Essencial do nascimento à terceira idade, a vacina é uma das mais consolidadas formas de prevenir doenças. Legado de estudos realizados desde a década de 90 e potencializados pela tecnologia, a área da Oncologia está testando um imunizante terapêutico voltado ao melanoma – um tipo de câncer de pele com alta taxa de mortalidade. Uma ótima novidade neste Junho Preto, mês de conscientização sobre o melanoma.

Conforme estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), o Brasil deve registrar cerca de 8.980 diagnósticos de melanoma em 2024. Apesar de ser  um tipo de câncer de pele menos incidente, ele é o mais agressivo, registrando no país altos índices de letalidade.

O imunizante – fabricado com a mesma tecnologia usada na vacina da Covid-19 feita pela Moderna – também está sendo testado para tumores considerados imunogênicos – capazes de provocar uma resposta do sistema imunológico – e traz esperança no tratamento do câncer de pulmão, bexiga e rim.

Nos testes clínicos de fase 2, a combinação com a imunoterapia – terapia que promove o tratamento do tumor por meio da ativação do próprio sistema imunológico do paciente – demonstrou uma redução de 44% no risco de retorno da doença ou morte em pacientes com melanoma em comparação aos que utilizam apenas a imunoterapia.

Em sua última fase de testes clínicos, a vacina denominada mRNA-4157 (V940), produzida pela farmacêutica Moderna em conjunto com a MSD, começou a ser testada em pacientes com melanoma avançado e câncer de pulmão não pequenas células.

oncologista clínico da OncomedMTMarcos Rezende, explica que ela é fabricada a partir do RNA mensageiro da célula e o seu grande diferencial é a produção de forma personalizada, de acordo com a necessidade de cada paciente.

O imunizante é produzido a partir do material tumoral coletado no próprio paciente. No laboratório, as amostras são sequenciadas de acordo com a estrutura genética. A vacina visa ativar o sistema imunológico da pessoa para combater especificamente as células cancerígenas”, explica o especialista.

Abrindo caminho para a modalidade de tratamentos oncológicos personalizados, a vacina contra o câncer sinaliza o provável futuro da oncologia.

Essa abordagem individualizada, na qual cada paciente passará a receber um plano de tratamento adaptado às suas necessidades específicas, consiste em um avanço histórico! A vacina abrirá um leque de possibilidades para a descoberta de novos medicamentos que poderão proporcionar um tratamento cada vez mais customizado e com menos efeitos colaterais”, destaca.

Produção e custo – Atualmente, o imunizante está na fase 3 dos estudos clínicos com testes em voluntários no Reino Unido. As fases 1 e 2 focaram na avaliação da segurança e eficácia. Caso os resultados da fase 3 sejam positivos, à exemplo das etapas anteriores, o imunizante avançará para a análise das agências reguladoras. Uma vez aprovado, entrará na fase 4 de ensaios, que visa monitorar os efeitos colaterais a longo prazo nos pacientes vacinados.

“A estimativa é que em até dois anos estejam disponibilizados os resultados dos testes nos voluntários. Se a vacina for aprovada pelos órgãos responsáveis, a atenção será voltada ao custo de produção. A partir daí, a discussão deverá se concentrar nos aspectos referentes à estrutura laboratorial necessária à sua fabricação e o acesso dos pacientes ao imunizante.”

 

Vacina contra melanoma mostra eficácia em estudos

Para especialista, resultados de pesquisa, apresentada em congresso americano,  podem mudar o panorama da oncologia como um todo
A edição de 2024 da Asco, o encontro anual da Sociedade Americana de Oncologia Clínica, realizado em Chicago no começo de junho, trouxe boas notícias no combate ao melanoma, um tipo de câncer de pele com alta taxa de mortalidade. Pesquisadores desenvolveram uma vacina, e estudos revelaram que 75% dos pacientes que receberam a medicação permaneceram livres do câncer após três anos.

O imunizante utiliza a mesma tecnologia de RNA mensageiro (mRNA) da Covid-19 foi liderado por pesquisadores da Universidade de Nova York e combinou a inovadora vacina de mRNA-4157 (V940), da Moderna, com uma imunoterapia já bem estabelecida, o Keytruda (pembrolizumabe), da Merck. O tratamento foi administrado em pacientes após a cirurgia para remoção de melanoma em estágio 3 ou 4.

Uma vacina funcionando contra o câncer é algo que pode representar uma mudança de visão de tratamento em oncologia de uma maneira geral. Eu vejo esse avanço como um marco importantíssimo e esses estudos demonstram a possibilidade de sucesso de formas diferentes de tratamento do que aquelas que nós vínhamos utilizando”, comenta Bernardo Garicochea, oncologista e hematologista da Oncoclínicas&Co.

O especialista, que esteve presente na Asco e acompanhou a apresentação do ensaio clínico em sessão plenária, classifica como impressionante essa nova abordagem de vacina somada à imunoterapia. Contudo, ainda é preciso aguardar ensaios maiores e mais longos para confirmar a efetividade apontada pelos dados iniciais.

