A mamografia ainda é o exame mais comum e indicado largamente no rastreamento do câncer de mama no Brasil, mas, muitas vezes, o procedimento pode não detectar totalmente o tumor. Estudos indicam que cerca de 30% a 50% dos tumores não são identificados na mamografia convencional, o que pode atrasar o diagnóstico, oferecendo riscos ao tratamento e, consequentemente, reduzindo as chances das pacientes. Uma alternativa é a tomossíntese mamária, exame realizado no próprio mamógrafo, porém, oferecendo imagens mais completas e detalhadas.

A inclusão da tomossíntese digital mamária, ou “mamografia 3D”, no rol de exames com cobertura obrigatória pelos planos de saúde avança para uma decisão final na Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Em fase de consulta pública até esta terça-feira, dia 24, o processo segue para a última etapa, com a audiência pública marcada para o dia 27 de outubro.

O estudo de incorporação, liderado pela Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM), baseia-se na proposta do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), que indica o método de imagem com tecnologia avançada para rastreamento do câncer de mama em mulheres entre 40 e 69 anos com mamas com densidades fibroglandulares esparsas e heterogeneamente densas.

Na definição do mastologista Henrique Lima Couto, coordenador do Departamento de Imagem da Mama da SBM, a tomossíntese é “a evolução da mamografia. Também um método de imagem, mas com tecnologia avançada, ela permite a visualização tridimensional da mama, fornecendo imagens de um milímetro de espessura, reconstruídas em um processo semelhante ao da tomografia computadorizada.

Vantagens sobre a mamografia convencional

Tomossíntese: exame mais eficiente para detectar o câncer de mama (Foto: Elías Alarcón para Pixabay)

Estudo publicado em junho deste ano no Journal of the American Medical Association (JAMA) defende que, nestes casos, a tomossíntese oferece vantagens sobre a mamografia, reduzindo a chance de um diagnóstico tardio.

De acordo com o CBR, a técnica foi desenvolvida para proporcionar melhores resultados, aumentando as chances de detecção de 25 a 30% quando comparada, de acordo com estudos recentes, à mamografia, principalmente em casos de pacientes com mamas densas, que são mais fibrosas, suscetíveis a lesões e que podem dificultar a identificação do câncer.

Enquanto a mamografia projeta o tecido em uma única imagem, a tomossíntese utiliza o movimento para obter imagens mais detalhadas em camadas e por diversos ângulos, função semelhante ao funcionamento de um tomógrafo. 

“A mamografia é um raio X especializado em que se vê a mama em duas incidências (duas radiografias) de forma estática. A tomossíntese é um recurso que proporciona diagnósticos mais precoces, entrega melhores resultados clínicos e proporciona economia para todo o sistema”, compara Lima Couto.

Na mamografia convencional, observa o especialista da SBM, as imagens, por vezes, aparecem sobrepostas, diminuindo a capacidade de detectar o câncer, principalmente nas mamas mais gordurosas. “Ao diminuir a sobreposição, há aumento da taxa de detecção do tumor em até 40%.”

Tomossíntese: exame mais eficiente para detectar o câncer de mama (Foto: Elías Alarcón para Pixabay)

Exame ‘dois em um’: vantagem na eficácia do exame

Luciano Fernandes Chala, médico radiologista e coordenador da Comissão Técnica de Mamografia do Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (CBR), explica que a densidade mamária é o principal preditor de eficácia da mamografia. “Quanto mais densa a mama, menor a sensibilidade para detecção de tumores e a especificidade para separação de lesões benignas e malignas”.

Segundo ele, a tomossíntese mamária é uma técnica baseada na mamografia, que reduz os efeitos do que chamamos de sobreposição tecidual, exibindo a mama em cortes e separando as camadas de tecido sobrepostas. A partir do momento em que a tomossíntese é oferecida, ela pode substituir a mamografia, justamente por já incorporá-la, como um exame ‘dois em um’”, afirma o especialista.

Dr. Chala explica que a tomossíntese é mais eficiente na detecção de tumores invasivos pequenos e em estágio inicial quando comparada à mamografia convencional isoladamente. A tomossíntese permite uma avaliação mais completa de uma série de lesões, confirmando detalhes mais precisos e evitando também biópsias desnecessárias”.

Economia de até R$ 200 milhões com nova tecnologia

O estudo da SBM, iniciado em 2020 e apresentado no Congresso Europeu de Radiologia em março de 2023, baseia a proposta para que a tomossíntese seja incluída no rol de exames com cobertura obrigatória na saúde suplementar. A incorporação favorece mulheres assintomáticas, de 40 a 69 anos, com mamas de densidades fibroglandulares esparsas ou heterogeneamente densas.

“Este grupo representa 70% da população feminina elegível para rastreamento do câncer de mama. Hoje, as pacientes atendidas por planos de saúde precisam pagar para realizar o exame”, pontua o mastologista Henrique Lima Couto.

Segundo o estudo da SBM, o impacto orçamentário com a realização da tomossíntese pelos planos de saúde representa uma economia de R$ 200 milhões no período de cinco anos na rede suplementar.

“Isto é possível pois os resultados com a tomossíntese reduzem a necessidade de reconvocação de pacientes em 20% para exames adicionais, assim como a taxa de biópsia. Além disso, o exame aumenta a taxa de diagnóstico precoce, reduzindo a agressividade e os custos dos tratamentos”, ressalta.

De acordo com Luciano Fernandes Chala, a técnica também reduz os resultados falsos positivos, que sinalizam alterações indeterminadas. “O processo de investigação resulta em uma reconvocação ao exame que, além de causar ansiedade às pacientes e, implica em gastos financeiros desnecessários ao sistema de saúde”, complementa o médico radiologista.

‘Um grande avanço para as mulheres’, diz mastologista

Para Lima Couto, se incorporado  pela ANS para cobertura obrigatória pelos planos de saúde, o exame vai proporcionar “um grande avanço para as mulheres e possibilitar que elas tenham acesso as melhores práticas”. Com isso, o Brasil segue as mais importantes entidades médicas da área no mundo, como o Colégio Americano de Cirurgiões de Mama (ASBS), o Colégio Americano de Radiologistas (ACR) e o Grupo de Trabalho Americano em Câncer (NCCN).

“A decisão final caberá à ANS, mas a participação da sociedade civil organizada, das entidades médicas e principalmente das pacientes (usuárias) tem peso considerável sobre a inclusão ou não da tomossíntese no rol dos exames obrigatórios da Saúde Suplementar”, observa.

Com informações da SBM e do CBR

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