Dois meses depois, sobe para 180 o número de mortos na pior tragédia climática no Rio Grande do Sul e, possivelmente, do Brasil. Seis mil pessoas ainda estão fora de casa. As chuvas intensas no estado chegaram a deixar mais de 630 mil pessoas desalojadas e afetaram um total de cerca de 2,39 milhões. Entre os impactados estavam 43 mil refugiados e outras pessoas necessitando de proteção internacional, incluindo venezuelanos, haitianos e cubanos.

Refugiados descreveram às equipes da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) como escaparam da morte, perderam suas casas, pertences e até mesmo seus negócios. Nos arredores da capital do estado, Porto Alegre, uma mãe refugiada contou que sua moradia informal foi levada pelas águas e teve que buscar refúgio em um telhado, esperando por dois dias para ser resgatada.

Embora as águas estejam agora recuando, as consequências ainda estão sendo sentidas. Brasileiros e refugiados que perderam suas casas foram acomodados em abrigos de emergência ou compartilhando casas particulares com muitas outras famílias afetadas.

Dois meses depois do início das enchentes, muitos estão optando por retornar para suas casas, mesmo em áreas de alto risco e sem condições de vida decentes. Com a chegada do inverno e a queda das temperaturas, os riscos para a saúde também estão aumentando.

As necessidades são enormes e continuarão a crescer. As últimas enchentes seguem uma sequência de outros eventos climáticos extremos no país, incluindo incêndios recordes e uma das piores secas já registradas”, diz o ACNUR.

A agência da ONU está trabalhando com as autoridades brasileiras para fornecer abrigo de emergência, identificar os grupos mais vulneráveis e apoiá-los com aconselhamento e encaminhamentos para assistência documental e proteção social, distribuindo itens de socorro – como esteiras, kits de higiene e utensílios de cozinha – e fornecendo apoio psicossocial e encaminhamentos para outros serviços básicos e especializados.

Eventos climáticos extremos devastadores e desastres naturais estão destruindo muitas comunidades onde vivem pessoas refugiadas e outras deslocadas em todo o mundo, agravando sua situação e, em alguns casos, forçando-as a se mover novamente e a recomeçar do zero.

É isso que a ACNUR tem observado com uma série de enchentes catastróficas, terremotos, ciclones, tempestades e ondas de calor que afligem cenários de refugiados e deslocamentos internos também na África, nas Américas, na Ásia e em outras localidades.

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Estragos e apoio federal na reconstrução

Além das montanhas de lixo nas ruas, sem uma solução definitiva por parte de municípios, os estragos são grandes nas redes de saúde e educação. Mais de mil escolas duramente atingidas, mais de 1 mil unidades de saúde paralisadas, muitos setores econômicos que ainda não retomaram as atividades.

Até o momento, 268.878 famílias de desabrigados no Rio Grande do Sul estão habilitadas para receberem o Auxílio Reconstrução, de R$ 5.100. O valor único ajudará moradores de áreas atingidas por chuvas volumosas e enchentes, entre abril e maio deste ano, no estado, no enfrentamento à situação de calamidade.

A partir da habilitação, o responsável pela família deve confirmar seus dados cadastrados pela prefeitura no site do programa do governo federal. Até esta segunda-feira (1º), 256 mil famílias já validaram o registro, segundo o Ministério da Integração e Desenvolvimento Regional (MIDR) divulgou que

Ao todo, as prefeituras gaúchas cadastraram 597.746 famílias. Desse montante, 253.486 ainda estão em análise. De acordo com MIDR, esses cadastros apresentam algum problema no registro, que pode ser no CPF, no endereço informado ou porque ainda demandam uma verificação em campo. As prefeituras gaúchas tiveram o prazo estendido até o próximo dia 12 para incluir novas famílias residentes em área atingida pelas enchentes no cadastro para que recebam o auxílio.

Todas as pessoas que residem nas áreas alagadas e tiveram suas casas atingidas têm direito a receber esse auxílio. Para auxiliar a identificar as famílias atingidas pelo desastre climático, o Ministério criou uma força-tarefa da Defesa Civil Nacional para complementar os dados sobre a inundação e, assim, liberar o pagamento do Auxílio Reconstrução a famílias que, neste momento, estão com os cadastros em análise.

Desde segunda-feira, 28 municípios gaúchos estão recebendo a força-tarefa da Defesa Civil Nacional. Na semana passada, o ministério informou que outros 30 municípios com o maior número de casos de inconsistências nos cadastros das famílias receberam as visitas dos técnicos, com o mesmo objetivo de destravar o pagamento do benefício.

Mais de 90 bilhões de reais do governo federal

Designado especialmente para representar o governo federal no estado, o ministro-chefe da Secretaria Extraordinária de Apoio à Reconstrução do Rio Grande do Sul, Paulo Pimenta, disse que mais de 90 bilhões de reais já disponibilizados no trabalho de reconstrução do estado.

Ainda segundo ele, o governo federal abriu mão de R$ 24 bilhões em impostos advindos do estado, rebatendo críticas de prefeitos de que precisam de mais recursos. Foi aprovado também um recurso de R$ 49 milhões para limpeza das ruas.

A questão da mobilidade também foi duramente impactada. O trem não consegue ainda chegar a Porto Alegre. Vários municípios estão sem rodoviária e a previsão é que o Aeroporto Salgado Filho fique fechado até o final do ano. Um estudo sobre a segurança da pista para pousos e decolagens ainda está sendo feito.

