Brasileiros com obesidade mórbida já podem contar com técnicas menos invasivas e mais modernas para o tratamento de cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS). De acordo com estimativas da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, atualmente 3,5 milhões de obesos mórbidos estão elegíveis à cirurgia, por critérios da portaria do Ministério da Saúde. Este número é equivalente a um pouco mais que a população inteira do Uruguai.
“Considerando que apenas 5% deles queiram de fato operar, estamos falando de 175 mil pacientes cirúrgicos. O volume atual de cirurgias é de pouco mais de quase 10 mil cirurgias. Então, com a videolaparoscopia, podemos ampliar os atendimentos no SUS, pois tanto a cirurgia quanto a recuperação do paciente demandam um tempo menor”, afirma o presidente da SBCBM, Caetano Marchesini.
De acordo com as orientações da Portaria n° 5, de 31 de janeiro de 2017, publicada no dia 1º de fevereiro no Diário Oficial da União, que oficializa a incorporação da nova técnica nos procedimentos de cirurgias bariátricas realizadas pelo SUS, a cirurgia é liberada apenas para pacientes com IMC igual ou maior que 40kg/m² e pode ser realizada em casos de IMC entre 35kg/m² e 40kg/m², desde que o paciente tenha comorbidades como, por exemplo, o diabetes. O IMC é calculado a partir da divisão do peso pela altura ao quadrado.
Vantagens da nova técnica
Essa é a primeira vez que o procedimento será ofertado no SUS. Antes, era oferecida a técnica de laparoscopia aberta. A previsão é que a maioria dos procedimentos que antes eram conduzidos pela forma laparotômica passe a ser conduzida pela via laparoscópica.
Opção mais utilizada no mundo para a realização do procedimento cirúrgico que promove a perda de peso, a técnica gastroplastia videolaparoscópica possibilita a perda de peso tanto por uma diminuição do tamanho do estômago, quanto por uma diminuição da superfície intestinal.
O procedimento, assim como os outros cirúrgicos por laparoscopia, oferece uma série de vantagens aos pacientes como a possibilidade de um menor tempo de permanência no hospital, menor volume de sangue necessário durante a cirurgia, menor necessidade de UTI, e menor incidência de complicações pulmonares, entre outros.
Para o presidente da SBCBM, a portaria que amplia a técnica a pacientes do SUS contribui para resolver um grande problema na saúde pública brasileira para o obeso grave. “A inclusão da videolaparoscopia irá equiparar a assistência pública ao setor assistencial privado do Brasil. Isso é, sem dúvidas, um grande avanço na recuperação do pátio tecnológico assistencial da alta complexidade”, declarou Marchesini.
Segundo ele, os benefícios e a segurança da cirurgia bariátrica laparoscópica podem contribuir para aumentar a eficiência do sistema de saúde e o acesso ao tratamento. “A Sociedade coloca-se à disposição do Ministério da Saúde para contribuir, se necessário, com a operacionalização desta medida no país”, disse. Técnicos do Ministério da Saúde e representantes da SBCBM se reuniram para debater o tema nesta quinta-feira (9), em Brasília.
“Vamos auxiliar tecnicamente em tudo o que for necessário, visando a segurança dos pacientes, a redução de custos, a aquisição de materiais compatíveis com a real necessidade dos cirurgiões e o treinamento dos profissionais que serão responsáveis pelo procedimento no Sistema Único de Saúde”, disse Marchesini.
Mais de 100 mil cirurgias em 2016
Considerado um procedimento menos invasivo e, consequentemente, mais seguro a laparoscopia possibilita ao paciente um tempo menor de recuperação. A cirurgia não tem indicação como tratamento estético e sim para melhora de doenças associadas à obesidade e qualidade de vida. A cirurgia bariátrica vem crescendo expressivamente no Brasil, que é o segundo país com mais cirurgias realizadas.
Em 2012, foram feitas 72 mil cirurgias no País, em 2013, 80 mil procedimentos, em 2014, cerca de 88 mil, em 2015 foram realizados cerca de 93,5 mil procedimentos e em 2016, 100 mil cirurgias. Do número total de cirurgias feitas no Brasil estima-se que 10% sejam feitas pelo SUS. Fundada em 1996, a Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica possui atualmente mais de 1,7 mil sócios entre cirurgiões e especialidades associadas.
Recorde no Rio
O Rio de Janeiro detém o recorde de cirurgias bariátricas feitas pelo SUS, todas por videolaparoscopia. Desde 2009, quando foi criado o Programa de Cirurgia Bariátrica no Hospital Estadual Carlos Chagas, em Marechal Hermes, mais de 1.600 pacientes foram operados, moradores de todas as regiões do estado. A média de atendimentos ambulatoriais está sendo mantida em 2.000/mês e a taxa de sucesso é de 99%.
A equipe do programa é multidisciplinar, composta por médicos, enfermeiros, psicólogos e nutricionais. Mais de quatro mil pacientes estão sendo acompanhados no pré e pós-cirúrgico. “É um trabalho de resgate desses pacientes, realizado com muita dedicação e seriedade por toda a equipe. Devolvemos à sociedade o paciente antes obeso que não trabalhava, que tinha vergonha de comprar roupas e que não tinha mais vida afetiva”, conta o coordenador da equipe, o médico Cid Pitombo.
Sexo melhora após cirurgia
Estudo inédito feito pela equipe apontou que a vida sexual e financeira dos ex-gordinhos só melhorou após a cirurgia. Cerca de 40% dos pacientes afirmaram que a vida sexual passou de ruim para muito boa. Outros 14% disseram que a vida entre quatro paredes passou de boa para muito boa. Os novos magrinhos também relataram aumento de mais de 30% na renda familiar.
Pioneiro neste tipo de tratamento, o programa já tratava jovens pacientes dois anos antes da divulgação de portaria do Ministério da Saúde, permitindo a realização da redução de estômago pelo SUS para pacientes a partir dos 16 anos. O objetivo principal é focar no atendimento especializado e preventivo, ou seja, a redução do peso com dietas. O motivo da opção prioritária pela não intervenção cirúrgica de imediato está relacionado aos eventuais danos psicológicos em pessoas tão jovens.
Fontes: Ministério da Saúde e Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica