento de câncer, segundo revela pesquisa feita pelo A.C. Camargo Cancer Center, em parceria com a Nexus – Pesquisa e Inteligência de Dados.
Metade da população (51%) afirma buscar esses dados no Google (33%), nas redes sociais (18%) e quanto mais jovens, maior o hábito de se informar principalmente pelas plataformas digitais. Mesmo com mais de 40% dos tumores sendo facilmente evitáveis, dados da pesquisa mostram ainda que 65% dos brasileiros não sabem bem como se prevenir e infelizmente isso também se refere ao câncer de pele, mesmo vivendo em um país com grande exposição solar como o Brasil.
Somente este ano, deverão ser registrados 220.490 novos casos de câncer de pele não melanoma. Somados a eles, mais 8.980 novos casos anuais no país de melanoma, que representa apenas 3% dos casos, mas é potencialmente o tipo mais agressivo. De acordo com dados da base Cancer Tomorrow, da Agência Internacional para Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS), apontam que as mortes anuais por melanoma no Brasil vão saltar de 2,2 mil para 4 mil em 2040, um aumento de 80% no comparativo entre os dois anos.
Segundo dados do Observatório do Câncer, os tumores cutâneos representam mais de 30% dos casos tratados no A.C.Camargo Cancer Center nos últimos 20 anos, incluindo os melanomas e o câncer de pele não-melanoma (carcinomas basocelulares e escamocelulares), o tipo de câncer com maior incidência no país.
Por essa razão, é tão importante usarmos os canais de comunicação, incluindo a internet, para desmistificar as principais dúvidas da população. Por isso, orientar sobre a prevenção primária (evitar que a doença ocorra) também é uma mensagem-chave para a campanha Dezembro Laranja.
Embora a prática amplie o acesso à informação, a filtragem dos conteúdos acessados é o que nos preocupa, se levarmos em consideração a recente onda de disseminação de conteúdos na internet com informações falsas sobre câncer. Vemos influenciadores, personalidades e até outros médicos, fazendo alegações sem comprovação científica sobre as causas do câncer de pele, eficácia da proteção solar e surgimento de pintas, por exemplo. É preciso tomar muito cuidado com as fontes desses conteúdos. Replicar a desinformação impacta diretamente na efetividade do trabalho das campanhas de prevenção sérias”, explica João Duprat, líder do centro de referência em tumores cutâneos do A.C.Camargo.
Mitos podem retardar o diagnóstico e impactar no tratamento e reabilitação
De acordo com a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBCO), a maioria dos casos ocorre em pessoas sem história familiar de câncer de pele, mas cerca de 10% dos casos estão relacionados com uma síndrome associada à herança familiar de mutação genética, conhecida como melanoma familial.
Dentre os fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de pele estão pele clara com muitas pintas ou sardas; uso de câmaras de bronzeamento, falta de uso de protetor solar e idade avançada (embora casos em jovens também sejam crescentes). Mas o principal é a exposição solar excessiva, especialmente entre 10h e 16h.
Os sintomas mais comuns de câncer de pele incluem o surgimento de novas pintas ou alterações nas pintas previamente existentes, com bordas irregulares, cores variadas e aumento de tamanho. A identificação precoce e a remoção da lesão, diagnosticada precocemente, são ações fundamentais para o tratamento eficaz.
De acordo com o cirurgião oncológico e presidente da SBCO, Rodrigo Nascimento Pinheiro, a cirurgia é o principal tratamento com intenção curativa para pacientes com câncer de pele. “Para a maioria dos casos, a cirurgia é bem efetiva, sobretudo quando a lesão apresenta bordas bem delimitadas. A cirurgia também pode ser utilizada em casos selecionados de tumores avançados e recorrentes”, explica.
A SBCO alerta que mitos podem retardar o diagnóstico e impactar no tratamento e reabilitação do paciente. A entidade elenca dez mitos e explica qual é a informação verdadeira. Confira:
MITO 1: Apenas quem se expõe muito ao sol pode ter câncer de pele
A VERDADE: Embora a exposição excessiva ao sol seja o principal fator de risco para desenvolvimento de câncer de pele, a doença pode ocorrer em qualquer pessoa, independentemente do nível de exposição solar. Em alguns casos, o indivíduo pode apresentar mutação genética associada a uma síndrome de maior predisposição para desenvolver a doença, como o melanoma familial.
Por isso, familiares de pacientes diagnosticados com a doença, sobretudo os de primeiro grau, devem se submeter a exames preventivos regularmente. Vale ressaltar que, nesses casos, a exposição sem proteção aos raios solares também pode acelerar, ainda mais, o processo de carcinogênese.