O ministro de Apoio à Reconstrução do RS falou do impacto gerado pela paralisação do aeroporto. “Se não resolvermos isso até agosto começa a comprometer o Natal Luz no final de ano”, disse Pimenta. “Meu desejo é ter o aeroporto. Hoje a parte de embarque e desembarque é num shopping de Canoas”.

Agenda Positiva

“Caravana de Direitos na Reconstrução no RS atenderá oito municípios

A Defensoria Pública da União (DPU) inicia, nesta segunda-feira (1º), os atendimentos do programa “Caravana de Direitos na Reconstrução do Estado do Rio Grande do Sul. Este é o começo das atividades do projeto, que realizará 90 missões para a prestação de assistência extrajurídica e jurídica, com cinco ações itinerantes simultâneas por semana, para as vítimas das enchentes recentes no estado.

As missões irão contemplar 111 municípios do Rio Grande do Sul. O objetivo desta primeira semana é oferecer assistência jurídica integral e gratuita para a população de oito municípios afetados pelas enchentes, que são Porto Alegre, Pelotas, Eldorado do SulRio Grande, Santa Maria, São José do Norte, Tupanciretã e Restinga Sêca. 

A escolha dos municípios considerou a Nota Técnica 05/2024 do Prodoc do PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), que realizou uma análise dos municípios com pessoas em situação de abrigo devido às enchentes no Rio Grande do Sul, em relação ao número de pessoas abrigadas e ao montante de pessoas vulnerabilizadas a partir de dados do CadÚnico.

Além disso, considerou-se o decreto estadual nº 57614, de 13 de maio de 2024, do Rio Grande do Sul, que reitera o estado de calamidade pública em decorrência das chuvas intensas. A escolha dos municípios ainda levou em consideração as localidades das seções e subseções da Justiça Federal, bem como a distância entre elas.

Os atendimentos abrangem orientações sobre direitos, assistência jurídica e extrajurídica, além da continuidade dos processos após as missões. A DPU também irá auxiliar no acesso a benefícios como Auxílio Reconstrução, Saque-Calamidade do FGTS, Seguro Habitacional pela Caixa Econômica Federal (CEF), Bolsa Família e Auxílio Gás.

O programa vai atender pessoas em situação de vulnerabilidade social, incluindo comunidades indígenas, quilombolas, pessoas privadas de liberdade e população em situação de rua. Para receber atendimento, os interessados podem apresentar algum documento de identificação (RG, CNH, carteira de trabalho ou certidão de nascimento), CPF, comprovante de residência e qualquer documentação pertinente ao caso.

Para moradores de municípios não alcançados pelas missões presenciais, o atendimento está disponível pelo aplicativo DPU Cidadão e pelo WhatsApp (61) 98352-0067.

Boas Ações

Ong oferece apoio psicossocial a crianças gaúchas

Desde o início da tragédia no Rio Grande do Sul, a  Visão Mundial, organização humanitária presente em mais de 90 países, auxiliou implementou 20 espaços amigáveis para crianças, com práticas de acolhimento aos pequenos. Além de distribuir 300 toneladas de alimentos, 31 mil litros de água potável, 3.950 cobertores/colchões, 12 mil kits de higiene e 12 mil kits de ternura – focado nos mais novos. No total, 116 mil pessoas e 62 mil crianças foram impactadas.

Nesse momento, a ONG continua com os espaços amigáveis, que visam prestar proteção e apoio psicossocial, com local de programação integrada, incluindo brincadeiras, recreação, educação informal e escuta ativa. Ainda, com o retorno às aulas, a organização está atuando fortemente para prestar total beneficência a esse momento, que pode ser muito delicado aos pequenos.

Ação doará cozinhas montadas a famílias vítimas das enchentes

A partir desta segunda-feira (1/7), a Casa Teo – dos irmãos Lis e Teo Vilela Gomes – lançará uma versão especial de sua SALE, com peças vendidas pela metade do valor original. Parte das vendas será revertida à reconstrução de cozinhas para famílias que foram afetadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul.

Os móveis e objetos da Casa Teo serão vendidos com valor promocional durante todo o mês de julho, mesmo período de duração da campanha. A cada R$ 4 mil reais vendidos na Casa Teo, uma família receberá uma nova cozinha. Serão conjuntos de mobília emergencial, de fácil montagem, que ajudarão no dia a dia das pessoas afetadas pelas enchentes.

A escolha pelo ambiente da cozinha não é por acaso. Muito é feito em uma cozinha: refeições são preparadas, as famílias convivem em muitos momentos do dia, os assuntos são discutidos, as decisões tomadas – é na cozinha que a vida é “posta à mesa” para ser compartilhada. Para a Casa Teo reconstruir o espaço da cozinha é uma forma de ajudar e apoiar essas famílias, que tanto perderam nas enchentes do Rio Grande do Sul.

Música e solidariedade em São Paulo

No dia 7 de julho, o Blue Note São Paulo recebe a ação “Juntos pelo Rio Grande do Sul, em parceria com a Alma Music Group. Uma noite memorável de música e solidariedade que contará com a participação de talentosos artistas em prol do estado gaúcho, que ainda precisa de ajuda. Sobem ao palco, a partir das 19h, nomes como Julia Levy, Lucas Pretti, Lele Lima, Stefano, Bruna Krieger, Sophia Stedile, Kacá Novais, Bravaguarda e Paulo Benevides.

Além das apresentações de artistas já consagrados, novos talentos também poderão mostrar seu trabalho na abertura do evento e toda a renda proveniente da venda dos ingressos será revertida para a ONG Ação Cidadania. Veja como adquirir ingressos aqui.

Com Assessorias

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