Nunca se falou tanto e tão abertamente sobre prazer feminino como agora. A busca muitas vezes inatingível por orgasmo está presente em diversos canais nas redes sociais e também na telinha, durante a novela das oito’ – que se passa curiosamente às nove da noite na TV Globo. A personagem Leila de ‘Vale Tudo’, interpretada por Carolina Dieckman, traz à tona este assunto que ainda é tabu na sociedade, mas muito importante de ser debatido.

Leila acaba de descobrir o ápice do prazer sexual após os 40 anos, um casamento e alguns namorados. Em entrevistas, a atriz tem destacado a complexidade de Leila, que busca prazer e orgasmo, e a diferença entre sua personalidade e a da personagem. A Leila de Carolina Dieckmann está passando por uma jornada de autodescoberta e transformação, tanto em seu visual quanto em sua busca por satisfação e realização pessoal. 

Leila nunca esteve sozinha. Mais da metade das brasileiras têm dificuldade para atingir o orgasmo e 64% das mulheres relatam satisfação sexual inferior à masculina, como revelam dados do Projeto de Sexualidade da Universidade de São Paulo (ProSex). O estudo mostra que 55,6% das brasileiras têm dificuldade para atingir o orgasmo durante as relações sexuais.

O levantamento, um dos mais respeitados do país, aponta também que a falta de informação adequada ainda é um fator determinante para a insatisfação sexual. O Dia do Orgasmo, celebrado em 31 de julho, costuma movimentar as buscas na internet e gerar uma enxurrada de conteúdos sobre prazer nas redes sociais. No entanto, longe dos holofotes digitais, a realidade nos consultórios ainda é marcada por silêncios e dificuldades, especialmente entre as mulheres.

Nos últimos anos, o orgasmo virou símbolo de empoderamento nas redes, mas também se transformou em mais um espaço de cobrança. Muitas mulheres se sentem pressionadas a viver o prazer como obrigação, o que acaba gerando frustração e ansiedade de desempenho”, explica a terapeuta sexual Talita Gois, que atua há mais de dez anos com educação sexual e já impactou mais de 90 mil mulheres em cursos sobre prazer e bem-estar.

Diferença entre prazer e orgasmo

A ginecologista Fabiane Berta explica que, conforme citado pela personagem, prazer e orgasmo são coisas distintas, embora estejam relacionadas à sexualidade feminina.

O prazer representa uma sensação de satisfação, bem-estar e relaxamento, que pode ocorrer com ou sem relações sexuais. Já o orgasmo é o ponto máximo do prazer sexual, as respostas físicas são intensas como contrações musculares, aumento dos batimentos cardíacos e liberação hormonal”, diz.

Assim como Leila, é muito comum as mulheres descobrirem o orgasmo de forma tardia e isso acontece frequentemente devido à falta de informações sobre sexualidade, preconceitos culturais e o silêncio que envolve o tema desde a infância.

Muitas mulheres têm dificuldade de atingir o orgasmo porque não aprenderam a reconhecer os sinais do seu corpo. O tabu em relação à sexualidade feminina e a falta de educação sexual fazem com que elas só descubram plenamente o prazer sexual em fases mais maduras da vida”, afirma a médica e também especialista e pesquisadora da menopausa.

Outro ponto significativo é a pressão constante sobre o corpo feminino, que gera inseguranças e baixa autoestima. A dificuldade em aceitar a própria aparência física prejudica diretamente a entrega ao parceiro e a vivência do prazer.

Segundo Fabiane Berta, quando a mulher não se sente confortável com seu corpo, a preocupação com a maneira como está sendo vista pode tirar completamente o foco do prazer, dificultando ou até impedindo o orgasmo.

O excesso de tarefas e responsabilidades diárias, como o trabalho e os cuidados domésticos e familiares, também impactam negativamente o relaxamento necessário para a conexão sexual plena com o parceiro. A mente sobrecarregada reduz as chances de entrega total e afasta as mulheres da experiência do orgasmo.

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Uma vida mais prazerosa é uma vida mais saudável

Para Talita, um dos principais desafios atuais é a ideia de que o orgasmo deve acontecer sempre, rapidamente e de maneira intensa, uma expectativa influenciada tanto por pornografia quanto pela performance das redes sociais.

orgasmo é um direito, mas não pode ser tratado como uma obrigação. Ele envolve corpo, mente, histórico afetivo e autoconhecimento. Quando é reduzido a uma meta, muitas mulheres acabam se desconectando do prazer real”, afirma.

Diversos estudos associam a atividade sexual prazerosa com melhora na imunidade, redução do estresse, regulação hormonal, aumento da autoestima e até prolongamento da expectativa de vida.

Mas isso não quer dizer que todos precisam ter orgasmos para serem saudáveis. Significa que viver o prazer com autonomia, consentimento e liberdade é um caminho para uma vida mais plena – seja com parceiros, seja em momentos de intimidade consigo mesmo.

O que elas querem, mas têm vergonha de dizer

Nos atendimentos clínicos e nos cursos, Talita aponta alguns padrões recorrentes:

  • Fingimento do orgasmo, ainda comum como resposta à expectativa do parceiro;
  • Busca por soluções rápidas, como brinquedos sexuais, sem resolver bloqueios emocionais;
  • Vergonha em conversar sobre o próprio prazer, especialmente em relacionamentos longos.

Além do impacto emocional, a dificuldade de alcançar prazer também é um indicativo de que outras áreas da vida podem estar em desequilíbrio. “O orgasmo é um termômetro da qualidade das nossas relações e do quanto estamos conectadas ao nosso corpo. Quando ele é difícil ou inexistente, vale a pena investigar, sem culpa nem autocrítica”, orienta Talita.

No Dia do Orgasmo, a terapeuta sexual reforça que o foco deve estar no prazer com consciência e liberdade, sem comparações ou cobranças. “O prazer é uma construção pessoal. A melhor forma de celebrá-lo é com respeito aos próprios tempos e desejos, não com a busca de um roteiro perfeito.”

O papel do homem

Assim como a personagem Leila sugere, de fato, o parceiro exerce papel fundamental na capacidade da mulher atingir o orgasmo. A cumplicidade, o diálogo aberto e a atenção às necessidades da parceira são essenciais para que o prazer sexual feminino aconteça plenamente. Quando o homem demonstra interesse em conhecer e entender as preferências da mulher, isso facilita a conexão física e emocional e cria um ambiente de confiança e relaxamento.

O homem precisa estar atento às respostas do corpo feminino e manter a comunicação aberta sobre o que funciona melhor na relação sexual. Escutar e respeitar os desejos da parceira gera segurança emocional, permitindo que ela se entregue ao momento sem inseguranças”, finaliza Fabiane Berta, que possui diversas especializações como Neurociência, Comportamento, Bioquímica e estética íntima.

Além disso, muitos desconhecem aspectos importantes sobre o prazer feminino, como a necessidade de preliminares mais prolongadas, a estimulação correta e o respeito ao ritmo particular de cada uma. “A participação ativa e cuidadosa do homem favorece a mulher se sentir confortável para expressar suas vontades e atingir o orgasmo com mais facilidade”, reforça.

Com Assessorias

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