MITO 2: Câncer de pele só ocorre em pessoas com pele clara
A VERDADE: Embora pessoas com pele clara, olhos claros e cabelos ruivos ou loiros tenham maior risco, o câncer de pele pode afetar pessoas de todas as etnias. No Brasil, com sua grande diversidade étnica, o melanoma, o tipo mais agressivo de câncer de pele, pode ser diagnosticado em qualquer tipo de pele, embora seja mais comum em pessoas de pele clara.
Os negros apresentam menos risco de câncer de pele, mas, quando a doença ocorre (especialmente nas extremidades das mãos, região plantar e sob as unhas) o prognóstico costuma ser pior.
MITO 3: O câncer de pele é uma doença exclusivamente de idosos
A VERDADE: Embora a incidência de câncer de pele aumente com a idade, devido à exposição solar ao longo da vida, o melanoma tem sido diagnosticado com mais frequência em jovens adultos, especialmente entre aqueles que praticam atividades ao ar livre sem proteção adequada ao longo dos anos.
MITO 4: Câncer de pele é sempre visível e fácil de identificar
A VERDADE: Embora muitas formas de câncer de pele possam ser observadas por mudanças na aparência da pele, nem todos os casos apresentam sinais óbvios. O melanoma, por exemplo, pode se desenvolver em áreas do corpo que não são frequentemente expostas ao sol, como as palmas das mãos, plantas dos pés ou nas mucosas. A detecção precoce é essencial, o que torna os exames regulares com um dermatologista fundamentais.
MITO 5: Só o melanoma é perigoso
A VERDADE: Embora o melanoma seja o tipo mais agressivo e com maior taxa de mortalidade entre os cânceres de pele, outros tumores malignos cutâneos, como os não melanoma (carcinoma basocelular e espinocelular), também representam riscos significativos. O carcinoma basocelular é o mais comum e, embora raramente seja fatal, pode causar sérios danos locais se não tratado. Já o carcinoma espinocelular tem um potencial maior de metastatizar e pode ser fatal em casos avançados.
MITO 6: Usar protetor solar uma vez por dia é suficiente
A VERDADE: O protetor solar deve ser reaplicado a cada duas horas e sempre após nadar ou suar excessivamente. Além disso, a quantidade de protetor solar aplicada deve ser suficiente para cobrir todas as áreas expostas da pele. A exposição solar nos horários de pico (entre 10h e 16h) deve ser evitada, sempre que possível. Vale lembrar que mesmo na sombra, não estamos livres da radiação ultravioleta.
MITO 7: A dor é um sinal de câncer de pele
A VERDADE: A dor não é um sintoma comum do câncer de pele, especialmente no caso de melanomas iniciais. Muitas vezes, o câncer de pele pode se desenvolver sem dor, coceira ou qualquer outro sintoma. Mudanças na aparência da pele, como manchas novas ou alterações em pintas existentes, são sinais mais comuns.
MITO 8: O câncer de pele é fácil de tratar e não necessita de acompanhamento
A VERDADE: Quando há regularidade nas consultas de rotina, o mais provável é que a doença seja detectada em sua fase inicial, o que é traz um bom prognóstico. Isso porque, as chances de cura dependem de quando o câncer de pele é descoberto. Se for um não melanoma, a remoção do tumor costuma ser simples.
No caso dos melanomas, o procedimento varia de acordo com a extensão da doença. Em geral, podem ser combinados outros tratamentos que incluem quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Mesmo após o tratamento, o acompanhamento regular com um dermatologista é necessário para monitorar possíveis recidivas.
MITO 9: O diagnóstico inicial de câncer de pele é feito apenas por biópsia
A VERDADE: Embora a biópsia seja usada para confirmar o diagnóstico, o câncer de pele também pode ser detectado inicialmente por meio de outros exames, como a dermatoscopia, que é uma técnica não invasiva de avaliação da pele. Esse exame permite ao dermatologista observar estruturas da pele com maior detalhamento, facilitando o diagnóstico precoce.
MITO 10: Só cirurgias complexas são necessárias para tratar o câncer de pele
A VERDADE: Em muitos casos de câncer de pele, especialmente os não melanoma, o tratamento pode ser simples, envolvendo apenas a remoção da lesão cancerígena por meio de uma pequena cirurgia ou procedimento como a curetagem. O tratamento precoce é essencial para evitar complicações e aumentar as chances de cura.