Ao contrário das vacinas tradicionais, que previnem doenças, as vacinas contra o câncer são projetadas para tratar a doença já existente. O ensaio utilizou a vacina mRNA-4157 adaptada às células cancerosas específicas de cada paciente, aprimorando assim a capacidade do organismo de reconhecer e atacar o ‘inimigo’. O pembrolizumabe apoia esse processo ativando as células T, nossos defensores na linha de frente do sistema imunológico”, complementa o médico.Um ensaio clínico de fase III terá início a partir de agora, com o objeto de testar o tratamento combinado em pacientes com melanoma de alto risco e câncer de pulmão não pequenas células.

“Essa é mais uma mostra de como a oncologia de precisão, suportada pelo avanço no conhecimento genômico do DNA, pavimenta caminhos para curarmos cada vez mais pacientes. Esse estudo contribuirá para a melhora contínua das taxas de sobrevivência dos pacientes com melanoma, tornando a doença significativamente menos letal e conferindo mais qualidade de vida a essas pessoas”, pontua Bernardo Garicochea.

Vacina reduz em 44% mortes e recorrências de melanoma

Por Débora Curi*

Está sendo estudada uma vacina terapêutica contra o melanoma. Apesar de ser menos frequente, ele é responsável por cerca de 4% dos casos de câncer de pele e é o tipo mais temido e mais letal. Um dos estudos é das farmacêuticas Moderna e MSD, no qual cerca de 150 pessoas que foram operadas com melanoma receberam uma vacina personalizada, juntamente com um medicamento imunoterápico.

Foram avaliados apenas pacientes que haviam sido submetidos a ressecção cirúrgica de melanoma com alto risco de recorrência. Eles foram tratados de forma adjuvante, ou seja, para diminuir o risco de recorrência. O grupo experimental recebeu a vacina juntamente com uma imunoterapia que impede que os tumores escapem das células de defesa. Já o grupo controle, recebeu apenas a imunoterapia.

Uma atualização recente demonstrou que quem recebeu a vacina tinha maior probabilidade de permanecer livre do câncer 18 meses depois do que os pacientes que não receberam. Embora o estudo seja pequeno, é um primeiro passo muito importante.

Vacina semelhante à da Covid-19

Tal como a vacina contra a Covid-19 da Moderna, trata-se de uma vacina de RNA mensageiro (RNAm). Em estudos preliminares, já foi demonstrada segurança, viabilidade, respostas imunológicas robustas.

Agora, o braço experimental demonstrou superioridade reduzindo em 44% mortes e recorrências por melanoma em relação ao controle. Além disso, 84 dos 107, ou 79%, ainda estavam em remissão após 18 meses, em comparação com apenas 31 dos 50 (62%) pacientes que receberam apenas a imunoterapia.

É um marco para o campo das vacinas contra o câncer, que tem lutado durante décadas com dificuldade para mostrar resultados. São dados animadores. Trata-se da primeira evidência clara de que uma vacina concebida para atingir mutações no tumor de um paciente pode prevenir o seu novo crescimento.

De forma objetiva, a vacina induz o sistema imunológico a criar células de defesa específicas contra o tumor de cada indivíduo, atuando como uma terapia personalizada e direcionada. Em paralelo, na Oncologia quando achamos uma mutação e a utilizamos como terapia-alvo, no caso da mutação do gene BRAF, por exemplo, essas mutações são compartilhadas por vários pacientes. Já no caso do neoantígeno personalizado da vacina, eles são vistos apenas naquele indivíduo.

Terapia inovadora nos EUA, diz FDA

Nesse contexto, o Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos Estados Unidos, concedeu o status de “terapia inovadora” à essa vacina, reconhecendo o potencial da tecnologia e dando prioridade para sua avaliação. Isso acelera o desenvolvimento e a revisão de medicamentos destinados a tratar uma condição grave e demonstra que as evidências clínicas preliminares indicam que o medicamento pode oferecer uma melhora substancial em relação à terapia disponível.

Existem desafios que precisam ser superados, como o tempo até a vacina estar disponível, a identificação da plataforma de vacinas mais adequada a ser utilizada, o custo de produção. Mas a expectativa é grande, visto que a ciência trouxe grandes ganhos no tratamento com a imunoterapia para diversos tipos de tumores nos últimos 10 a 15 anos e revolucionou o tratamento do melanoma.

Resta aguardar e acompanhar os novos dados que estão surgindo, solidificando o conhecimento e embasando a aprovação da estratégia pelas agências reguladoras até, então, estar disponível aos pacientes.

Débora Curi é formada em Medicina pela UNIVAS – Pouso Alegre, Residência em Clínica Médica pelo Hospital Pitangueiras – Jundiaí e em Oncologia Clínica pelo Hospital da PUC-Campinas. Pós-graduada em Nutrologia pela ABRAN. Realizou Fellow em Oncologia Clínica no Grupo SOnHe. É membro da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) e da Sociedade de Medicina e Cirurgia de Campinas (SMCC).

Com Assessorias (atualizado em 20/06/24)

 

Gostou desse conteúdo? Compartilhe em suas redes!
Shares:

Related Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *