Batizada de XEC, a nova linhagem do vírus da Covid-19, que vem se espalhando pelo mundo, foi detectada no Brasil. A nova cepa do Sars-CoV-2 pertence à variante ômicron  e foi identificada no Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina. A confirmação é do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que identificou pacientes contaminados nesses estados e encaminhou as informações para o Ministério da Saúde.  

Ainda de acordo com a Fiocruz, as informações do vírus nos outros países mostram que a XEC “pode ser mais transmissível do que outras linhagens”. Mas é preciso avaliar como vai ser o comportamento da variante aqui no Brasil, a depender da memória imunológica da população, que é diferente em cada país.

Na noite desta segunda-feira (14), em meio ao escândalo envolvendo a contratação de um laboratório na Baixada Fluminense que errou na emissão de falsos laudos negativos de testes de HIV em órgãos transplantados, contaminando seis pacientes, a Secretaria de Estado de Saúde (SES-RJ) divulgou nota informando que foram detectados dois casos da nova linhagem XEC do vírus da Covid-19. Ambos moram na capital fluminense e não saíram do país recentemente.

Os casos foram detectados a partir de um monitoramento de rotina do Centro de Informação Estratégica e Vigilância em Saúde da SES-RJ, que seleciona amostras aleatoriamente para exames genéticos”, diz a pasta.

O primeiro paciente é um homem de 45 anos de idade, que começou a apresentar sintomas em 9 de setembro. A segunda é uma mulher de 61 anos que teve os primeiros sinais em 11 de setembro. Ambos se curaram da doença depois de sintomas leves, parecidos com o de um resfriado.

A SES-RJ informou ainda que, no Centro de Inteligência em Saúde (CIS), “monitora os indicadores precoces, como incidência de sintomas gripais e solicitações de leitos em UPAs estaduais. A observação desses índices permite anteceder a variação no número de casos”.

Variante sob monitoramento no mundo

De acordo com a Fiocruz, o primeiro achado foi realizado pelo Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do IOC, que atua como referência para Sars-CoV-2 junto ao Ministério da Saúde e à OMS, em amostras referentes a dois pacientes residentes na capital fluminense, diagnosticados com Covid-19 em setembro. A descoberta foi informada às secretarias Estadual e Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

As sequências genéticas decodificadas foram depositadas na plataforma online Gisaid nos dias 26 de setembro e 7 de outubro. Depois disso, a Fiocruz informou que o material genético da mesma linhagem foi identificado por pesquisadores em São Paulo e Santa Catarina. Genomas da linhagem XEC foram decodificados em São Paulo, a partir de amostras coletadas em agosto, e em Santa Catarina, de duas amostras coletadas em setembro.

Essa nova linhagem da ômicron foi classificada dia 24 de setembro pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma variante “sob monitoramento”.  Isso ocorre quando uma linhagem apresenta mutações no genoma que são suspeitas de afetar o comportamento do vírus e observam-se os primeiros sinais de “vantagem de crescimento” em relação a outras variantes em circulação.

Esta variante começou a chamar atenção entre junho e julho de 2024, devido ao aumento de detecções na Alemanha. Rapidamente, se espalhou pela Europa, Américas, Ásia e Oceania. Pelo menos 35 países identificaram a cepa, que soma mais de 2,4 mil sequências genéticas depositadas na plataforma Gisaid até o dia 10 de outubro desse ano.

Análises indicam que a XEC surgiu pela recombinação genética entre cepas que circulavam anteriormente. O fenômeno ocorre quando um indivíduo é infectado por duas linhagens virais diferentes simultaneamente.

Nesta situação, pode ocorrer a mistura dos genomas dos dois patógenos durante o processo de replicação viral. O genoma da XEC apresenta trechos dos genomas das linhagens KS.1.1 e KP.3.3. Além disso, a linhagem apresenta mutações adicionais que podem conferir vantagens para a sua disseminação.

XEC pode ser mais transmissível do que outras linhagens

Segundo a virologista Paola Resende, pesquisadora do Laboratório de Vírus Respiratórios, Exantemáticos, Enterovírus e Emergências Virais do IOC, dados do exterior indicam que a XEC pode ser mais transmissível do que outras linhagens, porém será necessário avaliar o seu comportamento no Brasil.

Em outros países, essa variante tem apresentado sinais de maior transmissibilidade, aumentando a circulação do vírus. É importante observar o que vai acontecer no Brasil.  O impacto da chegada dessa variante pode não ser o mesmo aqui porque a memória imunológica da população é diferente em cada país, devido às linhagens que já circularam no passado”, explica Paola, que também atua na Rede Genômica Fiocruz.

A detecção da XEC no Brasil foi realizada a partir de uma estratégia de vigilância que ampliou o sequenciamento de genomas do Sars-CoV-2 na capital fluminense entre agosto e setembro. Esta ação contou com a parceria da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro.

Durante três semanas, foi realizada a coleta de amostra de swab nasal para envio ao Laboratório de Referência do IOC/Fiocruz em casos positivos para Sars-CoV-2 diagnosticados por testes rápidos em unidades básicas de saúde. Embora tenha apontado a presença da XEC, o monitoramento confirmou o predomínio da linhagem JN.1, que é majoritária no Brasil desde o final do ano passado.

Realizamos essa ação para compreender em tempo real o que estava ocorrendo no Rio, uma vez que havia um leve aumento nos diagnósticos de Covid-19 na cidade. Isso foi muito importante para detectar a variante XEC, que precisará ser acompanhada de agora em diante”, detalha Paola.

Dados atuais da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro e do Infogripe, da Fiocruz, não indicam alta nos casos de Covid-19 na cidade. A virologista alerta para o enfraquecimento da vigilância genômica do SARS-CoV-2 no Brasil e reforça a necessidade de manter o monitoramento em todo o território nacional.

“Atualmente, estamos sem dados genômicos de diversos estados porque não tem ocorrido coleta e envio de amostras para sequenciamento genético. É muito importante que esse monitoramento seja mantido de forma homogênea no país para acompanhar o impacto da chegada da variante XEC e detectar outras variantes que podem alterar o cenário da Covid-19″, ressalta Paola.

A pesquisadora reforça ainda que os dados sobre os genomas do Sars-CoV-2 em circulação são relevantes para ajustar a composição das vacinas da Covid-19. A OMS conta com um grupo consultivo técnico sobre o tema, que se reúne duas vezes ao ano. Em abril, o comitê recomendou formulação de imunizantes baseados na linhagem JN.1. A próxima reunião está marcada para dezembro.

Com informações da Agência Brasil, Agência Fiocruz e SES-RJ (atualizado em 14/10/24)

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