Fato ou fake: confira 9 mitos e verdades sobre câncer de pele
Campanha do A.C.Camargo Cancer Center desmistifica fake news sobre prevenção, diagnóstico e tratamento de tumores cutâneos
Para esclarecer as principais afirmações que circulam na internet sobre câncer de pele, como parte da campanha de conscientização do A.C.Camargo, o Dr. João Duprat elencou alguns mitos e verdades importantes. Confira:
- O câncer de pele é raro, não devo me preocupar
Essa afirmação é falsa, muito pelo contrário, o câncer de pele é o tumor de maior incidência. Vale reforçar que existem vários subtipos, o carcinoma basocelular é o mais comum de todos, mas ele é um pouco mais lento no crescimento, o que possibilita mais tempo entre o diagnóstico e o início do tratamento. Diferente do melanoma, que é menos frequente, mas é extremamente agressivo.
2. O protetor solar pode causar câncer de pele, seu uso não previne a doença.
Essas informações são muito perigosas e completamente falsas. O protetor solar, como o próprio nome já sugere, protege a nossa pele contra os raios UVA e UVB, sendo comprovadamente um aliado na prevenção do câncer de pele. Os protetores solares são devidamente testados e aprovados antes de chegarem às prateleiras, eles não são químicos que oferecem risco à saúde da pele.
3. Devo utilizar protetor solar apenas quando vou me expor ao sol em momentos de lazer?
A resposta é não. O ideal é usar todos os dias de manhã e após o almoço, a cada quatro ou seis horas. Nos dias de exposição solar maior, como dias de praia, piscina, clube e ficar em lugar aberto ou tomar muito sol, o protetor deve ser reaplicado a cada duas ou quatro horas, principalmente depois de suar, nadar, brincar ou fazer exercícios ao ar livre.
4. O uso de protetor solar não é necessário nos dias frios ou nublados
Pelo contrário, não importa a temperatura, o protetor solar deve ser sempre utilizado. A quantidade de raios ultravioleta não tem relação com a temperatura do dia ou da época do ano. No que se refere aos dias nublados, os raios ultravioleta atravessam as nuvens, então é comum que ao fim de um dia nublado se perceba que a pele exposta ficou vermelha. Por isso, a recomendação é usar protetor solar todos os dias do ano.
5. O câncer de pele não dá sinais
Isso é mito, o câncer de pele dá sinais, sim. Quais são os sinais mais comuns? Geralmente é uma feridinha que aparece no corpo e não cicatriza, podendo sangrar ou não, que abre e nunca fecha ou às vezes dá uma impressão que está cicatrizando, mas continua lá. Então se tem uma lesão com mais de um mês que não cicatriza, é importante procurar um médico.
Outro sinal de alerta, no caso do melanoma, são pintas assimétricas, com formas, bordas irregulares e tons desiguais,pintinhas têm cor marrom clara e o marrom escurinho, quando uma pinta vai para o tom enegrecido, distribuído irregularmente na pinta, ou tons avermelhados, desverdeados, azulados, também deve suspeitar. O diâmetro de pintas com mais de 6 milímetros, devem ser avaliadas. E por último aquela pinta que com o tempo vai mudando de aspecto, requerem avaliação.
6. Qualquer pinta pode se tornar um tumor de pele?
Sim, qualquer célula do corpo pode virar câncer. E qualquer pinta pode virar um tumor de pele. Mas, nem sempre a origem desse tumor cutâneo será uma pinta. Muitas vezes o câncer de pele pode se originar de uma pele saudável sem nenhuma pinta ou mancha prévia local.
7. Todos os tipos de pele podem desenvolver câncer
Essa afirmação está correta. Qualquer indivíduo de qualquer raça ou tipo de pele pode vir a desenvolver um tumor cutâneo. Por isso, é tão importante saber se prevenir e buscar ajuda médica, quando notar qualquer anormalidade.
8. O câncer de pele pode aparecer em qualquer parte do corpo
Isso é um fato! Embora o câncer de pele seja mais comum em áreas expostas ao sol, como face, orelhas, pescoço, ombros, costas, lábios, pernas e tronco, também pode surgir em áreas do corpo, como palmas das mãos, planta dos pés, unhas, couro cabeludo e partes íntimas.
9. Bronzeamento artificial pode causar câncer de pele
Essa afirmação está correta. Essas sessões feitas em câmaras de bronzeamento artificial aumentam muito o risco de câncer de pele, principalmente o melanoma. Diferente do bronzeamento feito com autobronzeadores. O jet bronze é feito apenas com pigmentos, que não representam riscos à pele.
Com Assessorias